A Despenalização da Interrupção Voluntária da Gravidez
por Albino Martins (director do Centro Paroquial de Cachopo)
A aprovação pelo Parlamento Português da proposta do Partido Socialista para a realização de um Referendo sobre a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, volta a lançar o debate sobre este tema.
A opinião pública portuguesa parece ter acordado. Nos últimos dias, os meios de comunicação social, atentos e aguerridos, os políticos, uns a dizer logo que sim, outros que talvez, o cidadão anónimo, todos preocupados em apresentar os seus pontos de vista, a sua opinião…
Apercebo-me que toda a gente é contra o aborto, mesmo aqueles que, para defender um direito da mulher que engravidou e não quer ser mãe, defendem o aborto.
Apercebo -me de que há mais católicos do que eu pensava que se gabam de ser católicos e, simultaneamente, consideram que é menos mau pôr termo à vida de um ser (que não pediu para nascer) do que traumatizar psicologicamente uma mulher que, inadvertidamente, engravidou ou que engravidou deliberadamente mas, entretanto, se arrependeu.
Apercebo-me de que se tenta projectar esta questão para os níveis político e religioso, quando, afinal de contas, ela reside no campo dos princípios básicos do humanismo e da moral – o direito à vida.
Apercebo-me de que, para alguns, aquilo que está dentro do seio materno não passa de um “amontoado de células”, sem direito ao Direito, nem sequer o Constitucional! Mas, se porventura, essa coisa nascer com seis ou sete meses, então já passará a estar sob a alçada da lei…
Apercebo-me de que a actual lei – já portadora de imensas “liberdades” – já não serve (e, por isso, toda esta agitação); porém, a proposta de despenalização até às dez semanas não passa senão da uma etapa intermédia para se atingir a despenalização sem qualquer limite temporal.
Por último, apercebo-me de que nesta matéria não estamos a acompanhar os países “desenvolvidos”; para sermos mais “civilizados”, precisaremos de descriminar o aborto e despenalizar, pura e simplesmente, quem o pratica, directa ou indirectamente.
Fico triste e revoltado. Não, meus senhores, eu fui muito mais do que um somatório de células, eu sou muito mais do que um ser biológico. Também valho muito mais do que a Constituição da República Portuguesa e estou para além das leis.
Custe o que custar, nós temos a gravíssima obrigação de defender a vida, mormente daqueles que não têm possibilidade de defesa. Mas, por favor, não fiquemos por aqui, pela tristeza e revolta e pelas (boas) intenções.
Façamos tudo – e os cristãos têm uma responsabilidade acrescida – para evitar estas (dramáticas) situações. E o início de tudo reside, quanto a mim na família, na educação dos filhos para o amor responsável, no acompanhamento discreto que lhes fazemos ao longo da sua adolescência e juventude, no tempo útil que lhes damos, no exemplo de amor e fidelidade que lhes transmitimos.
Mas se pudermos fazer mais qualquer coisa, façamos.
Aquelas mulheres que caiem nesta situação e, sobretudo, aqueles pequenos seres inocentes e indefesos, agradecem. Se não, quando uma destas mulheres for condenada, também eu estou a ser condenado. E quando um destes seres morrer, também, em parte, fui eu que o matei.
NOTA: Os comentários de Albino Martins são emitidos todas as sextas-feiras, às 11 horas, com repetição às 17 e às 23 horas.