Turismo, economia e competitividade
por Fernando Reis (professor e director do Jornal do Algarve)
Em termos económicos, o diagnóstico da situação no Algarve, desde há muito que está feito. Especialistas e não especialistas, até mesmo o cidadão comum minimamente atento à realidade do quotidiano, sabem que a economia do Algarve é dominada pelo turismo e actividades complementares.
Mais, ainda, depois da morte da indústria conserveira, da agonia das pescas e da agricultura, e da crise do comércio tradicional. Actualmente, cerca de dois terços da população activa da região está empregada em serviços ligados ao sector do turismo, correspondendo só os hotéis e empreendimentos turísticos classificados a mais de 110 mil camas.
Em quatro décadas o Algarve transformou-se na maior região turística portuguesa, sendo responsável por 60 por cento do total do PIB gerado pelo turismo a nível nacional. Sendo importante, em termos de riqueza gerada e emprego criado, esta monodependência do turismo, que teve os seus custos em termos de um certo desordenamento do litoral e da especulação imobiliária, ajudou a liquidar sectores importantes ao nível das pescas, da agricultura e de algumas indústrias tradicionais.
E mesmo em termos de emprego, os postos de trabalho criados pelo turismo têm vindo a ser largamente ultrapassados pelo crescente desemprego e precariedade laboral.
Actualmente, temos mais de 37 mil trabalhadores precários na região - mais de 24 mil com menos de 35 anos e 9 mil com menos de 25 anos - e se tivermos em conta que continua a existir um grande déficit ao nível da inovação empresarial e da formação profissional, então o quadro torna-se, ainda, mais negro.
E o problema é que não estamos às cegas quanto ao rumo a seguir. Até sabemos que é preciso apostar num maior dinamismo, competitividade empresarial e inovação tecnológica e numa compatibilização do pequeno comércio tradicional com as grandes superfícies.
Mas os propósitos chocam com uma realidade bem diferente, em que persistem profundas assimetrias e uma crescente desertificação do interior. E como será o futuro, se não formos capazes de diversificar o investimento nem de compatibilizar o pequeno comércio tradicional com as grandes superfícies? Só para o Algarve estão aprovadas mais 22.
E como será o futuro se não agarrarmos bem esta que será a nossa última oportunidade enquanto região desfavorecida da Europa comunitária, porque depois de 2012 passaremos a integrar o pelotão dos ricos, continuando pobres?
Numa coisa temos que convir, com uma taxa de IVA de 21 por cento e uma carga fiscal ainda bastante pesada para a generalidade das empresas - particularmente penosa para as pequenas e médias - e uma crescente instabilidade social, o aumento da competitividade, indispensável num quadro de uma economia cada vez mais global, continuará a ser uma miragem.
NOTA: Os comentários de Fernando Reis são emitidos todas as quartas-feiras, às 9 horas, com repetição às 15 e às 21 horas.
Em termos económicos, o diagnóstico da situação no Algarve, desde há muito que está feito. Especialistas e não especialistas, até mesmo o cidadão comum minimamente atento à realidade do quotidiano, sabem que a economia do Algarve é dominada pelo turismo e actividades complementares.
Mais, ainda, depois da morte da indústria conserveira, da agonia das pescas e da agricultura, e da crise do comércio tradicional. Actualmente, cerca de dois terços da população activa da região está empregada em serviços ligados ao sector do turismo, correspondendo só os hotéis e empreendimentos turísticos classificados a mais de 110 mil camas.
Em quatro décadas o Algarve transformou-se na maior região turística portuguesa, sendo responsável por 60 por cento do total do PIB gerado pelo turismo a nível nacional. Sendo importante, em termos de riqueza gerada e emprego criado, esta monodependência do turismo, que teve os seus custos em termos de um certo desordenamento do litoral e da especulação imobiliária, ajudou a liquidar sectores importantes ao nível das pescas, da agricultura e de algumas indústrias tradicionais.
E mesmo em termos de emprego, os postos de trabalho criados pelo turismo têm vindo a ser largamente ultrapassados pelo crescente desemprego e precariedade laboral.
Actualmente, temos mais de 37 mil trabalhadores precários na região - mais de 24 mil com menos de 35 anos e 9 mil com menos de 25 anos - e se tivermos em conta que continua a existir um grande déficit ao nível da inovação empresarial e da formação profissional, então o quadro torna-se, ainda, mais negro.
E o problema é que não estamos às cegas quanto ao rumo a seguir. Até sabemos que é preciso apostar num maior dinamismo, competitividade empresarial e inovação tecnológica e numa compatibilização do pequeno comércio tradicional com as grandes superfícies.
Mas os propósitos chocam com uma realidade bem diferente, em que persistem profundas assimetrias e uma crescente desertificação do interior. E como será o futuro, se não formos capazes de diversificar o investimento nem de compatibilizar o pequeno comércio tradicional com as grandes superfícies? Só para o Algarve estão aprovadas mais 22.
E como será o futuro se não agarrarmos bem esta que será a nossa última oportunidade enquanto região desfavorecida da Europa comunitária, porque depois de 2012 passaremos a integrar o pelotão dos ricos, continuando pobres?
Numa coisa temos que convir, com uma taxa de IVA de 21 por cento e uma carga fiscal ainda bastante pesada para a generalidade das empresas - particularmente penosa para as pequenas e médias - e uma crescente instabilidade social, o aumento da competitividade, indispensável num quadro de uma economia cada vez mais global, continuará a ser uma miragem.
NOTA: Os comentários de Fernando Reis são emitidos todas as quartas-feiras, às 9 horas, com repetição às 15 e às 21 horas.