segunda-feira, abril 10, 2006

Intervenção cultural

por Luís de Mello e Horta (director do Jornal do Sotavento)

Hoje, quero falar-vos da intervenção. Não da intervenção política, que essa é para os profissionais da dita e para os comentadores acreditados, mas da intervenção cultural.

Ainda há quem pense que todo o ser que não se movimente dentro nas cercanias da Grande Lisboa ou, vá lá, do Grande Porto, é bicho. Ainda por cima bronco, campónio, provinciano. Porque a cultura ou a intervenção cultural chegou ali e parou!

Tal é a jactância que sempre que algum desses iluminados se desloca à província, em geral, ou ao Algarve, em particular, olha do alto da sua importância e da mesa que lhe atribuíram para debitar a sua sapiência. Esta gente entender-me-à, pensa o génio.

Um entendimento muito parecido ocorrer aos sapientes que já não tendo lugar na sua amada capital, aceitam descer até estes terreno mourisco exercer funções. Mas, com que desdém o fazem. Esquecem, no entanto, que esses diversos reinos mouriscos lhes asseguram a sua sobrevivência. Não desejando que este comentário tenha qualquer particularização, esta imagem, que não é geral entenda-se, devia desde há muito ter sido ultrapassada!

Porque, se olharmos para a programação de municípios como Silves, Lagoa, Loulé, São Brás, Faro, Olhão, Tavira, Vila Real verificamos a forte presença ao longo do ano de eventos culturais de muito interesse.

Que se focam no teatro, na música, na poesia, na abertura de exposições, nos concertos de grande nível, na ópera, nas jornadas da mais diversa natureza e dos mis diversos temas de história, património, poesia, literatura, etc.

Que se apoiam nas associações culturais que, felizmente, estão proliferando e em salutar actividade.

Que têm efeitos multiplicadores e origem no forte apoio que os municípios e outras entidades locais vão concecendo às iniciativas que se desenvolvem nos seus concelhos.

Tavira é um dos fortes exemplos desse empenhamento cultural e, por isso, todos se regojizam. Mas também seria tempo do centralismo cultural deixar de ser princípio, meio e fim
para o qual existem as estruturas culturais a nível oficial do nosso País. Pode ser defeito meu, mas a verdade em que todo este panorama quase não dou pela existência da Direcção Regional da Cultura no Algarve. Talvez por falta de verbas. Defeito meu?! Ou falta de uma consistente descentralização a nível da cultura no nosso País?!

Se assim é, bem gostaria que assim não fosse! Até para a semana, caros ouvintes!

NOTA: Os comentários de Luís de Melo e Horta são emitidos todas as segundas-feiras, às 9 horas, com repetição às 15 e às 21 horas.