terça-feira, abril 22, 2008

As "províncias" de Portugal

por Luís Horta (director do jornal Sotavento)

No fim de semana de 12 e 13 de Abril teve lugar no Algarve o 1º Festival Internacional de Ginástica, uma organização que movimentou cerca de 600 atletas e decorreu nos concelhos de Olhão, Tavira e Vila Real de Santo António. Como é hábito, os jornais regionais e também os locais, Postal e Sotavento, cobriram o acontecimento, dando-lhe o relevo que as suas disponibilidades de espaço permitiram, o que acho curioso e daí a razão desta minha crónica de hoje. Os diários a nível nacional e os desportivos nao fizeram referências de jeito a este festival.

Isto porque acabei de receber um telefonema de uma participante que me perguntava se o meu jornal tinha trazido alguma coisa sobre o acontecimento. Perante a minha resposta positiva, perguntou-me ela como podia aceder o mais rápido à notícia e, como estava a falar de Lisboa, acabei por lhe fazer chegar a página do Sotavento através da internet, o que numa primeira análise, satisfez o seu interesse imediato.

Mas, o facto obriga-me ainda a pensar na verdadeira ou verdadeiras razões pelas quais a nossa dita grande imprensa pouca importância dá a eventos como este. Será porque não são futebol? Será porque não envolvem Sporting, Benfica ou Porto? Será porque não têm figuras Vip a assistir? Enfim...Será por uma série infinita de razões que nos dizem cada vez mais que a maior parte dos políticos, a maior parte das figuras do topo da economia, das artes, das ciências ou do desporto não ligam patavina à dita e chamada província. Ser província é ser menor.

O que se passa na grande província não interessa ao grande país, cujos horizontes para a maior parte deles é apenas Lisboa. Infelizmente, também uma grande parte dos jornalistas portugueses assim pensa. Talvez a senhora ginásta, a quem enviei por mail a página do Sotavento, tenha ficado satisfeita pelo evento ter sido divulgado. Caso contrário, poderia a senhora pensar que o festival não tinha sequer acontecido e, quem sabe, pensar se os concelhos de Tavira, Vila Real e Olhão nem sequer existirem, ou ainda, não passa de um mito desta zona do Sotavento para acontecimentos de certa grandeza, desportivos ou não.

Ninguém, nos meios importantes quer olhar para além do seu horizonte centralizador, da sua cidade capital. O resto, continua a ser paisagem. Não há pior cego do que aquele que não quer ver.