quarta-feira, abril 25, 2007

Ainda lemos pouco


por Fernando Reis (professor e director do Jornal do Algarve)

No passado dia 23 de Abril comemorou-se o Dia Mundial do Livro e ontem o 33º aniversário do 25 de Abril. Duas efemérides que evocam dois tempos da nossa História: o da longa “noite” da ditadura e o da liberdade. Dois tempos que marcaram culturalmente a so-ciedade portuguesa.

O tempo do analfabetismo – em 1970 havia ainda em Portugal cerca de 25 por cento de analfabetos – uma realidade quase sem paralelo no contexto europeu e o tempo da democratização da cultura e do ensino que empurrou o país para níveis de literacia mais consentâneos com os padrões europeus mas, ainda assim, muito aquém do que é desejável em termos civilizacionais.

Em 1991 ainda havia em Portugal mais de milhão e meio de analfabetos (15,3%). Nestas circunstância torna-se óbvio que qualquer progresso, por mais pequeno que seja – segundo um estudo da Marktest realizado em 2006, já são mais de três milhões os portugueses que lêem livros - no que se refere aos índices de leitura, é sempre de enaltecer, embora se deva ter a consciência de que o nosso atraso ainda é enorme relativamente aos nossos parceiros europeus, principalmente a Suécia, a Finlândia e o Reino Unido que apresentavam, segundo dados de 2001, índices de leitura de respectivamente, 80, 75 e 74 por cento.

Se pensarmos que são os países onde mais se lê os que têm os indicadores de desenvolvimento económico mais significativos, percebemos melhor a importância do incremento dos hábitos de leitura entre os portugueses e, em parte, a razão do nosso atraso. Encontramo-nos, hoje, numa encruzilhada em que temos - sobretudo a escola e os agentes culturais - a responsabilidade de promover o livro e a leitura, incluindo a de jornais, numa corrida em que as novas tecnologias da informação e comunicação se assumem, cada vez mais, como fortes concorrentes.

Numa data em que celebramos o 25 de Abril, importa ter presente que a batalha do desenvolvimento e, consequentemente, da aproximação ao pelotão da frente da União Europeia passa, também, inevitavelmente, por um cada vez maior sucesso educativo e pela melhoria dos nossos indicadores culturais.

NOTA: Os comentários de Fernando Reis são emitidos todas as quartas-feiras, às 9 horas, com repetição às 15 e às 21 horas.