quinta-feira, janeiro 24, 2008

Propaganda

por Hélder Nunes (jornalista e director do Barlavento)

Perante a gravidade da situação vivida no Hospital de Faro, todos têm sido unânimes em reconhecer que a solução para melhorar o estado caótico das urgências e acabar com muitas das críticas que se fazem àquela infra-estrutura de saúde, passa pela construção do Hospital Central no Parque das Cidades.

A propaganda do Governo em torno da construção do Hospital Central tem sido concebida com algum cuidado, temos que o reconhecer.

Em Agosto de 2007, José Sócrates veio ao Algarve afirmar que o concurso público seria lançado em 2008, as obras começavam em 2009 e a abertura ao público seria em Maio de 2012.

Os deputados do Partido Socialista têm seguido a cartilha e, sempre que podem, vão confirmando as datas anunciadas pelo seu primeiro-ministro.

O ano de 2008 já aí está e não vislumbramos quaisquer movimentações, nem tão pouco podemos acreditar na propaganda, depois de tudo aquilo a que José Sócrates se comprometeu e não realizou, ou, até, quando tomou medidas contrárias ao que defendeu.

Aliás, que conclusão podemos retirar quando o ministro da Saúde Correia de Campos, ainda esta semana afirmou: «Faro vai ter um hospital central e é isso que estamos a tratar. Espero estar em muito boas condições, daqui a alguns meses, de anunciar o concurso do novo Hospital Central de Faro, que vai ser construído em parceria».

A primeira questão que se levanta é a de que a actual situação vivida no Hospital de Faro está a passar ao lado do ministro da Saúde, porque não se importa com as críticas que são feitas, as anomalias que diariamente se apontam, a demissão dos médicos, etc.

Tudo isto parece ser secundário para o ministro da Saúde, que coloca em rodapé e como ponto fulcral o futuro Hospital Central. Pura propaganda.

Fazer uma promessa, que ninguém sabe se e quando irá ser cumprida, para esconder os factos reais e humilhantes da vida interna do Hospital de Faro, não dignificam a imagem política de um ministro, que deve ser, por regra, um exemplo.

«Daqui a alguns meses», afirma o ministro. Pressupõe-se que o anúncio, ou a intenção do seu lançamento, poderá ser feito lá para meados do ano, ou, quem sabe, como prenda de Natal, já em finais de 2008, para ninguém afirmar que, afinal, mais uma vez faltaram a um compromisso.

Como parceria público/privada, com concurso de âmbito internacional, por uma questão de transparência, e com a possibilidade de não aparecerem parceiros nacionais de imediato, até porque se perspectiva, como já foi anunciado, a construção de um hospital privado em Faro, será que o Governo encara a possibilidade de avançar sozinho?

A resposta a esta questão nunca foi dada. Nem acreditamos que o Governo, apesar desta ser uma zona turística, altamente rentável para a economia do país, mas pouco interveniente em termos eleitorais, esteja disponível para avançar com uma unidade hospitalar de raiz a expensas do erário público.

Se até ao momento, no Algarve, não avançaram obras públicas financiadas pelo Orçamento de Estado, se não há previsão de verbas em PIDDAC ou nos próprios Ministérios da Saúde e das Obras Públicas para construções de vulto, não acreditamos que a obra seja, alguma vez, subsidiada pelo dinheiro dos contribuintes.

Toda a política de Saúde que o actual ministro vem aplicando tem o carimbo imposto por um Governo que deixou de ter como slogan «as pessoas primeiro», para aplicar «o défice primeiro», mesmo que os portugueses morram à porta dos hospitais, levem horas para serem transportados ou atendidos.

Que importa que façam 30 ou 40 quilómetros, por montes e vales, em curvas e contracurvas, para ir a uma Urgência?

Promete-se uma maior rentabilidade e qualidade no serviço a prestar aos utentes, quando, na prática, isso não passa de mera propaganda.

Os estudos técnicos mandados efectuar não tiveram em conta as pessoas, mas, tão só, a mera matemática de uns números desumanizados que, ainda por cima, se esqueceram de equacionar que os transportes, até às novas Urgências, são por conta dos utentes.

Lindo serviço, sem dúvida, senhor ministro! É sempre o mexilhão a pagar!

Porque não publicam os Hospitais de Faro e do Barlavento os balancetes mensais das suas receitas e despesas, para se perceber, comparativamente aos anos anteriores, se houve ou não aumento em termos de gestão?

É verdade ou mentira que há médicos dos dois hospitais a fazerem serviços por contrato aos fins-de-semana, com custos mais elevados do que o normal? Há respostas para estas perguntas ou não? Seria bom, em nome da transparência e da razão, que fossem divulgados esses dados.

Anunciou-se para o Algarve a criação de três urgências básicas – Albufeira, Loulé e Vila Real de Santo António – que não funcionam nos novos moldes.

Quando é que o senhor ministro da Saúde pensa pôr em funcionamento estes serviços? Será mais uma promessa (ou propaganda) para não cumprir?

NOTA: Os comentários de Hélder Nunes são emitidos todas as quintas-feiras, às 8,30 horas, com repetição às 13 e às 19 horas.