quarta-feira, maio 21, 2008

Desertificação do Algarve

por Hélder Nunes (jornalista e director do Barlavento)

Estão a ser feitos investimentos no Algarve. Esses investimentos, concluímos que estão na sua totalidade distribuídos pela faixa litoral do Algarve, onde está a massificação, tanto humana, como na construção e, onde se afirma, tudo se vai recuperar. Esperemos que o tal benefício da dúvida, que a intenção seja mesmo colocar ordem no litoral, requalificar e reabilitar zonas densamente degradadas e não estar a prestar um serviço público para que os privados o possam aproveitar. Não se pode pensar, quando se traçam projectos desta natureza, o de reabilitar todas as zonas que, eles venham a ser aproveitados para instalar mais carga urbana em cima do litoral, jogando no efeito da reabilitação pretendida porque, nesse caso, é deitar dinheiro à rua e saber-se que daqui a 20 anos se volta a falar em requalificação novamente a ter que demolir algumas construções, como já está acontecendo em Espanha.

Há uma política definida para ser aplicada a sul da EN125. E então pelo Norte? O Algarve começa no Atlântico e termina nas serras, passando pelo barrocal. Quando a crise alimentar é uma das mais actuais preocupações das Nações Unidas, não devíamos pensar que as terras férteis da região e a zona de floresta com medronheiros, carvalhos e sobreiros mereciam um plano estratégico de emergência? Sem uma retaguarda protegida, o Algarve do interior corre sérios riscos de avançar a passos largos para desertificação territorial e humana.

Com um deserto nas costas, o litoral está ameaçado e, a pouco e pouco, vai sendo engolido. Não se ouve falar, pelo menos em termos visíveis, na retoma agraria do Algarve. As terras não devem ficar ao abandono e a Direcção Regional de Agricultura deve dialogar com os seus proprietários para as tornar rentáveis, definindo áreas e as suas aptidões agrícolas. Há que constituir associações de jovens agricultores, alugando-lhes as terras mas, em 1º lugar há que acabar com o minifúndio conseguido pelos muros de pedra, limpando as terras deste obstáculo, delimitando as propriedades com um simples marco para que as áreas emparceladas possam tornar-se rentáveis.

A agricultura é uma das áreas que tem muito futuro na região Algarvia. Basta olharmos para aqueles que aqui estão: estrangeiros a aplicar o seu trabalho na terra Algarvia.