quarta-feira, maio 16, 2007

O caso Maddie


por Fernando Reis (professor e director do Jornal do Algarve)

Quando, no nosso último editorialno Jornal do Algarve, tecemos considerações positivas, a propósito dos baixos índices de criminalidade, que fazem do Algarve um destino turístico relativamente tranquilo, estávamos longe de imaginar que, uma daquelas excepções que confirmam a regra, havia de suceder, tão prontamente, através do rapto de uma criança inglesa, na Praia da Luz, em Lagos. Todos sabemos que, pelo facto de ainda existirem lugares, mais ou menos pacíficos, como é o caso do Algarve, não significa que aqui não ocorram crimes graves e hediondos como o que atrás referimos, mas nunca nos passou pela cabeça que estivéssemos tão próximos de um desta natureza.

De facto, o Algarve, como muitas outras regiões turísticas, do mesmo modo que atrai visitantes também atrai, infelizmente, criminosos que aqui conseguem levar uma vida mais ou menos normal, até ao dia em que revelam toda a sua maldade. Aconteceu, assim, há anos, em Albufeira, no caso Rachel, uma criança inglesa que foi violada e estrangulada e, agora, na Praia da Luz, com Maddie, que esperamos, sinceramente, não venha a ter o mesmo trágico destino de Rachel. Mas estes são casos que nos vêm mais, facilmente, à memória, pelo seu mediatismo, porque, infelizmente, outros, de igual ou superior gravidade, passam mais despercebidos porque não agitam tanto os telejornais nem as primeiras páginas dos jornais, nem suscitam tão vasta onda de solidariedade, como a que se está a verificar agora.

Nesta data, já foi constituído arguido um cidadão inglês, filho de mãe inglesa e pai português, vizinho do Ocean Club onde a vítima estava alojada com os pais e que participara, ele próprio, activamente nas buscas para encontrar Maddie. Não sabemos, por enquanto, qual o seu grau de envolvimento no rapto, nem se existem outros cúmplices, nem o destino que foi dado à criança. Sabemos que o suspeito ficou com termo de identidade e residência e que as investigações prosseguem.

Enquanto fazemos votos para que a criança seja recuperada com vida, queremos, ao mesmo tempo, sublinhar alguns aspectos do caso, que não deixam de ser interessantes, depois de tudo o que se tem dito e escrito sobre a actuação da PJ e o modo como têm estado a ser conduzidas as investigações. A confirmar-se a acusação do referido cidadão britânico e de que o mesmo já estaria referenciado em Inglaterra, se há que responsabilizar alguém por não se ter acautelado esta ameaça, são as autoridades inglesas que deviam ter fornecido o seu cadastro à polícia portuguesa que, assim, certamente, teria encontrado, mais rapidamente, um suspeito. É caso para perguntarmos se é esta a cooperação policial existente ao nível da União Europeia e que garantias temos de que o nosso país não esteja a albergar muitos pedófilos e criminosos.

Face à evolução dos últimos acontecimentos é caso para perguntarmos, também se não terão sido injustas as críticas, por parte dos media e de alguns sectores da sociedade britânica, à actuação da PJ, como se em Inglaterra se conseguissem resolver, com êxito, os muitos casos de desaparecimento de crianças, que todos os anos se registam. Uma terceira e última nota para perguntarmos quantas mais crianças terão que ser vítimas dos pedófilos para se atacar, a sério, este flagelo.

Subscrevemos, inteiramente, a opinião dos que advogam a castração química destes criminosos e o cumprimento integral das penas de prisão que lhe são aplicadas

O violador e assassino de Rachel, condenado a uma pena de prisão de 19 anos, saiu em liberdade após ter cumprido metade da pena e já está em condições de cometer novos crimes.

Fazer justiça não é deixar, em circunstância alguma, as nossas crianças à mercê destes monstros.

NOTA: Os comentários de Fernando Reis são emitidos todas as quartas-feiras, às 9 horas, com repetição às 15 e às 21 horas.