Descrença e pessimismo
por Fernando Reis (professor e director do Jornal do Algarve)
A maioria dos portugueses continua pessimista quanto ao futuro do país. Segundo o último barómetro da Marktest, apenas 26,5 por cento dos inquiridos acredita que a situação económica do país vai melhorar contra a opinião de 45,8 por cento que diz que irá ser pior e de 19,7 por cento que considera se manterá igual.
O mesmo pessimismo reina entre a maioria dos 813 entrevistados, quando é questionada sobre a sua situação económica pessoal. Para 43,4 por cento a situação irá agravar-se, enquanto 30,5 por cento diz que vai ficar na mesma. Apenas 18,9 por cento acredita em melhores dias.
Se tivermos em conta que, segundo este mesmo estudo, um em cada três portugueses tem dívidas ao banco ou algum crédito bancário e que setenta por cento contraiu estas dívidas para comprar casa e 22,6 por cento para adquirir carro; que a taxa de desemprego que tem vindo a aumentar pode agravar-se, ainda mais, com a pretendida reforma da administração pública proposta pelo governo e que o custo de vida não pára de subir, o cenário que se nos depara para o futuro próximo não é, deveras, nada animador.
Mas mais grave do que este pessimismo que nos domina é a descrença quase generalizada na nossa capacidade para sair da crise. Há como que um fatalismo histórico que nos condiciona o futuro e contra o qual, apesar da esperança renascida com o 25 de Abril há 32 anos, temos esbarrado, muito também, pela inépcia dos sucessivos governos que, independentemente da respectiva cor política, têm estado ao leme do país.
Para quem, como nós, tem a Espanha aqui ao lado, torna-se ainda mais difícil aceitar esta "apagada e vil tristeza" em que estamos mergulhados. Sobretudo, quando os nossos dois países conheceram duas longas ditaduras e ingressaram, depois, ao mesmo tempo, na Comunidade Europeia, iniciando, quase em simultâneo, o processo de construção de sociedades livres e democráticas.
Desculpem-nos a simplicidade da análise, mas considerando que, lá como cá, os partidos que se têm alternado no poder comungam os mesmos ideários, a diferença de performances só pode estar na diferente capacidade governativa de uns e outros.
Com os preços de muitos bens essenciais muito mais baratos do que os nossos e uma dinâmica empresarial muito mais arrojada, de que é exemplo o extraordinário crescimento turístico dos municípios de Ayamonte, Isla Cristina, Lepe e Cartaia, as vantagens de "nuestros hermanos" tenderão, no futuro, a ser cada vez maiores.
Não é por acaso que enquanto as nossas estatísticas apontam para um aumento do desemprego a Andaluzia regista um acentuado crescimento do emprego.
Quando se está na eminência de aprovar o Protal e se estuda o plano de investimentos para o Algarve no âmbito do próximo quadro comunitário de apoio, muito mais restritivo em termos de verbas disponibilizadas para a nossa região, convém ter em conta, pelo menos, esta realidade e a que nos está mais próxima.
NOTA: Os comentários de Fernando Reis são emitidos todas as quartas-feiras, às 9 horas, com repetição às 15 e às 21 horas.
A maioria dos portugueses continua pessimista quanto ao futuro do país. Segundo o último barómetro da Marktest, apenas 26,5 por cento dos inquiridos acredita que a situação económica do país vai melhorar contra a opinião de 45,8 por cento que diz que irá ser pior e de 19,7 por cento que considera se manterá igual.
O mesmo pessimismo reina entre a maioria dos 813 entrevistados, quando é questionada sobre a sua situação económica pessoal. Para 43,4 por cento a situação irá agravar-se, enquanto 30,5 por cento diz que vai ficar na mesma. Apenas 18,9 por cento acredita em melhores dias.
Se tivermos em conta que, segundo este mesmo estudo, um em cada três portugueses tem dívidas ao banco ou algum crédito bancário e que setenta por cento contraiu estas dívidas para comprar casa e 22,6 por cento para adquirir carro; que a taxa de desemprego que tem vindo a aumentar pode agravar-se, ainda mais, com a pretendida reforma da administração pública proposta pelo governo e que o custo de vida não pára de subir, o cenário que se nos depara para o futuro próximo não é, deveras, nada animador.
Mas mais grave do que este pessimismo que nos domina é a descrença quase generalizada na nossa capacidade para sair da crise. Há como que um fatalismo histórico que nos condiciona o futuro e contra o qual, apesar da esperança renascida com o 25 de Abril há 32 anos, temos esbarrado, muito também, pela inépcia dos sucessivos governos que, independentemente da respectiva cor política, têm estado ao leme do país.
Para quem, como nós, tem a Espanha aqui ao lado, torna-se ainda mais difícil aceitar esta "apagada e vil tristeza" em que estamos mergulhados. Sobretudo, quando os nossos dois países conheceram duas longas ditaduras e ingressaram, depois, ao mesmo tempo, na Comunidade Europeia, iniciando, quase em simultâneo, o processo de construção de sociedades livres e democráticas.
Desculpem-nos a simplicidade da análise, mas considerando que, lá como cá, os partidos que se têm alternado no poder comungam os mesmos ideários, a diferença de performances só pode estar na diferente capacidade governativa de uns e outros.
Com os preços de muitos bens essenciais muito mais baratos do que os nossos e uma dinâmica empresarial muito mais arrojada, de que é exemplo o extraordinário crescimento turístico dos municípios de Ayamonte, Isla Cristina, Lepe e Cartaia, as vantagens de "nuestros hermanos" tenderão, no futuro, a ser cada vez maiores.
Não é por acaso que enquanto as nossas estatísticas apontam para um aumento do desemprego a Andaluzia regista um acentuado crescimento do emprego.
Quando se está na eminência de aprovar o Protal e se estuda o plano de investimentos para o Algarve no âmbito do próximo quadro comunitário de apoio, muito mais restritivo em termos de verbas disponibilizadas para a nossa região, convém ter em conta, pelo menos, esta realidade e a que nos está mais próxima.
NOTA: Os comentários de Fernando Reis são emitidos todas as quartas-feiras, às 9 horas, com repetição às 15 e às 21 horas.