quarta-feira, abril 18, 2007

Evocando Abril


por Fernando Reis (professor e director do Jornal do Algarve)

Em tempo de mais um aniversário do 25 de Abril, acontecimento que mudou radicalmente o rumo das nossas vidas, com o fim da ditadura e a institucionalização da democracia, o país continua a debater-se com graves problemas económicos e sociais e a revelar-se incapaz de assimilar os valores e princípios de cidadania subjacentes ao movimento miltitar que libertou o país naquela madrugada de esperança.

Decorridas mais de três décadas, a democracia política está perfeitamente consolidada e o país modernizou-se, mas não fomos capazes de dar o salto que se impunha em áreas fundamentais, como a economia, a educação e a organização social. Continuamos na cauda da Europa no que respeita aos índices de desenvolvimento económico, de sucesso escolar e de justiça social e mergulhados em escândalos e corrupção, que atravessa a sociedade, do futebol à política. Temos democracia, alternância governativa e presidencial, mas para a maioria dos portugueses continua adiada a esperança num futuro melhor, como sonharam muitos dos que viveram a Revolução dos Cravos. Um sonho que se vai afogando num mar de descrença e conformismo.

Trinta e três anos depois da Revolução dos Cravos, já não conseguimos manter viva a chama reivindicativa que alimenta a mudança.Vive-se um sentimento de impotência e fatalismo, agravado pela prepotência de uma maioria absoluta e pelo desinteresse dos jovens pela causa pública. Mas, neste virar de costas dos jovens, há uma responsabilidade da geração de Abril pela forma como não se tem sabido fazer a pedagogia da democracia.

Se, para nós que vivemos dois tempos - sob o fascismo e a democracia -, é fácil percebermos a importância da mudança e a felicidade de sermos livres, para as gerações mais novas, que já nasceram e cresceram em liberdade, essa consciencialização torna-se, obviamente, mais difícil e muito mais ainda se torna quando a política está longe de ser uma escola de virtudes e os políticos se vão descredibilizando.

Educar os jovens no espírito de Abril é uma responsabilidade histórica e uma emergência, se quisermos, efectivamente, construir um futuro melhor, mais próspero, justo e igualitário. É uma tarefa árdua, mas inadiável, que deve envolver, acima de tudo, a família e a escola.

Ademais quando muitos portugueses, apesar da escolha ter sido feita no âmbito de um concurso televisivo importado de forma infeliz, continuam a achar que o ditador Salazar, responsável por um dos períodos mais negros da nossa história, foi "o maior português de sempre".

NOTA: Os comentários de Fernando Reis são emitidos todas as quartas-feiras, às 9 horas, com repetição às 15 e às 21 horas.