quarta-feira, maio 30, 2007

O aquecimento global


por Fernando Reis (professor e director do Jornal do Algarve)

Na próxima terça-feira, 5 de Junho, comemora-se o Dia Mundial do Ambiente, data que as Nações Unidas consideram uma excelente oportunidade para sensibilizar os cidadãos para a importância da preservação do Ambiente. Este ano, o tema escolhido gira em torno da problemática do degelo, como consequência do aquecimento global do planeta, provocado, essencialmente, pela emissões de dióxido de carbono, CO2.

E esta é uma situação que nos penaliza significativamente, já que o nosso país continua bastante distante das metas traçadas pelo Protocolo de Quioto, o que não deixa de ser preocupante. Segundo dados divulgados pela Convenção das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas, Portugal regista um aumento significativo das emissões de CO2, relativamente ao ano de referência (1990), com 45 por cento, mais 18 pontos percentuais que a meta estabelecida, que é de 27 por cento.

Isto, apesar de Portugal ter evitado a produção de 1,7 milhões de toneladas de CO2, através da importação de electricidade e outro meio milhão, através da produção de energia eólica, numa poupança total de 2,2 milhões de toneladas de emissões de CO2, o equivalente a uma redução de 3,8 pontos percentuais na percentagem de emissões acima do limite de Quioto.

Para o agravamento desta situação, contribuíram a seca de 2005 e os numerosos incêndios florestais dos últimos anos. Prevê-se, aliás, que, até 2070, o aquecimento global da Terra provoque a ocorrência, cada vez mais frequente, na Península Ibérica, de secas que originarão, inevitavelmente, uma quebra até cerca de 60 por cento da sua capacidade de geração de energia eléctrica.

De acordo com as previsões dos cientistas, o degelo do Árctico irá provocar um aumento de 110 centímetros no nível do mar, até 2080, o que afectará cerca de 67 por cento da costa portuguesa. Em tempo de comemorações, importa deixar a mensagem de que a inversão desta tendência autodestrutiva do Planeta, combate-se através de uma educação que promova, verdadeiramente, os valores ambientais e de novas políticas, que apostem, decididamente, num correcto ordenamento do território e nas energias re-nováveis. Não há outro caminho!

NOTA: Os comentários de Fernando Reis são emitidos todas as quartas-feiras, às 9 horas, com repetição às 15 e às 21 horas.

sexta-feira, maio 25, 2007

CNJP traça quadro da pobreza em Portugal


por Albino Martins (director do Centro Paroquial de Cachopo)

Porque o tema é oportuno, faço eco das conclusões do Grupo de Trabalho "Economia e Sociedade" da Comissão Nacional Justiça e Paz. Esta apresenta - a partir de dados do Eurostat - uma "Caracterização e evolução da pobreza em Portugal", indicando que "a pobreza assume em Portugal uma incidência muito preocupante, atingindo mesmo um dos valores mais elevados, no contexto da União Europeia".

Assim, em Portugal, cerca de 20% das pessoas (cerca de 2 milhões) detinham, em 2005, um rendimento disponível familiar equivalente, depois das transferências sociais, abaixo dos 60% da mediana nacional. Esta taxa de risco de pobreza, apenas era ultrapassada pela da Polónia e da Lituânia (21%), sendo igual às da Irlanda, Grécia e Espanha.

A elevada taxa de pobreza registada em Portugal está associada "a uma desigualdade de rendimentos, que é a mais alta de todos os países da UE" a 25.

Entre as preocupações apresentadas estão "a persistência das situações de pobreza e a necessidade de repensar o sistema de protecção social, bem como as políticas sociais, de forma a torná-los mais eficazes na correcção e prevenção da pobreza".

"A pobreza infantil assume uma incidência muito elevada, hipotecando o futuro das crianças. Acresce que as taxas de abandono escolar, apesar de alguma redução, se mantêm em níveis muito preocupantes", aponta ainda o documento.

A situação de pobreza infantil é particularmente gravosa entre as famílias monoparentais (34%) ou nas famílias mais numerosas (30%), acrescentando que há grupos sociais particularmente vulneráveis ao risco da pobreza: "a população imigrante, as pessoas portadoras de deficiência, certas minorias étnicas ou pessoas com baixa qualificação escolar".

Mesmo entre a população activa, existem taxas de incidência de pobreza elevadas que derivam de situações de desemprego, precariedade no emprego e baixos salários.
Manuela Silva, presidente da Comissão, considera que "não é tolerável que em Portugal persistam níveis de pobreza tão elevados como presentemente sucede e que o crescimento económico que o País tem conhecido ao longo dos anos não tenha servido para melhorar as condições de vida de cerca dos 20% da população cujos rendimentos ficam abaixo do limiar de pobreza".

O estudo mostra que "o crescimento económico vem sendo apropriado por uma minoria e não tem servido para erradicar a pobreza, incluindo as suas manifestações mais extremas".

"Ser pobre em Portugal tem muitos rostos e causas. Afecta mais as mulheres (21%), as pessoas idosas (28%), as crianças (24%)", observa a presidente da Comissão.
A CNJP não se limita a analisar a pobreza monetária e olhar para o "nível e o risco de privação", explicando que "as condições de alojamento, as redes de sociabilidade e a posse de bens de conforto são as que mais contribuem para o grau de privação das famílias".

"Viver em certas zonas do País ou em bairros degradados das cidades e suas periferias é uma situação que, só por si, configura um quadro de pobreza, mesmo que o rendimento auferido possa eventualmente ultrapassar o limiar da pobreza monetária".

NOTA: Os comentários de Albino Martins são emitidos todas as sextas-feiras, às 11 horas, com repetição às 17 e às 23 horas.

quinta-feira, maio 24, 2007

O Turismo do Algarve merece mais

por Hélder Nunes (jornalista e director do Barlavento)

As eleições para a Região de Turismo do Algarve mostraram a fragilidade do sistema em que assentam e a carga que os directórios dos partidos colocam no acto, partidarizando um organismo que se deseja, cada vez mais, neutro e com capacidade interventiva na organização de eventos e na promoção da região.

Partido Socialista e Partido Social Democrata formaram uma coligação, algo que ninguém consegue compreender, quando se pretende efectuar uma leitura política, e cujo resultado final, por muito que se possa contabilizar as cabeças, é difícil de prognosticar.

Daí que o próprio candidato do PS, António Pina, a desempenhar as funções de Governador Civil, se tenha contido quanto ao seu pedido de demissão.

O sector, personalizado na AHETA, manifestou-se contra a partidarização do órgão, como sempre tem feito. Os resultados palpáveis para o Algarve são quase nulos, porquanto a própria criação da Agência de Turismo, para a promoção, sente-se impotente para capitalizar a participação dos privados.

O Algarve tem sobrevivido à custa da sua própria natureza, e porque se assume como principal região turística do país. Mas cada um puxa para seu lado e não vão lado nenhum.

O presente acto eleitoral acabou por consumar a ruptura entre o chamado trade e aquele órgão de cúpula. As pessoas não se vão entender.

Nos partidos, em especial no PS, começa a sentir-se uma maior contestação ao acordo efectuado com o PSD, acordo que não é do conhecimento de todos os membros que aplaudiram a nomeação de António Pina na passada sexta-feira.

Daí as questões que se colocam, havendo a noção de que há várias correntes dentro dos socialistas, prontas a saltar, caso os resultados eleitorais não sejam favoráveis à coligação.

No PSD, Mendes Bota é o grande vencedor, porque impõe as regras, coloca as suas pedras sobre a mesa, e os socialistas são obrigados a aceitar, permitindo que, no fundo, a governação da RTA continue a ser social-democrata, porque a promoção e a vice-presidência estarão nas suas mãos.

Mas Bota perdeu um aliado, que foi Elidérico Viegas, presidente da AHETA, nada disposto a aceitar a solução proposta. Elidérico está na disposição de apresentar uma lista, nem que seja para perder, mas como um sinal de descontentamento e marcando a sua contestação.

Com a entrada do sector em cena, colocando em cima da mesa uma lista não partidária, é forçoso que haja um dilema por parte de quem vota.

Sabendo-se que haverá, tanto da parte dos socialistas, como dos social-democratas, presidentes de Câmara que se vão abster, resta mexer nas pedras do xadrez, se a lista de António Pina quer sair vencedora.

Volta-se sempre à velha questão – fazem-se as manobras de bastidores para obter uma vitória, que cheira a falso e não tem nada de transparente. Substituir pessoas de quem se desconfia não serem leais, por outras subservientes, é um jogo viciado, que cheira a «apito dourado».

Dia 5 de Junho pode ser um dia em que muita coisa se alterará no Algarve. Se a lista de António Pina não sair vencedora, a Miguel Freitas, depois de tantos convites feitos para que as pessoas se candidatassem e com resposta negativa, só lhe resta colocar o seu lugar à disposição.

Porque foi um tiro que deu nos pés, quando convocou uma Comissão Regional, que não se realizou por falta de quórum e depois de todos os comentários efectuados.

Mostrou não haver coragem para comparecer e exigir explicações, dando o caso por encerrado com o regresso de Helder Martins à RTA.

Ou será que os dirigentes regionais andam a reboque das cabeças de Lisboa e só porque Luís Patrão terá desabafado que o caso de Helder Martins era passado, resolveram esquecer todas as perguntas que deixaram no ar?

A partidarização da Região de Turismo não é saudável. Aquele deve ser um organismo técnico, com dirigentes capazes de gerar mais valias para o turismo.

Neste momento, em que já se adiou a apresentação do «Allgarve» por várias vezes, não se sabe qual o futuro da Região de Turismo, se passa a uma mera agência regional ou se tem um papel interventor na promoção e dinamização dos eventos para a região.

Criar um choque entre o sector e aquele órgão, muito por força da sua partidarização, é cavar um fosso e não esperar a melhor colaboração de quem não está disposto a subordinar-se a pessoas que de turismo apenas conhecem as rotas dos aviões e os locais onde passam férias.

O Turismo do Algarve merece muito mais. É pena que continuemos a alimentar o capelismo.

NOTA: Os comentários de Hélder Nunes são emitidos todas as quintas-feiras, às 9 horas, com repetição às 15 e às 21 horas.

terça-feira, maio 22, 2007

RTA: A DESILUSÃO DO MODELO DE GOVERNANÇA

por José Mateus (consultor de comunicação e autor do blogue CLARO)

Já toda a gente sabe que o PSD do Algarve, liderado por Mendes Bota, e o PS do Algarve, liderado por Miguel Freitas, decidiram apresentar uma lista conjunta para a Região de Turismo do Algarve. E que a dita lista será encabeçada por António Pina, actual governador civil de Faro.

Isto é o que parece toda a gente saber. E o que é que parece que ninguém sabe ou, pelo menos, ninguém refere…? O que dá o PS Algarve ao PSD Algarve para que Mendes Bota apoie António Pina…?

Pois ao que me dizem dá-lhe um lugar de vice-presidente, com poderes para substituir o presidente, e ainda um terceiro lugar a que será atribuída a competência de gestão dos milhões das verbas de promoção do Algarve no exterior. Em resumo, uma autêntica negociata ao mais belo estilo “bloco central”… A ser a coisa assim…

A ser coisa assim, estamos perante um erro horrível na escolha do modelo de governança da Região de Turismo. Um erro clamoroso que é um monumental retrocesso e que diz muito sobre as concepções políticas das actuais direcções de socialistas e de sociais-democratas do Algarve. Um erro que é um regresso ao passado do pior que houve. Um erro que significa um salto para trás de pelo menos 20 anos…

Um erro que é um regresso ao pior figurino dos negócios partidários e partilha de lugares entre boys e girls, à sombra do interesse público e, sobretudo, da gestão (normalmente, da má gestão…) dos dinheiros públicos… É o regresso ao modelo do… “abancar em grande à mesa do orçamento”.

E é ainda o excluir realmente os empresários e outras forças vivas das tomadas de decisão e da sua aplicação. É o excluir da sociedade civil em benefício das nomenklaturas partidárias.

É preciso dizê-lo: este é um mau e desajustado modelo de governança.

Percebo que isto corresponde aos usos e costumes de Mendes Bota… Mas não esperava que correspondesse à cultura de Miguel Freitas. Em suma, uma desilusão!

António Pina é uma excelente pessoa… Mas, num quadro destes, com este modelo de governança da Região de Turismo, ele dificilmente pode ser mais, dificilmente pode fazer mais do que o papel de “verbo de encher”…

Francamente, o turismo do Algarve, o salto que ele precisa de dar, os empresários e os projectos que começam a aparecer para requalificar o Algarve mereciam muito mais que esta… desqualificação da Região de Turismo, que este regresso ao pior passado.

Uma última nota para o magnífico trabalho da polícia e outras forças de segurança, na guerra contra os traficantes de droga e outros criminosos. Com o apertar dos sistemas policiais na Turquia, na Itália, na Holanda e na costa espanhola, o Algarve está a ser escolhido como rota alternativa para o tráfico. Sobretudo, o vale do Guadiana… A nossa polícia está em cima da coisa e tem feito um bom trabalho.

Até pra semana!

NOTA: Os comentários de José Mateus são emitidos todas as terças-feiras, às 11 horas, com repetição às 17 e às 23 horas.

Partidarismo versus regionalização

por Conceição Branco, colaboradora do jornal Expresso e directora do Observatório do Algarve)

A liderança do turismo do Algarve, com eleições marcadas para 2 de Junho, comporta soluções que são um dos sinais mais claros de quanto a regionalização faz falta.

Senão, vejamos: O PS protestou, e quanto a mim bem, quando o actual presidente da RTA, social-democrata, resolveu começar a tratar da sua vida pessoal, sem terminar o mandato e prejudicando com tal postura, objectivamente, os interesses do organismo público que dirigia.

O Hélder Martins soube, no entanto, livrar-se airosamente desta pressão política e quando percebeu que não tinha condições para prolongar o mandato, nem apoiar uma candidatura do seu substituto, convocou de imediato as eleições.

Apanhados de surpresa, os socialistas viram esvaziado o interesse político da reunião extraordinária da comissão regional de turismo, por eles convocada, onde têm a maioria e estão representadas as autarquias, as delegações regionais dos organismos públicos e as associações empresariais e sindicais.

Martins venceu duplamente este combate político, impondo primeiro aos socialistas o calendário eleitoral na RTA e conseguindo depois que o PSD, partido do qual é militante, iniciasse o processo sem o ónus político de ver discutido publicamente a eventual ilegalidade da sua auto-suspensão.

Mas porque é que há um frenesim tão grande dos partidos em torno do organismo do turismo? Olhando para o edifício político administrativo do distrito de Faro é fácil perceber que, afinal, este é o único organismo no Algarve para o qual existem eleições, apesar de dependentes de um colégio eleitoral.

Os restantes protagonistas da cena política são-no por nomeação dos respectivos ministérios, a que osaparelhos partidários locais dão umas achegas, mas sempre dependentes das nomeações centrais.

Daí que as eleições no turismo acabem por reflectir a “temperatura política”, a capacidade de mobilização e a influência das elites locais.

Miguel Freitas, líder do PS/Algarve, já sem iniciativa política, optou por um candidato consensual, o actual governador civil António Pina, a quem todos reconhecem a seriedade e capacidade de diálogo, uma espécie de perfil para um futuro líder regional.

Mendes Bota, à frente dos sociais-democratas, respirou de alívio, por não ter de discutir na praça pública mais um caso polémico relativo a um quadro do PSD, agarrou com as duas mãos o “acordo de regime” em torno do turismo algarvio e não se coibiu nas contrapartidas que pretende: 2 lugares efectivos e um suplente na comissão executiva, mais a nomeação de uns tantos funcionários para o quadro do turismo algarvio, fiéis à sua linha política e em lugares com capacidade de decisão.

Tão entretidos estavam ambos na definição do acordo, a nível distrital, que lhes passou ao lado o cerne da questão: O secretário de Estado da tutela não disse uma palavra sobre a matéria, apesar de estar em causa a principal actividade económica do Algarve, nem se preocupou em clarificar quando é que a famigerada revisão da lei das regiões de turismo vai entrar em vigor.

Daqui resulta que o próximo presidente e respectiva comissão executiva da RTA tanto podem estar em funções meia dúzia de meses, e ser determinantes para fazer a lei orgânica do futuro organismo, como podem garantir, unicamente, a gestão de continuidade, sem legitimidade para qualquer diferença de monta.

Tudo seria diferente se o perfil do presidente da RTA, tendo em conta a importância do sector no Algarve, fosse sujeito a um escrutínio público, e os acordos para as candidaturas emanassem de um órgão regional eleito, obrigado a prestar contas aos cidadãos dos candidatos que propusessem.

Com o sistema actual, em vez de um cargo público, legitimado por um poder regional a quem se poderiam pedir contas da escolha feita, temos uma espécie de arranjo partidário, hiper valorizado pelos líderes políticos locais e olimpicamente ignorado pelo poder central.

De fora, ficam os verdadeiros actores que no terreno desenvolvem a actividade turística e os cidadãos algarvios, a cada dia mais distantes destas soluções concertadas à socapa pelas cúpulas partidárias distritais.

Tudo poderia ser diferente, para o Algarve e para o turismo, mas não é, e não será enquanto não houver regionalização, o que, neste processo, não parece incomodar nem Freitas, nem Bota, nem as respectivas entourages partidárias, antes pelo contrário.

NOTA: Os comentários de Conceição Branco são emitidos todas as terças-feiras, às 9 horas, com repetição às 15 e às 21 horas.

sexta-feira, maio 18, 2007

A beleza e a segurança da EN 397 já não é a mesma


por Albino Martins (director do Centro Paroquial de Cachopo)

O uso sábio dos bens da terra recusa um olhar materialista sobre a natureza.

Os interesses imediatos são muitas vezes destruidores.

A apropriação violenta dos recursos da terra chocam qualquer ser humano.

O comportamento inquietante dos responsáveis pelo abate de centenas de eucaliptos e pinheiros na estrada nacional 397, entre Cachopo e a Portela da Corcha (freguesia de Santa Maria de Tavira), revela uma visão redutora e artificial do ambiente.

Em vez de limpeza e manutenção, cometeu-se um “crime”. Selvaticamente abateram-se as árvores doentes e as sãs.

Depois de 23 km percorridos de abate, a empreitada encontra-se parada por imposição da autarquia. Tardiamente, mas parada!

E agora… enquanto o problema não se resolve, não se conhecem soluções.

Os restos de folhagem e pequenos troncos à beira da estrada e nas encostas, várias toneladas, são pasto que a qualquer momento se podem traduzir em catástrofe.

A beleza da estrada Cachopo-Tavira já não é a mesma. Está carente das árvores e metem medo os precipicios da serrania.

Exige-se rail’s de protecção, recolocação dos sinais de trânsito derrubados e outros que reforcem a segurança, bem como a colocação dos marcos da estrada no seu devido lugar.

Para a próxima oiçam a população. Na simplicidade os habitantes de Cachopo têm muito a aconselhar. Da experiência de vida dos mais idosos, aprende-se a usufruir dos bens da terra e a usá-los com sabedoria.

NOTA: Os comentários de Albino Martins são emitidos todas as sextas-feiras, às 11 horas, com repetição às 17 e às 23 horas.

quinta-feira, maio 17, 2007

Umas eleições com futuro?

por Hélder Nunes (jornalista e director do Barlavento)

As eleições para a Região de Turismo do Algarve estão revestidas de um certo folclore. A suspensão do mandato por 30 dias por parte de Helder Martins, em circunstâncias que muitos criticaram, levou o Partido Socialista, através dos seus membros presentes na Comissão Regional, a solicitar uma reunião extraordinária, para tratar da marcação de eleições e outros assuntos.

Acontece que, dia 18 de Maio, os conselheiros irão reunir-se, com o total esvaziamento da ordem de trabalhos, porquanto as eleições já estão convocadas para 5 de Junho.

A questão legal que se coloca é saber se pode ser anulada esta convocatória, havendo mesmo a intenção de tal ser solicitado, mas, segundo o regimento, desde que um dos 33 membros que compõem a Comissão exija a sua realização, esta tem mesmo que se efectuar.

Eis um dilema no qual os socialistas se meteram e do qual têm que sair airosamente, porque foram ultrapassados, já que não esperavam o regresso de Helder Martins e a marcação rápida de eleições.

Abre-se um novo capítulo nesta história, com uma condicionante – o Governo pretende alterar a lei que regula as Regiões de Turismo, dar-lhe uma nova roupagem, retirar-lhe atribuições, resumir esses organismos a meras agências regionais.

Perante este cenário, a diminuição estratégica do Algarve é patente. Aliás, o tratamento dado pelo Governo à região não convence a maioria dos políticos e os socialistas, principalmente, estão com o menino nas mãos.

Já efectuaram imensos contactos para nomearem um candidato à presidência da RTA e na sua esmagadora maioria as respostas foram negativas.

Como ilação, só podemos tirar que os convidados não acreditam nas potencialidades futuras da Região de Turismo e não estão para se candidatarem por seis meses ou um ano, e, depois, aparecer um secretário de Estado a definir as regras e a obrigar à marcação de novas eleições, ou, na pior das hipóteses, o Governo a nomear directamente, como faz com outros organismos desconcentrados, a equipa que vai gerir os destinos da nova RTA.

O Algarve, pelo seu posicionamento a nível do ranking nacional do turismo, o mesmo será dizer pelo número de camas e a sua contribuição para o PIB nacional, deve ter um tratamento excepcional.

Mas isso não acontece, porque o Governo quer injectar nos poucos locais disponíveis uns quantos PIN e pouco mais, faltando definir uma verdadeira política de requalificação e diversificação da oferta turística algarvia, dinamizando o turismo cultural, o rural e o de natureza, porque possuímos coisas únicas, até ao nível da Península Ibérica.

Será que conseguimos aprender alguma coisa com as pessoas que nos dão ensinamentos gratuitos? Jean-Claude Baumgarten, presidente do Conselho Mundial de Viagens e Turismo, esteve em Lisboa, e em declarações ao «Público», afirmou, por exemplo, em relação ao Terreiro do Paço: «a tendência actual é para experiências culturais e ir para lugares que tenham mantido a sua autenticidade. Naquela praça, deviam ter cavalos, um Ritz Carlton, um hotel-boutique (pequeno hotel de grande luxo), museus, boutiques, e esse para mim é o tesouro escondido de Portugal».

Experiências culturais, uma deixa muito importante, como é de anotar quando ele afirma que as alterações climáticas «irão obrigar os operadores de turismo a preocuparem-se de forma crescente com o ambiente. É isso que o consumidor deseja cada vez mais e está a tornar-se economicamente bom ser amigo do ambiente».

Porque é importante registarmos as declarações de alguém que considera Portugal como um destino onde existem muitas vantagens para ter turismo de qualidade, não resistimos a publicar mais esta sua intervenção: «vocês começaram mais tarde, então aprendam com os erros dos outros. Numa série de projectos portugueses que vi, a densidade de construção é talvez metade ou mesmo 70 por cento menos do que a densidade de construção em Espanha, o que é fantástico. A nossa mensagem é para terem cuidado: no futuro, o mercado de segundas residências e de hotéis irá ter muitas preocupações com o ambiente. Os consumidores não irão aceitar hotéis com grandes alturas ou resorts de segundas residências com grande densidade de construção».

Temos que reflectir sobre o futuro do Algarve, entender que os erros dos outros são lições para aprender e não para repetir e saber que o futuro tem que apostar na qualidade, nas experiências culturais, na defesa do ambiente, na conservação e nas potencialidades dos nossos tesouros.

É preciso perceber que o futuro é exigente. Que o futuro deve e tem que ser, para que o Algarve seja uma potência no turismo, construído com inteligência.

NOTA: Os comentários de Hélder Nunes são emitidos todas as quintas-feiras, às 9 horas, com repetição às 15 e às 21 horas.

quarta-feira, maio 16, 2007

O caso Maddie


por Fernando Reis (professor e director do Jornal do Algarve)

Quando, no nosso último editorialno Jornal do Algarve, tecemos considerações positivas, a propósito dos baixos índices de criminalidade, que fazem do Algarve um destino turístico relativamente tranquilo, estávamos longe de imaginar que, uma daquelas excepções que confirmam a regra, havia de suceder, tão prontamente, através do rapto de uma criança inglesa, na Praia da Luz, em Lagos. Todos sabemos que, pelo facto de ainda existirem lugares, mais ou menos pacíficos, como é o caso do Algarve, não significa que aqui não ocorram crimes graves e hediondos como o que atrás referimos, mas nunca nos passou pela cabeça que estivéssemos tão próximos de um desta natureza.

De facto, o Algarve, como muitas outras regiões turísticas, do mesmo modo que atrai visitantes também atrai, infelizmente, criminosos que aqui conseguem levar uma vida mais ou menos normal, até ao dia em que revelam toda a sua maldade. Aconteceu, assim, há anos, em Albufeira, no caso Rachel, uma criança inglesa que foi violada e estrangulada e, agora, na Praia da Luz, com Maddie, que esperamos, sinceramente, não venha a ter o mesmo trágico destino de Rachel. Mas estes são casos que nos vêm mais, facilmente, à memória, pelo seu mediatismo, porque, infelizmente, outros, de igual ou superior gravidade, passam mais despercebidos porque não agitam tanto os telejornais nem as primeiras páginas dos jornais, nem suscitam tão vasta onda de solidariedade, como a que se está a verificar agora.

Nesta data, já foi constituído arguido um cidadão inglês, filho de mãe inglesa e pai português, vizinho do Ocean Club onde a vítima estava alojada com os pais e que participara, ele próprio, activamente nas buscas para encontrar Maddie. Não sabemos, por enquanto, qual o seu grau de envolvimento no rapto, nem se existem outros cúmplices, nem o destino que foi dado à criança. Sabemos que o suspeito ficou com termo de identidade e residência e que as investigações prosseguem.

Enquanto fazemos votos para que a criança seja recuperada com vida, queremos, ao mesmo tempo, sublinhar alguns aspectos do caso, que não deixam de ser interessantes, depois de tudo o que se tem dito e escrito sobre a actuação da PJ e o modo como têm estado a ser conduzidas as investigações. A confirmar-se a acusação do referido cidadão britânico e de que o mesmo já estaria referenciado em Inglaterra, se há que responsabilizar alguém por não se ter acautelado esta ameaça, são as autoridades inglesas que deviam ter fornecido o seu cadastro à polícia portuguesa que, assim, certamente, teria encontrado, mais rapidamente, um suspeito. É caso para perguntarmos se é esta a cooperação policial existente ao nível da União Europeia e que garantias temos de que o nosso país não esteja a albergar muitos pedófilos e criminosos.

Face à evolução dos últimos acontecimentos é caso para perguntarmos, também se não terão sido injustas as críticas, por parte dos media e de alguns sectores da sociedade britânica, à actuação da PJ, como se em Inglaterra se conseguissem resolver, com êxito, os muitos casos de desaparecimento de crianças, que todos os anos se registam. Uma terceira e última nota para perguntarmos quantas mais crianças terão que ser vítimas dos pedófilos para se atacar, a sério, este flagelo.

Subscrevemos, inteiramente, a opinião dos que advogam a castração química destes criminosos e o cumprimento integral das penas de prisão que lhe são aplicadas

O violador e assassino de Rachel, condenado a uma pena de prisão de 19 anos, saiu em liberdade após ter cumprido metade da pena e já está em condições de cometer novos crimes.

Fazer justiça não é deixar, em circunstância alguma, as nossas crianças à mercê destes monstros.

NOTA: Os comentários de Fernando Reis são emitidos todas as quartas-feiras, às 9 horas, com repetição às 15 e às 21 horas.

segunda-feira, maio 14, 2007

Valorização do Território

por José Mateus (consultor de comunicação e autor do blogue CLARO)

O PS/Algarve quis ouvir os empresários do turismo algarvio e fez muito bem… Estes encontros são decisivos para que os políticos que temos contactem com a realidade e se curem da doença do autismo.

Os empresários manifestaram o seu descontentamento com a lenta burocracia e a selva legislativa. E alguns disseram de suas razões com todas as letras. São empresários, têm, é claro todas as razões para estar descontentes e disseram-no de forma clara. Outros que lá estavam também, sem serem empresários nem políticos, mas dessa espécie bizarra dos políticos-empresários, andaram, é claro, com paninhos quentes e conversa fiada sobre equilíbrio entre ambiente e desenvolvimento…

Este tipo de banalidades não esclarece nem resolve nada. É conversa fiada. O Algarve precisa mesmo é de uma estratégia de valorização do território que integre os vários factores sociais, económicos, tecnológicos e ambientais, no quadro da actual economia global. E leis claras e eficazes. E a burocracia e outros empatas postos em seu sítio. De certo modo, foi aliás isto que Miguel Freitas soube entender e informou os empresários que o governo vai fazer…

Ora aqui está uma boa iniciativa. Venham mais…

Até pra semana!

NOTA: Os comentários de José Mateus são emitidos todas as terças-feiras, às 11 horas, com repetição às 17 e às 23 horas.

sexta-feira, maio 11, 2007

O desaparecimento de Maddie


por Albino Martins (director do Centro Paroquial de Cachopo)

O Algarve está em estado de choque perante a notícia do desaparecimento, no dia 3 de Maio da menina inglesa Madeleine McCann, na Luz de Lagos.

As forças policiais procuram pistas e até ao momento, ficam por esclarecer as causas:

- Saída involuntária e consequente perda da menor, sem razão aparente em virtude dos progenitores se terem descuidado;

- Rapto efectuado por terceiros, nacionais ou estrangeiros que actuam para redes pedófilas;

- ou outras circunstâncias que a seu tempo as instâncias judiciais hão-de desvendar.

Nesta fase importa o apoio social, psicológico e espiritual aos pais da criança que no próximo 12 de Maio, completa 4 anos de idade. É difícil imaginar a dor que lhes dilacera o coração.

A sociedade civil mantenha o seu olhar atento e disponível para colaborar com as autoridades, na procura e na recolha de informações que levem ao esclarecimento deste caso e à descoberta da pequena Maddie.

NOTA: Os comentários de Albino Martins são emitidos todas as sextas-feiras, às 11 horas, com repetição às 17 e às 23 horas.

quinta-feira, maio 10, 2007

Democracia musculada

por Hélder Nunes (jornalista e director do Barlavento)

O poder, para quem não tem uma verdadeira escola democrática, é sempre exercido na base do quero, posso e mando. Nos últimos tempos, podem apontar-se vários casos que transmitem para a opinião pública a mediocridade, a falta de honestidade política, a curvatura das colunas vertebrais. O poder, com as devidas excepções, porque as há, transforma as pessoas, descontrola a sua maneira de ser.

Em Lisboa, por exemplo, assiste-se à trapalhada no executivo camarário, com o arrastar da situação, quando as coisas estão degradadas e, com honestidade, cada um por si devia pedir a demissão, sem estar ligado aos princípios corporativistas-partidários.

Uns que só se demitem se os outros o fizerem, e vice-versa, num jogo de ping-pong que põe em causa uma cidade, mas, acima de tudo, a vida dos cidadãos e o descrédito com que a política começa a ser olhada.

Não se percebeu bem, a história da manifestação de apoio ao presidente Carmona Rodrigues, onde, tão só, dez pessoas, hipoteticamente funcionários da autarquia, teriam comparecido. É o ridículo.

Os socialistas no Brasil cruzam os seus interesses com a «Máfia dos Bingos», e colocam em causa as decisões de José Lello, que é acusado de ter desautorizado e ignorado as deliberações da estrutura brasileira do PS, que não pretendia que o seu candidato fosse aquele indicado por Licínio Soares Bastos, hoje a contas com a justiça naquele país.

O jornal «Público» contactou Paulo Pisco, coordenador do gabinete do PS de Relações Internacionais e Comunidades que não quis prestar declarações.

Fez este jornal várias tentativas para recolher declarações do deputado socialista José Lello e também não as conseguiu. Será esta a forma de construir a democracia com transparência?

Costuma o povo dizer, quem cala consente. Mais uma situação que o tempo vai apagar da memória dos portugueses, que, infelizmente, é muito curta.

No Algarve, o assunto envolve o presidente da Câmara de Vila Real de Santo António Luís Gomes.

A contratação deste ou daquele gabinete de advogados para a emissão de pareceres deve estar de acordo com a lei, e os pagamentos devem ser feitos de acordo com as tabelas.

Não é por aí que pretendemos analisar a situação, mas sim respigar a resposta ao jornalista do «Correio da Manhã», quando o presidente não quer comentar as contratações e afirma que «são coisas internas que não tenho que revelar».

Eis a verdadeira actuação do poder – quero, posso, mando. Luís Gomes não pode dar este tipo de respostas, porque a Câmara não é a sua casa particular, e toda a gestão camarária, seja ela de que partido for, tem que ser transparente.

O povo tem que conhecer a verdade. A oposição, por força até do seu estatuto, deve ser conhecedora destas situações.

O presidente pode deliberar sozinho se a lei o permitir, mas o executivo camarário tem que tomar conhecimento de todas as suas decisões, sob pena de estar a esconder situações, das quais, num futuro próximo, estes seus opositores possam ter o respectivo reflexo.

Quando existem dúvidas por parte das oposições, nada melhor do que esclarecer, com verdade.

Porque, acreditamos, ainda acreditamos, que nenhum presidente de Câmara, seja de que partido for, entra numa autarquia para servir de forma negativa os seus concidadãos.

Todos os presidentes procuram fazer o melhor, para que possam ser reconhecidos e reeleitos. Neste tipo de jogo, apenas vale a transparência.

Um presidente, dentro da lei e se a lei o permitir, pode consultar e pagar os serviços que achar necessários para que a sua gestão corra sem atropelos ou ilegalidades, mas tem o dever de os divulgar junto do seu executivo.

Que pode ou não aprovar. Um presidente forte defende os seus pontos de vista e procura que a oposição os aprove, a bem do concelho e dos cidadãos.

As democracias não podem ser executadas como se de uma ditadura se tratasse.

A Constituição Portuguesa não permite este tipo de regime, mas alguns políticos espertos (como em toda a regra, há excepções), manipulam este estado de governação, passando a defini-lo como uma democracia-musculada.

A pergunta final é esta: depois de tantos maus exemplos, como é que não querem que o povo diga, na sua imensa sabedoria, que são todos iguais? Mas há uns que são mais iguais que outros.

Passados 33 anos do 25 de Abril, chegou o tempo de se falar com verdade, porque o povo entende e não é estúpido politicamente.

Vagueia entre as ondas socialistas e social-democratas, porque os comunistas, que pretendem fazer boa figura, na hora da verdade, têm uma forma muito sua de actuar – a abstenção.

Nem sim, nem sopas. Falta-lhes a coragem para dizer sim ou não. Em muitos casos.

NOTA: Os comentários de Hélder Nunes são emitidos todas as quintas-feiras, às 9 horas, com repetição às 15 e às 21 horas.

segunda-feira, maio 07, 2007

RAPTO EM LAGOS E ASSALTOS EM VILAMOURA

por José Mateus (consultor de comunicação e autor do blogue CLARO)

É demais para a imagem do Algarve como destino seguro…

No final do ano passado, dizíamos aqui na Gilão que para o turismo ter futuro no nosso Algarve, temos de tomar as medidas certas. E que isso exige ainda que se tenha muita atenção e se resolva o que vai mal. Por exemplo, no campo da segurança…

E dizíamos que “Há que pôr termo ao clima de crescente insegurança que se vive no Algarve. Ou corremos para o abismo… É que não há turismo “cinco estrelas” que não fuja a sete pés da insegurança. E basta ver os números do comando distrital da PSP e os títulos a que dão origem.

- “disparam roubos e furtos”

- “PSP regista aumento de assaltos no Algarve”

São títulos de jornais nacionais… Agora imaginem–nos na imprensa inglesa! E imaginem os resultados… ”

Infelizmente, já está basta ter visto a Sky News nos últimos dias… E, nestas coisas funciona o velho ditado do “burro morto, cevada ao rabo”… A nossa polícia bem se pode agora desunhar… E ter um comportamento impecável e altamente profissional. O que conta é que a Sky News e todos os tablóides ingleses estão a mostrar o Algarve como uma terra onde é fácil raptar criancinhas… Essa é que a imagem que passa e que fica na cabeça das pessoas. E se falo sobretudo da Sky é que ela é uma cadeia de televisão global, vista em todo o mundo…

Mas há mais… No fim de semana passado, junto à marina de Vilamoura, ingleses foram assaltados… à brasileira. Segundo várias fontes, os ingleses foram rodeados por um grupo de cinco pessoas que os ameaçaram e intimaram a entregar-lhes tudo o que traziam… Felizmente, mais uma vez a polícia soube fazer o seu trabalho, prender os assaltantes e recuperar os objectos roubados. Mas o mal já estava feito!

Já há vários anos que alertei – a Miguel Freitas, por exemplo - para a importância dos responsáveis políticos desenvolverem e afirmarem a segurança no Algarve. Explicando também o que há a fazer para começar… mas ainda não começou! Pelos vistos o alerta caiu em saco roto…

Ora, a segurança no Algarve é um bem de primeira necessidade para a actividade económica que temos. É um factor económico decisivo… pois dele depende a vida económica que o turismo gera. É bom que os políticos percebam isto de vez ! Ou então estamos mal e estes políticos também estarão mal!

NOTA: Os comentários de José Mateus são emitidos todas as terças-feiras, às 11 horas, com repetição às 17 e às 23 horas.

sexta-feira, maio 04, 2007

Lutar por uma sociedade mais justa


por Albino Martins (director do Centro Paroquial de Cachopo)

A elevada taxa de desemprego que afecta milhares de famílias em Portugal tem consequências de ordem social, provoca insegurança e leva à exclusão.

Esta situação fere a dignidade dos nossos concidadãos e subverte os valores em que acreditamos.

Tudo isto o 1º de Maio celebrou, numa mistura de sentimentos - desilusão e esperança.

Os trabalhadores portugueses, continuam ano após ano, a lutar por uma sociedade mais justa, esperando melhoria nos salários, por forma a viverem com mais dignidade e com uma maior igualdade de oportunidades.

Esta luta colectiva levará a uma consciencialização do patronato e dos políticos.

Os cidadãos residentes neste país, precisam de emprego estável e realização pessoal.

Deixo-vos com uma afirmação do saudoso Papa João Paulo II: “É preciso trabalhar por uma cultura de regras que não tenha apenas em conta aspectos comerciais, mas que se ocupe igualmente pela defesa dos direitos do homem”.

NOTA: Os comentários de Albino Martins são emitidos todas as sextas-feiras, às 11 horas, com repetição às 17 e às 23 horas.

quinta-feira, maio 03, 2007

Regionalizar é preciso

por Hélder Nunes (jornalista e director do Barlavento)

Miguel Sousa Tavares é um anti-regionalista convicto. Em recentes declarações ao «Diário de Notícias», rebuscou argumentos do último referendo, onde havia uma pulverização de regiões, e, interrogou que, se nessa altura os portugueses disseram «não», porque se há-de estar a querer repetir o acto? Um acto que, quanto a nós, não tem que ser repetido. Temos uma Constituição, uma lei-quadro aprovada, logo, a Assembleia da República devia legislar quanto à criação das cinco regiões-plano que agora estão definidas.Miguel Sousa Tavares é um anti-regionalista convicto. Em recentes declarações ao «Diário de Notícias», rebuscou argumentos do último referendo, onde havia uma pulverização de regiões, e, interrogou que, se nessa altura os portugueses disseram «não», porque se há-de estar a querer repetir o acto? Um acto que, quanto a nós, não tem que ser repetido. Temos uma Constituição, uma lei-quadro aprovada, logo, a Assembleia da República devia legislar quanto à criação das cinco regiões-plano que agora estão definidas.


Miguel Sousa Tavares baralha tudo. Está a favor da descentralização que, para ele, significa meter o ministério da Agricultura no Alentejo, por exemplo, o do Turismo no Algarve ou na Madeira, o da Indústria no Porto e, assim, tínhamos o Governo espalhado pelo país, e, quando fosse necessário reunir-se, porque não a vídeo-conferência ou juntarem-se todos num qualquer Pulo do Lobo?

Regionalizar é mais do que descentralizar. Não é, como pejorativamente afirma Miguel Sousa Tavares, criar «coutadas políticas», onde, à frente de cada uma delas, se coloca um Alberto João Jardim. Mete no mesmo saco todos os políticos e, principalmente, aqueles por quem tem uma aversão muito especial – os autarcas. Há, neste meio, gente séria e menos séria, como em todos os gabinetes políticos ou não políticos, como em todas as profissões.

O jornalista, crítico da regionalização, diz que há uns anos lutou para não se dar cabo de Portugal. Mas Portugal, nestes últimos anos, não se estragou com o centralismo imposto pelos Governos de Lisboa?

No actual momento, que faz o Governo de José Sócrates se não centralizar o poder, intrometendo-se no poder local e regional, definindo as políticas que cada local e região devem ter, utilizando os seus célebres Projectos de Interesse Nacional (PIN)?

Miguel Sousa Tavares contradiz-se no seu discurso, quando afirma: «gostava imenso que os regionalistas explicassem, em concreto, porque e como acham que a regionalização iria estancar a desertificação no interior do país...

Os caciques locais talvez não deixassem o emprego político, mas esta questão é pertinente, quando nós temos um governo que está pura e simplesmente a saquear tudo o que resta do litoral, aprovando para essas regiões projectos megalómanos».

Pois é, a desertificação combate-se com acções como as levadas a efeito por alguns autarcas algarvios, que não permitiram o fecho das escolas na serra, levaram as estradas até às aldeias, a assistência médica ambulatória, reconstruíram as casas ardidas pelos incêndios e que não fazem mais porque o poder central não lhes deixa. Falta o poder intermédio para os ajudar.

A questão dos caciques é discutível, ou será que Miguel Sousa Tavares não acredita na alternância do poder? E nos Tribunais? E nas Leis?

As regiões, basta ver o exemplo da Andaluzia, podem gerir essas situações, ou será que Miguel Sousa Tavares não acredita naquilo que foi feito pelo poder regional no Sul de Espanha, relativamente a Marbelha, por exemplo?

Quando diz que o Governo está a «saquear tudo o que resta do litoral», pode ter a certeza, que o poder regional não o permitiria.

A Europa é das Regiões. Nos últimos 15 anos, reconhecido pela própria União Europeia, os resultados obtidos nas regiões foram altamente positivos e as políticas futuras apontam nesse caminho.

A regionalização, ao contrário do que diz este jornalista, permite uma maior coesão de Portugal.

Vai permitir que o Algarve possa definir um quadro de desenvolvimento regional, mesmo que o poder central queira intervir, definir ferramentas úteis a uma maior rentabilização das verbas arrecadadas, de uma política mais consentânea com os conceitos intermunicipais.

A região cria mecanismos para aqueles que, por exemplo, sofram os horrores dos incêndios, de forma a não estarem à espera dos apoios a que têm direito anos e anos, fruto da burocratização e centralismo imposto ao que se chama desconcentração.

O que precisamos, para impor ao Governo central uma atitude mais correcta para com o país real, sem o fecho disto e daquilo, é de um poder regional democraticamente eleito, que seja capaz de bater o pé a Lisboa, de impor um programa de desenvolvimento para a sua região, sem estar limitado pela tutela política e castradora de muitos gabinetes lisboetas, que não conhecem a realidade onde estão inseridos e muitos menos a realidade das terras que dão forma a este país.

A mediocridade dos políticos de carreira é notória, porque é feita na base do corporativismo partidário e no desejo de ser um quadro subserviente, logo, com nomeação garantida para um determinado cargo.

Há que abrir o leque das formações políticas e as regiões vão permitir o aparecimento de partidos regionais.

Miguel Sousa Tavares pode ficar descansado que ainda há gente séria, disposta a lutar por este país e pelas suas regiões, que gostavam de ver progredir com harmonia. As gentes de Portugal, nos últimos 30 anos, evoluíram alguma coisa.

Nem todos estão interessados em ter ou construir uma casa, por exemplo, e só como exemplo, na Meia Praia…

NOTA: Os comentários de Hélder Nunes são emitidos todas as quintas-feiras, às 9 horas, com repetição às 15 e às 21 horas.