quarta-feira, julho 23, 2008

Anabela Martins (1958-2008)


Faleceu hoje, vítima de acidente de viação na Via do Infante, Anabela Abreu Martins, psicóloga e dirigente do MAPS, empresária e dirigente associativa ligada aos produtos tradicionais algarvios e uma das colaboradoras dos 1001 OLHARES.

Gratos por tudo quanto partilhaste connosco, não nos esqueceremos de TI!

sexta-feira, junho 20, 2008

Até Setembro!


Caríssimos,

Vamos descansar os corpos e refrescar as mentes. Voltamos em Setembro!

A Administração.

Mendes Bota Vs Macário Correia

por Hélder Nunes (jornalista e director do Barlavento)

As eleições no PSD Algarve não vão trazer nada de novo à política regional. Não há sinais de mudança, nem tão pouco uma lufada de ar fresco. Poderá, quanto muito, haver uma mudança de estilo. Mendes Bota continua a apresentar-se aos militantes para dar continuidade à sua governação e, como opositor, vai ter Macário Correia, cuja equipa assenta nas velhas rivalidades e pouco mais. O que está em jogo nesta eleição não é a renovação do partido, nem tão pouco uma hipótese de lhe injectar sangue novo, que leva à sua dinamização.

Tudo passa, simplesmente, pela manipulação do poder e pelas escolhas de quem vai ocupar lugares nas listas dos próximos actos eleitorais. Vejamos os objectivos de cada candidato: Mendes Bota antecipa o acto eleitoral para a distrital exclusivamente para que seja definida a equipa que irá preparar e trabalhar os desafios eleitorais do próximo ano, designadamente, as eleições autárquicas. Para Macário Correia, o objectivo é colocar o representante no Parlamento Europeu, duplicar o número de deputados na Assembleia da República e ganhar de novo a maioria das Câmaras Municipais. Não deixa de existir, claro, para compor o ramalhete, um conjunto de enunciados programáticos porque os políticos percebem que, nestas coisas, captar votos nada melhor do que fazer promessas, pintar de dourado o cenário, apelar ao regionalismo e, sempre que possível, protocolar intenções.

A realidade do PSD do presente é um pouco diferente do passado recente. Os sociais democratas não quiseram escolher o caminho do futuro, elegendo um militante jovem, sem os vícios do sistema. Preferiram eleger Manuela Ferreira Leite para quem o país está a passar ao lado porque, acima dele está a sua família e o seu neto. Têm todo o direito, mas em política não há 2 opções: ou se serve a causa pública em prejuízo dos interesses pessoais, ou então não se assumem compromissos por mera vaidade e subserviência a outros titãs que, um dia se saberão.

Enfim, se o Governo se impõe com uma ditadura de maioria, a oposição morre ao virar da esquina.

quinta-feira, junho 19, 2008

Algarve com pouca segurança

por José Mateus (consultor de comunicação e autor do blogue CLARO)


Temos aqui alertado para os problemas de segurança no Algarve e, sobretudo para o facto de uma região com uma economia turística como a nossa não pode ter, nem pode suportar problemas de segurança. Mas a coisa continua e temos de voltar a falar dela. Penso que os nossos dirigentes políticos, quer os de lá do Governo, quer os das bandas da oposição, ainda não perceberam que há no Algarve um grave problema de segurança e, se perceberem, fazem como se não tivessem percebido. Temos dias que, como é costume, acorda demasiado tarde.

Por exemplo, este mês de Junho tem sido uma calamidade nas zonas mais interiores do concelho de Tavira: casas, estabelecimentos e até colectividades têm sido assaltadas e roubadas, algumas duas, três ou mais vezes. A população obviamente anda assustada e sente que se esqueceram dela, que a abandonaram e diz, e bem, que os políticos só aparecem quando não são precisos e, apenas para pedir votos. A GNR parece fazer o que pode, mas a verdade é que pode pouco. Basta, aliás, ver o orçamento que têm para combustível e fica-se a perceber que eles quase não podem sair do posto. Assaltos também é que, barcos espanhóis fazem na nossa costa.

Há dias foi apanhado na baia de Monte Gordo uma traineira espanhola. Curiosamente ainda nem tinha pago as coimas de anteriores crimes. O tribunal de Tavira, e bem, deu ordem para a sua apreensão até pagar tudo. Esperemos que à armada e à polícia marítima não venha também a faltar combustíveis, como já aconteceu na GNR.

quarta-feira, junho 18, 2008

Um país vergonhoso

por Luís Horta (director do jornal Sotavento)

Estava eu a pensar no tema que deveria trazer. Início da 2ª semana verdadeiramente equilibrada, com as temperaturas normais para a época e parecia não encontrar razão de jeito para massacrar os ouvidos ou sequer despertar a atenção do auditório. Os 8 dias anteriores, pelo destrambelhamento originado por exigências, talvez justas, talvez justificadas ou, pelo menos, percebidas foram férteis em eventuais comentários. A ganância dos operadores petrolíferos e o insaciável apetite governativo pela manutenção de impostos acima do razoável, explicam a irritação dos operadores.

Mas se, por enquanto, o pior já passou e se assiste a uma quase normalidade no abastecimento público, não poderemos descartar a certeza de que os ânimos continuam em ebulição. Desde Quarta- Feira, dia 11, na A2 nos percursos ascendente e descendente em direcção ao Algarve e, por toda a via do Infante, algumas dezenas de viaturas provenientes de avaria ou falta de combustível, descansavam nas bermas rodeados de triângulos vermelhos. Achei estranho. Mas depois percebi que se tratava de mais um bloqueio, desta vez dos reboques, cujos proprietários lutam por renovar uma tabela das companhias de assistência em viagem que, levava mais de 10 anos de diligência.

O movimento teve o seu início no Algarve e ameaça estender-se ao resto do país mas, enquanto isso, os veículos não foram assistidos, nem retirados. Quem responde pelos prejuízos inerentes? Entretanto, já vimos referências a uma acção semelhante contra os taxis e depois, ninguém nos garante se os negociantes de carne, peixe, fruta ou as próprias redes de supermercados, não estarão a preparar também a sua exigênciazinha. E o vulgar cidadão, quando poderá reivindicar um melhor serviço de saúde, estradas sem buracos, educação adequada, segurança civil eficaz? Este, terá de aguentar firme aquilo que lhe quiserem dar, como foi o caso há 2 dias noticiado, daquele cidadão português, não sei se algarvio, pois a notícia não o identificava que, requereu o complemento solidário para idosos.

Depois do preenchimento de uma dúzia de impressos complicados e de prestar exaustivas informações sobre os rendimentos familiares a ter dos próprios filhos foi, notificado ter-lhe sido concedido o complemento solidário de 1€ mensal. Mas o idoso só receberá de 5 em 5 meses ao atingir os 5 €. Perante o ridículo do caso e a pequenez deste chamado complemento solidário de idoso, serve tudo o que se viu e ouviu.

Que este português, certamente debilitado e necessitado não tem poder reivindicativo, nem sequer para bloquear as portas envidraçadas do seu Centro Distrital de Segurança Social. E é pena que não tenha.

Scolari

por Carlos Lopes (advogado)

Hoje, um pouco de futebol. Depois da requalificação de Portugal, da contratação de Scolari pelo Chelsea e antes do jogo com a Suíça, permitam-me que fale de Scolari. Quando Scolari chegou a Portugal, todos sabemos o que era a Selecção Nacional: um punhado de jovens talentosos mas uma equipa sem organização, sem colectivo ou vislumbre total; ou por falta de pulso por parte da federação ou por falta de pulso por parte do treinador. O que é certo é que aqueles jovens talentosos não tinham resultados que correspondessem às suas potencialidades.

Com Scolari foi diferente. A selecção atingiu lugares nunca antes alcançados: 2º no Campeonato da Europa de 2004, 4º no Campeonato do Mundo e agora uma carreira bonita neste campeonato da Europa. É obra. De resto, há uma similitude muito grande entre Scolari na selecção e Macário na Câmara de Tavira. Nada se poderá compara com o antes de e nada poderá ser como o antes depois deles.

Incutiram graus de exigência, um dinamismo e um profissionalismo nas suas actividades que, ninguém no seu perfeito juízo, poderá ignorar o seu trabalho sob pena do ridículo. Após eles, a fasquia da exigência tem uma elevação que é preciso pensar bem aceitar a sua substituição. Uma coisa é certa: marca uma página dourada nos seus campos.

10 de Junho

por José Mateus (consultor de comunicação e autor do blogue CLARO)

10 de Junho, hoje dia de Portugal. Dia de um pequeno país, um pequeno país que é realmente um arquipélago no Atlântico nordeste entre a Europa e a América, aberto ao mundo e que, hoje a onda da crise mundial atinge em cheio e destrói muitas das suas esperanças como se fossem castelos de areia, face a uma vaga muito forte. A altura, portanto, para percebermos que temos muito a fazer se quisermos salvar alguma coisa no meio desta tempestade mundial que arrasa tudo à sua passagem.

Que Portugal queremos? E como o podemos construir e defender? É esta, para mim, a grande pergunta deste dia de Portugal. É óbvio que precisamos de 3 coisas: emprego, desenvolvimento e segurança. A segurança que garante desenvolvimento e emprego. Mas pergunta-se: em que investir para alcançar desenvolvimento e emprego? Quem tem estudado à anos e, muito a sério este problema tem as respostas adequadas. Só falta mesmo pô-las em prática. Sabem bem disso os meus amigos André Magrinho, José Carlos Zurrinho e José Manuel Ribeiro. Chegaram todos os três às mesmas conclusões por vias diferentes.

Em suma, Portugal precisa dum choque tecnológico para assegurar desenvolvimento e exportações de alto valor. E Portugal precisa de turismo e mais turismo para criar emprego e precisa de segurança; de ser um país seguro para atrair investimentos e turistas. Temos soluções, só precisamos mesmo de saber concretizá-las, pô-las em prática e, para isso, todos os dias têm de ser dia de Portugal.

quinta-feira, junho 12, 2008

Subida dos preços de combustíveis

por Luís Horta (director do Jornal Sotavento)

A crise económica desencadeada pela alta de preços dos combustíveis tem originado posições das mais diversas e, naturalmente, controversas. Foi, por exemplo, o caso da Câmara Municipal de Tavira ter anunciado e colocado, desde logo em prática, a ideia de abastecer as suas viaturas em Espanha. O diferencial, quando se trata de veículos com depósitos de grande porte, dá para o percurso e, ainda sobram uns bons milhares de euros por semana, mês ou por ano, conforme a escala de utilização desta medida. Há vozes que, logo se levantaram dizendo da falta de patriotismo dessa iniciativa. Há sempre quem esteja a favor e quem esteja contra qualquer coisa, que mais não seja por questões ligadas a estratégias e interesses que, quase sempre nada têm a ver com a questão de fundo.

Neste caso, parece-me a questão de fundo não é o patriotismo. A questão de fundo é uma medida de gestão que, resultando, se torna sadia e aceitável. O problema situa-se muito no âmbito do imposto e outro tanto em relação a Portugal, na evidente cartolização dos preços. E, como assim é, onde está o patriotismo de quem, agravando a crise, mantém intransigência percentual no imposto e a liberdade da marcação do preço num produto essencial para a estabilidade da economia. Aos concursos de fornecimento, quer de produtos quer de obras, sejam grandes ou pequena, podem ser internacionais e, obrigatoriamente, o são a partir de certos volumes financeiros, medida que se refere especialmente a investimentos públicos.

Toda a Europa pode, portanto, fornecer o que quer que seja aos restantes países. É normal comprar onde é mais barato. Qual é pois, a falta de patriotismo desta medida da Câmara Municipal de Tavira? Entregar o imposto ao país vizinho? E porque não desce a taxa em Portugal? Estou lembrado do caso das idas a Cuba para tratar dos olhos dos nossos idosos. Será igualmente falta de patriotismo? Quer bem crer que não. Esta falta de patriotismo deve rotular, quanto a mim, quem procura espremer ainda mais a desvalia da situação em que se encontram as camadas mais frágeis da população.

E se a população no combustível se dirigir, em última análise, a acções sociais como é o caso das cirurgias oculares, ninguém deverá constestá-las, deverá antes, promover a correcção do que está mal. O resto é demagogia.

quinta-feira, junho 05, 2008

Futuro do PSD

por Hélder Nunes (jornalista e director do Barlavento)

Com a eleição de Manuela Ferreira Leite para a presidência do PSD pode concluir-se que, politicamente, esta não é uma mais valia para Mendes Bota e para o PSD Algarve. O líder dos sociais democratas algarvios apoiou Pedro Santana Lopes e conseguiu que o aparelho do partido funcionasse a seu favor em muitas concelhias, mas começaram a aparecer divergências e um conjunto de militantes a demarcar-se das atitudes políticas de Mendes Bota. A linha política de Ferreira Leite é reconhecida por todos os analistas com regresso ao cavaquismo, tendo Mendes Bota entrado em ruptura com cavaco silva ao ponto de ter abandonado a política durante 9 anos.

Hoje, vai voltar a encontrar pela frente os seus opositores que tudo farão para o marginalizar. A nível nacional a intervenção de Mendes Bota não esta facilitada. A nível regional volta a haver a ascensão de Isabel Soares e Macário Correia, tudo apontando para que o presidente de Tavira venha a fazer parte da Comissão Política Nacional. Com 7 concelhias a não apoiarem a escolha do candidato, feita por Mendes Bota, coloca-se sempre a questão: como será o futuro dentro do partido, a nível regional?

Tudo irá depender das próximas eleições legislativas. Se o PSD vencer, os opositores de Ferreira Leite terão que arrumar as botas. No entanto, a leitura dos analistas aponta para que Manuela Ferreira Leite não seja a vencedora pela, sua postura muito próxima das políticas de José Sócrates. Retira-lhe a maioria, mas não alcança o poder. As lutas internas no PSD voltam a suceder-se porque, esse cenário era apontado e previsível, mas os barões da direita do partido, a quem são favoráveis as políticas de Sócrates ou Ferreira Leite, preferem arriscar com o objectivo de serem o poder e sentirem-se mais à vontade para manipularem as directrizes.

Manuela Ferreira Leite pode ter muitos atributos, mas à sua volta há gente ávida de poder e de se encaixar na máquina do Estado.

terça-feira, junho 03, 2008

Subida de preços

por José Mateus (consultor de comunicação e autor do blogue CLARO)


A brutal subida dos preços do petróleo vai ter graves consequências para a economia do Algarve. Essa subida brutal veio para ficar e se os pescadores são dos primeiros a senti-la, a sentir os seus terríveis efeitos, eles não vão ser, porém, os únicos...longe disso. Senão, vejamos com este aumento brutal do petróleo. As companhias de aviação estão já em crise e, as que resistirem, as que não fecharem as portas vão ter que aumentar e muito o preço real dos bilhetes.

Quer dizer, acabaram as viagens de avião ao preço da “uva mijona”. E sendo assim, há um certo tipo de turista que vai desaparecer do Algarve, pela razão simples de que ficará em casa por falta de dinheiro para o bilhete de avião. Portanto, é todo o negócio do turista barato que está ameaçado e que, veio entrar em crise. Nos próximos anos e, mesmo já este verão, só viaja quem tem dinheiro para pagar os encarecidos bilhetes de avião, quem não tiver fica em casa.

O Algarve tem portanto que se virar para um tipo de turista mais exigente e com mais dinheiro, quer dizer, como aqui já o temos repetido, é urgente que o Algarve se requalifique, pense no futuro e saiba ganhar a qualidade que lhe falta, que saiba alear a tradição e a inovação. O fundamento, a tradição e a justificação, a inovação que valha a pena a alguém visitá-lo e ficar com vontade de voltar, se não o fizer, se não formos capazes de fazer o que tem de ser feito, se não tivermos essa inteligência e essa capacidade, se ficarmos à espera acontecerá o pior.

Ficamos sem os turistas baratos, já que eles desaparecem (ficam em casa) e ficamos sem os turistas com dinheiro que, exigem a qualidade que ainda não temos, ou seja, esta crise é uma grande oportunidade. Assim, o Algarve seja capaz.

quinta-feira, maio 29, 2008

Insegurança no Algarve

por José Mateus (consultor de comunicação e autor do blogue CLARO)

O Algarve está com problemas de segurança e não vale a pena escondê-lo. Nestas coisas é sempre melhor não fazer figura de avestruz e não meter a cabeça na areia, à espera que a coisa passe. Isso, é a forma mais rápida e segura para que as coisas piorem e muito.

No relatório anual da segurança interna, Faro é o distrito com mais crimes em 2007. Mas, basta estar atento ao que se passa à nossa volta, basta ler os jornais todos os dias para nos apercebermos de que as coisas não vão nada bem, em matéria de segurança pelo Algarve.

Vão mesmo mal e, isto, não é possível nem é admissível numa região que vive do turismo e, portanto, precisa de segurança para viver e desenvolver a sua principal actividade económica. Vejam-se alguns títulos recentes: “GNR com falta de pessoal”; “Caixa de multibanco levada de caixa de supermercado”; “Roubado carrinha BMW”; “Casal traficava em Loulé”; “Assassinada em casa”; “Turistas assaltados e agredidos”. Há muito mais mas, já chega para se ver e perceber do que estou a falar. Quem não fala nada sobre isto e, está muito caladinho quando devia e tinha a obrigação de falar são, os senhores políticos, quer do PSD, quer os do PS. Parece que eles não têm problemas de segurança e, portanto, não lhes interessa a coisa. Que se lixe!

Isto é mau, muito mau. E será melhor que abram os olhos antes que seja tarde. O PS então tem uma dupla responsabilidade. Desde sempre que é o principal partido político do Algarve e é hoje o partido do Governo. A Direcção Política do Algarve que tem feito? Que eu saiba nada. É péssimo e inaceitável. Pelo menos poderiam ter alertado o Governo para esta situação de falta de segurança, uma situação incompatível com o bem-estar das populações e incompatível com a actividade económica do turismo.

NOTA: Os comentários de José Mateus são emitidos todas as terças-feiras, às 9,30 horas, com repetição às 15 e às 21 horas.

Falsas promessas governamentais

por Carlos Lopes (advogado)

O DN vem em primeira página de Sexta-feira passada dizer que o Governo não paga as bandas gástricas, coisa que se tinha obrigado a fazer há 6 meses. O DN veio dizer isto como se uma notícia fosse. Como se a falta de cumprimento de uma promessa do Governo fosse novidade, como se tal fosse notícia. O DN ou não é deste mundo ou está ao lado do Governo. O Governo há 3 anos que não cumpre aquilo a que se obrigou. O Governo e, digo isto, deste Governo como posso dizer de outros governos, nunca se falta por uma atitude de hombridade, correcção e verticalidade. O Governo não cumpriu uma promessa e, isso, poder-se-á considerar uma novidade?

Há fome em Portugal

por Hélder Nunes (jornalista e director do Barlavento)

Vim aqui comprar pão e mais qualquer coisa porque está ali em baixo uma pessoa com fome. Um gesto de solidariedade de um amigo que encontrei numa grande superfície. Afinal, há gente com fome em Portugal. O riso do 1º ministro quando lhe falaram neste problema é demonstrativo da nossa cultura e do sentimento de repúdio pela afirmação. No fundo, todos consciente ou inconscientemente temos vergonha de falar na fome. É estado que deve ser escondido, abafado e, se possível, silenciado. Há fome em Portugal.

Diariamente, os alicerces da nação vão-se desmoronando. Vamos atingir o patamar das civilizações aplicadas de 3º mundo, onde existem os muito ricos e os muito pobres. As micro e pequenas empresas não suportam as investidas e muitas das leis que aparecem são feitas para as sufocar. A Europa deu-nos muito jeito porque nos doou muito dinheiro, grande parte dele mal aproveitado, mas também nos fez muito mal porque incentivou a subsídio-dependência e, pagou a Portugal para não produzir.

Fomos atrás dessa política como parolos. A Europa não queria a nossa concorrência na agricultura e não fomos capazes de percorrer, pensando que, pelo menos, para consumo próprio devíamos semear. Importamos 80 a 90% de produtos que consumimos; pagamos a quem produz...à Espanha, França; aos países sul-americanos e a muitos outros. Há fome em Portugal. Haja coragem política para abordar o tema.

NOTA: Os comentários de Hélder Nunes são emitidos todas as quintas-feiras, às 9 horas, com repetição às 15 e às 21 horas.

Melhoria nos acessos, para quando?

por Luís Horta (director do Jornal Sotavento)

Até ao último fim de semana o tempo, em todo o país, permaneceu incerto: chuvas, ventos e muito pouco do que nos habituou o mês de Maio. Parecendo querer transpor para o Junho, que já aí vem, esta irregularidade meteorológica fora de tempo. Mas não é do mau tempo que lhes quero falar. Antes do Verão que, pelo calendário, já caminha a passos largos para a sua entrada ao serviço. Serviço que, nesta nossa região, quer dizer oferta turística; oferta que corresponde a praia que, envolve Tavira, Cabanas e Sta. Luzia. Cabanas criou uma frente junto à ria com dimensão de respeito. Da fortaleza às imediações do Almargem, empreendimentos, uns acabados outros em obra e outros em projecto.

A praia tem apenas acesso por barco, mas há quem fale numa ligação pedonal. Sta. Luzia equipara-se em crescimento urbano e surge de cara mais lavada na frente ribeirinha, à mercê da excelente recuperação da sua marginal. Falta saber se as praias da Terra Estreita e Barril, tal como em Cabanas conseguirão suportar tal carga que, vai causando estragos, cuja fragilidade é evidente. Tavira com a sua praia da ilha. Aí, coloca-se muito mais a questão do acesso, ou seja, 4 Águas, a que se juntam outras questões colaterais: onde e como estacionar? Como percorrer uma estrada em muito mau estado, sem bermas para os peões? Onde estão as carreiras rodoviárias suficientes ao longo do dia? Porque não saiu ainda do local, a estância das areias? Porque continuam a esboroar os últimos metros da margem direita do Gilão frente ao Arraial?

Muitos de nós sabemos que tudo isto resulta da diversidade de entidades que têm a ver com a restruturação das 4 Águas e da falta de uma coordenação entre elas. Quando é que o Governo pensa colocar este assunto em agenda? Ou estará à espera que a procura interna ou externa deixe de se interessar pela Ilha de Tavira? Não somos um país tão rico que, possa desperdiçar pérolas turísticas, de excelência, como a nossa ilha. Nem quero pensar se, neste assunto, há razões que a própria razão desconhece.

quarta-feira, maio 28, 2008

"El Pais"

por José Mateus (consultor de comunicação e autor do blogue CLARO)


O Algarve esteve recentemente em focu no “El Pais”. Este jornal madrileno de referencia fez há dias um suplemento especial com propostas para o turismo de Verão e o Algarve, tinha aí um lugar de grande destaque. O “El Pais” refere e destaca as noites quentes do festival Allgarve e as suas estrelas de Rock, Jazz, Fado e fala de praias, lugares e cidades. Destaca a Ria Formosa, Tavira, Olhão, Silves, Monchique, Sagres e a Costa de São Vicente. Destaca-os como cidades e locais que importa descobrir. Mas não se detém, nem aconselha outros sítios, aqueles onde a massificação passou dos limites do aceitável.

Uma missão, portanto, do “El Pais” a meditar por todos aqueles que querem um Algarve requalificado. Como exemplo desta requalificação necessária, acho importante destacar o recentíssimo caso do Museu Municipal de Portimão, um caso exemplar de inovação. Aquela fórmula certa da inovação da fidelidade à tradição que aqui temos defendido para orientar a requalificação do nosso Algarve. E este museu de Portimão é um caso exemplar que já se vê mesmo com direito a um merecido prémio e que é um exemplo a seguir para requalificar o nosso Algarve.

Política marítima da U.E

por Jamila Madeira (deputada do partido socialista)

Desde 2006 que e iniciou um processo único de discussão do livro verde da política marítima da U.E. O desafio era mais do que criar mais um instrumento de acção complementar aos múltiplos já existentes nesta área. Pretendia ser um aglutinador de vontades e perceber a transversalidade desta problemática. Assim, desde então que o debate tem sido em torno de um mar de oportunidades e responsabilidades que é esta nova política marítima europeia. A riqueza dos contributos permitiu-nos, durante a presença portuguesa da U.E em outubro de 2007 lançar propostas concretas e assumir agora uma acção consequente.

Nesta fase, o parlamento europeu é novamente chamado a pronunciar-se para em conjunto com o conselho, lançar os alicerces sólidos que um dóssier deste género com, a relevância que tem e que a economia europeia precisa. Assim, associados de forma adequada às problemáticas, não só aquáticos mas do desenvolvimento das zonas costeiras com todas as questões de sustentabilidade social, económica e ambiental que têm a si associadas, é absolutamente crucial. Por isso mesmo, o relatório que será esta semana discutido no parlamento europeu dá nota da necessidade, da investigação, inovação terem, que ser o mote para um maior potencial desenvolvimento regional que dará sustento a todas as actividades a que a política marítima se refere e afecte.

Também as alternativas de mobilidade dos mares e o desafio das energias das ondas são, promessas já no terreno e que trará certamente muita esperança quanto às soluções económicas do futuro. Enfim, os cidadãos e o parlamento europeu abraçam este dossier há 2 anos atrás. Agora, assumiremos a responsabilidade de o levar a todo o terreno e com este, um novo instrumento marca pela positiva este nosso planeta azul, a que chamamos terra, mas que é esmagadoramente mar.

quarta-feira, maio 21, 2008

Desertificação do Algarve

por Hélder Nunes (jornalista e director do Barlavento)

Estão a ser feitos investimentos no Algarve. Esses investimentos, concluímos que estão na sua totalidade distribuídos pela faixa litoral do Algarve, onde está a massificação, tanto humana, como na construção e, onde se afirma, tudo se vai recuperar. Esperemos que o tal benefício da dúvida, que a intenção seja mesmo colocar ordem no litoral, requalificar e reabilitar zonas densamente degradadas e não estar a prestar um serviço público para que os privados o possam aproveitar. Não se pode pensar, quando se traçam projectos desta natureza, o de reabilitar todas as zonas que, eles venham a ser aproveitados para instalar mais carga urbana em cima do litoral, jogando no efeito da reabilitação pretendida porque, nesse caso, é deitar dinheiro à rua e saber-se que daqui a 20 anos se volta a falar em requalificação novamente a ter que demolir algumas construções, como já está acontecendo em Espanha.

Há uma política definida para ser aplicada a sul da EN125. E então pelo Norte? O Algarve começa no Atlântico e termina nas serras, passando pelo barrocal. Quando a crise alimentar é uma das mais actuais preocupações das Nações Unidas, não devíamos pensar que as terras férteis da região e a zona de floresta com medronheiros, carvalhos e sobreiros mereciam um plano estratégico de emergência? Sem uma retaguarda protegida, o Algarve do interior corre sérios riscos de avançar a passos largos para desertificação territorial e humana.

Com um deserto nas costas, o litoral está ameaçado e, a pouco e pouco, vai sendo engolido. Não se ouve falar, pelo menos em termos visíveis, na retoma agraria do Algarve. As terras não devem ficar ao abandono e a Direcção Regional de Agricultura deve dialogar com os seus proprietários para as tornar rentáveis, definindo áreas e as suas aptidões agrícolas. Há que constituir associações de jovens agricultores, alugando-lhes as terras mas, em 1º lugar há que acabar com o minifúndio conseguido pelos muros de pedra, limpando as terras deste obstáculo, delimitando as propriedades com um simples marco para que as áreas emparceladas possam tornar-se rentáveis.

A agricultura é uma das áreas que tem muito futuro na região Algarvia. Basta olharmos para aqueles que aqui estão: estrangeiros a aplicar o seu trabalho na terra Algarvia.

Onde anda a justiça?

por Carlos Lopes (advogado)

António Nunes achou por bem iniciar o ano, simbolicamente o ano 0 do fumo dos cigarros, em lugares públicos com uma cigarrilha nos lábios. Apanhado em flagrante, balbuciou uma desculpa qualquer, do género “os casinos não estão incluídos na proibição”. Mentira. Ele sabe que é proibido fumar nos casinos. Se não sabia é ignorante. Mas, como se sabe, a ignorância não aproveita o ignorante.

O nosso 1º Ministro, tão intransigente e tão rigoroso fumou no avião para Caracas. Jurava-me o PS que o homem tinha querido ir fumar lá para fora, mas que não o tinham deixado. Sócrates, tal como o outro, disse não saber que era proibido. Lindo serviço. Mas este clima de alguma impunidade e descaramento está a alastrar. Na nossa sociedade é ver os carros da brigada de transito em cima do passeio ou extensivamente frente ao tribunal. E aí, também se vêm carros de magistrados que, como se sabe, têm de aplicar a lei e que estarão a aplicar a lei que não a cumprem. E já se têm visto os veículos dos senhores magistrados estacionados onde é necessário pagar mas, colocando o dístico de “magistrado especial” no pára-brisas ficam isentos de pagamento do estacionamento, quando o comum dos mortais tem que pagar.

Na sexta-feira, em Sto. Estevão vi o carro da Protecção Civil estacionado em cima da passadeira. Condutor, o Sr. Presidente da Câmara. Até quando este clima de impunidade se manterá?

quarta-feira, maio 14, 2008

Maddie Mccann

por Ricardo Chega (correspondente da Lusa em Espanha)


Um ano após o desaparecimento da pequena Maddie Mccann, tudo continua igual. Há muitas incógnitas: os pais seguem carregando com o estatuto de arguidos e a PJ continua a investigar um caso que não ata nem desata. O caso Mccann é um autentico banho de agua fria. Para a credibilidade, os nossos sistemas policial e judicial e, também para a imagem de Portugal no exterior. Se não fossem os jornalistas, este caso já estaria no esquecimento. Sorte que a imprensa às vezes, desperta algumas consciências.

Mas é certo que a equipa de investigadores tocou muitas ocasiões e isso pode custar-lhes muito caro. Não sei, se precipitou-se ou não, o que sei é que no principio as coisas foram feitas de forma muito pouco correcta. Parece que os policias estavam mais interessados em publicar livros e passear pelos bastidores das televisões que, fazer o seu trabalho bem feito. Dá a impressão que ficaram iludidos com os holofotes da comunicação social. É certo que hoje em dia. É certo que hoje em dia há uma atenção especial em relação a tudo o que envolve crianças. À pouco, foi possível ver como o director do refugio Aboim Ascensão se indignava com a falta de integridade e responsabilidade de alguns pais, estrangeiros por certo e, também com alguma falta de cuidados da nossa justiça.

Enquanto as coisas não forem bem feitas e com alguma cautela e bom senso, tudo irá mal e não haverá grandes avanços. É preciso que os policias investiguem e que os jornalistas informem. Não se pode querer continuar a controlar o trabalho dos outros e deixar o nosso de lado. É preciso que Portugal se faça grande e que perante o mundo demonstre que as suas conclusões são as mais acertadas e, porquê? Porque houve cuidados e profissionalismo.
Caso contrário, vamos ser os últimos em termos económicos e também na credibilidade.

Cuba

por Luís Horta (director do jornal sotavento)

Tenho observado, talvez um pouco à margem, a iniciativa do município vizinho de Vila Real de Santo António desde que resolveu transportar para Cuba umas dezenas de idosos do seu concelho para serem tratados aos problemas de visão que os afectavam. Porém problemas que, como sabemos, afectavam e afectam dezenas de milhares de portugueses que ano após ano viam engrossar a interminável lista de espera. O Algarve, por vezes, também sabe ser pioneiro em qualquer coisa, por muito que em contrario digam. E, tanto assim, que outros municípios algarvios ou já aderiram a idênticos projectos ou estão em vias de o fazer. E não só no Algarve...ao Ribatejo já os ecos também chegaram e a iniciativa multiplica-se.

Assim, os nossos idosos já podem começar a ver uma luz ao fundo do túnel, de tirar-lhe as negras perspectivas em que as suas cataratas os deixaram. Este é também, sem duvida, um campo em que o poder local pode e deve actuar, já que a nível central um outro poder não foi capaz, ate aqui, de atenuar a tristeza dos idosos privados de visão. Talvez comunicando esse poder de que deixar andar séria a forma mais barata de resolver o problema, ou antes, de não resolver o problema. Curiosamente, é também agora que, certos serviços hospitalares começam a dizer que têm capacidade para operar uns quantos milhares por dia, que é tudo uma questão de protocolos, que a ida a Cuba não tem uma exigente qualidade, nem uma garantia total.

Se agora já é possível, porque razão ninguém o disse antes? Porque não sugerir qualquer iniciativa concreta?

Bem, quanto a qualidade e garantia os próprios algarvios que o digam. Parece que foram bem tratados e o seu problema resolvido. Em Portugal, vai-se continuando a esperar pelos protocolos a assinar. Se calhar, lá para mais uns 5 anos. Mas, entretanto, e é isso que nos agrada, os algarvios idosos e sem meios de fortuna têm garantida a melhoria da sua vida, o que significa uma melhoria da qualidade dos seus anos de vida.

Como disse, alguma vez haveria o Algarve de ser pioneiro em qualquer coisa. Um boa semana para todos e com boa visão.

Micro créditos

por Jamila Madeira (deputada do partido socialista)

Um dos instrumentos parlamentares que os deputados ao parlamento europeu têm ao seu dispor é, a possibilidade de apresentar declarações escritas. Estas, depois de reunirem as assinaturas de mais de metade dos membros do parlamento europeu são formalmente enviadas à comissão e ao concelho, para que estes tomem as adequadas iniciativas legislativas. Foi nesse sentido, que iniciei em conjunto com mais 4 parlamentares de outros grupos políticos de origens nacionais, uma declaração escrita sobre a implementação e reforço do micro crédito.

A ideia é que a U.E possa assumir que esse instrumento é crucial no combate à pobreza dentro do seu território e também nas suas políticas com países terceiros, quer no mediterrâneo ou genericamente nos países em vias de desenvolvimento. Como é evidente, essa iniciativa carece de mais investimentos que numa lógica social, um dos poucos com carácter reprodutivo. Todos os estudos dizem que quem recebe estas muito pequenas quantias para iniciar o seu projecto e a sua actividade tem assumido um grau de cumprimento de cerca de 100%, ou seja, quem recebe estas muito pequenas quantias quer sobretudo, cumprir os compromissos assumidos.

Na maioria dos casos são mulheres, mulheres bem sucedidas e que se emancipam. Depois do primeiro micro crédito pagam-no e aumentam o seu negocio com um novo. Com o retorno que começam a ter, investem essencialmente na família e na educação dos filhos e, por isso, são os que mais contribuem para o combate à exclusão social. No entanto, para atribuir o microcrédito é preciso que exista uma entidade pública ou comercial, sem fins lucrativos mas credível, que faça a avaliação dos projectos e veja os instrumentos, em termos de formação que eles vão precisar para alem da determinada arte para aquele preciso negócio.

Essa avaliação é hoje feita, por exemplo em Portugal, pela Associação Nacional de Direito ao Crédito. Umas das suas solicitações que fazemos nesta declaração escrita é, a criação de uma associação conjunta entre a Europa e as zonas a apoiar na U.E e no mundo, que tenha credibilidade atribuída no quadro do sistema financeiro europeu e que permita que os bancos comerciais a vejam como mais credível e, por isso, estejam mais disponíveis a financiar micro créditos. Com isto, teremos ganhos incomensuráveis em volume de financiamento e a absoluta certeza de que estamos a fazer mais que uma simples gota de água num oceano de exclusão social.

Por isso mesmo, quando esta semana ouvia-se anunciar que a nossa declaração escrita tinha reunido as assinaturas necessárias e, que ia ser enviada à comissão e ao concelho, fiquei orgulhosa. Resta agora saber se, como recentemente anunciou o presidente da comissão, o social está agora no centro da sua agenda. Se assim for, certamente esta iniciativa verá a luz do dia, ainda antes do fim da legislatura. Espero eu e, todos aqueles que carecem desse apoio.

Maio de 68

por Carlos Lopes (advogado)

Este é o mês dos 40 anos do Maio de 68. Tendo sido um movimento que teve repercussões um pouco por todo o mundo, o Maio de 68 foi essencialmente um Maio de Paris. Maio de 68 é essencialmente a revolta contra uma sociedade velha e caduca, contra valores obsoletos e reaccionários, pela liberdade nos seus mais variados aspectos. A liberdade de expressão, a liberdade sexual, a igualdade entre os sexos.
“É proibido proibir a imaginação ao poder” são palavras que ficaram desse tempo e que dão uma ideia da revolta do Maio de 68.

As barricadas, as famosas barricadas de Paris voltaram a estar na ordem do dia e a ser o dia-a-dia em Paris. Como Bendito, o estudante germano-francês que encarnou o Maio, foi expulso de França, mas quem andava escondido era Ducou, o presidente francês. É desse tempo aquela imagem de intelectual que agia trocando o fato e gravata pelo blusão, a vender jornais e a falar aos operários da Renoult. Mais do que hoje considerarmos normal e faz parte da nossa vida, teve inicio nesse Maio de 68.

E Maio de 68 teve também uma característica importante. Não foi uma tentativa de tomada do poder. Não se pretendeu substituir o poder por outro, mas transformá-lo. O mundo nunca mais foi o mesmo. É por isso que quando o presidente da França, o Sr. Sarcossi pretende destruir o Maio de 68 não se apercebe o ridículo da situação. Aquele caso em directo por causa do Maio de 68.

quinta-feira, maio 08, 2008

Polis barrocal e Polis serra

por Hélder Nunes (jornalista e director do Barlavento)

O actual governo promete para 2013 um Algarve bem diferente do actual, direccionado essencialmente, e não totalmente, para a vertente turística. Hotéis de 5 estrelas e depois tudo o que está amontante se interliga àquele sector. As obras emblemáticas anunciadas são a barragem de Odelouca para que não haja falta de água, principalmente para os empreendimentos turisticos, a requalificação da EN125 com o propósito de acabar com os pontos negros, isto é, permitir que a região saia da faixa negativa que ocupa em termos de acidentes naquela rua.

Agora anuncia-se o polis litoral, ou seja, a recuperação de toda a área da ria formosa com a intenção de a tornar uma pérola ambiental no Algarve e o símbolo de oferta da excelência que se pretende para a região e, por fim, a construção do hospital central para que o serviço nacional de saúde seja universal, isto é, para a população e turistas. Esta estratégia de investimento e qualificada pelo primeiro ministro, como fazendo parte de um projecto integrado, colocando o Algarve, segundo as suas palavras, na linha da frente das prioridades para que o desenvolvimento económico possa crescer dentro da simbologia que os responsáveis governamentais pretendem, que são a qualidade e a excelência porque a região tem muito para dar ao país, dizem.

O futuro do Algarve não pode passar exclusivamente pelo turismo. Há que criar uma dinâmica agrícola, em que os frutos secos, principalmente o figo e a alfarroba, são dois exemplos onde o regadio tem muito espaço para crescer, agora que há barragens e água suficiente. Com a mesma audácia com que se colocou o litoral nas decisões do governo, é por demais importante e honesto redigir o decreto que revoga o abandono do barrocal e serra, colocando no topo do papel timbrado do ministério, prioridade das prioridades: polis barrocal e polis serra.

As pescas estão fracas e os homens já começaram a investir nas gaiolas viveiros. Passa por ai a reprodução do peixe? Talvez. Para a opinião de José Sócrates, diria que as palavras estão ditas. Resta salvar-se o Algarve.

Novo hospital do Algarve

por José Mateus (consultor de comunicação e autor do blogue CLARO)

Finalmente o Algarve vai ter um novo hospital. Penso que o compromisso de Sócrates é para tomar a sério e que podemos confiar nele. “Este hospital já podia estar a andar há anos”, disse Sócrates. De facto, já oiço falar nele há anos, e quem não ouviu? Já ouvi uma série de primeiros ministros e de ministros da saúde falar do novo hospital do Algarve. Mas, de facto, só falavam. Agora, finalmente vai ser. Sócrates lançou um concurso público para o novo hospital e marcou um calendário de execução.

Com um investimento directo de 250 milhões de euros, o novo hospital deve estar a funcionar em pleno em 2013. Em 2012 a estrutura deverá estar concluída. As obras começam no próximo ano e nestes meses mais próximos decide-se o concurso público. Este hospital não é construído para substituir o outro e, penso que isto, é um esclarecimento fundamental mas, sim para ser um hospital de referência para a região, para a sua economia, sobretudo turística e também no país, para ser um peça essencial, como digo da economia da região.

Esperemos que também para servir de infra-estrutura ao ensino da medicina como quer, e bem, o reitor da universidade, João Guerreiro. Será, disse Sócrates, não apenas um hospital novo, mas sim um hospital novo, que seja pois, o Algarve merece e precisa. Dito isto, depois deste anúncio formal, veio o PSD dizer que isto é eleitoralismo e que o hospital é lançado quando já podia estar a funcionar. Têm razão. Para o hospital estar já a funcionar bastava que o governo do PSD de Barroso e de Santana Lopes o tivesse lançado nessa altura. Desgraçadamente não o fizeram. Falaram, falaram mas não fizeram nada. E agora queixam-se que é tarde e que já podiam, etc, etc.

A pergunta a fazer-lhes é simples: mas que raio fizeram quando o podiam ter feito? A resposta também é simples: nada. Só conversa. Por isso, agora um pouco de vergonha não lhes ficava mal. Uma última nota, Macário Correia tem razão. Ele descobriu agora que os empatas da QUERCUS não têm credibilidade. É verdade, não têm. Macário já podia ter descoberto isto há mais tempo, mas só agora lá chegou. Chegou atrasado, mas chegou e nisto tem razão. A QUERCUS não tem mesmo já credibilidade.

Tarde, tarde é só mesmo o que nunca vem.

quarta-feira, maio 07, 2008

1º de Maio

por Luís Horta (director do Jornal Sotavento)

Na passada Quinta-feira, em que a igreja assinala o dia de São José Operário, comemorou-se o dia do Trabalhador, num feriado respeitado por quase todas as entidades patronais. Em Lisboa e noutras capitais de distrito, as duas centrais sindicais consentiram a presença de inúmeros filiados nos mais diversos sindicatos, num enorme protesto contra a nova lei laboral, contra a precariedade do emprego, contra a situação dos jovens, cujo 1º emprego cada vez é mais raro e difícil de atingir.

São episódios de uma guerra constante em que não há vencedores. Só vencidos. Onde não há crescimento, o país é que sofre e sofrendo o país, sofrem todos: as entidades patronais, empregados e todos quantos constituem a força produtiva de riqueza do nosso país. Isto são, no entanto, contas de um rodeio que o 1º de Maio todos os anos vem assinalando e registando para memória futura. Num outro rosário, ou seja, fazer do 1º de Maio um dia de descontracção também vai ficando muito aquém. Como todos nos lembramos, praticamente o dia do piquenique no campo, junto às ribeiras em zonas de lazer, uns caracóis, umas favas, um bom vinho tinto da cooperativa de Tavira, que também já não existe, eram os condimentos obrigatórios, entre outros.

Este ano, na véspera do 1º de Maio fui procurar uns caracóis. Tinham estado muito caros e não havia nada à venda, nem dos algarvios (aqueles sequinhos do restolho dos cereais ou das favas), nem dos caracóis emigrantes que vêm de Marrocos e a gente não sabe que tratamentos químicos poderão ter levado. Os caracóis fizeram pois, uma autentica greve ao 1º de Maio.

Sinal que os tempos estão tão maus para os agentes económicos, como para o cumprir de uma simples tradição de caracolada neste dia. Vamos lá ver se para o ano, nem uma situação, nem outra acontecem. Esperemos pois, que o Maio de 2009 nos traga outra alegria ou melhores empregos e com mais caracóis no prato.

terça-feira, maio 06, 2008

Em busca de um mundo melhor

por Jamila Madeira (deputada do partido socialista)

Desde sempre que a U.E defende intransigentemente a paz, que tem uma perspectiva de solidariedade e coesão, que proclama a integrarão mais do que a divisão e promove os direitos do ambiente e das pessoas com elementos fundamentais do nosso desenvolvimento integrado. Nos últimos anos, com a guerra do Iraque, do Líbano, o alimentar do conflito do médio-oriente, a noção de paz tem sido atacada. Com a especulação de alto risco com bens de primeira necessidade do mundo, como os cereais, a solidariedade e coesão foram postas em causa em troca de lucro rápido e fácil.

Com o alimentar de hostilidades entre Sérvios e Kozovares de uma perspectiva étnica, alimentou-se o separatismo. A U.E tem por isso sido violentamente atacada por empatar o prosseguimento deste tipo de linhas de raciocínio. No entanto, nos tempos mais recentes, começámos a ver alguma luz ao fundo do túnel. Todos os actores, nas diferentes guerras assumem que estas foram e são um erro e querem que a U.E intervenha directamente com a sua abordagem alternativa de diálogo, das pessoas primeiro.

As nações unidas ouviram os nossos apelos e controlaram a linha especulativa à volta dos bens de primeiras necessidades, declarando a batata como o elemento frágil e o único crucial. Para alimentar o mundo com esta linha, desmonta-se a especulação dos mercados de alto risco, a chantagem dos Lóbis e a pressão do Lóbi do petróleo para que não existam alternativas rápidas, embora temporárias, aos combustíveis fosseis. Por outro lado, a Sérvia iniciou o seu processo de integração. Numa lógica que edificará o espaço europeu, iniciando o seu caminho à adesão à U.E.

Criaram-se regras no âmbito ambiental e de registo químico para todos os produtos que fabricados fora do espaço europeu, ainda assim ambicionam ser vendidos no poderoso mercado de 500 milhões de consumidores que é a U.E. E deram-se ainda os primeiros passos para que estes critérios sejam alargados à escala dos direitos sociais e laborais, intrínsecos a cada produto que chega às nossas fronteiras. É assim, a moral da historia.

Depois de muito ser criticada como a desmancha prazeres e a ovelha negra, que bloqueia estratégias leoninas, a U.E é hoje vista como uma esperança do mundo. Em tempo de celebrar mais um dia da Europa, é bom que nos lembremos disto e que recuperemos a luz ao fundo do túnel para dar esperança às próximas gerações.

Tenham um bom dia 9 de Maio: dia da Europa e de um mundo melhor.

Stephen Zweig

por Carlos Lopes (advogado)

Tendo passado o mês do livro não deixaria de falar do autor, um pouco esquecido, mas que parece que está a voltar ao convívio dos leitores. Pessoas mais velhas, a rondas os 70/80 anos, certamente recordarão o autor austríaco que escreveu “24 horas na vida de uma mulher”. Falo de Stephen Zweig. O autor que se lê bem, caiu no esquecimento como o autor menor, mas Zweig vendeu durante muitos anos. Era um autor lido e querido dos portugueses, vendido aos milhares. Li as “24 horas” há muitos anos. Gostei. Saiu agora uma nova edição de “24 horas na vida de uma mulher”. Custa 11€ e é um livro interessante para ler nesta primavera.

Jornal Barlavento

por Hélder Nunes (jornalista e director do Barlavento)

Semana a semana, este conjunto de homens e mulheres, unidos por este símbolo criado há 33 anos, que dá pelo nome de Barlavento e ditam e edificam letra a letra, parágrafo sobre parágrafo no produto que é referência a quem, foi já atribuído pelo clube de jornalistas, o prémio Gazeta para a imprensa regional e que os nossos leitores continuam a colocar como o jornal mais lido no Algarve, nas sondagens efectuadas por empresas credíveis.

Não é norma nesta casa auto elogiar-se. Somos o que somos. Temos uma escola de jornalismo regional que muito nos orgulha e que serve de exemplo para outros mas, a capacidade de criatividade e de intervenção da nossa equipa permite-nos estar no topo das preferências. Não colocamos na cabeça e no cabeçalho do nosso jornal as expressões de “mais lido”, “maior do Algarve” ou outros subtítulos como muitos fazem para mascarar a realidade porque é, por demais, evidente que a qualidade do jornal produzido por toda a equipa barlaventina, pelo reconhecimento dos leitores, pelos anunciantes, das entidades, dos políticos, do povo que nos consome semanalmente.

Permitam-me este auto-elogio na passagem de mais um aniversário deste jornal. Com humildade e reconhecimento justo e merecido ao conjunto de trabalhadores do jornal, que tudo fazem, dia-após-dia para nos mantermos com vivacidade própria de uma criança e irreverência de quem não deseja envelhecer. A idade apenas nos dá o estatuto de maturidade para entendermos que o jornalismo é uma profissão onde se contam os factos e se dá a oportunidade ao confronto das partes. No corpo do jornal há as diferentes secções, entre elas, a de opinião livre. Não se pode confundir as ideias pessoais, a defesa de argumentos estritamente ideológicos com jornalismo.

Esses textos são uma das partes do corpo do jornal para gerar o equilíbrio, para que os leitores encontrem no seu jornal o contraditório. O jornal define-se pelo seu estatuto iveverial, que na maioria dos jornais generalistas é o mais abrangente possível, com base na liberdade e no direito de informar.

Sem fomentar ódios, sem a apologia das divergências que semeiem a segregação. Não é por acaso que o jornal festeja o seu aniversario no dia 26 de Abril.

sexta-feira, maio 02, 2008

O jornalismo está em risco

por Ricardo Chega (correspondente da Lusa em Espanha)

No próximo Sábado comemora-se o dia da liberdade de imprensa, dependendo do ponto de vista, é um dia para celebrar ou para esquecer. A liberdade de imprensa corre perigo em vários pontos do globo. A ânsia de poder desses políticos tem contribuído para prejudicar enormemente o direito de serem informados com verdade. Em Portugal, o governo da maioria de José Sócrates contribui para desprestigiar a democracia e empobrecer a liberdade de expressão e de imprensa.

O novo estatuto do jornalista serve apenas para que os profissionais da informação sejam controlados e se transformem, nalguns casos, em marionetas do poder. Em Portugal, tal como sucedeu noutros países onde a democracia também é insípida, o jornalismo converteu-se numa profissão de alto risco. Cada vez mais, há jornalistas a serem incomodados pelo poder judicial, muitas vezes, dando cumprimento ou desejos políticos.

A liberdade de expressão e de imprensa tem que ser entendida como um dos pilares do país, que se pretende democrático e adulto, um país em definitiva do séc. XXI. Não é possível que um governo pretenda dominar a comunicação social e fazer calar através de decretos e leis, todos aqueles que lhe são contrários. É na diversidade que está a riqueza de um país e parece que Portugal ainda não percebeu que assim é. Sócrates quer ser o Primeiro Ministro. Passeava e voava pelas exposições, opinando, criticando e censurando.

Hoje em dia, desde o palácio de São Bento quer evitar a todo o custo as críticas e minguar o papel social e democrático da imprensa. Portugal atravessa momentos difíceis, não só economicamente, mas também ao nível da informação. É um país que vive quase sempre aplicando a lei da rolha. Os jornalistas têm muitas dificuldades para fazer os seus trabalhos de maneira independente. Só os profissionais que são solidários ou partilham a mesma cor do governo, informam através de notícias que parecem publicidade.

Mas isso parece não preocupar o governo. O que importa ao Sr. José Sócrates e à sua colha é que se venda imagem de Portugal, que é um país moderno e democrático, quando na realidade é um pais que está a perder um dos pilares fundamentais da Democracia e a confiança dos seus habitantes. Deveríamos fazer todos uma reflexão no próximo sábado.

quarta-feira, abril 30, 2008

Crise económica

por José Mateus (consultor de comunicação e autor do blogue CLARO)


Daniel Bessa, um professor de economia que tem estudado muito o caso português, deixou há dias numa conferencia no Algarve um alerta sobre a próxima crise grave em Portugal e algumas pistas para ultrapassarmos bem. Portugal, diz Daniel Bessa, vai passar para ritmos de crescimento mais baixos do que os actuais. Tudo isto, devido à crise financeira mundial e ao consequente arrefecimento da economia global.

Mas, também tem consequências muito importantes para nós a aterragem forçada da economia espanhola, que já está a mergulhar e, se prevê que tenha um mergulho bastante violento. São factos e circunstâncias que nós não controlamos e nem sequer podemos influenciar, mas que nos vão cair em cima da cabeça.

Para resistir e ultrapassar este desastre anunciado, Daniel Bessa defende que temos de definir motores para a nossa economia e apostar forte neles. Para ele, é claro que os motores da economia portuguesa são as médias e pequenas empresas e citou exemplos: a EFASEC. Podia ter acrescentado a Edisoft e as empresas tecnológicas do pólo espacial e da defesa que se safam muito bem na competição mundial e até são lideres mundiais em certos segmentos bem avançados.

Mas também sejamos honestos. Há que dizer que a todas estas pequenas e médias empresas falta marca e falta comunicação para se elevarem na cadeia de valor e ganhar o dinheiro que ainda não conseguem ganhar e que merecem e, esta marca é essencial para a aposta que Bessa defende nos mercados externos. No mercado global também temos de apostar cada vez mais e com mais qualidade no turismo do nosso Algarve.

Daniel Bessa, certamente estará de acordo que a aposta das nossas pequenas e médias empresas tecnológicas e com vocação exportadora para o mercado global, sendo uma aposta estratégica e imprescindível, não nos resolve porém um problema grave. O problema do emprego de centenas de milhares de pessoas pouco qualificadas é estratégico e imprescindível e só indústrias de mão-de-obra intensiva, como o turismo o podem resolver.

Daí a necessidade absoluta de manter e desenvolver uma política séria e inteligente para qualificar e desenvolver esta indústria estratégica para o Algarve, mas também para Portugal que é o turismo e já não é sem tempo.

terça-feira, abril 29, 2008

Mais uma ponte?

por Luís Horta (director do jornal Sotavento)


O passado fim de semana foi rico em acontecimentos que fizeram movimentar a cidade para além do habitual. Bastou para isso, no aproveitamento de um fim de semana prolongado que a Feira da Serra de Primavera, enchesse a baixa da cidade com o colorido das roupas que, um antecipado Verão justifica.

Mas é evidente que nem tudo são rosas neste amontoar de pessoas que afluem à cidade do Gilão: acrescenta-se o corte do trânsito através da ponte do jardim. Quem inventou aquela ponte de forças armadas deveria voltar atrás; por causa da feira cortou-se a ponte do jardim, o que não permite tornear a rua José Pires Padinha ou estacionar está em curso.

O arranjo da rua dos Pelames que cortou o percurso automóvel entre os CTT e o centro de transportes da Bela Fria. Assim, a Praça da República e a Rua da Liberdade estão praticamente isoladas quanto a cargas e descargas. Neste fim de semana e, pelo movimento de visitantes, foi ver e sentir os efeitos das extensas filas nas zonas de possível estacionamento, “entupindo” uma grande parte da cidade e causando a exasperação.

É certo que no dia 25 de Abril foi inaugurado o parque de estacionamento gratuito na Bela Fria com 70 lugares e com boas condições de acessibilidade ao centro. E também é certo que o espaço sobre a ponte D.Manuelino, porque do mercado comportam bastantes viaturas. Também é certo ainda que o lado ocidental da cidade tem espaços públicos que podem ser aproveitados. Mas, para além do arranjo da ponte do jardim, eu insisto com este nome mais bonito. É preciso criar outra ponte e fazer com que a circulação de viaturas e peões tenha fluidez, segurança e proximidade.

Se Tavira pretende ser e é uma cidade de turismo, tem de criar todas as condições e mais uma para que os seus visitantes a percorram com facilidades na existência de suficientes parques para estes e, para as actividades normais de uma cidade que cresceu em dimensão urbana. Esta dimensão obriga ao uso de viatura para aceder ao centro, o coração onde, além dos motivos turísticos se situa toda a sua actividade motora, quer seja pública quer empresarial. É essa melhoria que me foi sugerida pelo intenso movimento deste fim de semana em Tavira.

quarta-feira, abril 23, 2008

O abandono de Luís Filipe Menezes

por José Mateus (consultor de comunicação e autor do blogue CLARO)

O PSD parece tendencialmente residual e regionalizado. É uma crise grave, de um partido histórico do acto governamental. Um partido que representa ou representou uma parte importante do eleitorado e da democracia portuguesa, mas que parece perder-se em jogos pessoais e intrigas rasteiras.

Luís Filipe Menezes sai prematuramente sem honra nem glória. Ele que queria ser o Sarcossi português. Menezes andou a berrar que queria ser Sarcossi e agora invoca contrariedades oriundas do próprio partido para justificar o abandono. Se o autarca de Gaia conhecesse 10% ou até mesmo 5% das contrariedades que Sarcossi enfrentou e venceu, num tal cenário não se demitia, apenas suicidava-se.

Ora Sarcossi está agora na presidência e quem lhe procurou arranjar as tais contrariedades está a explicar em tribunal e diante juizes. E não são quaisquer uns. Basta ser o nome, por exemplo, Jacque Chirac. Olhe-se agora para os candidatos que se unem para a candidatura à próxima liderança do PSD e veja-se, como a maioria dos nomes mais sonantes são todos oriundos do Porto e políticos de 2ª linha.

De Lisboa parece não haver candidatos. Manuela Ferreira Leite parece não estar convencida a ser a dama de ferro do PSD e Marcelo Rebelo de Sousa, mesmo se adorasse voltar, não é hoje para o PSD senão um professor de Direito que faz comentários na televisão. Pedro Vaz Coelho é ainda um “J” de Coimbra que foi presidente da JSD. Dotado com 26% das intenções de voto, o PSD em termos de quadros diferentes não parece ter hoje massa crítica a Sul e, preso com uma distribuição orgânica muito assimétrica e desequilibrada para Norte de Leiria. A demissão prematura de Luís Filipe Menezes pode ter como consequência colateral, o fim político do ultimo barão de Lisboa, Angelo Correia, que começou da pior maneira no Verão passado.

Uma conversa de fazeres de reias, enganando-se redondamente na escolha do rei. Não deixaria de ser imensamente irónico que o inoxidável Angelo Correia fosse liquidado por fogo amigo do instável Menezes. Mas, a grande questão que desta perspectiva se levanta é a seguinte: será hoje o PSD uma formação política residual, concentrando a massa crítica restante dos seus dirigentes do Porto e a Norte?

Não me parece haver ainda uma resposta clara e definitiva para a questão. Mas, nas próximas semanas já vamos saber. Ver-se-á se o PSD escapa ou não a esta tendência para a residualização e para a regionalização. Mas se esta tendência se acentua então abre-se o campo a uma marcante recomposição de toda a paisagem política portuguesa.

terça-feira, abril 22, 2008

Os Lóbis

por Jamila Madeira (deputada do partido socialista)

O Lóbi é uma expressão forte e com um lado muito útil quando usado de maneira transparente. Em Portugal, os Lóbis não estão regulamentados e são, de alguma forma, vistos como um mundo subterrâneo e de interesses ilegítimos em que todos têm algo a ganhar. Nas instituições europeias, os Lóbis não são vistos desta forma. A sua actuação é vista como muito importante, estando a cidadania e a discussão em torno das diferentes perspectivas sobre uma mesma questão.

A sua regulamentação é feita de maneira bastante detalhada ao nível do parlamento europeu, dadas as múltiplas possibilidades de intervenção que os Lóbis podem potenciar junto desta instituição. No entanto, estes quase 5000 Lóbistas que trabalham junto das instituições europeias vão agora ter que regulamentar a sua actividade com novas regras e estas, pretendendo reforçar a transparência entre estes grupos de pressão e as instituições europeias.

Assim, para além de ser conhecido o objecto da sua intervenção implementar-se-ão medidas que reforçam as responsabilidades destes em relação aos membros do parlamento europeu e das demais instituições e em relação a todas as iniciativas que aí desenvolvem. Assim, para além do registo único comum a todas as instituições, estes deverão também tornar públicas as suas fontes de financiamento. Também que seja publicada a lista de todos estes Lóbis que foram consultadas para a elaboração de uma qualquer legislação europeia.

Deste modo, podemos garantir ou pelo menos continuar a garantir o reforço da cidadania europeia com a confiança no trabalho do parlamento europeu.

As "províncias" de Portugal

por Luís Horta (director do jornal Sotavento)

No fim de semana de 12 e 13 de Abril teve lugar no Algarve o 1º Festival Internacional de Ginástica, uma organização que movimentou cerca de 600 atletas e decorreu nos concelhos de Olhão, Tavira e Vila Real de Santo António. Como é hábito, os jornais regionais e também os locais, Postal e Sotavento, cobriram o acontecimento, dando-lhe o relevo que as suas disponibilidades de espaço permitiram, o que acho curioso e daí a razão desta minha crónica de hoje. Os diários a nível nacional e os desportivos nao fizeram referências de jeito a este festival.

Isto porque acabei de receber um telefonema de uma participante que me perguntava se o meu jornal tinha trazido alguma coisa sobre o acontecimento. Perante a minha resposta positiva, perguntou-me ela como podia aceder o mais rápido à notícia e, como estava a falar de Lisboa, acabei por lhe fazer chegar a página do Sotavento através da internet, o que numa primeira análise, satisfez o seu interesse imediato.

Mas, o facto obriga-me ainda a pensar na verdadeira ou verdadeiras razões pelas quais a nossa dita grande imprensa pouca importância dá a eventos como este. Será porque não são futebol? Será porque não envolvem Sporting, Benfica ou Porto? Será porque não têm figuras Vip a assistir? Enfim...Será por uma série infinita de razões que nos dizem cada vez mais que a maior parte dos políticos, a maior parte das figuras do topo da economia, das artes, das ciências ou do desporto não ligam patavina à dita e chamada província. Ser província é ser menor.

O que se passa na grande província não interessa ao grande país, cujos horizontes para a maior parte deles é apenas Lisboa. Infelizmente, também uma grande parte dos jornalistas portugueses assim pensa. Talvez a senhora ginásta, a quem enviei por mail a página do Sotavento, tenha ficado satisfeita pelo evento ter sido divulgado. Caso contrário, poderia a senhora pensar que o festival não tinha sequer acontecido e, quem sabe, pensar se os concelhos de Tavira, Vila Real e Olhão nem sequer existirem, ou ainda, não passa de um mito desta zona do Sotavento para acontecimentos de certa grandeza, desportivos ou não.

Ninguém, nos meios importantes quer olhar para além do seu horizonte centralizador, da sua cidade capital. O resto, continua a ser paisagem. Não há pior cego do que aquele que não quer ver.

quinta-feira, abril 17, 2008

Num sono profundo

por Hélder Nunes (jornalista e director do Barlavento)


"O lar foi desde sempre a pretensão inicial da instituição", reconhece Augusto César, um militante de causas sociais que tem lutado para que a Serra do Caldeirão não adormeça num profundo sono. Esta, é uma nova etapa que a Instituição de Solidariedade Social da Serra do Caldeirão está a viver, com a apresentação de um projecto e de uma nova candidatura para construir um lar para idosos acamados e deficientes mentais que fiquem sem família.

O Instituto de Segurança Social promete dar todo o apoio para a sua concretização, pelo que o projecto não pode morrer nos corredores burocráticos. O projecto tem um lar com 84 quartos que pretende responder às valências. De certa forma, que já tem alguma resposta a nível dos acamados, mas quanto aos deficientes mentais, é preciso que se diga que não existe no Sul do país uma única instituição que os possa acolher depois de ficarem sem pais.

Isto, é de facto um drama real que muitas das pessoas vivem e que são depois integradas em lares de idosos, que em nada estão preparados para os receber. A Governadora Civil e o director do Centro Distrital de Faro da Segurança Social têm conhecimento do trabalho desta instituição e é importante, portanto, que já existindo terreno disponível para que seja feita a construção do lar, que comece a ser desumano prolongar por anos e anos um simples despacho do ministro da cultura, bastando assinar os termos de modo a que a obra possa concluir-se.

Além destes projectos, a Câmara Municipal de São Brás de Alportel reconheceu todo o trabalho desta instituição de solidariedade social e irá entregar-lhe, de São Brás de Alportel a uma instituição do concelho de Loulé, uma escola recuperada e desactivada, criando ali um centro de dia para que esta instituição possa administrar. É de facto importante que as pessoas se comecem a aperceber de uma realidade que existe no nosso país e, que é de facto, os deficientes mentais quando os pais morrem.

Onde ficam estas pessoas? E não existem um, dois, três, existem talvez milhares de pessoas nestas condições. É desumano não permitir que um lar destes seja construido e os burocratas e os monges de alpaca estejam de facto nos gabinetes fechados a pôr um travão numa obra que é essencial e importante, não só para o Algarve, como para a Serra do Caldeirão, porque a serra não pode ficar num profundo sono.

quarta-feira, abril 16, 2008

O Salazar do século XXI

por José Mateus (consultor de comunicação e autor do blogue CLARO)

Os casos Jorge Coelho e Fernanda Câncio mostram bem que a política da oposição está reduzida a hipócritos ataques pessoais. A hipócrisia, a duplicidade da argumentação falaciosa e o vício do ataque pessoal destes neo-salazarentos não conhece limites.

Duas vergonhosas manifestações desta pessonha aconteceram esta semana; foram a jornalista Fernanda Câncio e Jorge Coelho. Sem propostas políticas para os novos problemas deste século XXI, esta gente que vive algures no passado, claro se sente confortável, que não quer de lá sair e que pretende mesmo encerrar-nos e fechar-nos aí, fora do ataque pessoal e da intriga rastejante da sua política. Isto é comum, estes ataques todos, digam os senhores de esquerda ou de direita.

Jorge Coelho, por exemplo, que mais duplicou o período de nojo que a lei impõe às pessoas nas circunstâncias dele, tem claro, a lei, a legitimidade e a moral do seu lado. Portanto, toda a liberdade para escolher e fazer as opções de vida que bem entender e, sem ser vítima dos ataques destes farizeus da política que, com falsas morais pretendem limitar e coartar a liberdade de cada um, tal como, de resto Salazar fazia.

O bicho morreu, mas 40 anos depois parece que a pessonha ainda cá anda.

NOTA: Os comentários de José Mateus são emitidos todas as terças-feiras, às 9,30 horas, com repetição às 15 e às 21 horas.

segunda-feira, abril 14, 2008

Uma União Europeia melhor

por Jamila Madeira (deputada do partido socialista)

A União Europeia é um espaço de Democracia, Liberdade, Tolerância e Direitos Humanos. Na sua génese está a constituição da paz e da prosperidade e, vir a trazer um futuro próspero aos seus cidadãos. Sempre, mas sempre se pautam todas as defesas do direito internacional e sempre se quiz a sua supremacia. Ainda assim, a UE não tem conseguido fazer ouvir com a veemência necessária, a sua voz no âmbito externo. Umas vezes, porque articula a mesma mensagem ou a sua mensagem de forma demasiado ténue, outras vezes por ser pouco autónoma nas suas posições, outras ainda por estar demasiado dividida e em sentido completamente antagónico.

Esta realidade foi originada pelo facto de estarmos sem instrumentos, ou seja, de só agora no tratado de Lisboa e também na anterior Constituição, a UE funcionar a uma só voz no âmbito da política externa e só agora, efectivamente, ser uma realidade. Assim, o concelho europeu, normalmente seguindo linhas que a diplomacia também conhece, fugia da realidade e dos cidadãos e mantinha uma perspectiva absolutamente altista.

Vários são os exemplos em que a UE ainda não marcou pela diferença. Falamos de Cuba, antes e depois de Fidel, da situação no Darfur, no conflito do Sahara, mesmo nas relações com a América Latina e com África. É pena, mais evidente que tudo, o conflito no Médio Oriente. Neste caso, em que o nosso aliado transatlântico enfrenta neste momento eleições e assumem todos os candidatos à presidência uma postura presentemente escorregadia e índubia contra a proposta do presidente, a UE deveria ser capaz de assumir a liderança deste processo, apoiando uma solução de paz que, naturalmente passa pelo diálogo e, obviamente, pelo diálogo entre todos os interlocutores sem excepção.

A realidade já nos demonstrou isso no território europeu com a solução encontrada para o conflito na Irlanda do Norte. É preciso de uma vez por todas assumir a liderança e dar apoio a quem quer ajudar. É preciso trabalhar para que os cidadãos europeus se empenhem num projecto global de paz e, não apenas numa visão particular e, de alguma forma, egoista.

Metereologia correcta

por Luís Horta (director do jornal Sotavento)

Na última semana o Algarve, como aliás todo o país, esteve sob temporal que abalou a Península Ibérica. Porque a sua actividade depende do tempo, há sempre gente ansiosa pelas notícias que correspondem à previsão. Notícias e previsões que não surgem com aquele desenvolvimento e com aquela precisão que muitos necessitam e, de que a maior parte não desnenharia.

Por mim, quando quero saber alguma coisa sobre a matéria estabeleço ligação com a TVE e, o primeiro canal dos nossos vizinhos espanhóis, por volta das 21h, dá-nos 5 minutos, pelo menos, de antevisão para os dias seguintes. É pena que os noticiários televisivos portugueses, designadamente a estação pública, não o façam como antigamente. Perder 5 minutos com a metereologia talvez não faça perder telespectadores, talvez aumente o seu número.

Parece que os noticiários são também os grandes barómetros das audiências, que todos querem ganhar, mesmo à custa de uma informação menos cuidada. A nossa memória ainda regista com agrado as intervenções dos técnicos do serviço metereológico de há 30 anos. Ainda tem imagens das autênticas lições dadas por Antimio Azevedo, conhecido como o "explicadinho", Costa Andrade e outros. Os anticiclones, as depressões, as frentes e outros termos eram-nos familiares, a coisa percebia-se.

O cidadão corrente, mesmo sem ter conhecimentos sobre a matéria, ficava elucidado quanto baste, para a sua relação próxima com o mau/bom tempo que viesse a fzer e, quem viajasse, os pescadores ou agricultores, agradeciam o bonús. Era serviço público.

Nesta última semana e em Tavira, como se viu, não chegou a haver problemas graves, ocasionados pelo mau tempo infernoso que se prolongou por vários dias. O nosso Rio Gilão está menos agressivo, bastando que as suas margens não sejam invadidas por detritos. É quanto se deseja. Mas o cidadão gostaria de saber mais sobre o que se passa com o tempo, para além de alertas amarelos, laranjas ou vermelhos que constituem informação difusa e pouco concreta.
Bastaria recuperar os boletins metereológicos feitos com tempo, devagar e bem explicadinhos.

Que acham disto os presentes ouvintes?

Camilo Castelo Branco

por Carlos Lopes (Advogado)

Camilo Castelo Branco é conhecido sobretudo pela sua grande obra "Amor de Perdição", uma espécie de Romeu e Julieta da Beira Alta, obra romântica por excelência e, pela qual, Camilo é conhecido. Mas Camilo não é só isso. A sua imensa obra; diga-se que Camilo foi o primeiro escritor português a viver exclusivamente da escrita. Espalha-se por mais de uma dezena de livros.

Em virtude desse profissionalismo, há obras recentes em que se tem que escrever a metro para ganhar a vida, mantendo textos inesquecíveis. Hoje queria trazer aqui a "Queda de um Anjo", a obra satírica da sociedade portuguesa do século XIX e, onde nos rimos a bom rir. O herói, Calisto Elói, uma personagem rural que ascende a deputado na mansão e que vive peripécias hilariantes, é o português típico.

"Queda de um Anjo" não fica atrás das páginas de Eça e é uma faceta que por vezes é menos conhecida de Camilo. O livro vale a pena. Não é muito grande e faz, de certo, as delícias de quem o lê. Há edições populares, nomeadamente da Arcadia.

Vale a pena.

sexta-feira, abril 11, 2008

Triste justiça

por Ricardo Chega (correspondente da Lusa em Espanha)

O caso da pequena Mariluz veio pôr o dedo na ferida e lançar o debate social sobre os caos, em Espanha e quase por toda a Europa. Sentenças arrefecem dentro de gavetas e caixas de cartão das secretárias judiciais. Todos sabiamos que a justiça é cega e suprema, mas agora sabemos também que é lenta e pouco prevenida.

O sistema judicial em si não é complicado nem é lento, mas tem a responsabilidade de quem o exerce, de quem tem o dever de desenvolvê-lo, tem também a responsabilidade de torná-lo mais eficaz. Neste saco englobo os políticos, os governantes, os juízes, os procuradores, os advogados e também, claro que sim, os cidadãos, sobretudo quando a justiça se aplica em nome do povo.

O caso da Mariluz, na Espanha, é apenas um dos milhares de casos anónimos que se conservam nos tribunais. Há delinquentes condenados e que estão em liberdade, cometendo crimes. A justiça continua de olhos fechados, até ao dia em que de tantos erros e de tanta vergonha padeça de um ataque fatal.

Em Portugal passa-se exactamente o mesmo. O sistema judicial é lento, demasiado lento. Não se actua com a eficácia e, muitas vezes a eficiência devidas. Perde-se demasiado tempo com pormenores que interferem no bom funcionamento da justiça e, quando ocorre um erro judicial escandaloso, eis que todos os intervenientes da justiça sacodem a água do capote e atribuem-se culpas mútuas.

Creio que é um inquívoco. Deviamos todos, já que a justiça não é de ninguém em particular, unir-nos e exigir a quem corresponde responsabilidade, dedicação, seriedade, eficácia e profissionalismo. Não se pode alterar a lei como quem muda a decoração de uma casa. Já existem leis suficientes. O que é preciso é pô-las em prática. É necessário rigor.

Penso que se todos pusermos um pouco da nossa parte seguramente poderemos resolver este problema. É preciso que os políticos sejam prudentes, que os governantes mimem a justiça, apesar de não dar votos. Que o ministério público faça o seu trabalho, que os juízes deixem a preputência de parte, que parem de pensar que eles são deuses e que façam mais uso da palavra, pontualidade e dedicação. Os advogados que evitem as manobras para magnificar ainda mais a triste moronocidade.

O sistema judicial precisa urgentemente de um milagroso circuito informático, semelhante ao que tem, por exemplo, as finanças para que se conheça num instante o registo criminal do cidadão e se algo pende sobre ele. E claro está, a solução não passa apenas pela informática, o nº de funcionários especializados e dinâmicos têm que ser também aumentados.

quinta-feira, abril 10, 2008

Recuperação dos moinhos

por José Mateus (consultor de comunicação e autor do blogue CLARO)

O dia dos Moinhos, iniciativa da Rede Portuguesa de Moinhos, comemorou-se no passado dia 7 de Abril. 102 Moinhos em 13 distritos do continente e dos Açores estiveram abertos para visitas e com animação própria. Desde o fazer pão até às provas do pão, passando por visitas de estudo, palestras, caminhadas e mostras e provas de produtos regionais.

A recuperação dos Moinhos, para além do que se pode fazer em animaçao turística como se viu, é sobretudo no caso dos moinhos de água e seus açudos, o muito significativo contributo para a verdadeira conservação da natureza e para a biodiversidade. Certamente era muito importante que os nossos autarcas e outros políticos e, até aqueles ambientalistas que só falam em ambiente para chatear e empatar fizessem qualquer coisa de útil para a biodiversidade, a conservação da natureza e a riqueza deste nosso Algarve.

Aqui fica o desafio: recuperem os moinhos, recuperem os nossos moinhos, sobretudo os de água e seus açudos. E se ao contrário do que acontece nos Açores aqui no continente os moinhos ainda não têm legislação, que os proteja. A verdade, é que já as autarquias podem declará-los de interesse concelhio. Pois entao façam-no e já. Metam mãos à obra.

A natureza, a biodiversidadde, o turismo e os eleitores vão agradecer.

À espera da Circular Norte

por Hélder Nunes (jornalista e director do Barlavento)

Há 10 anos, o concelho de Loulé abriu as suas portas para receber o aterro sanitário do Sotavento Algarvio, com a condição de pelo menos o Governo assumir o compromisso de construir a Circular Norte, para evitar a circulação dos cameões de transporte dos resíduos sólidos pelo centro da cidade. Passaram-se todos estes anos, o aterro está a funcionar mas a Circular Norte tem vindo a ser adiada.

Sem um pingo de vergonha e sem constrangimento, o Secretário de Estado do adjunto das obras públicas teve o descaramento de afirmar que a Circular Norte de Loulé esteve prevista para integrar o projecto de requalificação da Estrada Nacional 125 mas acabou por ser retirada, enquanto o concurso público que decorre desde Junho de 2006 será anulado e adiado, não se sabe para quando. Não há vergonha, nem respeito pelas populações.

Tudo parece resumir-se à simples contagem dos votos e uma espécie de negócio que ninguém entende ou educadamente fazem por não entender porque muitos têm mais vergonha do que os políticos que mais não fazem do que construir o seu futuro à sombra da passagem pelo Governo.

A Câmara de Loulé tem todo o direito de demonstrar publicamente a sua indignação porque estamos perante um compromisso que ultrapassa a simples partidarite. Há protocolos entre o anterior Instituto de Estradas de Portugal, actual empresa Estradas de Portugal (EP) e a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional. O problema não é de agora, já vem do passado. Que haja solidariedade, pelo menos por parte dos concelhos do Sotavento Algarvio para com o concelho de Loulé, porque a negação e o adiamento da construção da Circular Norte não deixa de ser um ponto negro no sistema rodoviário do Algarve.

Para que tudo se possa solucionar em nome da transparência e da honestidade política, resta ao Sr. Secretário de Estado adjunto das obras públicas deslocar-se até loulé, montar uma tenda, se entender que tal lhe dá mais propaganda e assinar a adjudicação da obra o mais breve possível, porque o Verão está à porta e porque é sempre imprevisível a reacção dos algarvios quando estão "marfados".

quinta-feira, abril 03, 2008

Adiar a regionalização?

por Hélder Nunes (jornalista e director do Barlavento)

A Grande Área Metropolitana do Algarve (AMAL) tem os seus dias contados e tão pouco depois da proposta de lei que o Governo socialista leva a debate no próximo dia 18, os seus estatutos se coadunam com o que se passará a chamar de Comunidade Intermunicipal (CIM) para fins múltiplos.

O Governo apresenta uma proposta onde os municípios da Grande Lisboa e da Península de Setúbal integram a Área Metropolitana de Lisboa e os municípios do Grande Porto e de Entre-Douro e Vouga integram a Área Metropolitana do Porto, que irão ser reguladas por diploma própria. A Área Metropolitana do Algarve legalmente fica extinta.

Pela lógica, e porque o Algarve está inserido na NUT III, e visto a proposta de lei anunciar que «apenas as associações de municípios correspondentes a uma ou mais NUTS III serão consideradas parceiras do Governo em matéria de descentralização de competências e de participação na gestão do QREN, acautelando a necessidade de coerência e continuidade territoriais», todos os municípios irão fazer parte da nova associação, que receberá, certamente, o património da actual AMAL.

O Governo pretende avançar com um novo conceito de associativismo municipal, permitindo que os municípios se associem para fins múltiplos, e aqui apenas o poderão fazer numa associação, ou para fins específicos, podendo neste caso pertencer a mais do que uma associação.

Define o Governo, também, o modelo de governação das CIM, criando dois órgãos, o deliberativo, através da assembleia intermunicipal, que apenas se reúne duas vezes por ano, obrigatoriamente, e extraordinariamente nos termos definidos nos estatutos da CIM, e o conselho executivo, que é o órgão de direcção da CIM, composto por todos os presidentes de Câmara que elegem, entre si, um presidente e dois vice-presidentes.

Relativamente ao Algarve, pela sua inquestionável dimensão física bem definida, esta nova associação, denominada Comunidade Intermunicipal, tem muitas das características da AMAL, restando adaptar os seus novos estatutos à nova lei, como forma de poder ser parceira do Governo e não ficar marginalizada nas acções futuras que se adivinham para a região.

Será que o Governo quer ensaiar com este tipo de associativismo e pelas competências atribuídas a cada órgão, um adiar da regionalização?

Há que fazer uma leitura ao pormenor das competências atribuídas ao conselho executivo da Comunidade Intermunicipal, para perceber que muitas das linhas programáticas de uma futura regionalização estão ali inseridas.

Pode propor à assembleia intermunicipal a cobrança de impostos, propor ao Governo projectos e programas de investimento e desenvolvimento de alcance intermunicipal, elaborar planos intermunicipais de ordenamento do território e muitas outras acções que um futuro Governo regional terá competência para gerir.

Fica-se com a sensação, depois de olharmos para a proposta de lei do associativismo municipal, que o Governo pretende instituir um poder intermédio, com quem passa a dialogar, esvaziando, desta forma, uma futura regionalização do território.

Porque, a haver regiões administrativas, não tem cabimento, dentro do mesmo território, existirem dois poderes com capacidade intermédia para dialogar com o Governo central.

Afirma-se no preâmbulo da proposta de lei que «importa pois, por isso, que as associações de municípios possam ter um regime que lhes permita elevar a respectiva escala de intervenção, ao mesmo tempo que devem acompanhar a matriz de organização desconcentrada do Estado. O diálogo entre as estruturas desconcentradas do Estado e as associações de municípios passa a efectuar-se num patamar semelhante e sem desconformidades territoriais».

O Governo está a criar um interlocutor, tirando, nitidamente, margem de manobra para a criação das futuras regiões administrativas, onde o poder intermédio será gerido por eleitos a nível de região, com as consequências respectivas para os partidos.

Porque passam a existir eleitos de um e do outro lado, enquanto nas Comunidades Intermunicipais os eleitos são meramente locais.

Em 2009, dizem os partidos, pode ser feita a revisão da Constituição, apontando os regionalistas para que se retire a simultaneidade na criação das regiões.

Vamos mais longe: é importante que se crie a figura dos partidos regionais, com capacidade para concorrerem às eleições da sua região, porque, caso contrário, voltamos ao mesmo dilema – serão eleitos representantes dos partidos de cariz nacional, sempre constrangidos quando o Governo central coincidir com o regional.

Queremos maior abrangência e mais democracia participativa. Não pode haver cidadãos de primeira, os que estão nos partidos e alinham nesse tipo de corporativismo, e os restantes que, não pertencendo àquelas estruturas, não se podem candidatar a deputados.

Haja coragem para rever a lei dos partidos e a abertura aos cidadãos para se candidatarem a deputados nacionais e regionais.

NOTA: Os comentários de Hélder Nunes são emitidos todas as quintas-feiras, às 8,30 horas, com repetição às 13 e às 19 horas.

quinta-feira, fevereiro 21, 2008

Ser solidário

por Hélder Nunes (jornalista e director do Barlavento)

As chuvas fortes, de um Inverno teimosamente seco, caíram de madrugada e encheram as ruas da cividade. Arrastaram carros, pessoas, derrubaram muros. É a natureza Mãe a querer ocupar os espaços que sempre foram seus.

Vão-lhe impermeabilizando o manto da fertilidade e dá-se a revolta, a fuga desenfreada na procura das linhas de água que a encaminhavam para os ribeiros, os rios, o mar. Na sua frente, há uma parede de betão. Milhares de portugueses ficaram afectados pelas cheias.

A culpa não é da chuva. Como diz a canção, tomara que chova três dias sem parar. A água é um bem. E a seca que o país atravessa precisa dela como de pão para a boca.

A culpa é de todos nós. Queremos mais cidade, queremos estradas, desejamos um maior conforto enquanto pessoas, esquecendo os perigos que se escondem atrás de um mau ordenamento urbanístico, das construções em linhas de água, na falta de limpeza das ribeiras.

Esquecem-se os homens de manter vivos os diques das ribeiras, de construir na Serra e no Barrocal barragens de terra, para alimentarem o lençóis freáticos que, na falta do precioso líquido, vão secando e arrastando para paisagem desértica o que está a sua volta.

Se as técnicas dos homens são as grandes causadores destas catástrofes, ninguém, principalmente os responsáveis políticos e governantes, se pode colocar de fora, atirando a culpa para cima do vizinho.

O ministro do Ambiente Nunes Correia considerou que os culpados desta situação eram as autarquias. A falta de postura política-democrática, quando se sabe que o Ministério do Ambiente é o primeiro responsável por muitas das anomalias que se passam no terreno, demonstra a falta de solidariedade para com os cidadãos, o que mais não é do que a demonstração prática da atitude do actual Governo.

As pessoas não estão primeiro, mas em segundo, terceiro, quarto e quinto lugar. Pelo menos devia ter tido a capacidade para fazer o discurso politicamente correcto de que a culpa é de todos nós, há coisas mal feitas, temos que corrigir. Culpar os outros, sacudindo a água do capote, é uma falta de respeito pelo povo. Um ministro, no mínimo, é teoricamente responsável.

Se o ministro do Ambiente não quis assumir responsabilidades, do primeiro-ministro José Sócrates, que, na noite de segunda-feira deu uma entrevista em directo na SIC, não se ouviu uma palavra de solidariedade para com as famílias atingidas, como se a catástrofe que se desenrolava aos seus pés fosse nos antípodas.

Ficou mal, muito mal, constatarmos a falta de um sentimento que deve ser muito caro à verdadeira cidadania – ser solidário. Sócrates não foi solidário, aliás, nem podíamos esperar outra coisa dele, quando ao longo dos últimos três anos o seu afastamento da realidade é notório, com os cidadãos a serem rotulados de simples números, ensanduichados pela máquina fiscal, sentindo medo e rejeitando-se mutuamente, como se a sociedade estivesse vigiada por um big brother e em cada esquina existisse um agente pidesco.

Falta a muitos ministros de José Sócrates, e a ele próprio, fazerem a leitura dos mandamentos do que é ser solidário.

Podem-se embelezar os números das estatísticas, mas a realidade mostra que o desemprego aumentou, que nos onze meses do ano passado a economia esteve parada, que a pobreza envergonhada é uma realidade cada vez mais palpável, que os jovens não conseguem comprar casa, que muitos dos cursos do ensino superior não têm saída no mercado de emprego, o custo de vida aumenta todos os meses... há uma realidade que o Governo procura esconder, porque lhe convém.

Como é que o PS vem dizer que o PSD tem que manter os acordos políticos que foram feitos para a lei das autarquias e da justiça, quando na prática, e sempre que pode, quebra os laços de solidariedade que deve ter para com os cidadãos?

Se os seus exemplos não são os melhores, como pode ser exigida aos parceiros outro tipo de postura? Não há uma oposição clara em Portugal, porque o PSD é solidário para com o PS. Mas é uma solidariedade de pura conveniência, que cheira mal, porque é espúria. Já não há valores, há negócios.

E sempre se ouviu o povo dizer, que negócios, negócios, amigos à parte. José Sócrates sentiu-se ofendido quando viu os cidadãos-professores manifestarem-se à porta da sede do seu partido.

Este é um sinal de que as pessoas vão deixando de acreditar nos partidos-corporações e de que a liberdade de mostrarem a sua indignação não tem locais próprios para se manifestar. Pode ser confuso para políticos de olhos vendados, mas é uma realidade emergente a insatisfação do povo, que não sente solidariedade por parte de quem a devia manifestar.

NOTA: Os comentários de Hélder Nunes são emitidos todas as quintas-feiras, às 8,30 horas, com repetição às 13 e às 19 horas.

quarta-feira, janeiro 30, 2008

Os «fundamentalismos» da Europa

por Hélder Nunes (jornalista e director do Barlavento)

A ASAE está a multar as agências de viagens que enviem clientes para hotéis sem licenças. Não seria mais lógico que a ASAE fosse aos ditos hotéis, mandasse os clientes dar uma volta e fechasse as portas, até tudo estar devidamente licenciado? Sim, porque se a ASAE vai a uma cantina na hora de almoço, a manda encerrar e deixa crianças sem comer durante cinco horas, também pode mandar fechar um hotel.

Porque não actua a ASAE em conformidade? Porque é uma polícia feita à medida das tascas, das feiras do relógio e de umas tantas festas populares. O patamar superior, ao que parece, já não é para esta polícia.

Aliás, não temos conhecimento que tenham sido fechados hotéis sem licença, nem tão pouco que o camarão de alguma grande superfície tenha sido regado com lixívia.

Para que fique claro, não desejamos, de forma alguma, que haja desleixo ou incumprimento das normas legais. Num país como Portugal, onde a iliteracia está instituída, era muito mais importante começar a educar, praticar a prevenção e actuar sem repressão.

Há uma procura contínua da multa e dos processos, como simples regra contabilística dos números que contam para as estatísticas.

O que resta aos cidadãos a quem não lhes é dada margem de se adaptarem aos novos «fundamentalismos» europeus? Responder com regras que não violem as leis, dentro de esquemas marginais da normalidade, onde não possam ser acusados de ilegalidade.

Por exemplo: há alguma lei a proibir um cidadão de organizar na sua casa, diariamente, almoços com uns amigos? Casas de almoços à porta fechada. O dono da casa abre e fecha a porta aos seus amigos, convida-os a almoçarem e, no fim, à moda do Porto, divide a despesa por todos com a respectiva recompensa de ter sido ele o organizador.

Uma associação de amigos, sem fins lucrativos e sem apoios do Estado, resolve fazer a recolha entre eles dos medicamentos não utilizados e dentro do prazo de validade, e, depois, faz a sua redistribuição por outros amigos. Será que há uma lei que proíba alguém de dar a outrem o que quer que seja?

E podemos continuar nesta linha. Quem sabe se, num destes dias, não seria aconselhável voltarmos aos tempos remotos da troca de mercadorias. Há alguma lei que proíba de trocar um móvel por sacos de batatas?

Para que se compreenda toda esta complexa legislação, António Nunes, inspector da ASAE, na Assembleia da República, reconheceu que os pequenos produtores não têm legislação a defendê-los, logo, correm sérios riscos. As indústrias tradicionais e de família estão a desmoronar-se.

Há medo nas pessoas, pela repressão que é imposta por homens de rosto coberto. As pessoas sentem que são tratadas como malfeitoras. A pequena economia vai-se debilitando e desaparecendo.

Agora, apareceram uns deputados a criar um grupo de trabalho para fazer o levantamento dos produtos tradicionais. Não se sabe quando, até porque o grupo é afecto ao Governo, irão aparecer os resultados. Depois, haverá sempre uma justificação, de que os produtos tradicionais irão ser regulamentados.

As leis a que estão sujeitos estes produtos são quase todas baseadas em legislação comunitária. Falar de doce de figo, de galinha de cabidela ou do medronho a um estrangeiro é o mesmo de quando nos falam a nós de produtos genuinamente de outros países europeus.

Esperemos que haja seriedade e celeridade neste projecto, para que não morram, como diariamente vem acontecendo, as pequenas indústrias tradicionais.

Porque, mais importante do que inspeccionar as condições da fábrica, é avaliar o produto final, posto à disposição do grande público, e saber se tem ou não condições para ser consumido.

Se não reunir os pergaminhos de um produto tradicional, a definir pelos entendidos em cada produto e não por um senhor que de cátedra manda palpites, então o produto deve ser retirado do mercado e a entidade produtora devidamente avisada das correcções que deve efectuar. Educar e prevenir.

Somos defensores da tolerância, da educação e prevenção, como forma de repor a legalidade. Sem o recurso à repressão, sem atitudes persecutórias.

Uma polícia que não é capaz de prevenir e de educar é porque não tem estes ensinamentos na génese da sua formação, daí transformarem-se em agentes da repressão, sem o mínimo de princípios básicos de humanidade e de respeito pelos contribuintes.

Que fique claro: previna-se, eduque-se, recomende-se... quem não seguir as regras, depois destes três princípios aplicados, é porque quer estar fora da lei, logo, deve ser sujeito a uma penalização. Portugal e os portugueses precisam de aprender a respeitar-se mutuamente.

Como ponto de honra reclamamos – não deixem morrer as nossas tradições, só porque há uns políticos que não passam de pingarelhos, a querer ser mais papistas que o Papa, usando e abusando, como se isso fosse ser um bom europeu, dos «fundamentalismos» de uma Europa que não nos diz respeito.

NOTA: Os comentários de Hélder Nunes são emitidos todas as quintas-feiras, às 8,30 horas, com repetição às 13 e às 19 horas.

quinta-feira, janeiro 24, 2008

Propaganda

por Hélder Nunes (jornalista e director do Barlavento)

Perante a gravidade da situação vivida no Hospital de Faro, todos têm sido unânimes em reconhecer que a solução para melhorar o estado caótico das urgências e acabar com muitas das críticas que se fazem àquela infra-estrutura de saúde, passa pela construção do Hospital Central no Parque das Cidades.

A propaganda do Governo em torno da construção do Hospital Central tem sido concebida com algum cuidado, temos que o reconhecer.

Em Agosto de 2007, José Sócrates veio ao Algarve afirmar que o concurso público seria lançado em 2008, as obras começavam em 2009 e a abertura ao público seria em Maio de 2012.

Os deputados do Partido Socialista têm seguido a cartilha e, sempre que podem, vão confirmando as datas anunciadas pelo seu primeiro-ministro.

O ano de 2008 já aí está e não vislumbramos quaisquer movimentações, nem tão pouco podemos acreditar na propaganda, depois de tudo aquilo a que José Sócrates se comprometeu e não realizou, ou, até, quando tomou medidas contrárias ao que defendeu.

Aliás, que conclusão podemos retirar quando o ministro da Saúde Correia de Campos, ainda esta semana afirmou: «Faro vai ter um hospital central e é isso que estamos a tratar. Espero estar em muito boas condições, daqui a alguns meses, de anunciar o concurso do novo Hospital Central de Faro, que vai ser construído em parceria».

A primeira questão que se levanta é a de que a actual situação vivida no Hospital de Faro está a passar ao lado do ministro da Saúde, porque não se importa com as críticas que são feitas, as anomalias que diariamente se apontam, a demissão dos médicos, etc.

Tudo isto parece ser secundário para o ministro da Saúde, que coloca em rodapé e como ponto fulcral o futuro Hospital Central. Pura propaganda.

Fazer uma promessa, que ninguém sabe se e quando irá ser cumprida, para esconder os factos reais e humilhantes da vida interna do Hospital de Faro, não dignificam a imagem política de um ministro, que deve ser, por regra, um exemplo.

«Daqui a alguns meses», afirma o ministro. Pressupõe-se que o anúncio, ou a intenção do seu lançamento, poderá ser feito lá para meados do ano, ou, quem sabe, como prenda de Natal, já em finais de 2008, para ninguém afirmar que, afinal, mais uma vez faltaram a um compromisso.

Como parceria público/privada, com concurso de âmbito internacional, por uma questão de transparência, e com a possibilidade de não aparecerem parceiros nacionais de imediato, até porque se perspectiva, como já foi anunciado, a construção de um hospital privado em Faro, será que o Governo encara a possibilidade de avançar sozinho?

A resposta a esta questão nunca foi dada. Nem acreditamos que o Governo, apesar desta ser uma zona turística, altamente rentável para a economia do país, mas pouco interveniente em termos eleitorais, esteja disponível para avançar com uma unidade hospitalar de raiz a expensas do erário público.

Se até ao momento, no Algarve, não avançaram obras públicas financiadas pelo Orçamento de Estado, se não há previsão de verbas em PIDDAC ou nos próprios Ministérios da Saúde e das Obras Públicas para construções de vulto, não acreditamos que a obra seja, alguma vez, subsidiada pelo dinheiro dos contribuintes.

Toda a política de Saúde que o actual ministro vem aplicando tem o carimbo imposto por um Governo que deixou de ter como slogan «as pessoas primeiro», para aplicar «o défice primeiro», mesmo que os portugueses morram à porta dos hospitais, levem horas para serem transportados ou atendidos.

Que importa que façam 30 ou 40 quilómetros, por montes e vales, em curvas e contracurvas, para ir a uma Urgência?

Promete-se uma maior rentabilidade e qualidade no serviço a prestar aos utentes, quando, na prática, isso não passa de mera propaganda.

Os estudos técnicos mandados efectuar não tiveram em conta as pessoas, mas, tão só, a mera matemática de uns números desumanizados que, ainda por cima, se esqueceram de equacionar que os transportes, até às novas Urgências, são por conta dos utentes.

Lindo serviço, sem dúvida, senhor ministro! É sempre o mexilhão a pagar!

Porque não publicam os Hospitais de Faro e do Barlavento os balancetes mensais das suas receitas e despesas, para se perceber, comparativamente aos anos anteriores, se houve ou não aumento em termos de gestão?

É verdade ou mentira que há médicos dos dois hospitais a fazerem serviços por contrato aos fins-de-semana, com custos mais elevados do que o normal? Há respostas para estas perguntas ou não? Seria bom, em nome da transparência e da razão, que fossem divulgados esses dados.

Anunciou-se para o Algarve a criação de três urgências básicas – Albufeira, Loulé e Vila Real de Santo António – que não funcionam nos novos moldes.

Quando é que o senhor ministro da Saúde pensa pôr em funcionamento estes serviços? Será mais uma promessa (ou propaganda) para não cumprir?

NOTA: Os comentários de Hélder Nunes são emitidos todas as quintas-feiras, às 8,30 horas, com repetição às 13 e às 19 horas.