quarta-feira, abril 23, 2008

O abandono de Luís Filipe Menezes

por José Mateus (consultor de comunicação e autor do blogue CLARO)

O PSD parece tendencialmente residual e regionalizado. É uma crise grave, de um partido histórico do acto governamental. Um partido que representa ou representou uma parte importante do eleitorado e da democracia portuguesa, mas que parece perder-se em jogos pessoais e intrigas rasteiras.

Luís Filipe Menezes sai prematuramente sem honra nem glória. Ele que queria ser o Sarcossi português. Menezes andou a berrar que queria ser Sarcossi e agora invoca contrariedades oriundas do próprio partido para justificar o abandono. Se o autarca de Gaia conhecesse 10% ou até mesmo 5% das contrariedades que Sarcossi enfrentou e venceu, num tal cenário não se demitia, apenas suicidava-se.

Ora Sarcossi está agora na presidência e quem lhe procurou arranjar as tais contrariedades está a explicar em tribunal e diante juizes. E não são quaisquer uns. Basta ser o nome, por exemplo, Jacque Chirac. Olhe-se agora para os candidatos que se unem para a candidatura à próxima liderança do PSD e veja-se, como a maioria dos nomes mais sonantes são todos oriundos do Porto e políticos de 2ª linha.

De Lisboa parece não haver candidatos. Manuela Ferreira Leite parece não estar convencida a ser a dama de ferro do PSD e Marcelo Rebelo de Sousa, mesmo se adorasse voltar, não é hoje para o PSD senão um professor de Direito que faz comentários na televisão. Pedro Vaz Coelho é ainda um “J” de Coimbra que foi presidente da JSD. Dotado com 26% das intenções de voto, o PSD em termos de quadros diferentes não parece ter hoje massa crítica a Sul e, preso com uma distribuição orgânica muito assimétrica e desequilibrada para Norte de Leiria. A demissão prematura de Luís Filipe Menezes pode ter como consequência colateral, o fim político do ultimo barão de Lisboa, Angelo Correia, que começou da pior maneira no Verão passado.

Uma conversa de fazeres de reias, enganando-se redondamente na escolha do rei. Não deixaria de ser imensamente irónico que o inoxidável Angelo Correia fosse liquidado por fogo amigo do instável Menezes. Mas, a grande questão que desta perspectiva se levanta é a seguinte: será hoje o PSD uma formação política residual, concentrando a massa crítica restante dos seus dirigentes do Porto e a Norte?

Não me parece haver ainda uma resposta clara e definitiva para a questão. Mas, nas próximas semanas já vamos saber. Ver-se-á se o PSD escapa ou não a esta tendência para a residualização e para a regionalização. Mas se esta tendência se acentua então abre-se o campo a uma marcante recomposição de toda a paisagem política portuguesa.