Porque as estórias serão um dia história
por Hélder Nunes (jornalista e director do Barlavento)
Falar com liberdade será abrir os braços, subir a um banco de jardim e gritar, para quem nos queira ouvir, tudo aquilo que a nossa memória foi guardando, todas as injustiças por que passámos, a divulgação dos actos corruptos, pequenos e grandes, a falta de palavra e de honestidade, o derramarmos, por cima de quem esteja à nossa volta, a indignação por tantas coisas mal feitas e injustas que nos rodeiam.
Talvez, como ser humano, possuído de sentimentos, possamos ficar mais tranquilos para com nós próprios, mas muitos dos que ali estão e nos ouviram lá dirão: «pobre diabo».
Porque não foram e não são competentes para assimilar o que lhes foi transmitido, nem tão pouco são capazes ou têm coragem para pedir o livro de reclamações, a que têm direito, e expor as suas razões.
Há um grande sentimento de acomodação numa larga maioria das pessoas, que arrastam a sociedade para a letargia de uma vida, que é vivida sem darem conta de que são meras marionetas.
Restam, a esta sociedade, os meios de comunicação, digamos independentes, capazes de construir críticas e notícias que podem abalar o quotidiano.
É pena que muitos julguem que a informação dos assaltos, das mortes, das infidelidades ou de outras tantas e pequenas coisas, sejam a realidade do verdadeiro quotidiano.
Elas não são mais do que o fruto dessa árvore maldita que alimenta o sensacionalismo, que retira oportunidades, que deixa milhares e milhares sem conseguirem um pão.
No fundo, é a sociedade de consumo que nos rodeia e vai triturando, sempre no intuito de servir aqueles que já estão servidos. A hipocrisia, a mediocridade, a maledicência, o atropelo são factores que ocupam a linha da frente.
Ao fim de 32 anos, continuamos a escrevinhar um jornal que julgamos equilibrado, com poder interventivo e o respeito dos nossos leitores. Porque falamos verdade, sem subserviência. Ouvindo as partes, dando o máximo de informação, para que o nosso leitor possa retirar ilações.
Não conseguimos chegar a todo o lado, é um facto. Somos, quantas vezes, confrontados com gente que julga que o pequeno espaço que a rodeia é o mais importante do mundo.
Uma das maiores falhas que se observa na construção deste mundo global é a humildade. Uma humildade com sabedoria – como o pensar que o mais velho pode ensinar-nos sempre qualquer coisa.
Devemos saber construir a nossa personalidade, com alegria, fazendo das negativas, peças mais ao menos positivas, aprendendo todos os dias que, afinal, a vida são dois dias – aquele em que se nasce e quando a morte nos leva – porque os outros são de sobrevivência, num mundo cada vez mais global e sem fronteiras.
A nossa luta, no jornalismo, começou nos tempos de liceu, mas é com o jornal «barlavento», que entra, hoje, dia 26 de Abril de 2007, no seu 33º ano de publicação regular, que o nosso contributo tem vindo a ser dado à Nação algarvia.
Com uma equipa de pessoas que se encaixaram no conceito de escola que este jornal possui e a quem muito deve, pelo esforço desenvolvido, entrega e capacidade de diálogo.
Construímos uma pequena obra de arte, que o Clube de Jornalistas distinguiu com o Prémio Gazeta para a Imprensa Regional e que os leitores colocaram como o jornal mais lido no Algarve.
A pergunta coloca-se sempre – valeu a pena? Não direi como o poeta, porque, quando se constrói uma obra, estamos a fazê-lo com prazer. É essa alegria de saber, é esse acumular de sabedoria, que nos enriquece e nos torna, sem o sermos, diferentes de qualquer outra profissão.
Porque é preciso sentir, ter a percepção do que vai acontecer, estarmos na frente da informação, antes de o ser já é nossa a notícia. É o uso desta fruição que nos alimenta e nos torna fortes para irmos para a frente das batalhas.
É o confronto com a realidade, mas de uma forma real, ali mesmo ao nosso lado, para que os factos sejam descritos com verdade e honestidade, o que fortalece a nossa escrita.
Por tudo isto vale a pena ser jornalista. O jornalista é um contador de estórias, com verdade e honestidade. Para ser lido, respeitado e referenciado. Porque as suas estórias serão um dia história.
NOTA: Os comentários de Hélder Nunes são emitidos todas as quintas-feiras, às 9 horas, com repetição às 15 e às 21 horas.
Falar com liberdade será abrir os braços, subir a um banco de jardim e gritar, para quem nos queira ouvir, tudo aquilo que a nossa memória foi guardando, todas as injustiças por que passámos, a divulgação dos actos corruptos, pequenos e grandes, a falta de palavra e de honestidade, o derramarmos, por cima de quem esteja à nossa volta, a indignação por tantas coisas mal feitas e injustas que nos rodeiam.
Talvez, como ser humano, possuído de sentimentos, possamos ficar mais tranquilos para com nós próprios, mas muitos dos que ali estão e nos ouviram lá dirão: «pobre diabo».
Porque não foram e não são competentes para assimilar o que lhes foi transmitido, nem tão pouco são capazes ou têm coragem para pedir o livro de reclamações, a que têm direito, e expor as suas razões.
Há um grande sentimento de acomodação numa larga maioria das pessoas, que arrastam a sociedade para a letargia de uma vida, que é vivida sem darem conta de que são meras marionetas.
Restam, a esta sociedade, os meios de comunicação, digamos independentes, capazes de construir críticas e notícias que podem abalar o quotidiano.
É pena que muitos julguem que a informação dos assaltos, das mortes, das infidelidades ou de outras tantas e pequenas coisas, sejam a realidade do verdadeiro quotidiano.
Elas não são mais do que o fruto dessa árvore maldita que alimenta o sensacionalismo, que retira oportunidades, que deixa milhares e milhares sem conseguirem um pão.
No fundo, é a sociedade de consumo que nos rodeia e vai triturando, sempre no intuito de servir aqueles que já estão servidos. A hipocrisia, a mediocridade, a maledicência, o atropelo são factores que ocupam a linha da frente.
Ao fim de 32 anos, continuamos a escrevinhar um jornal que julgamos equilibrado, com poder interventivo e o respeito dos nossos leitores. Porque falamos verdade, sem subserviência. Ouvindo as partes, dando o máximo de informação, para que o nosso leitor possa retirar ilações.
Não conseguimos chegar a todo o lado, é um facto. Somos, quantas vezes, confrontados com gente que julga que o pequeno espaço que a rodeia é o mais importante do mundo.
Uma das maiores falhas que se observa na construção deste mundo global é a humildade. Uma humildade com sabedoria – como o pensar que o mais velho pode ensinar-nos sempre qualquer coisa.
Devemos saber construir a nossa personalidade, com alegria, fazendo das negativas, peças mais ao menos positivas, aprendendo todos os dias que, afinal, a vida são dois dias – aquele em que se nasce e quando a morte nos leva – porque os outros são de sobrevivência, num mundo cada vez mais global e sem fronteiras.
A nossa luta, no jornalismo, começou nos tempos de liceu, mas é com o jornal «barlavento», que entra, hoje, dia 26 de Abril de 2007, no seu 33º ano de publicação regular, que o nosso contributo tem vindo a ser dado à Nação algarvia.
Com uma equipa de pessoas que se encaixaram no conceito de escola que este jornal possui e a quem muito deve, pelo esforço desenvolvido, entrega e capacidade de diálogo.
Construímos uma pequena obra de arte, que o Clube de Jornalistas distinguiu com o Prémio Gazeta para a Imprensa Regional e que os leitores colocaram como o jornal mais lido no Algarve.
A pergunta coloca-se sempre – valeu a pena? Não direi como o poeta, porque, quando se constrói uma obra, estamos a fazê-lo com prazer. É essa alegria de saber, é esse acumular de sabedoria, que nos enriquece e nos torna, sem o sermos, diferentes de qualquer outra profissão.
Porque é preciso sentir, ter a percepção do que vai acontecer, estarmos na frente da informação, antes de o ser já é nossa a notícia. É o uso desta fruição que nos alimenta e nos torna fortes para irmos para a frente das batalhas.
É o confronto com a realidade, mas de uma forma real, ali mesmo ao nosso lado, para que os factos sejam descritos com verdade e honestidade, o que fortalece a nossa escrita.
Por tudo isto vale a pena ser jornalista. O jornalista é um contador de estórias, com verdade e honestidade. Para ser lido, respeitado e referenciado. Porque as suas estórias serão um dia história.
NOTA: Os comentários de Hélder Nunes são emitidos todas as quintas-feiras, às 9 horas, com repetição às 15 e às 21 horas.