sexta-feira, abril 28, 2006

A Barragem de Odelouca

por Henrique Dias Freire (jornalista, director do Postal do Algarve e administrador do CENJOR)

“Algarve com Mais Prazer” é uma iniciativa que está integrada na campanha de sensibilização ambiental anunciada ontem pela RTA - Região de Turismo do Algarve.

Trata-se de uma acção conjunta da RTA e do Plano Regional de Turismo do Algarve e pretende sensibilizar os viajantes para a necessidade de proteger o ambiente e reduzir a poluição.

Esta acção de sensibilização ambiental estende-se até ao final do ano e está orçada em 500 mil euros, cerca de 100 mil contos, moeda portuguesa.

Vai contar com 55 cartazes colocados nas principais estradas do Algarve que alertam para o tempo que a natureza demora a absorver uma ponta de cigarro, um saco de plástico ou uma garrafa de vidro.

Esta campanha conta com mais de 1.200 alunos de 30 escolas do 1º Ciclo do ensino básico que estão a construir até 8 de Maio vários objectos lúdicos com recurso à reciclagem com o objectivo de consciencializar a população escolar e pais para o reaproveitamento de materiais.

Estimular os jovens e por arrastamento os pais, além de, dizem eles os “viajantes” pelo Algarve, para adoptarem no dia a dia comportamentos que não lesam o ambiente é tarefa merecedora de reparo e por que não dizê-lo é uma atitude a elogiar.

O ambiente ganhou, a partir da década de 70, uma posição inestimável. Hoje é sem dúvida uma prioridade em qualquer sociedade de valores democráticos.

Em 2003, a obra da Barragem de Odelouca, no Barlavento algarvio, foi suspensa pela União Europeia, em resultado de uma queixa da Liga de Protecção da Natureza, que invocou a violação de directivas comunitárias ambientais e a destruição de habitats.

Esta semana, a Comissão Europeia deu luz verde, tendo Bruxelas garantido o financiamento de cerca de 80% dos 40 milhões de euros, necessários para a sua conclusão agora prevista para o ano de 2009.

Independentemente das boas intenções ambientalistas de não violar directivas comunitárias ambientais e de evitar a destruição de habitats, fica a certeza que se a construção da Barragem de Odelouca tivesse avançado conforme o inicialmente previsto, a seca de 2005 não teria sido tão grave para a região algarvia.

Fica a dúvida do custo/benefício de tudo isto. Mas fica certo, que até 2009 a seca pode voltar a “assombrar” o Algarve. E mais do que tudo isso, garantia não há que uma nova queixa na União Europeia volte a paralisar as obras da Barragem de Odelouca.

Até para a semana!


NOTA: Os comentários de Henrique Dias Freire são emitidos todas as sextas-feiras, às 9 horas, com repetição às 15 e às 21 horas.

Por uma educação com valores

por Albino Martins (director do Centro Paroquial de Cachopo)

A escola desempenha, hoje, um papel decisivo na transformação dos indivíduos e das suas atitudes. É nela que as crianças e os jovens passam a maior parte do seu tempo, numa atitude normalmente receptiva. Por isso, a escola configura, de forma relevante, a evolução da pessoa humana como ser em permanente desenvolvimento.

A democratização do ensino, o prolongamento da escolaridade obrigatória e a generalização do acesso a níveis superiores vieram fazer da escola a instância educativa onde se desenvolve quase todo o processo educativo.

Com a redobrada importância da escola, aumentaram também os seus problemas, uma vez que nela se repercute toda a vida social e se reflectem os problemas sociais mais gravosos. Por um lado, na escola confluem comportamentos como a rejeição do institucional, o clima de comodismo, a era do superficial, o esvaziamento dos valores, a relativização da verdade, o hábito do conflito, a intolerância e a competitividade. Por outro lado, também nela se reflecte o ambiente de cooperação, de acolhimento e de intervenção, que possa existir na comunidade envolvente.

Lugar de aprendizagem, por excelência, dos saberes intelectuais e de experiências de vida, a escola é o espaço do progressivo acesso normal ao património cultural de um povo, tornando-se um contributo específico para o desenvolvimento da matriz cultural dos indivíduos. Embora as novas tecnologias da comunicação proporcionem igual acesso, a relação humana professor-aluno tem possibilidades educativas insubstituíveis.

Cultivando as faculdades intelectuais, desenvolvendo o espírito crítico e promovendo o sentido dos valores, a escola prepara para a vida profissional e social activa. Igualmente proporciona a abertura, a convivência e a cooperação mútua, e promove a participação e a relação.

Os professores desempenham um papel preponderante na comunidade educativa que deve ser a escola. A sua função de motivadores principais exige uma humildade e honestidade de quem reconhece que a verdadeira escola, como serviço à pessoa, é a da busca permanente, onde os educandos têm um papel fundamental. Tudo isto exige dos educadores a paixão de quem se dá à missão de ajudar os educandos a crescer de forma integral, coerente e harmoniosa.

Todos os outros membros da comunidade educativa, em particular os auxiliares de acção educativa, são também relevantes, por interferirem, embora de maneira menos formal, no processo, pois testemunham valores e sugerem atitudes do quotidiano, importantes na estruturação da personalidade: a delicadeza e o respeito na utilização das coisas, no trato com os outros e no relacionamento com o meio ambiente.


NOTA: Os comentários de Albino Martins são emitidos todas as sextas-feiras, às 11 horas, com repetição às 17 e às 23 horas.

quarta-feira, abril 26, 2006

Abril e Regionalização

por José Manuel do Carmo (professor da Universidade do Algarve e membro da Mesa Nacional do Bloco de Esquerda)

Com o 25 de Abril o país deu um salto a caminho da democracia. Desde há muito que o Algarve reclama pela regionalização. Pelo poder de o planeamento estratégico e as decisões sobre desenvolvimento serem tomadas pelos representantes da região.
Embora constando da própria constituição, a Regionalização tem tardado face a uma série de forças de bastidores que tenderão a atrasar, no futuro, enquanto puderem, o processo de atribuição de poderes regionais.

Argumentos de que é um aumento de despesa para o país escondem a verdade, e porque ditas por pessoas com conhecimentos, revelam desonestidade intelectual e menoridade democrática. Com a existência de uma Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional(CCDR) com um quadro enorme de técnicos, com um diversidade de Delegações Regionais de vários ministérios, com a criação de uma Área Metropolitana, possuindo quadros e Direcção, com uma Assembleia da Área Metropolitana, etc, a regionalização, ainda viria, ao fim e ao cabo, a poupar nas despesas. Mas, essencialmente, a ganhar em legitimidade e em participação democrática.

A própria Europa requer esse processo de regionalização para melhor gerir os financiamentos em articulação com os planos de desenvolvimento regional e não é por acaso que quem o tem não o queira partilhar.

Por iniciativa do governo PSD e tendo por grande bandeirante na nossa região o Sr.Eng. Macário Correia, foi criada a Área Metropolitana do Algarve como um passo a caminho da Regionalização. Na verdade esta estrutura, passado o tempo do PSD no Governo, terminou o seu tempo útil. Na verdade a Área Metropolitana do Algarve não tendo nem a vocação, nem o estatuto de um poder regional, apenas corresponde a uma espécie de Senado dos Presidentes de Câmara para aumentar seu poder. O Conselho dos 16, que não corresponde senão a uma Federação de Municípios, será assim como uma espécie de contrapoder face ao poder dos técnicos da CCDR.

É necessário uma estrutura que resulte de eleições com base no debate público das propostas para a região de diferentes tendências ou partidos. Este é o modelo normal em democracia. Cumpra-se o 25 de Abril em matéria regional. Cumpra-se a Constituição!

NOTA: Os comentários de José Manuel do Carmo são emitidos todas as quartas-feiras, às 7 horas, com repetição às 13 e às 19 horas.

segunda-feira, abril 24, 2006

O 25 DE ABRIL

por Carlos Lopes (advogado, benfiquista e animador cultural)


Tinha pensado retomar hoje o tema do livro, mas o 25 de Abril interpôs-se e creio que não seria mau tentar dar uma perspectiva diferente sobre tal data e o seu significado.

25 de Abril de 74, dia da Liberdade, dia em que acabou a ditadura em Portugal. Dia de alegria para muitos, dia de tristeza para alguns. Mas, passados trinta e dois anos sobre a data, como devemos encarar este dia, ou que significado terá?

Permitam que diga duas coisas que me parecem óbvias.

Primeira coisa: o 25 de Abril foi um golpe de Estado que deu errado. A ideia é a seguinte: os militares andavam em reivindicações corporativas

(leia-se o livro do Otelo),

o golpe

(como todos os golpes, tinha vários participantes com motivações diferentes)

correu mal. É que o povo veio para a rua e transformou aquilo numa revolução. A tese não é minha. Quem a defende é um homem de Abril, o Coronel Aventino Teixeira. E tem alguma lógica. Basta ver as primeiras declarações do General Spínola e as caronas de alguns conselheiros da Revolução. São de meter medo.

E ninguém pensava em acabar com a guerra

(leia-se o livro Portugal e o Futuro de Spínola).

Mas a saída para a rua da população trocou as voltas aos que queriam um ajuste de contas inter muros. O pessoal não deixou e foi o pandemónio que se sabe. Até ao 25 de Novembro de 75 houve tempo para todas as experiências e todas as loucuras. Houve esperança, garra, felicidade. Os partidos foram ultrapassados na imaginação e originalidade do povo. Houve povo, houve revolução.

Segunda coisa: a Revolução de Abril, como se diz no jargão jurídico, foi um acto inútil. Os que lá estão lá estariam de qualquer forma. Por outro lado, países como o Chile, Argentina, Brasil, Grécia e Espanha saíram de ditaduras, sem qualquer revolução. Porquê então precisávamos nós do 25 de Abril? Penso que para nada. Nada do que foi Abril resta e estes que cá estão até acham um estorvo estas comemorações. Assim, Abril sabe-nos a nota falsa, a coisa alheia. Abril não pertence ao Poder, pertence ao povo que gozou à brava naqueles meses loucos até ao 25 de Novembro. Esse 25 de Abril não se comemora. O povo já não está para isso. Toda a cerimónia do poder é estranha ao 25 de Abril -- o do povo.

Passada a euforia, nem coragem tivemos de mudar o hino, um texto medíocre e uma música incantável e com laivos de plágio. A sugestão de Grândola, como hino, não foi avante e por aqui ficámos. Tristonhos e cinzentões.

O 25 de Abril do povo foi o período de maior felicidade colectiva que vivemos. Morreu. Os que estão no poder não deveriam comemorar nada. Eles são contra o que Abril teve de diferente, inovador e de esperança.

Mas é sempre assim. A canalha manda sempre. A canalha ganhou.

[Hei-de retomar o tema do livro].

NOTA: Os comentários de Carlos Lopes são emitidos todas as segundas-feiras, às 11 horas, com repetição às 17 e às 23 horas.

sexta-feira, abril 21, 2006

Solidariedade inter-geracional

por Albino Martins (director do Centro Paroquial de Cachopo)

Ao desafio do envelhecimento da população portuguesa há que responder com o slogan da gerontologia social: “Já que se alongam anos à vida, há que dar vida aos anos”.

Para que tal aconteça é necessário criar uma mentalidade nova, uma postura diferente.

Belas as palavras que escutei de um octogenário: “O sol da tardinha é tão maravilhoso como o da manhã”.

Os idosos têm o direito de ser felizes no entardecer da vida, pois foram, ao longo dela, servidores da comunidade: consumiram as suas energias em prol do progresso das terras onde viveram.

Podem com razão dizer aos seus filhos: “Vós não seríeis o que agora sois, se eu não fosse o que hoje sou”.

Por isso, continuem os idosos, na medida do possível, a viver no seio das suas famílias, no calor das suas casas, ricas ou pobres que sejam, aquecidos pelo amor de seus filhos. Se por necessidade, forem acolhidos em Centros de Dia ou Lares da 3ª Idade, não sejam estas Instituições, simples dormitórios, mas sim respostas sociais onde funcione uma verdadeira terapia ocupacional que lhes proporcione actividades de ordem cultural, lúdicas, recreativas, desportivas, passeios, etc., adaptando inclusivamente, ideias experimentadas pelas universidades da 3ª idade. Outra possibilidade era criar parcerias, com estas instituições de ensino.

Os familiares que recorram a estes equipamentos, visitem os seus idosos com frequência e nunca apressados. As suas manifestações de afecto e carinho, são muito importantes.

Desta forma conseguirão dar vida, ânimo e tornar felizes os que, com larga conta de anos, merecem viver os últimos, com dignidade, serenidade e coragem.

NOTA: Os comentários de Albino Martins são emitidos todas as sextas-feiras, às 11 horas, com repetição às 17 e às 23 horas.

quinta-feira, abril 20, 2006

O nosso 25 de Abril

por Luís Silva (advogado e dirigente do PCP)

NO 25 de Abril invocamos uma data histórica de um passado recente que para nós CDU, lutadores incansáveis da liberdade, tem um significado sempre presente a actual.

Não pensamos que sejamos nós, CDU, os únicos lutadore spor este ideal. Alguns mais, e até presentes nesta terra, lutaram ombro a ombro connosco contra a ditadura fascista ou, mais corecto, salazar-marcelista. Mas deixando vaguear olhar do Alto de Santa Maria por tantos rostos conhecidos, mas jovens, que não souberam e talvez não entendam este afã de transmitir e relembrar os sentimentos que nos percorreram quando inicialmente se iniciou o desmoronamento do regime.

Alguns de nós tiveram que partir para terras longínquas, fugindo à mobilização injusta imposta à juventude, que tinha de lutar contra povos que, como o nosso, ansiavam pela libertação colonialista. Outros não encontrando meios de subsistência económica na sua terra, tiveram o mesmo destino, procurando em França, na Alemanha ou noutros países da Europa aquilo que em Portugal lhes era negado - o pão.

Outros ainda, tiveram coragem de permanecer na sua terra, não passivamente, mas activos contra o regime fascista, além de tudo caduco, para não dizer apodrecido, que nem um aremedo de democracia política ou, como diriam outros, uma abertura liberal, que se consubstanciou formou com uma fraca contestação na Assembleia Nacional conseguiu fazer vingar e suster o movimento pela Liberdade e de libertação nacional que no horizonte emitia sinais de organização e de avanço.

Outros, mais, com a viola, música e poemas foram capazes de, nas entrelinhas, transmitirem mensagens de esperança e da luta pelos ideiais, mais tarde chamados de Abril. Entre outros, Zeca Afonso, Adriano Correia de Oliveira, José Jorge Letria, aqui os invocamos. Poetas como Ary dos Santos conseguiram fazer chegar a sua mensagem através das canções que escreveram para os restantes cantarem!

Invocamos, aqui e agora, militares como Humberto Delgado, Otelo saraiva de carvalho e muitos outros tantas vezes esquecidos em dias como e que deveriam ser invocados como as principais vedetas na luta pela Liberdade que hoje usufruímos.

Não podemos ainda deixar de invocar todos aqueles militantes e sindicalistas anónimos que nos sindicatos nacionais corporativos organizaram, reivindicaram e lutaram por melhores condições de vida para os trabalhadores.

Tal como ontem, a luta hoje continua. O poder quando usado no mau sentido gera corrupção, que se vem instalando infelizmente entre nós. É o preço da Liberdade por que tanto ansiámos e que pagamos caro quando uma maioria eleita, se bem que com legitimidade política, usa esse poder desrespeitanto o mandato que lhe foi conferido
e denegando, se não todos, quase todos os ideais da Revolução de Abril!

No Governo, esse poder da maioria absoluta asfixia as minorias que mandatadas também foram pelo povo, usando processos algo semelhantes ao do antigo regime, o de triste memória.

Naquele dia, naquela madrugada do 25 de Abril de há 32 anos também eu senti o sopro da liberdade conquistada e o estrondo das grilhetas quebradas. Estive refugiado em França, para onde parti por recusar servir no exército colonial, mas a saudade e o amor dos meus velhos pais fez-me regressar e abandonar o exílio.

Nessa madrugada, que foi ontem, num quartel perdido no Largo da Graça em Lisboa, também escutei o terrível grito humano. Todos ao Carmo, era o fim da ditadura, viva a liberdade, viva o 25 de Abril, viva Portugal!

Também a Constituição da República Portuguesa faz 30 anos e foi produzida por uma Assembleia Constituinte eleita com a participação activa de 91 por centos dos eleitores inscritos e é fruto de uma longa luta prolongada dos trabalhadores e do povo português, que tiveram o voto da palavra, que não escreveram a Constituição, mas fizeram que nela fossem inscritos aqueles sonhos resgatados, aquelas coisas concretas, como a liberdade de expressão, o direito de participação e de manifestação, o direito ao trabalho e à segurança no emprego, salário e horários justos, à saúde, ao ensino, à segurança social, à liberdade sindical e das comissões de trabalhadores, a fazer greve sem correr o risco de prisão, à contratação colectiva, à igualdade no trabalho, na família, na sociedade, o direito a ter uma pensão de reforma, a direitos novos das crianças, dos deficientes, do acesso à justiça. Tenho dito!

NOTA: Os comentários de Luís Silva são emitidos todas as quintas-feiras, às 7 horas, com repetição às 13 e às 19 horas.

quarta-feira, abril 19, 2006

O Jogo das OPA

por José Manuel do Carmo (professor da Universidade do Algarve e membro da Mesa Nacional do Bloco de Esquerda)

As OPA em curso contribuem para a concentração em cada vez menos proprietários dos serviços indispensáveis aos cidadãos. Essa concentração é perigosa.

A OPA de Belmiro sobre a PT levará à fusão entre TMN e OPTIMUS abrindo caminho à redução das alternativas no mercado de telemóveis com a acumulação numa só empresa de 63% do mercado. Isso prejudica a qualidade dos serviços e facilita a coordenação de duas operadoras para subir tarifas, preconizando-se preços mais altos nos telefones.

Por outro lado, é essencial manter o controle público da PT, o maior grupo empresarial em Portugal e parte significativa dos serviços de telecomunicações. A manutenção dos direitos especiais do Estado (golden-share) é a única garantia de que o controlo do grupo permanece no país e de que o Estado português possa continuar a influenciar decisões que afectam uma área estratégica da nossa economia.

Você poderá pensar que este assunto das OPA é essencialmente um negócio entre capitalistas. Todavia não é bem assim! É você quem paga as OPA através de batota fiscal!

O pagamento do empréstimo pedido por Belmiro ao Banco Santander para realizar a OPA à PT implica que, mesmo com ganhos reais, a Sonae apresente contas negativas ao longo de 12 anos. Entretanto, com esse empréstimo, compra a PT que lhe dá lucros garantidos todos os anos. Ou seja, o Estado aceita deixar de receber impostos, dinheiro que é utilizado pela Sonae para comprar outra empresa.

Os contribuintes pagam uma parte do que vai ser de Belmiro de Azevedo e o défice aumenta: são pelo menos 3 mil milhões de imposto a menos.

Junto com a OPA ao BPI, estes benefícios injustificados podem atingir 2,5% do PIB ao longo dos primeiros anos do pagamento das dívidas.

Também para accionistas há mais de um ano, a venda das acções na presente OPA está isenta de IRS. Podem estar em causa cerca de 6 mil milhões de euros de ganhos livres de impostos. Uma fortuna para os mais ricos.


NOTA: Os comentários de José Manuel do Carmo são emitidos todas as quartas-feiras, às 7 horas, com repetição às 13 e às 19 horas.

Evocando Abril

por Fernando Reis (professor e director do Jornal do Algarve)

Na próxima terça-feira celebramos mais um aniversário do 25 de Abril. São os 32 anos de um acontecimento que mudou radicalmente o rumo das nossas vidas. A ditadura deu lugar à democracia, graças ao glorioso Movimento organizado por um punhado de capitães que, no seio das Forças Armadas, tomou consciência que essa era a única via para acabar com a guerra colonial e construir um futuro melhor para o povo português.

Decorridas mais de três décadas, a democracia política está perfeitamente consolidada e o país modernizou-se, mas não fomos capazes de dar o salto que se impunha em áreas fundamentais, como a economia, a educação e a organização social. Continuamos na cauda da Europa no que respeita aos índices de desenvolvimento económico, de sucesso escolar e de justiça social.

Temos democracia, alternância governativa e presidencial, mas para a maioria dos portugueses continua adiada a esperança num futuro melhor, como sonharam muitos dos que viveram a Revolução dos Cravos. Um sonho que se vai afogando num mar de descrença e conformismo. Hoje, 32 anos depois daquela madrugada libertadora de Abril de 74, já não conseguimos manter viva a chama reivindicativa que alimenta a mudança.

Um pouco por toda a Europa, os trabalhadores lutam pelos seus direitos e os jovens erguem-se, como se assiste em França, em defesa do seu futuro, enquanto em Portugal se vive um sentimento de impotência e fatalismo, agravado pela prepotência de uma maioria absoluta e pelo desinteresse dos jovens pela causa pública. Mas neste virar de costas dos jovens há uma responsabilidade da geração de Abril, pela forma como não tem sabido fazer a pedagogia da democracia.

Se para nós que vivemos dois tempos - sob o fascismo e a democracia - é fácil percebermos a importância da mudança e a felicidade de sermos livres, para as gerações mais novas, que já nasceram e cresceram em liberdade, essa consciencialização torna-se, obviamente, mais difícil e muito mais ainda se torna quando a política está longe de ser uma escola de virtudes e os políticos se vão descredibilizando.

Educar os jovens no espírito de Abril é uma responsabilidade histórica e uma emergência se quisermos, efectivamente, construir um futuro melhor, mais próspero, justo e igualitário. É uma tarefa árdua mas inadiável que deve envolver, sobretudo, a família e a escola. Seremos capazes de estar à altura deste desafio?

NOTA: Os comentários de Fernando Reis são emitidos todas as quartas-feiras, às 9 horas, com repetição às 15 e às 21 horas.

terça-feira, abril 18, 2006

Assiduidade e produtividade

por Conceição Branco, colaboradora do jornal Expresso e directora do Observatório do Algarve)

Nesta minha primeira crónica para a Rádio Gilão, eu gostava de deixar aqui um pedido ao Dr. Mendes Bota e ao Eng.º Miguel Freitas. É que na próxima vez que fizerem a escolha para deputados, coloquem no currículo das propostas dois pontos. Um é assiduidade dos mesmo e outro é a produtividade.

Tudo isto vem um pouco a propósito do problema ocorrido na Assembleia da República nas férias da Páscoa. Afinal, nós elegemos deputados que devem estar na Assembleia e supostamente devem votar leis. O que aconteceu não foi, como muito se falou, uma questão de regimento da Assembleia ou de funcionários públicos que vão assinar o ponto e depois se pisgam, falando português normal.

Trata-se de um problema político. São pessoas que deveriam, pelo mandato que lhes foi conferido pelos cidadãos, exercer as suas actividades de acordo com estes dois pontos que lhes referi - a assiduidade e a produtividade.

Assim, que os líderes partidários regionais que os escolhem para as listas avisem os cidadãos quando fizerem as candidaturas. O senhor fulano de tal ou a senhora fulana de tal merece incluir a lista porque fez x requerimentos, por exemplo, e realmente não aumenta as férias ou não assina o ponto para depois desaparecer e fazer com que não haja quórum. Cá fico à espera!

NOTA: Os comentários de Conceição Branco são emitidos todas as terças-feiras, às 9 horas, com repetição às 15 e às 21 horas.

Que queremos dos deputados?!

por José Mateus (consultor de comunicação e autor do blogue CLARO)

Olá, viva! Como vamos por cá?

Já não é sem tempo. O Partido Socialista dá sinais de querer mexer neste sistema político-eleitoral que já ultrapassou o respectivo prazo de validade. A este propósito, o triste episódio da balda dos senhores deputados aos trabalhos do seu parlatório só para alargar as suas, deles, férias da Páscoa. Temos que reconhecer, contudo, que o parlatório cansa muito os pobres coitados!

Mas, da parte do PS de Sócrates há também sinais de querer mexer nestas águas paradas. Primeiro que tudo, acabar com o império do sistema eleitoral proporcional que leva para o parlatório de São Bento gente que os eleitores nem conhecem e que não serve para nada. Substituir este sistema preverso que transforma o Parlamento num parlatório, substituir isto por uma eleição de círculos uninominais é muito urgente!

E é isto que o PS de Sócrates hoje parece dar sinais de querer fazer. Na eleição por círculos uninominais, os eleitores passam a escolher o seu deputado. Ou seja, cada partido apresenta o seu candidato pelo círculo, os eleitores desse círculo escolhem o que lhes parece mais capaz de os representar. Irão julgar o deputado pelo que ele fez ou pelo que não foi capaz de fazer!

Se este PS de Sócrates conseguir realizar esta mudança do sistema político-eleitoral, embora para isso precise da concordância do PSD, o País ficará melhor a profissão de político passará talvez a ser menos desconsiderada e talvez os eleitores tenham finalmente quem os defenda...

Por exemplo, se já existisse hoje este sistema eleitoral, os eleitores do Sotavento Algarvio saberiam que o seu deputado se iria bater pela construção da barragem mais que necessária da Foupana, enquanto assim ouvem um deputado e líder regional dizer que uns técnicos do Ministério do Ambiente acham melhor outra solução!

Mas se, neste caso, são os técnicos do Ministério do Ambiente que decidem o que é melhor para o interior, para o que é que queremos nós os deputados que tão caros nos custam?!

NOTA: Os comentários de José Mateus são emitidos todas as terças-feiras, às 11 horas, com repetição às 17 e às 23 horas.

segunda-feira, abril 17, 2006

Avenidas do quotidiano

por Luís de Mello e Horta (director do Jornal do Sotavento)

Depois de um fim-de-semana grande, o da Páscoa, em que se deslocou ao Algarve grande número de visitantes, que também por aí andaram, faz sentido recordar alguns problemas de circulação do Algarve.

Falo-vos da Estrada Nacional 125, via de ligação ao longo de todo o litoral, que é para onde converge todo o movimento inter-urbano. Em época de Verão ou período de férias, como foi o caso da passada semana, vêm ao de cima as dificuldades. Não só dos visitantes, mas tabém dos que utilizam estas estradas no quotidiano do seus afazeres!

Há pouco tempo, falou-se em taxar com portagem vários troços de auto-estrada ainda gratuitos, entre os quais a A22, a nossa Via do Infante, numa perspectiva do utilizador-pagador que muitos defendem e eu admito como mais justa quando esse troço passa por ser apenas mais uma alternativa de rapidez a uma estrada normal e com melhor escoamento. Coisa que não acontece com a 125!

Façamos um pequeno exercício de cálculo quanto ao percurso entre Vila Real e Faro, passando por Tavira e Olhão. São cerca de 50 quilómetros. Na primeira parte, entre Vila Real e Tavira, há que assinalar antes do mais a falta de bermas que apresenta entre a Aldeia Nova e a ponte de Cacela.

E esta situação tem cerca de 30 anos, com a agravante desta escassa dezena de quilómetros ser a excepção negativa a todo o restante traçado que, tem de se reconhecer, está bastante aceitável. Mas não é do piso, é dos condicionadores de tráfego que vos quero falar. Desde a vila pombalina até à cidade de Faro, a 125 possue 17 rotundas e 15 sinalizadores luminosos, o que significa que se trata de 32 pontos de obrigatória redução de velocidade, senão de paragem, o que resulta nestes 50 quilómetro na média de 1,562 quilómetros de obstáculo em obstáculo!

E, se isso se traduz na maior e desejável segurança rodoviária, significa também que a Via do Infante não é uma alternativa de velocidade, é mesmo a única via inter-urbana regional. Por isso não pode ou, antes, não deve ser taxada com portagens, porque a 125 não é de todo uma estrada, é a Avenida 125, a artéria urbana mais movimentada da região.

E, em vez de se pensar em portagens, bom seria que na A22 fosse criados mais e melhores acessos às cidades e vilas que lhes ficam subjacentes e que a Via do Infante deveria melhor servir. Augurando-se bons trajectos pelas estradas do Algarve, aqui vos deixo os votos de um bom início de semana!


NOTA: Os comentários de Luís de Melo e Horta são emitidos todas as segundas-feiras, às 9 horas, com repetição às 15 e às 21 horas.

O Livro

por Carlos Lopes (advogado, benfiquista e animador cultural)

Em 23 de Abril de 1616 faleceram Cervantes, Shakespeare e o Inca Garcilaso de la Vega. A UNESCO instituiu tal dia como o Dia Mundial do Livro, vai fazer 11 anos. O Livro, passados tantos anos, ainda não foi destronado na sua função. Perdoem-me os cinéfilos, perdoem-me os apaixonados pelo Teatro, pelas Artes Plásticas, pela Música: a cultura livresca continua a ser, para mim, o meio por excelência de divulgação cultural. Poderemos conceder que os meios electrónicos, porque escritos, se aproximam dessa forma. Mas o cheiro de um livro, o folhear de um livro, o ler um livro, é uma sensação única e inigualável.

Neste ano (como todos os anos), gostaria que o gosto pela leitura crescesse, se desenvolvesse e o “não tenho tempo” ou “os livros estão caros” fosse esmorecendo. Desculpas de maus leitores. De um País, o nosso, sem hábitos de leitura e em que todos os pretextos são bons para não se ler. O ter um livro para ler e não o fazer, com dizia o Poeta, é bem para quem lê muito, não para um povo inculto e atrasado, como somos nós.

As bibliotecas municipais constituem um suporte físico muito importante para enraizar hábitos de leitura e investigação (coisa tão mal tratada nas nossas escolas, segundo me dizem e se vê). O Algarve tem, neste momento, algumas boas bibliotecas

[Portimão, Loulé, Faro e Tavira (são as que conheço)]

e, por isso, meios importantes para que se possam desenvolver programas de leitura e hábitos de leitura. Eu sei que combater os jogos de computador, as telenovelas e outros meios de divulgação e entretenimento não é fácil. Mas como sou um eterno romântico, estou em crer que ainda será possível (de resto, continuo a acreditar que a nossa “salvação” passa sempre e ainda por esse meio de divulgação cultural: o livro!).

As desculpas que atrás referi (e que constituem o argumento mais usado por quem não quer ler) encerram em si um sentimento de culpa. No fundo, temos consciência de que deveríamos ler e consideramos mau não o fazer. O que não deixa de ser engraçado. A leitura não deve provavelmente ser imposta, mas tem de se fazer algum esforço para que se adquiram hábitos de leitura. A princípio será difícil -- depois, mais fácil...

Na próxima semana falarei de alguns aspectos da leitura e da história do livro. Falarei da história de Daniel Penaque e de Daniel Manguel. Até lá, boas leituras e boa semana!


NOTA: Os comentários de Carlos Lopes são emitidos todas as segundas-feiras, às 11 horas, com repetição às 17 e às 23 horas.

Transparência, serviços e... galinhas!

por Jamila Madeira (economista e deputada do PS no Parlamento Europeu)

No seguimento da última sessão em Estrasburgo, o Parlamento Europeu em três esmagadores relatórios procurou garantir o direito dos cidadãos europeus em matérias que considero de particular relevo para serem dignas de nota.

1. Pediu mais transparências nas instituições da União Europeia, concretamente do Conselho Europeu quando este actua como legislador, convidando-o a abrir as suas reuniões ao público, bem como à Comissão, a rever as regras actuais de acesso aos documentos das instituições comunitárias e a legislar já este ano nesta matéria.

Esta questão, no momento em que a União Europeia assume o papel da democratização e da responsabilização, assume particular relevo. Assim, o Conselho deveria responder urgentemente aos pedidos de maior transparência formulados pelos parlamentos, pela sociedade civil e pelo público em geral. Esta, dita opção política do Conselho, não tem qualquer justificação lógica, designadamente ao nível do processo de co-decisão.

É também de salientar que este processo de transparência é de maior importância para os parlamentos nacionais, pois só desta forma os seus membros estarão em condições de exigir aos seus governos qaue prestem contas das respectivas votações e que justifiquem em que informações basearam as suas decisões. Enquanto a Constituição Europeia continuar em "banho-maria" esta é mesmo a única via!

2. Também esta semana, a anteriormente conhecida como profundamente polémica Directiva de Serviços, revista e formulada pelo Parlamento Europeu e aceite em 16 de Fevereiro por uma enorme maioria parlamentar, foi agora aceite pelo Comissão, representada em plenário pelo seu comissário McGrigen.

Assim, fica garantida a liberdade de prestação de serviços, garantida a legislação laboral nacional, cai o antigo princípio do país de origem, excluem-se os serviços de interesse geral, entre estes a saúde. A aguardar um tratamento próprio e urgente ficam as agências de trabalho temporário. O que é certo, é que depois de tanta água ter passado debaixo desta ponte, parece que o rio descobriu o seu caminho e a pointe resisitiu!

3. Foram também aprovadas medidas excepcionais de apoio aos avicultores. O efeito do alarmismo em torno da gripe aviária tem produzido quebras de consumo da carne de aves, de aves de capoeira e de ovos em enorme escala, com quebras entre os 50 e os 70 por cento. Estas medidas prevéem para os avicultores um apoio com 50 por cento de cofinanciamento comunitário.


As medidas excepcionais de apoio ao mercado têm também como particular objecto campanhas de informação destinadas a reestabelecer a confiança dos consumidores, através de informação clara e correcta sobre os riscos para a saúde pública ou animal. Este regulamento é discutido no Conselho de Agricultura e Pescas, a 25 de Abril, e deverá entar em vigôr em meados de Maio. Chegará assim, tão breve quanto desejável aos seus destinatários!

NOTA: Os comentários de Jamila Madeira são emitidos todas as segundas-feiras, às 7 horas, com repetição às 13 e às 19 horas.

sexta-feira, abril 14, 2006

Reflectir em tempo de Páscoa

por Albino Martins (director do Centro Paroquial de Cachopo)

Estamos na Semana Santa.

Como católico, este acontecimento não me deixa indiferente. A minha fé não teria sentido se não celebrasse com autenticidade a morte e a ressurreição de Jesus.

Infelizmente, para muitos cristãos esta ocasião torna-se apenas momento de festa, sem profundidade espiritual.

Exorto as pessoas de boa vontade à reflexão neste tempo de Páscoa, a ver no rosto dos mais pobres e marginalizados, o rosto de Cristo.

Todos temos consciência que a pobreza manifesta-se de diversas formas. A mais imediata é a carência dos meios materiais suficientes. Esta constitui um escândalo. Assume múltiplas formas e traz consigo os mais variados fenómenos de sofrimento: a carência do sustento necessário e dos cuidados médicos indispensáveis; a falta de uma casa onde habitar ou demasiado acanhada, com as consequentes situações de promiscuidade; a marginalização da sociedade, o desemprego ou a desproporção nas retribuições salariais; a solidão do que não tem ninguém com que contar; o flagelo da droga e a violência que daí deriva…

A falta do necessário para viver humilha o homem: é um drama perante o qual a consciência de quem tem possibilidades de intervir, não pode ficar indiferente.

Apelo aos cristãos a identificarem as suas vidas, com a de Jesus. A sua morte e ressurreição é a consequência de uma vida gasta a fazer o bem e a libertar os oprimidos. Nesta Páscoa, esforcemo-nos por vencer o egoísmo e a injustiça. Em gestos concretos, ajudemos os mais pobres e combatamos o que rouba a vida e a dignidade aos nossos semelhantes.

Uma Santa Páscoa.

NOTA: Os comentários de Albino Martins são emitidos todas as sextas-feiras, às 11 horas, com repetição às 17 e às 23 horas.

quinta-feira, abril 13, 2006

Das arcas das avós para os corpos das amigas

por Anabela Martins (psicóloga e gestora do sector cooperativo)

Da última vez que estivemos a conversar, ou melhor, que eu tentei conversar convosco, falava-vos da questão das tradições e se é ou não interessante para nós que vivemos na zona da serra ou mais no litoral, os outros, que nos nossos jovens, os nossos filhos, os nossos familiares possam ter noção de que tipo de tradições e da nossa parte genuína, quer ao nível das agro-alimentares, quer ao nível do artesanato.

Os jovens nesta sociedade global são facilmente desafiados por informações e imagens que aparecem, nomeadamente, na net. Mas muitos deles, e infelizmente, não têm consciência de que na sua terra, na sua zona, no local onde nasceu o seu pai ou o seu avô haviam pessoas que faziam determinados tipos de, por exemplo, toalhas que serviam para limpar, imaginemos, antigamente as nossas mãos, a nossa cara. Toalhas em linho que hoje foram substituídas pela invasão do turco!

Mais importante do que isso, é que essas toalhas de linho guardadas em arcas poderão aparecer vestidas, imaginem, sim vestidas nas colegas de liceu destes jovens, dos nossos filhos, dos nossos netos, e ele não irá reconhecer nessa peça de roupa as toalhas guardadas na arca da sua avó. Aliás, algumas dessas toalhas que serviram para acompanhar a vela do baptizado!

Este é apenas um pequeno exemplo, das toalhas antigas bordadas à mão que são postas à mesa na altura do Natal, na Páscoa ou em outras festividades ou de outros tipos de têxtil-lar que podem a aparecer vestidos nos corpos das colegas, das amigas. E, isso sim, se os jovens soubessem que poderiam ter saído, saltado das arcas das avós ficariam muito mais interessados e até quisessem saber como é que eram feitos esses tecidos, como é que era possível vestirem os rapazes umas calças feitas naquele linho que antigamente servia para as sacas de meter o trigo...

Que, afinal, é um tecido espectacular, cuja resistência permite que andem de skate ou que façam outro tipo de actividades radicais aguentando às vezes mais ainda que a própria ganga. Bom, estes pormenores levam-nos a pensar que é possível fazer moda em cima das nossas tradições da nossa serra!

O que eu pretendo mesmo é conseguir motivar, fazer um desafio a esses jovens que estão completamente integrados nas escolas e que usam as novas tecnologias, alguns dos quais têm tios, avós, outros familiares que são artesãos que fizeram toalhas, que fazem cestaria ou outro tipo de coisas, para criarem e desenharem peças e a seguir entregarem ao seu avô, dizendo-lhe "oh avô, faz lá este fato que eu gostava de vesti-lo na minha colega!", nem que seja em último caso para desfilarem na Feira da Serra de Tavira.


É um desafio que eu vos deixo, continuarei a dar novos pormenores sobre estas tendências de moda que vão beber às técnicas tradicionais dos nossos avós, à nossa cultura algarvia, à nossa cultura popular!

NOTA: Os comentários de Anabela Martins são emitidos todas as quintas-feiras, às 11 horas, com repetição às 17 e às 23 horas.

Uma vergonha!

por Hélder Nunes (jornalista e director do Barlavento)

Os Amigos de São Brás desafiam os algarvios a mandar uma missiva ao ministro da Saúde Correia de Campos, para que a Unidade de Radioterapia de Faro seja licenciada e comece a laborar quanto antes, porque entendem que é indmissível que as pessoas da região tenham que viajar até Lisboa para as sessões de radioterapia.


Sempre nos causou algum engulho que a Unidade de Terapia do Algarve, onde os municípios são participantes e a população também contribuiu, leve tanto tempo a abrir as portas, quando, na verdade, haverá uma poupança na deslocação dos doentes a Lisboa, que até é paga pelo Estado. Quanto custa ao erário público a deslocação de um paciente a Lisboa?

Com tantas demoras, os chamados responsáveis da coisa pública ficam ofendidos quando o povo começa a falar nos corredores, nas ruas, nas lojas, entre vizinhos, que tudo não passa de um negócio. Que aquilo que deveria ser feito era cruzar os dados dos donos dos estabelecimentos que, em Lisboa, prestam o serviço de radioterapia, com os que assinam os papéis para as deslocações, verificar que há gente com sinais exteriores de riqueza e outras investigações que as polícias sabem fazer melhor que os ditos da populaça.

Desde Novembro que uma entidade, que dá pelo nome de Direcção-Geral de Saúde, tem em seu poder o pedido de licenciamento, faltando, ao que diz a Agência Lusa, um certificado validado pelo Instituto Tecnológico Nuclear. Quase seis meses para obter uma vistoria? Querem que o povo acredite que as coisas são memo assim, ou antes preferem que os pagadores de impostos digam que a administração pública tem gente a mais, que até perdem os papéis, e que Sócrates deve avançar com uma limpeza nos empatas que nada fazem para tornar tudo mais simplex?

É triste que as instalações estejam prontas a funcionar, que o poder local não tenha pressionado o Governo, que Correia de Campos tenha conhecimento e nada faça, tudo isto porque houve, um dia, a ultrapassagem do poder instituído e a ousadia de construir uma unidade privada para apoio aos pacientes, que têm de se deslocar a mais de 300 quilómetros das suas residências para serem tratados. É uma vergonha!

NOTA: Os comentários de Hélder Nunes são emitidos todas as quintas-feiras, às 9 horas, com repetição às 15 e às 21 horas.

O ciclo da água

por Luís Silva (advogado e dirigente do PCP)

A relação do Homem com a Natureza foi sendo estabelecida de diversos modos ao longo da nossa história e assume diversas características. Mas há um vínculo entre o Homem e a Natureza que é tão forte que se sobrepõe a todos os outros. É a relação do Homem com a Água!

A Água está para o Homem como sangue está para o nosso corpo. Na organização actual da sociedade, os homens tem de permanecer ligados à água por um processo artificial, São os serviços de água - abastecimento e saneamento.

O serviço de abastecimento é a ligação da Natureza para os Homens e o serviço de saneamente devolve à Natureza a maior parte da água que continuará o ciclo da natureza e da vida. É esta ligação metabólica entre o Homem e o ciclo hidrológico - ciclo da água - que esta a ser entregue para exploração lucrativa nos contratos de concessão de água. Esta concessão não é mais do que uma privatização, pois consiste na entrega dos serviços a empresas privadas para que os explorem lucrativamente, através da venda da água.


A concessão do serviço de água para empresas altera o objectivo dos serviços e da utilização da água. O objectivo público é o bem comum e o objectivo da empresa é o lucro, ressuscitando as companhias das águas SA do antes do 25 de Abril, expandidas agora às áreas das águas residuais - esgotos, recolha e tratamento de lixos!

Nio início deste ano, os tavirenses foram brindados com os maiores aumentos da factura de água que há memória. Para muitos esse aumento chegou a ultrapassar os cem por cento. A explicação avançada pela maioria PSD que governa esta câmara é que tais aumentos são necessários porque a Empresa de Águas do Algarve vende a água à empresa Taviraverde a um preço tal que não é possível continuar a praticar os preços que até aqui sempre foram praticados. E, dizemos nós, para pagar bons ordenados aos administradores e renovar a frota de automóveis!!!

Pode parecer ao Senhor Presidente da Câmara que tudo fica assim explicado, mas esta explicação só satisfaz que não percebe que a água é um bem público e que é inadmissível que empresas públicas ajam como se privadas fossem!

Este caso de Tavira permite ter uma ideia de como poderá ser o futuro, caso a água seja absorvida pela iniciativa privada. Um, subida ainda maior da facturação e da conta a pagar. Dois, degradação das infraestruturas e dos serviços prestados. E, três, discriminação positiva de grandes consumidores industriais, que proporcionalmente pagam menos, e disciminação negativa dos pequenos consumidores domésticos, que proporcionalmente pagam mais. Quatro, eliminação de serviços gratuitos e fontanários. Cinco, rapidez no corte de abastecimento. Seis, abandono e/ou degradação das zonas menos rentáveis.

A privatização dos serviços é sempre uma perda de democracia no sentido real, de perda de poder das pessoas. Perdem, em primeiro lugar, o poder político, porque o seu interesse e o seu voto deixam de ser tido em conta nas decisões. Porque esta luta não é apenas muito importante, é vital e no sentido estricto da palavra!

Porque a água é essencial à vida e insubstituível, é precisso reverter o processo de privatização dos serviços de água enquanto o capital ainda é público!

NOTA: Os comentários de Luís Silva são emitidos todas as quintas-feiras, às 7 horas, com repetição às 13 e às 19 horas.

quarta-feira, abril 12, 2006

Negócio da China

por Sónia Margarida Tomás (especialista em turismo e directora-executiva da Associação Sotavento Algarvio)

Já lá vai o tempo em que se instalavam entre nós de uma forma discreta, abrindo um restaurante chinês aqui e acolá. Convidavam-nos a apreciar e a conhecer a sua gastronomia e a sua cultura.

No entanto, de algum tempo a esta parte, a agressividade com que se têm vindo a implementar entre nós, é bem maior.

Atrás dos restaurantes vieram as lojas de vestuário, supermercados, armazéns de revenda e outras, que se vão multiplicando como cogumelos e que estão a deixar os nossos comerciantes de olhos em bico.

O Algarve não escapou a esta invasão e há concelhos que já parecem a Chinatown de Nova Iorque…

São lojas onde se vende de tudo um pouco, desde baterias para telemóveis e escovas de dentes eléctricas até roupa e calçado, produtos de limpeza, perfumes e tudo mais que a imaginação permita.

Os empregados são chineses e raros são os que falam português. Mas nesta linguagem universal que é a do comércio eles entendem-se na perfeição.

Já me questionei porque terão deixado tudo para trás, abandonando os seus familiares, a sua cultura e os seus hábitos tão diferentes dos nossos.

Há quem diga que Portugal só atrai este tipo de imigrantes porque tem as fronteiras abertas...

O que é um facto é que, apesar de não se integrarem de todo na nossa sociedade, por não entenderem a nossa língua nem o nosso modo de vida, a comunidade chinesa em Portugal é cada vez maior.

Atravessam continentes e instalam-se no nosso país em busca de uma vida melhor.

Trabalham de sol a sol para manter o negócio. Praticam preços irrisoriamente baixos e funcionam na base da economia familiar. Estes são os condimentos para o sucesso dos seus negócios.

Por cá os sinais de desconforto em relação ao comércio e aos produtos chineses já se começaram a sentir.

Acusam-nos de contribuírem para o esgotamento do comércio e da indústria nacional, para o desemprego e ainda de concorrência desleal.

Os chineses por seu lado dizem que a culpa talvez seja da liberalização do comércio e que este é um problema que os governos têm que resolver entre si.

Entretanto continuam a fazer os seus negócios e ainda dizem que empregam cerca de 5 mil portugueses nas suas lojas e armazéns…

Uma questão se coloca. Até quando ficaremos a assistir impunes ao triunfo dos chineses?

NOTA: Os comentários de Sónia Margarida Tomás são emitidos todas as quartas-feiras, às 11 horas, com repetição às 17 e às 23 horas.

Turismo, economia e competitividade

por Fernando Reis (professor e director do Jornal do Algarve)

Em termos económicos, o diagnóstico da situação no Algarve, desde há muito que está feito. Especialistas e não especialistas, até mesmo o cidadão comum minimamente atento à realidade do quotidiano, sabem que a economia do Algarve é dominada pelo turismo e actividades complementares.

Mais, ainda, depois da morte da indústria conserveira, da agonia das pescas e da agricultura, e da crise do comércio tradicional. Actualmente, cerca de dois terços da população activa da região está empregada em serviços ligados ao sector do turismo, correspondendo só os hotéis e empreendimentos turísticos classificados a mais de 110 mil camas.

Em quatro décadas o Algarve transformou-se na maior região turística portuguesa, sendo responsável por 60 por cento do total do PIB gerado pelo turismo a nível nacional. Sendo importante, em termos de riqueza gerada e emprego criado, esta monodependência do turismo, que teve os seus custos em termos de um certo desordenamento do litoral e da especulação imobiliária, ajudou a liquidar sectores importantes ao nível das pescas, da agricultura e de algumas indústrias tradicionais.

E mesmo em termos de emprego, os postos de trabalho criados pelo turismo têm vindo a ser largamente ultrapassados pelo crescente desemprego e precariedade laboral.

Actualmente, temos mais de 37 mil trabalhadores precários na região - mais de 24 mil com menos de 35 anos e 9 mil com menos de 25 anos - e se tivermos em conta que continua a existir um grande déficit ao nível da inovação empresarial e da formação profissional, então o quadro torna-se, ainda, mais negro.

E o problema é que não estamos às cegas quanto ao rumo a seguir. Até sabemos que é preciso apostar num maior dinamismo, competitividade empresarial e inovação tecnológica e numa compatibilização do pequeno comércio tradicional com as grandes superfícies.

Mas os propósitos chocam com uma realidade bem diferente, em que persistem profundas assimetrias e uma crescente desertificação do interior. E como será o futuro, se não formos capazes de diversificar o investimento nem de compatibilizar o pequeno comércio tradicional com as grandes superfícies? Só para o Algarve estão aprovadas mais 22.

E como será o futuro se não agarrarmos bem esta que será a nossa última oportunidade enquanto região desfavorecida da Europa comunitária, porque depois de 2012 passaremos a integrar o pelotão dos ricos, continuando pobres?

Numa coisa temos que convir, com uma taxa de IVA de 21 por cento e uma carga fiscal ainda bastante pesada para a generalidade das empresas - particularmente penosa para as pequenas e médias - e uma crescente instabilidade social, o aumento da competitividade, indispensável num quadro de uma economia cada vez mais global, continuará a ser uma miragem.

NOTA: Os comentários de Fernando Reis são emitidos todas as quartas-feiras, às 9 horas, com repetição às 15 e às 21 horas.

9 de Abril - Uma data para reflectir!

por José Manuel do Carmo (professor da Universidade do Algarve e dirigente regional do Bloco de Esquerda)

Domingo passado comemorou-se o dia 9 de Abril. Um dia importante na história do nosso País. Em Tavira, ladeando o Quartel há um rua com o nome 9 de Abril. Mas, infelizmente, falta à verdade, dizendo que é o dia do final da I Guerra Mundial. Mas não é!

Tanto historiador que há nesta cidade e ninguém viu que a Guerra só terminou a 11 de Novembro. às vezes a ignorância dói!

Neste dia, comemora-se a Batalha de La Lys. Foi de facto o fim da Guerra, mas para o Exército Português e, sobretudo, para as centenas de algarvios que aí morreram sem saber porquê!

Seria bom que se repusesse a verdade e, proponho ainda, que exista nos Paços do Concelho uma placa identificando os tavirenses que foram morrer loge e sem sentido!

Vale a pena reflectir em 9 de Abril sobre o que estão forças portuguesas a fazer em certas partes do mundo que nada têm a ver connosco como o Afeganistão. Ou porque é que ainda há a necessidade de discutir sobre a inutilidade de alguns submarinos em que alguns políticos patéticos queriam gastar o dinheiro?! Então, o os F-16, que contributo dão para o desenvolvimento ou mesmo para a defesa deste País?!

Agora, que se comemoram três anos sobre a invasão do Iraque pelos americanos e seus aliados, vale a pena reflectir sobre quem tinha razão em denunciar a invasão e sobre a justiça (ou injustiça) da morte de centenas de milhares de pessoas, incluindo os próprios soldados americanos, nas vítimas de uma guerra que apenas procura defender os interesses estratégicos de um só País?!

NOTA: Os comentários de José Manuel do Carmo são emitidos todas as quartas-feiras, às 7 horas, com repetição às 13 e às 19 horas.

terça-feira, abril 11, 2006

Contra o imobilismo

por José Mateus (consultor de comunicação e autor do blogue CLARO)

Temos hoje em Portugal uma situação de estado de sítio. Um estado de sítio económico é certo, mas um verdadeiro estado de sítio. As mudanças na economia mundial, a entrada da China e dos países de Leste no sistema mundial, enfim tudo isso a que nos habituámos a chamar globalização, às vezes sem saber o que assim chamamos...

Tudo isso, dizia eu, pôs um verdadeiro cerco económico a Portugal. E, deste cerco económico, resulta uma situação de verdadeiro estado de sítio. Que pessoas com responsabilidades finjam que não o vêem, e que não se passa nada, é um desastre!

A situação é difícil mas, se quisermos, temos soluções. Não podemos é fingir que não vemos o que se passa. Não iremos a lugar nenhum e só pioramos as coisas!

Face a esta situação difícil de cerco económico, há várias forma de reagir. Têm havido políticos que sabem ver e têm a coragem de dizer que o rei vai nu ou, seja, que a República está praticamente falida. São poucos, é certo!

E, há muitos que são como os tais macaquinhos. Não vêem, não ouvem e não dizem nada. Quero dizer, não querem ver, não escutam ninguém e só dizem disparates!

No meio disto, temos agora a sorte de ter um Primeiro-Ministro disposto a pegar o touro pelos cornos. Mas, temos ainda muita gente, muito dirigente, muito presidente a fingir que não vê e a repetir, qual grafonola fanhosa, que não passa nada!

São esses os piores cegos, os que não querem ver e que, contra a vontade reformadora do Primeiro-Ministro, defendem o imobilismo. Acham que que vier atrás feche a porta e estão-se nas tintas para os problemas dos portugueses que estão pior a cada dia que passa!

Por isso, acho importante fazer um esforço, assumir as dificuldades e apoiar as vozes contra o imobilismo que querem reformar Portugal e depressa!

NOTA: Os comentários de José Mateus são emitidos todas as terças-feiras, às 11 horas, com repetição às 17 e às 23 horas.

A regionalização encapuçada

por Rui Horta (advogado e dirigente do PSD-Tavira)

Esta semana gostava de partilhar uma reflexão sobre um tema sobejamente conhecido, que interessa aos algarvios e que é uma questão que o Governo trouxe agora à baila - a regionalização.

Para nós interessa-nos sobretudo, e para as outras regiões do País também. No Algarve temos uma propensão natural para a regionalização, temos cá grandes defensores da regionalização e nomeadamente em Tavira. Se se recordam, a regionalização foi chumbada por referendo. A população portuguesa em 1998 não aceitou o modelo da regionalização.

Agora, com algumas ligeiras diferenças, o Governo socialista propõe fazer uma descentralização administrativa que esperemos, antes do mais, para ver se não será uma regionalização encapuçada no sentido de, evitando o referendo, levar a água ao moinho!

Esperemos que assim seja, que possa avançar no sentido de ser fazer uma verdadeira regionalização, não desenvolver o modelo actual para uma situação mais burocrática, criando mais uma decisão administrativa e mais uma ordem burocrática entre o actual Governo, as populações e os concelhos que estão mais distantes. Mas que, com esta experiência, se possa tender para uma verdadeira regionalização, colocando os nossos políticos e o nosso Governo mais próximo das populações!

Uma nota de rodapé para lamentarmos a destruição da rotunda ao pé da saída da Via do Infante. É pena, porque era uma rotunda onde foi feito o último arranjo urbanístico. É pena porque era uma obra muito bonita. Pelo menos, teve o mérito de chamar à atenção das pessoas, ao ponto de todos quererem levá-la para casa. Não se desculpam é vandalismo e o furto!

NOTA: Os comentários de Rui Horta são emitidos todas as terças-feiras, às 7 horas, com repetição às 13 e às 19 horas.

segunda-feira, abril 10, 2006

Intervenção cultural

por Luís de Mello e Horta (director do Jornal do Sotavento)

Hoje, quero falar-vos da intervenção. Não da intervenção política, que essa é para os profissionais da dita e para os comentadores acreditados, mas da intervenção cultural.

Ainda há quem pense que todo o ser que não se movimente dentro nas cercanias da Grande Lisboa ou, vá lá, do Grande Porto, é bicho. Ainda por cima bronco, campónio, provinciano. Porque a cultura ou a intervenção cultural chegou ali e parou!

Tal é a jactância que sempre que algum desses iluminados se desloca à província, em geral, ou ao Algarve, em particular, olha do alto da sua importância e da mesa que lhe atribuíram para debitar a sua sapiência. Esta gente entender-me-à, pensa o génio.

Um entendimento muito parecido ocorrer aos sapientes que já não tendo lugar na sua amada capital, aceitam descer até estes terreno mourisco exercer funções. Mas, com que desdém o fazem. Esquecem, no entanto, que esses diversos reinos mouriscos lhes asseguram a sua sobrevivência. Não desejando que este comentário tenha qualquer particularização, esta imagem, que não é geral entenda-se, devia desde há muito ter sido ultrapassada!

Porque, se olharmos para a programação de municípios como Silves, Lagoa, Loulé, São Brás, Faro, Olhão, Tavira, Vila Real verificamos a forte presença ao longo do ano de eventos culturais de muito interesse.

Que se focam no teatro, na música, na poesia, na abertura de exposições, nos concertos de grande nível, na ópera, nas jornadas da mais diversa natureza e dos mis diversos temas de história, património, poesia, literatura, etc.

Que se apoiam nas associações culturais que, felizmente, estão proliferando e em salutar actividade.

Que têm efeitos multiplicadores e origem no forte apoio que os municípios e outras entidades locais vão concecendo às iniciativas que se desenvolvem nos seus concelhos.

Tavira é um dos fortes exemplos desse empenhamento cultural e, por isso, todos se regojizam. Mas também seria tempo do centralismo cultural deixar de ser princípio, meio e fim
para o qual existem as estruturas culturais a nível oficial do nosso País. Pode ser defeito meu, mas a verdade em que todo este panorama quase não dou pela existência da Direcção Regional da Cultura no Algarve. Talvez por falta de verbas. Defeito meu?! Ou falta de uma consistente descentralização a nível da cultura no nosso País?!

Se assim é, bem gostaria que assim não fosse! Até para a semana, caros ouvintes!

NOTA: Os comentários de Luís de Melo e Horta são emitidos todas as segundas-feiras, às 9 horas, com repetição às 15 e às 21 horas.

Estado laico o nosso?

por Carlos Lopes (advogado, benfiquista e animador cultural)

A recente tomada de posse do Presidente da República já tinha dado o alarme. O Sr. Cardeal Patriarca tomou assento entre os convidados institucionais, ao lado dos antigos presidentes da República. D. José Policarpo, com as suas garridas vestes cardinalícias, lá estava sentado em lugar bem visível e em destaque.

Ora o nosso Estado é laico, isto significa não religioso, onde, de acordo com a Constituição, todas as religiões se encontram fora do Estado e é garantida a liberdade religiosa no artº 41º. Ao permitir o destaque do Cardeal, o Estado português privilegiou uma religião em detrimento de outras. Fez mal. O cardeal poderia ter sido convidado pessoal de Cavaco Silva mas, nessa altura, deveria ir para a galeria dos convidados pessoais, sem mais.

Em Tavira há uns anos que tenho verificado uma coisa curiosa: seja socialista seja social-democrata, na procissão organizada pela Santa Casa da Misericórdia no Domingo de Ramos, os nossos vereadores fazem questão de segurar o pálio onde se abriga o pároco de Santiago. Uma cena edificante, digna da Idade Média: O poder político em manifesta vassalagem ao poder religioso. E a coisa é tanto mais grotesca, quanto confessos ateus e agnósticos não se furtam a esta experiência humilhante e de se prestarem a estas figuras.

Há um manifesto desejo dos nossos políticos locais de procurarem status social através destas manifestações de obediência e humildade: segurar no pálio é-lhes gratificante e, através de tal gesto, os autarcas dizem: aceita-me entre vós que eu vos servirei.

Esta disponibilidade em servir tão ostensivamente a Igreja católica viola a natureza laica do nosso estado e privilegia uma religião. Por outro lado, este fervor religioso coincide com a passagem dos nosso autarcas pela poder, sendo que desaparecem desta manifestação logo que são afastados. Não se vê mais rasto deles nas procissões seguintes, nem como meros acompanhantes. Isto dá ideia da religiosidade de tal gente.

Sempre assim foi. O novo riquismo sempre foi ridículo, analfabeto e alarve. Por isso se chama novo riquismo. Rastejante em relação aos poderes (quaisquer que eles sejam), o novo riquismo tenta, através destes actos sociais almejar a outros voos, ser aceite socialmente. A Igreja, essa, que já cá anda há dois mil anos, sabe-a toda e sabe usar isto muito bem a seu favor, pedindo privilégios, mantendo outros.

Porque a Igreja católica tem hoje um pálido poder em relação ao que foi, estas encenações são apenas ridículas. E já é muito.

Assim, caro ouvinte, se quiser ir ver a nossa Portugal Fashion, vá à procissão de domingo de Ramos é porque a nossa socialite tavirense vai aos magotes para ver e ser vista!

NOTA: Os comentários de Carlos Lopes são emitidos todas as segundas-feiras, às 11 horas, com repetição às 17 e às 23 horas.

Mais quatro mil milhões

por Jamila Madeira (economista e deputada do PS no Parlamento Europeu)

A Comissão de Orçamentos do Parlamento Europeu, reunida esta semana, deu a sua aprovação ao acordo institucional atingido pelas três delegações do Parlamento Europeu, da Comissão e do Conselho relativo às Perspectivas Financeiras 2007/2013.

O acordo consagra um reforço de 4 mil milhões de euros para este quadro financeiro, bem com o reforço dos poderes do Parlemento em matéria de aprovação de modificações no Regulamento Financeiro.

Este acontecimento é motivo de satisfação pelo facto de representar, em particular, um reforço para o Programa Leonardo e para o Programa Erasmus Mundus, dois programas cruciais para implementar o espírito europeu, bem como um sinal muito positivo dado com a atenção que teve o Programa Program, que substituirá os actuais programas Equal e Urban, e naturalmente para o 7.º programa-quadro da inovação, crucial para o desenvolvimento da Europa.

O facto de se ter dado este passo fundamental, significará que se poderá avançar com a programação da aplicação das verbas estruturais de desenvolvimento rural, das pescas e da competitividade.

No entanto, ainda existem algumas questões por resolver, nomeadamente o facto de neste quadro a linha orçamental 1B não conseguir neste contexto de fortes constrangimentos orçamentais englobar a problemática dos 800 milhões de euros suplementares necessários para que as 4 regiões vítimas de efeito estatístico que careciam deste apoio, concretamente o Algarve, Múrcia, Astúrias e Basilicata, vissem a sua situação igualada às restantes.

Para que a quebra de apoios para estas regiões não seja demasiado brusca urge encontrar contrapartidas como efeitos de compensação, algo que já foi garantido pelos governos nacionais destas regiões, respectivamente.

Assim, faço votos para que estes e o Conselho cheguem a boas soluções rapidamente e renovo as minhas felicitações à equipa negocial parlamentar por ter atingindo este feito que já se considerava praticamente inatingível!

NOTA: Os comentários de Jamila Madeira são emitidos todas as segundas-feiras, às 7 horas, com repetição às 13 e às 19 horas.

sexta-feira, abril 07, 2006

Que futuro para Cachopo?!

por Albino Martins (director do Centro Paroquial de Cachopo)

Cachopo, freguesia rural do concelho de Tavira, assiste há largos anos ao êxodo da sua população jovem. É um fenómeno comum a todo o interior. Gerações sucessivas deram a estes lugares dinamismos que não se compadecem com a evolução técnica dos dias de hoje.

A sociedade actual criou mecanismos, desenvolveu capacidades, industrializou ofícios tradicionais. As tarefas agrícolas, a produção de bens essenciais à alimentação foram-se tornando coisa rara num país necessitado de produção e emprego onde o desemprego cresce e a importação de bens, mesmo agrícolas, parece aumentar!

Cachopo, e tantas aldeias do Portugal rural, despovoa-se, enquanto a vontade política demora em dar sinais de pretender desenvolver a vida, fixar pessoas, ocupar de novo os cidadãos, planeando a descentralização económica e social, tomando medidas que levem à fixação dos que aqui ainda sonham e, ao mesmo tempo, atrair jovens quadros que possam ser corresponsáveis na revitalização.

É minha firme convicção que, apesar de algum desânimo, se connosco criarem condições de inversão de rumo, somos capazes de orientar uma transformação de Cachopo. Se, pelo contrário, nos deixarmos dominar pela ideia de que a desertificação é inevitável, então perderemos o gosto e a alegria de aqui viver, adiaremos as medidas de curto e médio prazo que se impõem, correndo todos nós o risco de nos vermos confrontados com problemas bem mais sérios no futuro...

Perguntarão que futuro para Cachopo?! Voltarei ao tema em breve!!!

NOTA: Os comentários de Albino Martins são emitidos todas as sextas-feiras, às 11 horas, com repetição às 17 e às 23 horas.

Os corredores da dor

por Henrique Dias Freire (jornalista, director do Postal do Algarve e administrador do CENJOR)

Diariamente, nos corredores das urgências do Hospital Distrital de Faro, encontram-se vários doentes. A maioria são idosos que permanecem horas deitados em macas. Alguns permanecem mais de 24 horas deitados nas macas. Todos com a expectativa que no minuto seguinte obterão uma resposta média. Uma espera que se traduz no tempo que não mais chega. Um tempo de dor e frustração para muitos. Uma sensação de abandono que nalguns casos chega ao desespero!

Dir-me-ão que os profissionais afectos às urgências do Hospital Distrital de Faro fazem o que podem. Que são mal pagos. E, pior do que isso, estão cansados e desmotivados pela falta de condições de trabalho. Dir-me-ão que é fácil apontar o dedo. Mas quando toca a contribuir ou a participar na resolução dos vários problemas, a questão diz quase sempre respeito ao outro e raramente a nós próprios!

E, possivelmente, até terão razão e eu até terei de desculpar-me publicamente pelo atrevimento desta crónica. Desculpar-me por ver, ouvir e sentir a dor daqueles que sofrem em corredores malditos. Em corredores que estão permanentemente com correntes de ar, em corredores onde ninguém pergunta de forma regular se o doente acamado precisa de alguma coisa, onde os lençóis e cobertores permanecem no chão sem que ninguém se preocupe em voltar a cobrir o doente...

Qual conforto, qual palavra amiga reconfortante, qual quem, qual coisa ou alguém que o possa falar. É nestas palavras todas que eu falo aqui hoje, com saúde, acho eu. Amanhã, sem ela, talvez. E que espera todos nós percebamos que o estar lá naquele lugar das urgências é um corredor da vida e nunca um corredor de morte que a todos um dia nos espera!

E é para melhorar esse corredor que eu, que tu e todos nós trabalhamos ou procuramos trabalhar por uma vida melhor. Até para a semana!

NOTA: Os comentários de Henrique Dias Freire são emitidos todas as sextas-feiras, às 9 horas, com repetição às 15 e às 21 horas.

quinta-feira, abril 06, 2006

85.º aniversário do PCP

por Luís Silva (advogado e dirigente do PCP)

Este ano de 2006 é mais um ano de festa para todos os comunistas portugueses. Aqui estamos a celebrar os 85 anos de vida do PCP. A comemorar o aniversário de um partido com a consciência da nossa própria razão de ser. Com a convicção dos nossos próprios ideais e objectivos.

Com o orgulho do nosso passado e da história de 85 anos de luta ao serviço dos trabalhadores, do povo português e de Portugal, a lutar no presente. A pensar e a acreditar com confiança e determinação no futuro do Partido, da Democracia e de Portugal.

A fundação do Partido Comunista Português não foi um acaso nem o fruto de uma decisão arbitrária. Foi a expressão de uma necessidade histórica da sociedade portuguesa e resultado da evolução do movimento operário português.

O Partido Comunista Português não se formou a partir de uma cisão no Partido Socialista, mas ergueu-se essencialmente com militantes saídos das fileiras do sindicalismo revolucionário e do anarco-sindicalismo, que representavam o que havia de mais vivo, combativo e revolucionário no movimento perário português.

Foi assim que a 6 de Março de 1921, na sede da Associação dos Empregados de Escritório, em Lisboa, se realizou uma assembleia que elegeu a direcção do PCP. Estava fundado o Partido Comunista Português!

Ao longo destes 85 anos, muitas foram as batalhas travadas pelos comunistas. Durante o fascismo de Salazar, mesmo aqui em Tavira, houve lutas desencadeadas pelos comunistas e apoiadas pelos tavirenses, em defesa dos seus direitos e aspirações.

Só para nomear algumas. Em Janeiro de 1935, um grupo de soldados manifestou-se nas ruas da cidade contra a ditadura e o seu regime de fome e miséria. Em Fevereiro de 1937, os trabalhadores de Tavira tomaram de assalto as fábricas e abasteceram-se de conservas. Em Março/Abril de 1945, os camponeses de Cachopo e da Conceição armados de alfaias expulsaram fiscais, impedindo as saídas do milho e do trigo. Em Maio de 1955, os pescadores de norte a sul do país entram em greve contra as condições de trabalho do novo Contrato Colectivo de Trabalho que os armadores lhes querem impôr. De Maio a Julho de 1955, operários agrícolas unidos em praças de jorna exigem e conquistam aumentos de salário. Depois de 1961, alguns jovens para fugirem à Guerra das Colónias foram ajudados pelo Partido e de "salto" partiram para as terras de França...

Celebrando os 85 anos de vida do Partido, homenageamos todos os seus construtores que ao longo das suas vidas e até ao momento da sua morte se mantiveram firmes no seu ideal comunista. Mas julgamos que, sem esquecer ninguém, é justo que lembremos neste Aniversário, que pela primeira vez não conta com a sua presença, o nome de Álvaro Cunhal. A sua inteligência, a sua coragem, o seu humanismo, a sua ética política, as suas convicções são indissociáveis do Partido que temos e do Partido que somos!

NOTA: Os comentários de Luís Silva são emitidos todas as quintas-feiras, às 7 horas, com repetição às 13 e às 19 horas.

As tradições e a globalização

por Anabela Martins (psicóloga e gestora do sector cooperativo)

Eu quase que poderia dizer que, enquanto movimento cooperativo, é bastante importante a intervenção de toda a sociedade civil nas questões que mais nos preocupam. Por outro lado, enquanto mãe, como devem calcular preocupam-me imenso a passagem dos valores da nossa cultura, da nossa tradição da nossa região para as crianças que pelo menos passam alguns anos da sua educação, que poderão ou não levar este tipo de informação para outros países porque cada vez mais nós estamos numa sociedade global e muitos dos nossos filhos vão concerteza fazer a sua vida profissional noutras partes do país, da Europa e, mesmo, do Mundo.

Por isso mesmo, eu pergunto-me como é que nós vamos garantir a passagem dos nossos padrões culturais, da nossa tradição, dos nossos valores mais intrínsecos à nossa nação portuguesa para essas crianças que evidentemente nesta era da globalização cada vez mais têm tendência a não distinguir o que é que é seu ou o que pertence aos seus avós ou o que é da sua terra ou aquilo que é, em termos gerais, é mundial, comunitário ou internacional!

É também um pouco por isso que a cooperativa que eu e um grupo de pessoas preocupadas com estas temáticas criámos - a Conexo - está a tentar imoplementar o interesse nos jovens e nas crianças sobre a cultura e a tradição ao nível do têxtil e também artesanal da zona algarvia e sobretudo da zona da serra. Porque é neste espaço da zona serra que coexistem algumas das tradições do artesanato e dos agro-alimentares, tradições essas que são muito importantes para a identificação duma cultura!

Sei lá, quando pensamos em mel, pensamos que existe mel em qualquer parte do mundo. Não é bem assim, existe mel nas prateleiras de todos os supermercados do mundo, mel esse identificado e que vem de algumas regiões. Seria bom que os nossos filhos pudessem perceber quando vêem esses rótulos, mesmo que estejam na China ou em Londres, que esse mel veio da sua terra. E, mais ainda, até puderem explicar ao vizinho do lado que está a comprar o mesmo mel como é que ele foi feito!

Estas e outras questões são preocupações da cooperativa, minhas enquanto mãe, sobretudo enquanto pessoa interessaada nesta cultura e nesta tradição que é nossa e que eu não quero ver morrer e desfazer-se por esta globalização que nos avassala e que é a realidade de hoje e de amanhã!

Pensem nisto, espero que possam responder a este desafio, porque é sem dúvida um desafio para perceber o que é que vocês ouvintes pensam sobre estas temáticas. Ou será que eu só estou a dizer asneiras?!

NOTA: Os comentários de Anabela Martins são emitidos todas as quintas-feiras, às 11 horas, com repetição às 17 e às 23 horas.

Uma nova realidade

por Hélder Nunes (jornalista e director do Barlavento)

Roubaram os moinhos de vento que se encontram na Rotunda de Tavira, que dá acesso á Via do Infante. Destruiram uma obra de arte que ali foi colocada para embelezar a paisagem numa atitude de puro vandalismo!

Os assaltos às residências. Apanhados em flagrante, dois jovens fugiram à polícia, depois de terem consumado um assalto na Ilha de Faro. Não há dia sem assaltos no Algarve, por muito que as estatísticas queiram mascarar a realidade. Pequenos furtos não são denunciados à polícia. As pessoas sentem incómodo quando são confrontadas com excesso de burocracia. Este é um sinal dos tempos, que o país e a região atravessam!

Se muitos dos roubos têm na génese marginais consumidores de droga, começa a surgir uma nova realidade. Gente que rouba para comer. No outro dia, a minha amiga Lúcia encontrou duas mulheres, como ela diz, a denegrir a imagem de um homem que tinha sido apanhado na praça a roubar um pão e uma banana. E perguntou-lhes se, essa pessoa que diziam ter mais de cinquenta anos, era um ladrão ou um pobre cheio de fome?!

É claro que se indignou com a rudeza e a creuldade de duas pessoas que não eram capazes de avaliar que ali estava alguém com fome e, quem sabe, se não teria a mulher e os filhos ao virar da esquina à espera daquele bocado de pão...

Poderá questionar-se se roubar para matar a fome é crime. Há muita pobreza encoberta, há muito desespero nas pessoas envolvidas nesta máquina de triturar as criaturas que se chama sociedade de consumo!

Seria bom que a mensagem passasse de boca em boca, dizendo que para matar a fome as pessoas não precisam de roubar. A cidade, as cidades têm centros de acolhimento, as juntas de freguesia podem providenciar alimentação para os necessitados junto dos centros de apoio a idosos, nas santas casas da misericórdia e, agora também aqui em Portimão, no Centro de Dia do Padre Arsénio, na Quinta do Amparo!

Há felizmente locais onde uma sopa e uma broa de pão são ofertados em nome da dignidade humana. Não podemos permitir que o roubo de um pão para matar a fome ou o assalto para furtar material para vender e arranjar dinheiro para drogas sejam metidos no mesmo saco.

A sociedade fomenta estas duas duras realidades, mas tem que as saber destrinçar!

NOTA: Os comentários de Hélder Nunes são emitidos todas as quintas-feiras, às 9 horas, com repetição às 15 e às 21 horas.

quarta-feira, abril 05, 2006

Então porque não falarmos de turismo?

por Sónia Margarida Tomás (especialista em turismo e directora-executiva da Associação Sotavento Algarvio)

O Verão está a chegar e com ele milhares de turistas. Então porque não falarmos de turismo?

Todos sabemos que o turismo representa uma fonte de rendimento para o país e para as diferentes regiões turísticas, muitas delas já com centenas de experiência nesta área.

Mas é claro que num pais que vive de e para o turismo existem assimetrias que se acentuam de região para região e de zona para zona e, no caso do Algarve, esta assimetria é bem visível entre Barlavento e Sotavento.

É um facto que o conjunto dos seis concelhos mais a este do Algarve possui características próprias e bastante diferentes do resto da região e que muitas se devem, naturalmente, a um atraso considerável em termos de desenvolvimento turístico.

E, se por um lado este atraso penalizou esta zona em termos de receitas e recursos para os municípios, por outro lado beneficiou-a no sentido de lhe permitir desenvolver uma actividade turística equilibrada e de qualidade, evitando erros cometidos noutras zonas do Algarve.

Mas temos vindo a assistir a uma evolução da zona em termos de infra-estruturas turísticas de qualidade.

Consequentemente, assistimos a uma evolução dos padrões turísticos, nomeadamente ao nível dos segmentos de turistas que nos visitam e que procuram níveis de qualidade cada vez mais elevados.

Continuamos é a não assistir à evolução de um conjunto de necessidades que, de outra forma, limitam o desenvolvimento de uma cultura turística de qualidade na zona do Sotavento.

Refiro-me às más condições em que se encontram as principais vias de acesso, à deficiente sinalética e à abundante sinalética pirata, ao lixo nas bermas de estradas nacionais e vias rápidas e a outros tantos pormenores que vão ficando incólumes aos olhos de todos e, assim, vão comprometendo o crescimento da procura turística por esta zona.

Isto para não falar, por exemplo, na falta de qualificação profissional do serviço prestado nos estabelecimentos hoteleiros de restauração e afins durante os meses de maior afluência de turistas.

Continua-se a apostar em contratação de mão-de-obra barata para remediar os meses de Verão. Falta de formação e mau serviço são muitas das criticas e causas apontadas para um não regresso a este destino.

E o que dizer da quantidade de alojamento paralelo que vai surgindo em urbanizações e condomínios e que vai aumentando os cerca de 22 mil e 800 fogos de uso sazonal ou secundário que existem hoje no Sotavento?

Não basta apenas desenvolver uma promoção agressiva junto dos mercados emergentes e prioritários. É fundamental que as entidades e a própria sociedade despertem para estas questões que têm um grande peso no factor de escolha de um destino de férias e que podem comprometer o processo de fidelização do actual turista que nos visita.

Os destinos estão cada vez mais competitivos e é urgente requalificar o nosso produto se nos queremos assumir definitivamente com um novo destino turístico!

NOTA: Os comentários de Sónia Margarida Tomás são emitidos todas as quartas-feiras, às 11 horas, com repetição às 17 e às 23 horas.

Descrença e pessimismo

por Fernando Reis (professor e director do Jornal do Algarve)

A maioria dos portugueses continua pessimista quanto ao futuro do país. Segundo o último barómetro da Marktest, apenas 26,5 por cento dos inquiridos acredita que a situação económica do país vai melhorar contra a opinião de 45,8 por cento que diz que irá ser pior e de 19,7 por cento que considera se manterá igual.

O mesmo pessimismo reina entre a maioria dos 813 entrevistados, quando é questionada sobre a sua situação económica pessoal. Para 43,4 por cento a situação irá agravar-se, enquanto 30,5 por cento diz que vai ficar na mesma. Apenas 18,9 por cento acredita em melhores dias.

Se tivermos em conta que, segundo este mesmo estudo, um em cada três portugueses tem dívidas ao banco ou algum crédito bancário e que setenta por cento contraiu estas dívidas para comprar casa e 22,6 por cento para adquirir carro; que a taxa de desemprego que tem vindo a aumentar pode agravar-se, ainda mais, com a pretendida reforma da administração pública proposta pelo governo e que o custo de vida não pára de subir, o cenário que se nos depara para o futuro próximo não é, deveras, nada animador.

Mas mais grave do que este pessimismo que nos domina é a descrença quase generalizada na nossa capacidade para sair da crise. Há como que um fatalismo histórico que nos condiciona o futuro e contra o qual, apesar da esperança renascida com o 25 de Abril há 32 anos, temos esbarrado, muito também, pela inépcia dos sucessivos governos que, independentemente da respectiva cor política, têm estado ao leme do país.

Para quem, como nós, tem a Espanha aqui ao lado, torna-se ainda mais difícil aceitar esta "apagada e vil tristeza" em que estamos mergulhados. Sobretudo, quando os nossos dois países conheceram duas longas ditaduras e ingressaram, depois, ao mesmo tempo, na Comunidade Europeia, iniciando, quase em simultâneo, o processo de construção de sociedades livres e democráticas.

Desculpem-nos a simplicidade da análise, mas considerando que, lá como cá, os partidos que se têm alternado no poder comungam os mesmos ideários, a diferença de performances só pode estar na diferente capacidade governativa de uns e outros.

Com os preços de muitos bens essenciais muito mais baratos do que os nossos e uma dinâmica empresarial muito mais arrojada, de que é exemplo o extraordinário crescimento turístico dos municípios de Ayamonte, Isla Cristina, Lepe e Cartaia, as vantagens de "nuestros hermanos" tenderão, no futuro, a ser cada vez maiores.

Não é por acaso que enquanto as nossas estatísticas apontam para um aumento do desemprego a Andaluzia regista um acentuado crescimento do emprego.

Quando se está na eminência de aprovar o Protal e se estuda o plano de investimentos para o Algarve no âmbito do próximo quadro comunitário de apoio, muito mais restritivo em termos de verbas disponibilizadas para a nossa região, convém ter em conta, pelo menos, esta realidade e a que nos está mais próxima.

NOTA: Os comentários de Fernando Reis são emitidos todas as quartas-feiras, às 9 horas, com repetição às 15 e às 21 horas.

O custo das privatizações

por José Manuel do Carmo (professor da Universidade do Algarve e dirigente regional do Bloco de Esquerda

Durante a campanha eleitoral, tanto para as Legislativas, em Fevereiro de 2005, como para os órgãos autárquicos de Tavira, em Outubro do mesmo ano, alertámos a população para os perigos de uma política centrada nas privatizações.

Os resultados começam a ser visíveis. A entrega a uma empresa de cariz privado - a TaviraVerde - da gestão do fornecimento de água aos cidadãos e da recolha dos lixos acabou por tornar evidente para todos o perigo que antecipámos.

O custo da água e as taxas de recolha de lixo aumentaram de modo astronómico, sobrecarregando todos os municípes. De que valerá tentarem demonstrar que a água ficou mais cara?! A verdade é que a água fornecida a Tavira pelas Águas do Algarve continua ao mesmo preço. O que aumentou é a necessidade das margens de lucro de uma empresa formatada pela lógica do lucro.

Também os custos da recolha do lixo não aumentaram. Que eu saiba, os trabalhadores não ganham mais agora. Porquê então os aumentos exorbitantes?! Apenas podemos supôr que a empresa quer realizar capital à custa dos municípes que nem sequer têm capacidade para dizer não!

A Câmara Municipal é sócio maioritário desta empresa e, portanto, o seu presidente terá quer directamente responsabilizado pela política que está a implementar. Nem uma palavra aos cidadãos, é a política de um chefe seguro por uma votação que lhe deu uma maioria confortável.

Mas, você, cidadão de Tavira, já vai vendo que o que o Bloco de Esquerda dizia não era propaganda?! Se houvesse na Câmara Municipal uma oposição como deve ser, decerto que hoje esta política estaria a ser denunciada e combatida!

E agora, que fazer?! Vamos ter de encontrar maneira de combater esta política e para isso é necessário a colaboração de todos. Pensamos que a questão da água e da utilização dos serviços públicos como factor de lucro e numa empresa rentável não é aceitável num concelho como o nosso!

NOTA: Os comentários de José Manuel do Carmo são emitidos todas as quartas-feiras, às 7 horas, com repetição às 13 e às 19 horas.

terça-feira, abril 04, 2006

Melhorar as condições para evitar a emigração


por Rui Horta (advogado e dirigente do PSD-Tavira)

Um tema marcante nos últimos dias, nas últimas semanas, que se prende com a situação do emigrantes no Canadá. Devo dizer que é com alguma vergonha, entre aspas, mas com algum desapontamento que vejo os nossos emigrantes portugueses envolvidos nestas situações...

Primeiro que tudo porque é lamentável que o nosso país não tenha conseguindo ainda ultrapassar isto, quer do ponto de vista económico e social forma de ultrapassar isto, forma de evitar que os nossos emigrantes tenham que se ausentar, que os nossos trabalhadores tenham que ir lá para fora em procura de melhores condições de vida!

Também que por uma questão de conhecimentos. Nós, portugueses, teríamos que estar melhor informados destas coisas. É triste que se parta para um país estrangeiro sem um visto em condições, com um visto turístico. E depois se pretendemos exercer uma actividade, devíamos estar melhor preparados para isto!

Também não concordo muito com a deslocação do nosso Ministro dos Negócios Estrangeiros para tratar disto, colocou-nos numa posição muito embaixo e estamos a dar-lhe muita importância. Deveríamos tratar disto de outra forma, chamando cá o embaixador canadiano ou uma outra situação...

Concluo dizendo que forçosamente temos que melhorar as condições económicas e sociais para evitar que os portugueses tenham que se ausentar para encontrar melhores condições de vida noutros países!

NOTA: Os comentários de Rui Horta são emitidos todas as terças-feiras, às 7 horas, com repetição às 13 e às 19 horas.

segunda-feira, abril 03, 2006

Falemos de marginais


por Luís de Melo e Horta (director do Jornal do Sotavento)

Falemos de marginais, não daqueles que infelizmente vão proliferando, tanto nos grandes como nos pequenos meios urbanos e que dão uma constante dor de cabeça, para as autoridades e para os cidadãos…

Falemos antes das marginais das três zonas ribeirinhas mais turísticas do concelho. Ou seja, de Santa Luzia, de Cabanas e de Tavira. Notícias recentes dão conta que em santa Luzia, depois das obras de consolidação da muralha, vai nascer uma avenida marginal planeada a preceito, com arborizações, com bancos de jardim, com faixas de rodagem e com estacionamento para os veículos. Uma boa notícia para a vila risonha e florescente que atravessa um momento de grande desenvolvimento!

Também Cabanas, outra vila ribeirinha vai beneficiar de um projecto semelhante com ordenamento e alindamento de todo o espaço adjacente à água. Outra boa notícia, esta para Cabanas!

Contudo, Tavira, a sede do concelho e a sua marginal, a das Quatro Águas, continuam a ver navios, quanto aquilo que todos desejam, incluindo o município, para se melhorar o percurso da cidade até às Quatro Águas. Não se pode melhorar o piso, alargar, fazer uma faixa para peões ou arborizá-la?! Será o Parque da Ria Formosa a impedir?! Serão outras razões?!

Bem gostariam decerto os tavirenses de ver uma estrada das Quatro Águas com uma cara lavada, sem areia, mais bonita e mais funcional!

É o terceiro projecto de melhoria das marginais de que estamos à espera, sabido que o município também aposta nessa ideia e nessa vontade. Porque será que até agora não foi possível vir ao de cima este terceiro projecto?! Fica-nos a dúvida!

NOTA: Os comentários de Luís de Melo e Horta são emitidos todas as segundas-feiras, às 9 horas, com repetição às 15 e às 21 horas.