terça-feira, outubro 31, 2006

Crónica 18

por José Mateus (consultor de comunicação e autor do blogue CLARO)

Um fenómeno novo está a abalar a França e, sobretudo, o PS francês. Este fenómeno nascido fora dos aparelhos e dos quadros partidários, vindo directamente da conjugação de vontades de uma maioria da opinião pública e de uma dirigente socialista, Ségolène Royal. Um fenómeno tão novo… que ninguém o previra. E muito menos previra a sua força avassaladora que meteu já no fundo os clássicos e tradicionais jogos de aparelhos.

Hoje, quase 60% dos simpatizantes do PS e uns 50% da população manifesta o seu apoio à candidatura presidencial de Ségolène Royal, vista como a única candidatura de esquerda capaz de derrotar o candidato da direita.

E, depois de um debate televisivo com os outros candidatos socialistas, ela foi considerada, pela imensa maioria, a mais convincente… Os militantes socialistas vão, daqui a uns quinze dias, escolher o seu candidato às presidenciais. Vamos ver o que se passa até lá. Mas, seja como for, este fenómeno já abalou as arcaicas formas e estruturas da política partidária francesa.

Mas o que tem de especial Ségolène Royal? Por mim, penso que, sobretudo, é o seu modo de falar… Ela fala claro e concreto. Não se prende em abstracções retóricas e racionalizantes, tão ao gosto dos políticos de aparelho, e nem encalha, nem se afunda em palavreado tecnocrático, o chamado “tecnolês”, com o seu churrilho de medidas sem significado.

Ela fala de modo selectivo, concreto e carregado de sentido… E as pessoas entendem-na, pois vai direito ao essencial. E formula as propostas que os eleitores já sentem… Dá-se assim um encontro perfeito. E mais… para além de formular as propostas que o leitorado já acalentava, mas não conseguia formular, ela quer que os eleitores controlem a sua execução, a sua realização, e quer ouvi-los em permanência, por exemplo, sobre a Europa, o Banco Central Europeu, o Pacto da Estabilidade e Crescimento…

Ségolène Royal chama a isso restabelecer a confiança perdida no sistema político, permitir aos cidadãos controlar os políticos e as suas obras… Chama-lhe: realizar uma “revolução democrática”, uma revolução… doce!

Uma coisa já é certa: O PS francês nunca mais será o mesmo, depois desta “revolução… doce”!

NOTA: Os comentários de José Mateus são emitidos todas as terças-feiras, às 11 horas, com repetição às 17 e às 23 horas.

segunda-feira, outubro 30, 2006

Capitais da Cultura

por Carlos Lopes (advogado, benfiquista e animador cultural)

O governo deliberou acabar com as capitais da cultura. Na linha de Rui Rio, o governo acha que tal é um desperdício, sem retorno. O governo age bem. O governo é que sabe. Aliás, o governo sabe-a toda.

Acompanhei a Faro Capital da Cultura de forma mais próxima, por dois motivos. O primeiro tem a ver com a proximidade, passou-se na minha região; o segundo tem a ver com o presidente da Missão, que conheço. Se o primeiro me permitiu um acompanhamento próximo dos eventos; o segundo não impede uma posição crítica aos mesmos.

No que respeita aos eventos, o Algarve assistiu a concertos, exposições, festivais, e espectáculos que não poderia ter se não tivesse tido a sorte de ter sido escolhido para capital da Cultura. As publicações que se fizeram, foram o que de mais perene deixou a capital da Cultura. Dizer que não deixou nem fez público, é uma crítica ignorante e estúpida. Em primeiro lugar porque num ano não se fazem públicos. O público é o produto de formação e educação de gerações. Em segundo lugar, não pode ser o único e exclusivo fim da Capital da Cultura. Mas fica-se indiferente quando se ouve a orquestra de Londres, se assiste a Teatro em Querença, ou à mostra de cinema do Mediterrâneo?

Com a burocracia a Faro Capital da Cultura arrancou com três meses de atraso. Mais: o “comissário” foi substituído a poucos meses do fim do ano de 2004, quando, qualquer pessoa sabe, o agendamento de concertos deve começar com, às vezes, anos de antecedência.

Sujeito às normas públicas orçamentais, as decisões levavam a semanas ou meses para ser desbloqueadas. Um pandemónio.

Nota - Uma vez, fez-se uma conferência de Imprensa em Nova Iorque a anunciar uma exposição que se realizaria daí a três anos!!!

NOTA: Os comentários de Carlos Lopes são emitidos todas as segundas-feiras, às 11 horas, com repetição às 17 e às 23 horas.

domingo, outubro 29, 2006

Exemplos de má gestão...


por Francisco Paulino (empresário do sector turístico e dirigente do CDS-Partido Popular)

Numa altura em que o governo central quer impor, como se justifica, limites ao endividamento das autarquias, em que por apertos financeiros as transferências de verbas para o poder local são cada vez menores, em que é o próprio Estado a levantar a hipótese de serem as autarquias a cobrarem impostos aos seus munícipes, de forma a viverem com essas receitas, temos nós aqui no Algarve, e como será evidente por todo o País, exemplos de má gestão por parte do mesmo Estado e para os quais, tal como tem feito, e bem, o presidente da Câmara de Tavira, não nos devíamos deixar de solidarizar e juntar a nossa voz.

Refiro-me ao património de diversos ministérios, e hoje concretamente ao património do ministério da defesa que tem na nossa região edifícios e terrenos em quantidade e qualidade invejável e para o qual não tem qualquer tipo de serventia. Tempo houve em que as necessidades estratégicas de Defesa do território sugeriam a possível utilização de tais prédios. Hoje porem, com o novo conceito de defesa Nacional, sabemos todos que nunca mais se irá construir um grande aquartelamento no Algarve, nem tão pouco se irá usufruir das estruturas que ainda se mantêm de pé. Também é de tal forma o desleixo por parte do proprietário (Estado), que é quase escandaloso o estado em que se encontram muitos deles. Outras vezes é a pouca utilidade dada a tais prédios, localizados muitos deles em zonas nobres das nossas cidades, sabendo nós, e os autarcas locais ainda melhor, como colocar esses edifícios ao serviço das suas comunidades.

Vejamos o caso de Faro como bom exemplo, onde o antigo Regimento de Infantaria, a cair aos bocados há alguns anos atrás, recuperado para a Região e seus residentes, deu origem à Escola de Hotelaria e Turismo do Algarve, com condições de tal excelência que chegou a ser também, ainda que por pouco tempo infelizmente, sede da Secretaria de Estado do Turismo. Agora olhemos para tantos maus exemplos, como o Quartel da Atalaia em Tavira, a Messe dos Oficiais em Lagos, ou o terreno do Cerro do Guelhim perto de Olhão, só para vos dar 3 casos. É claro que muitos mais haverão em todo o Algarve, suspeito mesmo que não haverá concelho que não tenha o seu, mas estes 3 casos deveriam chegar para, de uma forma organizada e persistente, continuarmos a exigir da parte do ministério a sua alienação a favor das autarquias, e bem assim a favor dos cidadãos.

É que se o Estado não sabe o que há-de fazer deles, nós sabemos. No caso do Quartel da Atalaia em Tavira pode ser convertido no novo quartel de bombeiros ou mesmo albergar os serviços locais das finanças. No caso de Lagos que melhor para instalar o museu da cidade. E no caso do Cerro do Guelhim que sitio mais conveniente poderia existir para a construção de um grande Estabelecimento Prisional do Algarve, encerrando as Cadeias de Comarca que estão em zonas urbanas (Faro, Silves, Portimão e Olhão)e que são hoje um perigo latente para as comunidades envolventes?


NOTA: Os comentários de Francisco Paulino são emitidos todas as sextas-feiras, às 7 horas, com repetição às 13 e às 19 horas.

sexta-feira, outubro 27, 2006

Apelo aos Dirigentes Desportivos


por Albino Martins (director do Centro Paroquial de Cachopo)

O desporto é uma festa; não pode atropelar princípios, nem regras; deve gerar harmonia, como escola de crescimento e de bom relacionamento com os outros.

Apesar da prática desportiva estar “sujeita a muitas tentações”, “o bom desportista, mesmo em competição, será sempre ganhador”, se assumido com integridade, vencerá “liberdades ilusórias”, como a intriga e a corrupção.

Fui futebolista na 1ª Divisão Nacional de Juniores, em representação do Lusitano de Vila Real de Santo António. Recordo com saudade colegas de Tavira que alinharam na mesma equipa.

Gosto muito de Futebol. Vibro com os emoções das vitórias que o meu clube me proporciona.

Perturba-me , tudo o que nada tem a ver com a competição desportiva.

Nos últimos anos tem-se assistido a uma exagerada comercialização do fenómeno desportivo, conduzindo este à perda progressiva do sentido do “jogo” como autêntica actividade lúdica. Acresce a falta de transparência nos negócios e a suspeição sobre os árbitros.

Nota-se no futebol promiscuidade entre os vários intervenientes.

É hora de mudar comportamentos.

Retomemos o que ele tem de importante: os golos, as vitórias, as emoções.

Os atletas continuem a dignificar o desporto, promovendo os valores da lealdade, do comportamento correcto, do respeito pelos adversários.

Os dirigentes promovam a verdade desportiva, fomentem o respeito entre clubes, Liga e Federação. Actuem com transparência, lealdade e o respeito pela verdade desportiva.

Os jornalistas, sejam isentos, através de uma informação objectiva, que evite o recurso ao sensacionalismo.

Os adeptos descubram no futebol e no desporto em geral, um divertimento sadio, aproveitando dele tudo o que nos proporciona festa.


NOTA: Os comentários de Albino Martins são emitidos todas as sextas-feiras, às 11 horas, com repetição às 17 e às 23 horas.

terça-feira, outubro 24, 2006

Crónica 17

por José Mateus (consultor de comunicação e autor do blogue CLARO)

Esta Semana estou convidado para um debate sobre o Protal… Como, por razões profissionais, não vou poder estar presente, deixo aqui o meu contributo para esse debate sobre o Protal e as preocupações (graves) que o “Plano Regional de Ordenamento do Território do Algarve” me suscita.

Principal preocupação: O Algarve adiado… De novo, adiado com este Protal, que é uma coisa organizada por limitações e constrangimentos, de carácter ecologista.

Chamar “desenvolvimento sustentável” a uma série de limitações , constrangimentos e proibições é manifestamente exagerado… O desenvolvimento sustentável é outra coisa!

Este Protal parece-me, sobretudo, uma ocasião perdida de repensar o ordenamento do território… E não vejo nele a necessária requalificação do Algarve. O Protal pretende um ordenamento do território… Mas ordenar o território em função do quê? Para quê? Com que objectivos? Com que óptica e com que lógica? O que é que vale a pena fazer e o que é que tem de ser evitado?

O que tem de ser evitado é, antes de mais, o macaquear da planificação estalinista, dos planos quinquenais ou bi-quinquenais, mesmo que sob roupagens tecnocráticas…

Francamente, só lhe vejo um aspecto positivo: o de reconhecer que o Algarve é uma região desarticulada e desestruturada (mas então que andaram as CCR e CCRD a fazer ao longo de décadas?) e propor remediar esta situação negativa com a criação de eixos de articulação interior-litoral… Mas mesmo nisto fica um sabor a pouco… Quase só uma história de boas intenções… E, quanto ao resto, limitações, limitações e mais restrições.

Mas era preciso fazer tanto barulho para fazer tão fraca coisa…?

Quando vejo organizar o plano de ordenamento em função de restrições e limitações ecologistas, lembro-me inevitavelmente desse grande ecologista que foi… o Salazar!

De facto, o homem impediu quanto pôde a industrialização de Portugal para evitar poluições químicas e morais, manteve a agricultura e as pescas sem desenvolvimento e fora do mercado, garantindo a felicidade aos passarinhos e aos passarões, impediu o desenvolvimento do turismo e bloqueou a abertura de hotéis no Algarve (ao contrário do que fazia o seu amigo Franco), foi, portanto, um grande ecologista e defensor do Ambiente, para os passarinhos e para os passarões.

Mas isto tudo significava miséria para os algarvios… Que daqui fugiam como podiam para todo o lado – Brasil, Venezuela, Argentina, Austrália, Canadá, França, Alemanha, sei lá – e hoje já estão de novo a sair até para… Espanha! É este o ordenamento que o Protal quer?

O que tem de ser feito – e que no Protal não foi – é pensar o ordenamento em função de uma valorização do território e numa óptica mais deste século, uma óptica que rompa com os limites tradicionais, facilite a emergência de novas tecnologias, ultrapassando perspectivas estanques e restritivas e promovendo o uso misto do território… Abordagens novas para uma melhor valorização do território.

Infelizmente, não é isto que acontece com este Protal que oscila entre velhas abordagens tecnocráticas e tentações estalinistas, tudo isto com uns pozinhos de discussão democrática do que parece já estar decidido…

Este Protal é sobretudo um teste à qualidade dos políticos algarvios, à sua inteligência e à sua capacidade. Vamos ver que força têm e do que são capazes… Oxalá!

NOTA: Os comentários de José Mateus são emitidos todas as terças-feiras, às 11 horas, com repetição às 17 e às 23 horas.

segunda-feira, outubro 23, 2006

A Casa Pia e não só

por Carlos Lopes (advogado, benfiquista e animador cultural)

O assunto da pedofilia tem perdido gás. O tempo vai passando e a serenidade, própria da soberania, vai deixando a sua patine. A imprensa deixou cair o fenómeno como coisa de somenos, mesmo tendo deitado por terra a honra de muitos cidadãos.

Recentemente vi algures que vai haver uma revolução na política criminal: os suspeitos de corrupção vão todos ser sujeitos a prisão preventiva! Não acredito! Está tudo doido?

Ah, mas quem quiser inteirar-se de tais ideias, pode fazê-lo. É fácil. Vai haver uma conferência com muitos conhecedores dos temas candentes no próximo dia 28 de Outubro em Albufeira. Informe-se.


NOTA: Os comentários de Carlos Lopes são emitidos todas as segundas-feiras, às 11 horas, com repetição às 17 e às 23 horas.

sexta-feira, outubro 20, 2006

A Despenalização da Interrupção Voluntária da Gravidez


por Albino Martins (director do Centro Paroquial de Cachopo)

A aprovação pelo Parlamento Português da proposta do Partido Socialista para a realização de um Referendo sobre a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, volta a lançar o debate sobre este tema.

A opinião pública portuguesa parece ter acordado. Nos últimos dias, os meios de comunicação social, atentos e aguerridos, os políticos, uns a dizer logo que sim, outros que talvez, o cidadão anónimo, todos preocupados em apresentar os seus pontos de vista, a sua opinião…

Apercebo-me que toda a gente é contra o aborto, mesmo aqueles que, para defender um direito da mulher que engravidou e não quer ser mãe, defendem o aborto.

Apercebo -me de que há mais católicos do que eu pensava que se gabam de ser católicos e, simultaneamente, consideram que é menos mau pôr termo à vida de um ser (que não pediu para nascer) do que traumatizar psicologicamente uma mulher que, inadvertidamente, engravidou ou que engravidou deliberadamente mas, entretanto, se arrependeu.

Apercebo-me de que se tenta projectar esta questão para os níveis político e religioso, quando, afinal de contas, ela reside no campo dos princípios básicos do humanismo e da moral – o direito à vida.

Apercebo-me de que, para alguns, aquilo que está dentro do seio materno não passa de um “amontoado de células”, sem direito ao Direito, nem sequer o Constitucional! Mas, se porventura, essa coisa nascer com seis ou sete meses, então já passará a estar sob a alçada da lei…

Apercebo-me de que a actual lei – já portadora de imensas “liberdades” – já não serve (e, por isso, toda esta agitação); porém, a proposta de despenalização até às dez semanas não passa senão da uma etapa intermédia para se atingir a despenalização sem qualquer limite temporal.

Por último, apercebo-me de que nesta matéria não estamos a acompanhar os países “desenvolvidos”; para sermos mais “civilizados”, precisaremos de descriminar o aborto e despenalizar, pura e simplesmente, quem o pratica, directa ou indirectamente.

Fico triste e revoltado. Não, meus senhores, eu fui muito mais do que um somatório de células, eu sou muito mais do que um ser biológico. Também valho muito mais do que a Constituição da República Portuguesa e estou para além das leis.

Custe o que custar, nós temos a gravíssima obrigação de defender a vida, mormente daqueles que não têm possibilidade de defesa. Mas, por favor, não fiquemos por aqui, pela tristeza e revolta e pelas (boas) intenções.

Façamos tudo – e os cristãos têm uma responsabilidade acrescida – para evitar estas (dramáticas) situações. E o início de tudo reside, quanto a mim na família, na educação dos filhos para o amor responsável, no acompanhamento discreto que lhes fazemos ao longo da sua adolescência e juventude, no tempo útil que lhes damos, no exemplo de amor e fidelidade que lhes transmitimos.

Mas se pudermos fazer mais qualquer coisa, façamos.

Aquelas mulheres que caiem nesta situação e, sobretudo, aqueles pequenos seres inocentes e indefesos, agradecem. Se não, quando uma destas mulheres for condenada, também eu estou a ser condenado. E quando um destes seres morrer, também, em parte, fui eu que o matei.

NOTA: Os comentários de Albino Martins são emitidos todas as sextas-feiras, às 11 horas, com repetição às 17 e às 23 horas.

Discussão pública do PROT Algarve


por Francisco Paulino (empresário do sector turístico e dirigente do CDS-Partido Popular)

Está nesta altura a decorrer a discussão pública do PROT Algarve Plano Regional de Ordenamento do Território e que é o instrumento de referência para o desenvolvimento da Região, pensado para um futuro temporal que ronda os 25 anos, com influencia decisiva para as próximas gerações.

Mas será que as sessões de discussão pública poderão influenciar o resultado final do mesmo? Será que o Estado ao querer ouvir as populações levará em conta as suas opiniões?

Tendo em vista o que se passou nas duas primeiras destas sessões (dia 13 em Portimão e 17 em Aljezur) tudo aponta para a inutilidade destas acções e para o seu inquinamento desde logo. E a propósito não deixem os ouvintes de estar presentes na sessão de hoje sexta-feira dia 20 em Alcoutim a partir das 17h00.

É frustrante sentir que apesar de reunir um conjunto de boas vontades e desejo veemente de ser parte da solução, as populações pouco ou nada poderão acrescentar ou retirar àquilo que o governo já determinou. Aliás este partido (ou outro qualquer) quando no Governo, é useiro e vezeiro em fazer de conta que não percebe as vontades populares, seja em consultas como esta, seja em referendos, e desde que não reflictam a linha orientadora do poder não são para levar em consideração.

Mas voltando à discussão pública do PROT Algarve , digamos que esta sessões, pretensamente para ouvir o povo, são mero pró-forma que os governantes, obrigados pelo seu estatuto e pela constituição da República promovem, mas cujo resultado final é condicionado pelas suas próprias linhas programáticas, pela arrogância do discurso e pelo autismo de quem acha que são os eleitos divinos e para os quais não existe alternativa.

Foi assim com o Eng. Guterres tal como é assim com o Eng. Sócrates. A inevitabilidade do conforto de uma maioria, neste caso, na Assembleia da República, e a presunção que tudo lhes é permitido, levam a este extremar de atitudes e prepotência. Quando o é o próprio PROT que preconiza que o Algarve se deverá afirmar como uma das regiões mais desenvolvidas do País e da Europa, eu pergunto: mas será fazendo ouvidos de mercador às propostas que os Algarvios têm para o conseguir, ou será aceitando como válidos os seus argumentos?

NOTA: Os comentários de Francisco Paulino são emitidos todas as sextas-feiras, às 7 horas, com repetição às 13 e às 19 horas.

terça-feira, outubro 17, 2006

Crónica 16

por José Mateus (consultor de comunicação e autor do blogue CLARO)

Pela 1ª vez, em Democracia, um Governo corta na Despesa... O Estado aperta o cinto. Coisa inédita, nunca vista...

Até aqui eram só os privados, sobretudo quem ganha a vida com o seu salário, a pagar as favas e a apertar o cinto.

Todos os governos dos últimos 30 anos nos habituaram a isso... Quando não tinham dinheiro para as suas extravagâncias, a gente pagava. Aumentavam os impostos, aumentavam a despesa do estado e a gente pagava e... apertava o cinto.

Finalmente, parece que o Estado também vai apertar o cinto... entrar de dieta...

É justo! Quando há dificuldades têm de ser para todos! Têm de ser repartidas. É justo!

Com o apertar do cinto do Estado, não serão necessários orçamentos rectificativos, a despesa pública, que crescia todos os anos como uma louca, começa - mas começa apenas - a ser contida e talvez daqui a 2 ou 3 anos Portugal comece a ser um país como os outros, como a Espanha, por exemplo.

E por falar de Espanha... é perciso dizer que o que Sócrates e o seu governo estão a fazer à economia portuguesa é exactamente o tratamento que Felipe Gonzalez deu a Espanha, com os óptimos resultados conhecidos... E que ninguém, nem Mário Soares, nem Cavaco, nem Guterres, quando podiam tiveram a coragem de dar a Portugal.

Duas notas ainda:

- O porta-voz do PS, Vitalino Canas, mostrou como as manifestações contra a política do Governo usam e abusam dos autocarros das câmaras comunistas... uma grande orquestração. É uma tentativa de regresso ao P.R.E.C., ao Verão de 75. Falhada, certamente.

- O ministro Manuel Pinho precisa urgentemente de ir descansar... Teve um "vipe" e decretou o fim da crise económica, tirando o tapete ao Governo e a Sócrates... Como se as crises encerrassem por decretos de Pinhos... Nem a propósito, hoje Medina Carreira faz da crise um diagnóstico arrepiante e diz: "O mais grave problema que enfrentamos hoje é o do Estado: não se sustenta com a economia que temos e outra é irrealizável em tempo útil. Resta repensálo e reorganizá-lo". É o que Sócrates se propõe fazer. Se conseguirá ou não, veremos... oxalá!

NOTA: Os comentários de José Mateus são emitidos todas as terças-feiras, às 11 horas, com repetição às 17 e às 23 horas.

sexta-feira, outubro 13, 2006

Idosos vítimas de maus tratos


por Albino Martins (director do Centro Paroquial de Cachopo)

A comunicação social fez eco no dia Internacional do Idoso da dura realidade de “sete em cada dez idosos vítimas de agressões, serem no seio de suas próprias famílias”.

Confesso que fiquei chocado com a quebra de valores tradicionais.

A violência física, psíquica e a exploração financeira que se cometem contra os idosos, são crimes que importa irradicar, criando serviços de proximidade à família, através de respostas comunitárias que importa permanentemente identificar, para possibilitar os apoios adequados.

É urgente tomar medidas. Algumas simples, mas que poderiam ser eficazes e que me atrevo a recomendar:

- O conhecimento solidário;
- A congregação de esforços a nível de freguesia, concelho e à escala nacional;
- A adopção de novas respostas sociais.

O conhecimento solidário consiste no contacto directo com os idosos vítimas de maus tratos.

A congregação de esforços consiste no aproveitamento e articulação do trabalho social, pelas Instituições Particulares de Solidariedade Social e pelos Serviços Públicos de Acção Social.

A adopção de novas respostas sociais compete especialmente ao Governo e deveria basear-se na identificação dos problemas de difícil solução, dados a conhecer regularmente pelos diferentes Municípios, através das Redes Sociais.

E que poderá o auditório da Gilão fazer desde já?

Oferecer afecto aos vossos idosos. Eles na fragilidade própria dos seus muitos anos, estão à vossa mercê. Não os vejam como um peso – particularmente quando à idade, se junta a doença incurável.

Aos comportamentos criminosos de quem ofende a dignidade dos idosos, urge opor atitudes corajosas, criando estruturas e disponibilizando meios.

Acolha – Cuide – Ame!

Não desperdicemos valores essenciais e tão caros aos nossos antepassados e, simultaneamente não demos um péssimo exemplo às novas gerações.

NOTA: Os comentários de Albino Martins são emitidos todas as sextas-feiras, às 11 horas, com repetição às 17 e às 23 horas.

Hospital Central do Algarve


por Francisco Paulino (empresário do sector turístico e dirigente do CDS-Partido Popular)

Parece que vai finalmente arrancar a construção do Hospital Central do Algarve. E digo parece pois tem sido por demasiadas vezes protelado este sonho Algarvio já considerado como a obra mais estruturante não apenas da nossa região mas de todo o País a sul do Tejo.

Sou favorável à criação dessa unidade de saúde por vários motivos desde a lógica prestação de cuidados de saúde com qualidade aos residentes mas também como forma de assegurar àqueles que nos visitam que estamos preparados para os receber. Numa altura em que por razões económicas e de disponibilidade são os turistas de uma faixa etária mais elevada que mais viajam é bom que saibam as condições que cá virão encontrar. Sou portanto favorável à criação desse Hospital mas não de qualquer maneira, nem a qualquer preço. Ao contrário do Sr. Ministro que aparentemente ainda não tem definido de que forma irá funcionar este equipamento, queremos no Algarve um estabelecimento hospitalar orientado para providenciar cuidados de saúde de qualidade e que seja um exemplo para o Serviço Nacional de Saúde. Como fazer? Entregando, através de concurso público, à iniciativa privada a sua concepção, construção, financiamento e exploração, integrando-o posteriormente na rede do SNS, através da negociação de uma tabela de preços pelos serviços prestados, cujo pagamento seria suportado pelo Estado. Para os doentes seria um hospital cujo acesso é em tudo idêntico ao dos hospitais públicos, mas beneficiando de cuidados prestados com mais qualidade e sem listas de espera. Para os investidores seria mais uma oportunidade de investimento, certamente visando o lucro legítimo, mas por essa via geradora da receita proveniente dos impostos, e para o Estado representaria uma poupança de 30 a 40% nos custos com a saúde.

Ligada a esta iniciativa, está ainda presente a oportunidade única de se desenvolver entre a unidade de saúde e a Universidade um verdadeiro programa de parceria no domínio da investigação biomédica e biotecnológica, cujo alcance e importância para a região não necessito de enfatizar. Por outras palavras a criação da tão desejada Faculdade de Medicina do Algarve.

Hoje em dia sucede no nosso País este incrível paradoxo: só entram nas faculdades de medicina os alunos com média superior a 18,43. Quer isto dizer que os nossos melhores alunos, os estudantes com média de 18 valores, não podem aceder ao curso da sua preferência e vocação. Por outro lado, os hospitais em geral, e em particular os do Algarve, estão enxameados de médicos de nacionalidade estrangeira, contra os quais nada temos, como é evidente, mas cuja presença reflecte um desajustamento entre a oferta e a procura nesta área, para mais quando se sabe que centenas de jovens estão a demandar universidades estrangeiras para poderem cursar medicina.
Algo vai mal, portanto.


NOTA: Os comentários de Francisco Paulino são emitidos todas as sextas-feiras, às 7 horas, com repetição às 13 e às 19 horas.

quarta-feira, outubro 11, 2006

Lixo: Algarve lidera reciclagem


por Fernando Reis (professor e director do Jornal do Algarve)

Em sete anos, a reciclagem de lixo cresceu, no Algarve, mais de 400 por cento. No total foram recicladas cerca de 75 mil toneladas de vidro, papel e embalagens, o que equivale a dez por cento do total do lixo recolhido na região, correspondendo a uma média de 31 quilos reciclado por cada algarvio.

Estes números que remetem o Algarve para o topo das regiões do nosso país em termos de média de lixo reciclada, reflectem, no entanto, numa análise comparativa, uma nítida de desvantagem em termos de União Europeia, uma vez que Portugal está, a este nível, na cauda do pelotão, à frente do qual surge a Holanda com 65 por cento do lixo reciclado. Os nossos vizinhos espanhóis que há uns anos atrás não estavam muito sensibilizados para esta prá- tica, reciclam hoje 35 por cento do lixo que produ- zem.

Mas deste atraso relativamente à Europa, que se estende, como se sabe, a muitas outras áreas, fica-nos a certeza, pela análise da evolução positiva dos números da reciclagem do lixo no Algarve, que na base do problema reside quase sempre a vertente educacional, por um lado e a forma como se priorizam ou não, em termos nacionais e regionais, essas questões. Há efectivamente uma nova geração que, fruto do modo como a problemática ambiental e as boas práticas a favor da natureza são tratadas na escola, começa a despertar para a importância da reutilização do lixo produzido, quer numa perspectiva de interesse económico quer numa perspectiva de preservação dos ecosistemas. Mas começa a haver, também, um maior investimento por parte dos municípios nesta área tão sensível e tão imprescindível na promoção de uma boa qualidade de vida, que é, cada vez mais, também, um factor importante na atracção dos fluxos turísticos.

Mas se em termos de reciclagem do lixo, apesar de estarmos abaixo da média europeia, houve uma evolução positiva há, contudo, um aspecto relacionado com esta problemática que exige uma maior atenção, quer por parte da população quer das autarquias. Referimo-nos à forma imunda como se apresentam certos contentores, por falta de civismo e por uma certa ineficácia no processo de recolha do lixo, limpeza e desinfecção desses locais, sobretudo no Verão. É preciso não esquecer que os contentores, pela sua natureza podem ser um foco de doença.

Nesta reflexão sobre a necessidade de boas práticas ambientais, deixamos no ar o desejo de rever uma prática muito frequente num passado não muito distante e que gostariamos de ver retomada, agora, numa perspectiva ecológica; a lavagem de ruas, através da reciclagem das águas residuais.

NOTA: Os comentários de Fernando Reis são emitidos todas as quartas-feiras, às 9 horas, com repetição às 15 e às 21 horas.

terça-feira, outubro 10, 2006

Crónica 15

por José Mateus (consultor de comunicação e autor do blogue CLARO)

Olá...

Como Vamos?

Vamos a atravessar um momento rico de acontecimentos. Positivos, na política interna... Mas com um muito negativo, na vida internacional, a ameaçar tudo: os testes de armas nucleares pelo regime louco da Coreia do Norte... Que é a primeira vez que um estado pária, meio-louco, meio-bandido, tem acesso a armas de destruição maciça e de longo alcance... Muito trabalho em perspectiva para a ONU e para o seu novo secretário geral - um sul coreano, que ironia!.

Mas voltemos aos acontecimentos internos e positivos.

A ministra da Educação prepara uma reforma descentralizadora das escolas e das suas competências. O que é importante, muito importante para uma educação capaz e decente das nossas crianças - aqui devo dizer que não entendo a reacção de alguns professores...

Mas quando será que, em Portugal, professores e outros funcionários públicos se convencem de que são pessoas como as outras... E que os privilégios deixaram de fazer sentido?

Outro facto positivo: a nomeação do novo PGR sob o signo da luta contra a corrupção, lançada por Cavaco Silva.

NOTA: Os comentários de José Mateus são emitidos todas as terças-feiras, às 11 horas, com repetição às 17 e às 23 horas.

segunda-feira, outubro 09, 2006

Ruas com os nomes de advogados

por Carlos Lopes (advogado, benfiquista e animador cultural)

Numa altura que as profissões forenses estão a ser atacadas com a eficácia que se reconhece, é bom verificar que a Câmara de Tavira resolveu homenagear dois advogados que exerceram a sua actividade em Tavira mas cuja fama se alastrava por todo o país. Falo do Dr. Dias da Costa e Dr. José Correia que viram os seus nomes inscritos na toponímia da cidade. Conheci profissionalmente o Dr. José Correia e praticamente não conheci já o Dr. Dias da Costa. Sei que este era um homem da cultura, culto, um bom poeta e que escreveu o até agora melhor livro sobre o rio Guadiana. A sua antologia de poetas alentejanos é uma referência no género. O Dr. José Correia era um versado em história, especialmente a eclesiástica. Ironicamente foi homenageado no dia da implantação da República, uma revolução com cariz anticlerical, quando ele tinha simpatias monárquicas e católico fervoroso. São teias que a história tece. Mas foram homenagens merecidas.


NOTA: Os comentários de Carlos Lopes são emitidos todas as segundas-feiras, às 11 horas, com repetição às 17 e às 23 horas.

O 12 de Outubro de 1972

por Carlos Lopes (advogado, benfiquista e animador cultural)

Em 12 de Outubro de 1972, no Quelhas, em Lisboa, era abatido a tiro pela PIDE um estudante de direito. O seu nome: José António Ribeiro Santos. Foi o início de muitas militâncias e muitas lutas para muitos de nós nesse tempo. Ao contrário do que diz o Prof. José Hermano Saraiva, não foi só Catarina a ser morta. Ribeiro Santos representava a juventude inconformista e inconformada. Dos muitos milhares que naqueles anos de brasa se revoltaram com um regime entorpecido, velho, caquéctico, Ribeiro Santos encontrou a morte naquele dia.

Com uma guerra colonial sem fim e sem futuro. Com o Maio de 68 ainda fresco. Nesse dia e nessa data um outro estudante foi ferido. Ele também um homem corajoso. Refiro-me ao também, então, estudante de direito José Lamego, ex secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros, baleado numa perna de que hoje ainda padece.

O seu assassino nunca foi julgado. Os regimes nunca julgam os seus beleguins.
Ribeiro Santos faz agora 34 anos de morto. A memória vai-se esvaindo, não há volta a dar, mas devemos ter sempre presente que a PIDE existiu.


NOTA: Os comentários de Carlos Lopes são emitidos todas as segundas-feiras, às 11 horas, com repetição às 17 e às 23 horas.

segunda-feira, outubro 02, 2006

Crónica 14

por José Mateus (consultor de comunicação e autor do blogue CLARO)

Olá... Como Vamos?

Vamos que o Algarve ficou de fora das comemorações do Dia Mundial do Turismo... que ficaram todas por Lisboa.

O tema é grave e Fernando Reis já aqui o abordou. Estou, no essencial, de acordo com ele... Mas discordo nalguns pontos.

A culpa da coisa é no Algarve que tem de ser procurada. E não nos ficarmos pelas habituais críticas à sobranceria de Lisboa.

Ok, ao ficar de fora, isso foi "ao invés das nossas expectativas". Mas como podemos ter "expectativas" se não nos mexemos, se não lutamos? Se apenas ficamos sentados à espera que essas expectativas se realizem... só porque achamos isso normal. É claro que outros vão à luta, disputam as coisas e... ficam com elas.

Por isso, concordo que "o grande problema do Algarve é que lhe falta capacidade de afirmação"... E isto leva-me ao tema que aqui abordei a semana passada: a falta de confiança nos políticos e, sobretudo, nos deputados.

Vejam só. Quando se começa a falar de reformar este falido sistema político-eleitoral, que só produz gente em que ninguém confia, surgem logo uns dos tais senhores em que ninguém acredita para alertar para os perigos da democracia...

Primeiro foram uns rapazes do Durão Barroso, chamados de "barrosistas" porque ninguém sabe os nomes deles... E logo veio essa figura de Paulo Portas alertar Cavaco, alertar, ouviram bem, o Presidente para "a situação verdadeiramente perigosa para o pluralismo quando a Assembleia da República, que vota a lei, e o Presidente, que a promulga, estejam de acordo sobre a lei eleitoral". Isto diz Portas... Que certamente deve estar a brincar... E ainda alertam contra o "caciquismo" e o "populismo"...

O que não se faz para defender um lugarzinho em S. Bento... E o país que se lixe! Assim não vamos a lado nenhum... Resta esperar que nem Cavaco nem Sócrates oiçam estes "alertas" dos barrosistas e de Portas.

Talvez com outro modo mais sadio de escolha e eleição do pessoal político, o Algarve arranje quem o defenda e não fique de fora e com as expectativas legítimas... frustradas. Oxalá!

NOTA: Os comentários de José Mateus são emitidos todas as terças-feiras, às 11 horas, com repetição às 17 e às 23 horas.