quarta-feira, junho 28, 2006

TIMOR: MUITO FALATÓRIO, POUCO PENSAMENTO

por José Mateus (consultor de comunicação e autor do blogue CLARO)

Olá… Viva… Como vamos nós por cá…?

Apesar de tudo, vamos melhor que em Timor… De Timor se tem falado muito nestes dias… Mas nem sempre – ou quase nunca – do mais importante.

Permitam, por isso, que me afaste hoje dos problemas do nosso Algarve e diga alguma coisa de Timor… por referir aquilo de que se devia falar e não se tem falado.

Por exemplo, da leviandade de uns professores portugueses de Direito Constitucional que fizeram para Timor uma constituição desajustada das realidades, autista, patética e sem sentido. Uma constituição que, mais do que permitir encontrar soluções, só congela problemas. Os timorenses confiaram em Portugal… e os nossos professores de Direito Constitucional fizeram um mau trabalho e deixaram-nos mal na fotografia.

Não fosse Xanana, há 3 dias, dispor-se a vestir do novo a farda e voltar a chefiar as Falintil - forças armadas de Timor – e não haveria modo constitucional de resolver a crise.

Tão pouco se tem referido o passado obscuro ou mesmo tenebroso daqueles que fizeram a resistência à indonésia a criar galinhas em Moçambique ou a traficar diamantes em Angola… E quando Xanana, perdida a sua inicial ingenuidade, decide abrir o saco e dizer algumas verdades, que vimos nós em Lisboa ? Um coro de falsas virgens em protestos púdicos! Até essa virginal figura de Ângelo Correio se permite desancar Xanana … Mas, enfim, em Timor há petróleo e Ângelo Correio nunca anda longe do petróleo… Talvez estas virgens pudicas se tenham precipitados…

Um espanto! Aquele senhor que foi ministro poderoso de governos PSD que apagaram Timor do seu mapa, ousa pronunciar-se agora na mais patética e absurda posição neo-colonialista… Nem percebendo que a defesa inteligente dos interesses portugueses passa por ter integrado no nossa cálculo estratégico a independência de Timor! Oh céus, e dizer que gente desta mandado no meu País!

Fala-se, fala-se, fala-se… Não há mesmo burro que não zurre.

Felizmente, Jaime Gama (o mais responsável de entre todos os governantes portugueses pela independência de Timor e responsável por Xanana ter podido falar da montanha…) tem estado prudentemente em silêncio… Ao menos isso!

Nas, no meio de toda esta berraria, ainda não reparei que alguém soubesse estudar e explicar, com frieza e inteligência económica e estratégia, não os interesses petrolíferos da Austrália em Timor, mas sim o que é:

o quadro geo-estratégico australiano

E isto é imprescindível para perceber os problemas e equacioná-los e é decisivo para a defesa do interesses nacional português em Timor e para a ideia portuguesa de Timor (que não coincide com a australiana, nem coma chinesa, nem com a russa, nem coma malaia, nem com…) Em Lisboa, a inteligência económica e estratégica é uma lacuna fatal…

Bolas para todos os ângelos correias deste sítio! Oxalá… !


NOTA: Os comentários de José Mateus são emitidos todas as terças-feiras, às 11 horas, com repetição às 17 e às 23 horas.

terça-feira, junho 20, 2006

Crónica 11

por José Mateus (consultor de comunicação e autor do blogue CLARO)

Olá... Viva... Como vamos nós por cá?

Pois mal com este Protal...

Mais uma vez estamos diante de uma manifestação de pensamanto colonialista face ao Algarve... Um grupo de técnicos que mal conhece e conhece mal a realidade do Algarve, dá-se ao luxo de querer determinar o nosso futuro... À nossa revelia!

Estes técnicos podem ter as melhores intenções (ou nem as ter...), mas têm umas opiniões, formadas longe da realidade, e lá dos seus distantes gabinetes querem impôr-nos essas opiniões...

Esta ditadura dos técnicos é inaceitável! Primeiro, porque nem conhecemos a qualidade dos técnicos e até podem ser maus técnicos... Depois, para que é que votamos em politicos, se depois vêm os técnicos impôr, à revelia de toda a Democracia, a sua ditadura... Esta ditadura de técnicos é um colonialismo inaceitável. O Algarve não é a última colónia de Lisboa... Isso é: as Berlengas...

Mas este Protal revela antes do mais uma certa incompetência das elites políticas algarvias... A sua incapacidade para exercer influência em Lisboa... Alguém acredita que algum governo sonhava impôr um Protal a gente como Mesquita Machado, Narciso Miranda, Fernando Gomes, Menezes ou Mário de Almeida...?

Esta incompetência, esta incapacidade dos nossos políticos algarvios - é bom que se diga - não será a regionalização que a resolve...

Mais do que da regionalização nós precisamos de líderes regionais capazes e competentes... Afirmativos! E a propósito que faz o presidente de Faro fechado no seu gabinete? Quando sai de lá? Quando podemos contar com ele que bem falta faz!

Ainda sobre a panaceira, diga-se que quem não tem capacidades e competências não as ganha por ser decretada a regionalização... Pelo contrário, a regionalização só tornará as lacunas dos nossos dirigentes regionais ainda mais evidentes e gritantes... ainda mais as porá à mostra.

portanto, mais utrgente que a regionalização é ter dirigentes capazes e afirmativos... Capazes de dizer "basta" ao canhestro Protal e de se afirmarem face a Lisboa.

Parabéns ao Governo por ter reconhecido que o "sentimento de segurança" é importante... e ter reforçado os meios de policiamento do Algarve para garantir a segurança no Verão...

Já era sem tempo de alguém perceber que sem segurança, a economia do Algarve desaparece... Que o Governo o tenha percebido é um bom princípio... Oxalá

NOTA: Os comentários de José Mateus são emitidos todas as terças-feiras, às 11 horas, com repetição às 17 e às 23 horas.

sexta-feira, junho 16, 2006

Tradições que o tempo não apaga

por Albino Martins (director do Centro Paroquial de Cachopo)

Muitas vezes, até na publicidade, ouvimos dizer que “a tradição já não é o que era”. Mas há tradições que o tempo não apaga e importa salvaguardá-las como património cultural que, efectivamente, são. Primeiro veio o Santo António, no dia 13; segue-se o São João, no dia 24; e, para acabar as festas, no dia 29 comemora-se São Pedro.

Num país tradicionalmente religioso e basicamente católico, algumas destas festas adquiriram uma raíz um pouco pagã, ainda que não esquecendo o seu conteúdo cristão. Não vou, pois, relatar a história dos três Santos que marcam este mês, nem as razões subjacentes à sua santidade. Vamos antes recordá-los – alegres e jocosos – como a tradição popular os trouxe até nós.

O Santo António, atrevido, brejeiro e casamenteiro, não tem mãos a medir, com as raparigas a pedirem uma “ajudinha” para encontrarem um noivo que lhes sirva. Com bilhetes escondidos sobre a peanha das imagens ou com pedidos verbais e às claras, muitas fazem promessas e algumas garantem, anos mais tarde, ter encontrado o amor da sua vida na noite de Santo António. Ainda que comemorado em todo o país, o Santo António é mais festejado em Lisboa e os seus dotes casamenteiros traduzem-se por iniciativas várias, nomeadamente as famosas “noivas de Santo António”.

Num tempo de alegria, não faltam os desfiles e as marchas populares, os arraiais de sardinha assada, os bailaricos e outras diversões, sobretudo nos bairros mais tradicionais.

Este ambiente de grande entusiasmo e euforia estende-se à nossa cidade de Tavira, onde o Santo que Baptizou Jesus Cristo não tem mãos a medir nas noites de 23 e 24. Porém não custa admitir sem bairrismos fundamentalistas que é no Porto que se comemora com expressão nacional o São João. Num tempo de mangericos, não faltam os alhos-porros para bater nas cabeças de quem passeia, bem como, mais recentemente, os martelinhos e os raminhos de flores que se dão a cheirar a quem passa, às vezes com perfumes de gosto muito duvidoso.

Correm-se as ruas, dança-se não importa com quem, soltam-se os cantares e as ruas do Porto, sobretudo as mais características, enchem-se de cascatas com as crianças a pedirem mais uns cêntimos para alindar a obra que é de todos e homenageia o São João. E há quem percorra toda a cidade, a pé, desde o escurecer até madrugada, passeios “refrescados” com cerveja e vinho, muitos terminando num sono, mais ou menos reparador, na relva da Avenida dos Aliados.

O São Pedro, que acompanhou Cristo e se tornou um dos seus Apóstolos, marca o fim do mês e das festas, sobretudo no norte do país. Já os foliões estão um pouco cansados, o que não os impede ainda de saltar fogueiras e, já com saudade, começar a preparar os festejos do próximo ano.

NOTA: Os comentários de Albino Martins são emitidos todas as sextas-feiras, às 11 horas, com repetição às 17 e às 23 horas.

quarta-feira, junho 14, 2006

Quem defende a Regionalização.

por José Manuel do Carmo (professor da Universidade do Algarve e membro da Mesa Nacional do Bloco de Esquerda)

Em comentário anterior defendi precisarmos efectivamente de um poder regional e, também, que me parecia que os Presidentes de Câmara não seriam os melhores aliados nesta luta.

Na altura desafiei os líderes partidários regionais a assumirem o seu papel e dizerem o que pensam e o que pensavam fazer quanto à regionalização. Quero retomar hoje o assunto, em primeiro lugar para saudar a coragem do Sr. Dr. Mendes Bota, dirigente regional do PSD que no Congresso do seu Partido levantou a voz para defender a Regionalização. Como veio descrito nas notícias, a sua intervenção foi desvalorizada e o assunto mais ou menos silenciado. De tal maneira assim é que quem acabou por ser promovido para a Comissão Política foi outro dos militantes do PSD do Algarve, o Sr. Eng. Macário Correia, Presidente da Câmara Municipal de Tavira e Presidente da AMAL que não parece ter falado em Regionalização. Parece assim poder dizer-se que a política do PSD para a região já não é ditada pelo seu dirigente, mas pelo poder dos Presidentes de Câmara.

Do lado do PS nem uma palavra se tem ouvido nesta temática. A mensagem é evidente: Este não é assunto que interesse, também ao PS.

Pela voz de Jerónimo de Sousa, ouvimos o PCP manifestar-se em diferentes eventos sobre a necessidade da regionalização. No Encontro Nacional Autárquico do Bloco de Esquerda, o Coordenador Nacional, Francisco Louçã defendeu a necessidade de uma regionalização democrática e participada.

Por outro lado, temos encontrado na comunicação social regional frequentes artigos de opinião e comentários defendendo e justificando a necessidade da regionalização, escritos por cidadãos de diferentes quadrantes sociais e políticos. O que poderemos concluir é que para haver regionalização, ela não passará por iniciativas dos partidos do Centrão Social-Democrata, (PS e PSD), mas pela iniciativa dos cidadãos e com o apoio apenas dos partidos mais à esquerda na região. Eu por mim estou disponível para contribuir para esse movimento.


NOTA: Os comentários de José Manuel do Carmo são emitidos todas as quartas-feiras, às 7 horas, com repetição às 13 e às 19 horas.

terça-feira, junho 13, 2006

ACABAR COM A BALDA!

por José Mateus (consultor de comunicação e autor do blogue CLARO)

Olá ... Viva ! Como vamos nós, por cá ?

Pois, pior que podíamos… e isto por falta de organização, por causa da balda…

Portugal gasta muito mais dinheiro com a educação que a Irlanda ou que a média europeia… Desde há anos, que somos uns campeões do esbanjar dinheiro… É a velha e relha fórmula do “É fartar, vilanagem”...

Em matéria de resultados é que estamos mal… passamos o tempo a atirar carradas de dinheiro para cima dos problemas e, no fim, apresentamos resultados que são…inapresentáveis !

Então, como é que, gastando menos, os outros fazem melhor… Porquê ?

Porque não queimam o dinheiro, porque se organizam, porque não deixam as coisas “andar à balda”, porque marcam objectivos e exigem que eles sejam cumpridos…

Porque entendem que as escolas servem para ensinar – a ler, a escrever, a saber matemática e a saber pensar – e não servem para os meninos brincarem e fazerem o que lhes dá na sua infantil bolha…

Para se ter uma ideia da balda, basta perguntar a qualquer criancinha como se passam as coisas na sua escola e que diabo é que ela aprendeu… E como são os professores…

Os professores… Diz o Correio da Manhã de hoje que os sindicatos dos professores tinham 1327 professores requisitados para “trabalho sindical” (seja lá isso o que for…) e que esses 1327 0rofessores nos custam 8 milhões por ano!

O governos de Sócrates quer reduzir este "farrabadó" a 250… E, claro, eles acham pouco!

Só digo uma coisa: que Sócrates e a Ministra da Educação os consigam pôr todos – mas todos – a trabalhar, a dar aulas… Que é para isso que lhes pagamos! E acabar com a balda .

Oxalá!

NOTA: Os comentários de José Mateus são emitidos todas as terças-feiras, às 11 horas, com repetição às 17 e às 23 horas.

segunda-feira, junho 12, 2006

As Festas de Junho

por Carlos Lopes (advogado, benfiquista e animador cultural)

O mês de Junho já começava a cheirar a Verão. Via-se o fim das aulas perto e as possibilidades de ir aos bailes da Maragota, além de ir ao cinema todos os dias (à excepção da segunda-feira, claro).

O Santo António era o princípio dos santos populares a que se seguiam Santo António e S. Pedro. Era o cheiro a murta dos mastros, era o cheiro a terra molhada do largo das festas (para evitar o pó molhava-se a terra do largo do baile), era o barulho da música, naqueles altifalantes de corneta, que se ouvia a quilómetros, com um som muito agudo e insuportável, mas que cheirava a festa. Era a Festa da minha aldeia.

O Santo António era a primeira festa e ainda não muito empolgante. O S. Pedro era para cumprir calendário. É o Santo Popular cuja festa não entusiasma ninguém. Mas o S. João era a grande festa. Há cerca de quarenta anos, Tavira viva uma verdadeira festa popular. Da Rua do Malfôr, ao Alto de S. Brás, os vizinhos conviviam, havia bailaricos, confraternização, festa. O São João em Tavira era a única e verdadeira festa popular que por aqui se celebrava. Depois do 25 de Abril ainda se manteve durante alguns anos. Houve experiências desastrosas, como a dos concursos de rua. Houve excesso de intervenção da autarquia, na minha opinião.

De há dez anos para cá a coisa tem vindo a morrer. Primeiro porque a ideia de bairro tem vindo a desaparecer. Já não há o contraste entre zonas da cidade ou espírito de comunidade que havia. As pessoas já não são do Alto e S. Brás, ou do Largo dos Postigo. O Bairro Jara já não é o que era. O Pombal já não marca uma zona. Por outro lado, deixou de haver empenhamento do poder político. Tentou-se importar uma festa, o Carnaval, que nada diz aos tavirenses e aí, penso, se investiu em excesso, em entusiasmo (de poucos) e em meios. Mas nada daí resultou. Há coisas que estão votadas ao fracasso, sem que achemos justificação para tal. O caso do carnaval, por exemplo.

Digo-o (talvez com saudosismo) que gostava do S. João que conheci em Tavira. As sardinhadas, as pipas de vinho, a música. Não gosto (nem gosto em absoluto) do Carnaval. Manias...


NOTA: Os comentários de Carlos Lopes são emitidos todas as segundas-feiras, às 11 horas, com repetição às 17 e às 23 horas.

sexta-feira, junho 09, 2006

Transladação de sacerdote

por Albino Martins (director do Centro Paroquial de Cachopo)

Durante a sua vida pública, Jesus reuniu discípulos. Entre eles escolheu doze a quem chamou Apóstolos que instruiu de modo especial. Deu-lhes autoridade e funções: ide e ensinai todas as gentes, baptizai-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Quem vos ouve, a mim ouve; quem vos rejeita, a mim rejeita.

Jesus comparou-os a ramos de uma videira de que Ele é a cepa. Comparou-os também a ovelhas de que Ele é o Pastor.

Desta forma, Ele lançou as raízes da Igreja e prometeu-lhes a sua presença permanente: “Eu estarei convosco até ao fim dos tempos” (Mt. 28,20).

Esta missão é hoje continuada no Papa, nos Bispos, mas também nos Padres, em cada comunidade. Estes são preparados, escolhidos e responsabilizados para a missão de pastores de um rebanho: “quem vos ouve é a mim que ouve, e quem vos rejeita é a mim que rejeita” (Lc. 10,16), “tudo o que ligares na Terra, será ligado no Céu” (Mt. 18,18).

Este tema que hoje vos apresento visa falar-vos de um padre que durante cinquenta e seis anos serviu a freguesia de Cachopo, falecido há quinze anos e que neste fim-de-semana será transladado de Faro para a terra que tanto amou.

Trata-se do Padre Júlio Alves de Oliveira.

Das funções que o Senhor lhe confiou, celebrou a Eucaristia, catequizou e orientou a comunidade. Perdoou os pecados e administrou Sacramentos a várias gerações de famílias.

Cachopo mostra a sua gratidão. À Paróquia, associa-se a Câmara Municipal de Tavira e a Junta de Freguesia de Cachopo. Do Programa consta, além do serviço religioso próprio, a inauguração de um busto e uma exposição etnográfica e documental.

Concluo com uma afirmação do Papa Paulo VI. Embora noutro contexto, tem uma magnífica actualidade: “O mundo contemporâneo precisa mais de testemunhas do que de mestres, e se agradece aos mestres é porque eles testemunharam na vida, a coerência do que ensinaram”.

NOTA: Os comentários de Albino Martins são emitidos todas as sextas-feiras, às 11 horas, com repetição às 17 e às 23 horas.

quarta-feira, junho 07, 2006

A Europa, uma nova atitude.

por José Manuel do Carmo (professor da Universidade do Algarve e membro da Mesa Nacional do Bloco de Esquerda)

Aquando da integração europeia, eu, como muitos militantes de uma esquerda que tinha, tanto de radical, como de democrática e transformadora da sociedade, era a favor por entender que a nossa integração não poderia senão trazer progresso civilizacional e uma lufada de ar fresco a esta sociedade atrasada e estúpida.

Tinha a perfeita consciência que muitos daqueles que defendiam sem reservas a integração europeia eram uns saloiinhos que só viam o dinheiro que viria, esquecendo-se que também viriam normas de funcionamento muito diferentes e, sobretudo, uma reforma de mentalidades.

Um típico sinal desta mentalidade, atrasada e subserviente é a atitude de que quem protesta, quem alega direitos, é perturbador da ordem, enfim, no mínimo “é uma pessoa desagradável!” Quem exige o que tem direito é mal visto. Se me queixar, eu sou o mal olhado e, inconscientemente, aquele que deveria ser punido.

Nas últimas semanas apareceram notícias que mostram o atraso de mentalidade que nos separam de uma sociedade mais civilizada e moderna.

A UE suspendeu o financiamento da barragem de Odelouca porque a Liga para a Protecção da Natureza tinha razão. Esta é que é a verdade e não o contrário. Não se pode construir nas dunas e nas falésias; não se pode construir mais camas para turismo na faixa litoral; é necessário manter um grande número de áreas protegidas de modo a conservar o ambiente natural. Etc.

Os valores ambientais são respeitados em toda a Europa, mas os atrasados nem querem, sequer, tomar consciência das razões porque não entendem a Europa.

Patos bravos, compreendam que a grande razão porque valeu a pena aderir à UE é deixar de ter o vosso pensamento bacoco por referência!

Viva a Europa e vocês reciclem essa cabecinha ou então emigrem para o 3º mundo onde essa mentalidade, mistura de vigarista e feirante, ainda hoje estigmatiza os portugueses no mundo!

NOTA: Os comentários de José Manuel do Carmo são emitidos todas as quartas-feiras, às 7 horas, com repetição às 13 e às 19 horas.

Um passo atrás no esbater das assimetrias

por Fernando Reis (professor e director do Jornal do Algarve)

Enquanto na margem espanhola cresce um gigantesco projecto imobiliário-turístico que transformará a zona numa urbe com mais de 20 mil habitantes, quase em frente, na margem direita, um Estudo de Impacto Ambiental - EIA, acaba de chumbar a construção de um resort de seis estrelas com golfe, "Corte Velho", no Azinhal, que pretendia ser um exemplo em matéria de conciliação da actividade turística com a preservação do ambiente envolvente, tinha sido aprovado pela Comissão de Coordenação Regional - CCDR e pela Câmara Municipal de Castro Marim e prevê, apenas, a implantação de 2600 camas.

O chumbo do EIA considera que não estão suficientemente salvaguardadas algumas espécies, como a azinheira, que se trata de uma zona sensível da Rede Natura 2000 e que não está suficientemente claro quais serão os recursos hídricos a utilizar na rega do golfe. Estes são, efectivamente, argumentos que, numa perspectiva de equilíbrio dos ecossistemas e de escassez de água têm a sua força.

Mas o que é difícil de entender é que sejamos só nós a ter que respeitar - muitas vezes de um modo que roça mesmo o fundamentalismo - directivas ambientais que são comunitárias, enquanto os espanhóis, na outra margem fazem tudo o que lhes dá na "gana".

E se em termos de investimento esta disparidade privilegia o crescimento económico dos municípios espanhóis em detrimento dos nossos, cavando ainda mais as assimetrias existentes, em termos ambientais não se percebe a tolerância da União Europeia a propósito destes desmandos nem a passividade das autoridades portuguesas que aceitam e alinham nesta dualidade de procedimentos.

Até agora, não temos conhecimento de qualquer protesto e muito menos denúncia, pelo facto de os espanhóis, no mesmo contexto ecológico, poderem fazer aquilo que nos está vedado. Mas mesmo analisando o problema apenas numa perspectiva interna, também não é fácil compreender que nas proximidades daquele projecto - em zona de serra ou no litoral - outros de dimensão e características semelhantes avancem com parecer ambiental favorável porque são considerados PIN - Projectos de Interesse Nacional, quando este que foi chumbado representa um investimento de cerca de 200 milhões de euros e pretendia, inclusive, vir a obter o título "Gold Signature Sanctuary Resort Certification" que o distinguiria como um empreendimento preocupado com a sustentabilidade e conservação da natureza.

Relativamente à questão da água para a rega do golfe, efectivamente um problema pertinente que o nosso Jornal tem levantado por várias vezes, surpreende-nos que só relativamente a este empreendimento se queira saber onde é que se vai buscar a água, quando esse é um problema que já se coloca ao conjunto dos campos de golfe do Algarve, que no seu conjunto consomem anual-mente 9,5 milhões de metros cúbicos de água potável, o equivalente ao consumo médio anual de 30 por cento da população algarvia.

Actualmente, 95 por cento dos golfes existentes abastecem-se a partir de furos próprios que ou estão à beira do esgotamento ou com altos índices de salinização. A questão da água não é, por conseguinte, só um problema do resort "Corte Velho" mas da generalidade dos golfes e a sua solução terá que passar, forçosamente, pela reutilização das águas residuais, através de um tratamento terciário.

O desafio do desenvolvimento passa pela nossa capacidade em aproveitar, de uma forma coerente e sustentada, as potencialidades existentes numa lógica de preservação ambiental que saiba integrar o Homem e não exclua o progresso. A inviabilização do "Corte Velho" significará um grande revés no desenvolvimento turístico de um concelho pobre e um passo atrás no pretendido esbater de assimetrias entre sotavento e barlavento.

NOTA: Os comentários de Fernando Reis são emitidos todas as quartas-feiras, às 9 horas, com repetição às 15 e às 21 horas.

terça-feira, junho 06, 2006

Crónica n.º 9

por José Mateus (consultor de comunicação e autor do blogue CLARO)

Olá... Viva... Como vamos nós, por cá...?

Pois vamos a sofrer mais que o necessário... E isto devido à falta de tino e de bom senso de alguns senhores ecologistas - ao que dizem - e também à de quem lhes dá tempo de antena e financiamentos.

Senão vejamos:

Na zona de Monchique, na povoação de Alferce, os pobres dos habitantes vão ter que levar com uma linha de alta tensão por cima das cabeças... E porquê? pois para não pertubar os passarinhos dos ecologistas! Parece que uns ninhos de àguia obrigam ao desvio...

Quer dizer, para defender os ninhos dos seus passarinhos, os chamados ecologistas não hesitam em pôr em perigo as pessoas que habitam em Alferce e em pôr em risco - forte - a sua saúde! Para esta rapaziada, a população que se lixe! O homem pode desaparecer, a desertificação humana pode avançar, para descanso dos seus queridos pássaros... Esses, sim, importantes!

Mas, além da loucura que isto representa, há também aqui uma grande ignorância da dialéctica dos eco-sistemas. É que com a desertificação humana, desaparecem os meios de sustento dos tais passarinhos e outra bicharada... E avança a desertficação total, pura e simples!

Basta olhar à volta para ver o que esta gente arranjou de sarilhos nos últimos tempos e como isso só promove a desertificação.

Na ribeira da Foupana, não hesitam em boicotar a barragem (e assim desertificar ainda mais a serra...) com o pretexto mal amanhado de que a àgua iria mexer com uns ecosistemas etc. e tal...

No vale do Guadiana, a "defesa dos habitats" (uma treta que não quer dizer nada) chumba um projecto turistico de sete estrelas, concebido com pés e cabeça e... amigo do Ambiente!

Em Lagos, o projecto de Eriksson, de um complexo de alto nível à volta do conceito de centro de estágios internacional, boicotado há meia-dúzia de anos, prepara-se para fazer as malas para Espanha... onde o esperam de braços abertos! Em Alferce já vimos o que se passa com a alta voltagem...

A mim, parece-me que estes ecologistas são simplesmente reaccionários, salazarentos, inimigos da vida... Herdeiros do ruralismo salazarento, tal como o "botas" inimigos de todo o progresso material das populações, estes fulano se pudessem mandavam-nos de volta à Idade Média! São os ayatolas dos passarinhos, os al-qaedas das ervas que usam como pretexto para exercer o seu fundamentalismo. São profundamente anti-democráticos e são... os herdeiros do ruralismo salazarento! São os novos ridículos... Aliás, se o ridiculo matasse, os ecologistas seriam uma espécie já extinta...

Mas como o ridículo ainda os não extinguiu, constituem uma das mais sinistras corporações, das mais maléficas e das que mais inferniza a vida dos Portugueses.

Mas as verdade é que esta corporação ao fazer da ecologia um modo de vida - e de boa vida - não só nos inferniza a vida, não sé se constitui como "empata", como ainda faz mal ao Ambiente e torna a causa do Ambiente odiada pelas populações!

Esperemos que tal espécie predadora entre rapidamente em vias de extinção...

Oxalá!

NOTA: Os comentários de José Mateus são emitidos todas as terças-feiras, às 11 horas, com repetição às 17 e às 23 horas.

segunda-feira, junho 05, 2006

O Ciclismo em Tavira

por Carlos Lopes (advogado, benfiquista e animador cultural)

Nos anos cinquenta e sessenta o ciclismo era uma doença para mim e para muita gente em Tavira. Todas as aldeias tinham os seus “heróis”. Os seus campeões. Luís Canoco, os irmãos Palmeira, Jorge Corvo, Alcides Neto, Pontalinho, Indalécio de Jesus, Henrique Neto, António Graça, Pedro Bárbara, Sérgio Páscoa e muitos outros, encheram a nossa imaginação e a nossa alma. Eram heróis de ao pé da porta que rivalizavam com os das grandes cidades e com os campeões de Portugal.

A vida a isso proporcionava. Assistia-se ao boom da construção civil. Acabada a escola, já não se ia para ofícios tradicionais mas para trolha. Ganhava-se logo e não se levava anos a trabalhar para o mestre, sem ganhar nada. Se se ia a pé para os locais mais perto, tinha-se de ir de bicicleta para Faro, Albufeira e Monte Gordo (sítios onde a construção disparou em flecha). Com duas sardinhas fritas no saco, ou um ovo frito e um pedaço de pão, lá se ia antes das sete para o trabalho. E iam muitos. Ia-se em bando, em pelotões de dez e mais ciclistas. Andavam-se quilómetros em “treino”. Aos domingos, na pista mostravam-se as habilidades. Assim se desenvolveu o ciclismo. O Ginásio, clube fechado e elitista, dava guarida e o nosso herói maior: Jorge Corvo.

O tempo passou, Salazar deu lugar a Marcello Caetano, as bicicletas deram origem às motorizadas e estas aos automóveis. As bicicletas, como meio de transporte, deu origem à bicicleta como instrumento lúdico. Ao Ginásio sucedeu o Clube de Ciclismo pela mão desse “doente” que é o Engº Brito da Mana. Ao ciclismo amador, ou semi amador, sucedeu-lhe o ciclismo profissional. Ao amor à camisola, sucedeu-lhe o amor pelo que se ganhava. Aos “heróis” locais sucederam os ciclistas profissionais estrangeiros. O ciclismo já não é o que era. Já não temos heróis.

A insistência nesta actividade, como se vivêssemos nos anos sessenta, nada tem de sensato. Hoje o ciclismo é uma actividade na mão das grandes firmas, em que o espectáculo e a eficiência da publicidade se sobrepõem a qualquer lógica. Talvez nem justifique os rios de dinheiro que faz correr. Não sei se tem retorno. Sei, isso sim, que já não faz correr as multidões com o entusiasmo que fazia correr, ainda que seja sempre um espectáculo bonito. Perdoem-me os incondicionais, o ciclismo já foi em Tavira.


NOTA: Os comentários de Carlos Lopes são emitidos todas as segundas-feiras, às 11 horas, com repetição às 17 e às 23 horas.

sexta-feira, junho 02, 2006

A ética do compromisso

por Albino Martins (director do Centro Paroquial de Cachopo)

O Presidente da República Dr. Cavaco Silva, na sessão solene do 25 de Abril deste ano, escolheu para tema central do seu discurso, a inclusão social e a necessidade de um compromisso cívico que a todos envolva, por forma a identificar os problemas, ordenar prioridades e traçar metas a atingir.

O Presidente deu já provas que esse não foi um discurso de ocasião.

O “Roteiro pela Inclusão”, iniciado esta semana em Alcoutim, deve levar todos os cidadãos a tomar consciência que este é um assunto que a todos diz respeito.
A vastidão e a complexidade dos problemas não permitem respostas fáceis, nem análises simplistas. Podem até parecer-nos esmagadores e fazer-nos baixar os braços.

Uma coisa, porém, é para todos evidente: só em conjunto conseguiremos dar resposta aos problemas que nos afectam a todos.

Assumamos os nossos compromissos de cidadania.

A ética do compromisso – compromisso uns para com os outros, compromisso nos espaços onde estamos envolvidos, nas estruturas sociais onde participamos.

Urge descobrir novos espaços de cidadania que possam responder aos problemas dos nossos dias. Isso passa pela leitura da realidade e pela reflexão crítica, mas também pela acção, pelo desenvolvimento de experiências concretas.

NOTA: Os comentários de Albino Martins são emitidos todas as sextas-feiras, às 11 horas, com repetição às 17 e às 23 horas.

quinta-feira, junho 01, 2006

Consciência

por Hélder Nunes (jornalista e director do Barlavento)

«Isto é um peso na consciência colectiva e não me parece que possamos confiar apenas no Estado para resolver todos os problemas e inverter a tendência para o despovoamento. É preciso mobilizar as boas vontades de todos. Daqueles que têm, para ajudar aqueles que não têm» disse-nos Cavaco Silva, Presidente da República, no Algarve profundo. Na zona onde já só vive, na prática, gente da terceira idade, porque lhes falta as forças para fugir.

Quando o senhor Presidente afirma que isto é um «peso na consciência colectiva» quer culpar-nos a todos pelas políticas dos Governos que têm andado a governar este país, centralizado no Terreiro do Paço, esquecendo as realidades da periferia e as assimetrias que se foram cavando ao longo dos últimos anos.

Os técnicos, ou melhor, os cérebros ditos superiores, criaram regras fundamentalistas para as aldeias do interior, esquecendo a história e a vivência dessas povoações, proibindo-as de construir uma janela, aumentar um quarto para os filhos, de alterar fosse o que fosse para melhorar a qualidade de vida.

Nos tempos que correm, não é fácil fixar gente no interior se não existir o mínimo de condições. E a culpa não é colectiva, é da tacanhez de muitos técnicos e governantes, que não foram capazes de utilizar o bom senso e perceber que, sem perímetros de expansão numa pequena aldeia, sem melhoramentos, não há gente que queira lá morar.

Foram esses fundamentalistas que mataram as aldeias.

Somos apologistas do regresso às origens. Como respondeu António Sotero, de Montes Claro (Alentejo), a Cavaco Silva, quando este lhe perguntou como tinha conseguido aumentar o número de moradores: «é a coisa mais fácil do mundo. Ponha-lhe uma boa estrada, um bom centro social, uma viatura à porta para ir ao médico e repovoamos o interior».

A resposta é redonda, mas está lá alguma parte da solução. Construir bons acessos, colocar luz eléctrica e sempre que possível água canalizada, permitir o crescimento controlado das habitações, com índices de ocupação compatíveis com a aldeia, faz com que os jovens comecem a regressar.

E mais, são capazes de se dedicar à agricultura nos tempos livres e amanhar as terras paradas dos seus bisavós.

Se alguém tem um peso na consciência são os políticos, porque não foram capazes de conceber políticas que permitissem a diminuição das assimetrias, antes, fomentaram esse fosso entre interior e litoral.

Haja coragem de reconhecer que, só para citar, a reflorestação consequente dos incêndios, as indemnizações e toda uma política para agarrar as pessoas à terra, são meros enunciados e teorias que, na prática, não têm dado frutos.

Porquê? Pela estúpida burocracia que emperra tudo e por um vasto conjunto de incompetências que povoam a tal consciência nacional.

Mais recentemente, só para se perceber o peso da tal consciência, há uns inteligentes que resolveram colocar em cima das populações da zona do Alferce linhas de alta tensão.

O mesmo será dizer: vão-se embora porque a qualidade de vida vai piorar. Será que estes engenheiros de gabinete, cujos traços no mapa são feitos sem perceberem que por ali existe uma população, têm consciência?

Possivelmente têm, mas com um peso superior a uma tonelada, que lhes tolhe a clarividência e porque sabem que não lhes toca na sua casa nem em nenhum familiar.

Daí que a sua consciência individual, porque não colectiva, se está nas tintas para o bem comum e colectivo.

«Eu tomo notas, mas o poder executivo não é meu». Senhor Presidente da República, se na verdade anda pelo país em excursão tipo Inatel, apenas para retórica e discursos de ocasião, mais valia pedir às pessoas que fossem em romaria ao Palácio de Belém, pois sempre lhes proporcionava um passeio e até lhes podia oferecer uma noite de teatro e uma visita ao Oceanário ou ao Jardim Zoológico.

Se o Presidente da República não tem poder para corrigir o primeiro-ministro e apelar para que não sejam cometidos erros que prejudicam as populações, ou sugerir determinado tipo de políticas para que a desertificação não avance, o que podemos esperar de si e da sua consciência?

Senhor Presidente, não esqueça, o senhor é daqueles que tem e que pode ajudar aqueles que não têm. O povo espera isso de si!

NOTA: Os comentários de Hélder Nunes são emitidos todas as quintas-feiras, às 9 horas, com repetição às 15 e às 21 horas.