quarta-feira, abril 05, 2006

Então porque não falarmos de turismo?

por Sónia Margarida Tomás (especialista em turismo e directora-executiva da Associação Sotavento Algarvio)

O Verão está a chegar e com ele milhares de turistas. Então porque não falarmos de turismo?

Todos sabemos que o turismo representa uma fonte de rendimento para o país e para as diferentes regiões turísticas, muitas delas já com centenas de experiência nesta área.

Mas é claro que num pais que vive de e para o turismo existem assimetrias que se acentuam de região para região e de zona para zona e, no caso do Algarve, esta assimetria é bem visível entre Barlavento e Sotavento.

É um facto que o conjunto dos seis concelhos mais a este do Algarve possui características próprias e bastante diferentes do resto da região e que muitas se devem, naturalmente, a um atraso considerável em termos de desenvolvimento turístico.

E, se por um lado este atraso penalizou esta zona em termos de receitas e recursos para os municípios, por outro lado beneficiou-a no sentido de lhe permitir desenvolver uma actividade turística equilibrada e de qualidade, evitando erros cometidos noutras zonas do Algarve.

Mas temos vindo a assistir a uma evolução da zona em termos de infra-estruturas turísticas de qualidade.

Consequentemente, assistimos a uma evolução dos padrões turísticos, nomeadamente ao nível dos segmentos de turistas que nos visitam e que procuram níveis de qualidade cada vez mais elevados.

Continuamos é a não assistir à evolução de um conjunto de necessidades que, de outra forma, limitam o desenvolvimento de uma cultura turística de qualidade na zona do Sotavento.

Refiro-me às más condições em que se encontram as principais vias de acesso, à deficiente sinalética e à abundante sinalética pirata, ao lixo nas bermas de estradas nacionais e vias rápidas e a outros tantos pormenores que vão ficando incólumes aos olhos de todos e, assim, vão comprometendo o crescimento da procura turística por esta zona.

Isto para não falar, por exemplo, na falta de qualificação profissional do serviço prestado nos estabelecimentos hoteleiros de restauração e afins durante os meses de maior afluência de turistas.

Continua-se a apostar em contratação de mão-de-obra barata para remediar os meses de Verão. Falta de formação e mau serviço são muitas das criticas e causas apontadas para um não regresso a este destino.

E o que dizer da quantidade de alojamento paralelo que vai surgindo em urbanizações e condomínios e que vai aumentando os cerca de 22 mil e 800 fogos de uso sazonal ou secundário que existem hoje no Sotavento?

Não basta apenas desenvolver uma promoção agressiva junto dos mercados emergentes e prioritários. É fundamental que as entidades e a própria sociedade despertem para estas questões que têm um grande peso no factor de escolha de um destino de férias e que podem comprometer o processo de fidelização do actual turista que nos visita.

Os destinos estão cada vez mais competitivos e é urgente requalificar o nosso produto se nos queremos assumir definitivamente com um novo destino turístico!

NOTA: Os comentários de Sónia Margarida Tomás são emitidos todas as quartas-feiras, às 11 horas, com repetição às 17 e às 23 horas.