quinta-feira, maio 17, 2007

Umas eleições com futuro?

por Hélder Nunes (jornalista e director do Barlavento)

As eleições para a Região de Turismo do Algarve estão revestidas de um certo folclore. A suspensão do mandato por 30 dias por parte de Helder Martins, em circunstâncias que muitos criticaram, levou o Partido Socialista, através dos seus membros presentes na Comissão Regional, a solicitar uma reunião extraordinária, para tratar da marcação de eleições e outros assuntos.

Acontece que, dia 18 de Maio, os conselheiros irão reunir-se, com o total esvaziamento da ordem de trabalhos, porquanto as eleições já estão convocadas para 5 de Junho.

A questão legal que se coloca é saber se pode ser anulada esta convocatória, havendo mesmo a intenção de tal ser solicitado, mas, segundo o regimento, desde que um dos 33 membros que compõem a Comissão exija a sua realização, esta tem mesmo que se efectuar.

Eis um dilema no qual os socialistas se meteram e do qual têm que sair airosamente, porque foram ultrapassados, já que não esperavam o regresso de Helder Martins e a marcação rápida de eleições.

Abre-se um novo capítulo nesta história, com uma condicionante – o Governo pretende alterar a lei que regula as Regiões de Turismo, dar-lhe uma nova roupagem, retirar-lhe atribuições, resumir esses organismos a meras agências regionais.

Perante este cenário, a diminuição estratégica do Algarve é patente. Aliás, o tratamento dado pelo Governo à região não convence a maioria dos políticos e os socialistas, principalmente, estão com o menino nas mãos.

Já efectuaram imensos contactos para nomearem um candidato à presidência da RTA e na sua esmagadora maioria as respostas foram negativas.

Como ilação, só podemos tirar que os convidados não acreditam nas potencialidades futuras da Região de Turismo e não estão para se candidatarem por seis meses ou um ano, e, depois, aparecer um secretário de Estado a definir as regras e a obrigar à marcação de novas eleições, ou, na pior das hipóteses, o Governo a nomear directamente, como faz com outros organismos desconcentrados, a equipa que vai gerir os destinos da nova RTA.

O Algarve, pelo seu posicionamento a nível do ranking nacional do turismo, o mesmo será dizer pelo número de camas e a sua contribuição para o PIB nacional, deve ter um tratamento excepcional.

Mas isso não acontece, porque o Governo quer injectar nos poucos locais disponíveis uns quantos PIN e pouco mais, faltando definir uma verdadeira política de requalificação e diversificação da oferta turística algarvia, dinamizando o turismo cultural, o rural e o de natureza, porque possuímos coisas únicas, até ao nível da Península Ibérica.

Será que conseguimos aprender alguma coisa com as pessoas que nos dão ensinamentos gratuitos? Jean-Claude Baumgarten, presidente do Conselho Mundial de Viagens e Turismo, esteve em Lisboa, e em declarações ao «Público», afirmou, por exemplo, em relação ao Terreiro do Paço: «a tendência actual é para experiências culturais e ir para lugares que tenham mantido a sua autenticidade. Naquela praça, deviam ter cavalos, um Ritz Carlton, um hotel-boutique (pequeno hotel de grande luxo), museus, boutiques, e esse para mim é o tesouro escondido de Portugal».

Experiências culturais, uma deixa muito importante, como é de anotar quando ele afirma que as alterações climáticas «irão obrigar os operadores de turismo a preocuparem-se de forma crescente com o ambiente. É isso que o consumidor deseja cada vez mais e está a tornar-se economicamente bom ser amigo do ambiente».

Porque é importante registarmos as declarações de alguém que considera Portugal como um destino onde existem muitas vantagens para ter turismo de qualidade, não resistimos a publicar mais esta sua intervenção: «vocês começaram mais tarde, então aprendam com os erros dos outros. Numa série de projectos portugueses que vi, a densidade de construção é talvez metade ou mesmo 70 por cento menos do que a densidade de construção em Espanha, o que é fantástico. A nossa mensagem é para terem cuidado: no futuro, o mercado de segundas residências e de hotéis irá ter muitas preocupações com o ambiente. Os consumidores não irão aceitar hotéis com grandes alturas ou resorts de segundas residências com grande densidade de construção».

Temos que reflectir sobre o futuro do Algarve, entender que os erros dos outros são lições para aprender e não para repetir e saber que o futuro tem que apostar na qualidade, nas experiências culturais, na defesa do ambiente, na conservação e nas potencialidades dos nossos tesouros.

É preciso perceber que o futuro é exigente. Que o futuro deve e tem que ser, para que o Algarve seja uma potência no turismo, construído com inteligência.

NOTA: Os comentários de Hélder Nunes são emitidos todas as quintas-feiras, às 9 horas, com repetição às 15 e às 21 horas.