O 25 DE ABRIL
por Carlos Lopes (advogado, benfiquista e animador cultural)
Tinha pensado retomar hoje o tema do livro, mas o 25 de Abril interpôs-se e creio que não seria mau tentar dar uma perspectiva diferente sobre tal data e o seu significado.
25 de Abril de 74, dia da Liberdade, dia em que acabou a ditadura em Portugal. Dia de alegria para muitos, dia de tristeza para alguns. Mas, passados trinta e dois anos sobre a data, como devemos encarar este dia, ou que significado terá?
Permitam que diga duas coisas que me parecem óbvias.
Primeira coisa: o 25 de Abril foi um golpe de Estado que deu errado. A ideia é a seguinte: os militares andavam em reivindicações corporativas
(leia-se o livro do Otelo),
o golpe
(como todos os golpes, tinha vários participantes com motivações diferentes)
correu mal. É que o povo veio para a rua e transformou aquilo numa revolução. A tese não é minha. Quem a defende é um homem de Abril, o Coronel Aventino Teixeira. E tem alguma lógica. Basta ver as primeiras declarações do General Spínola e as caronas de alguns conselheiros da Revolução. São de meter medo.
E ninguém pensava em acabar com a guerra
(leia-se o livro Portugal e o Futuro de Spínola).
Mas a saída para a rua da população trocou as voltas aos que queriam um ajuste de contas inter muros. O pessoal não deixou e foi o pandemónio que se sabe. Até ao 25 de Novembro de 75 houve tempo para todas as experiências e todas as loucuras. Houve esperança, garra, felicidade. Os partidos foram ultrapassados na imaginação e originalidade do povo. Houve povo, houve revolução.
Segunda coisa: a Revolução de Abril, como se diz no jargão jurídico, foi um acto inútil. Os que lá estão lá estariam de qualquer forma. Por outro lado, países como o Chile, Argentina, Brasil, Grécia e Espanha saíram de ditaduras, sem qualquer revolução. Porquê então precisávamos nós do 25 de Abril? Penso que para nada. Nada do que foi Abril resta e estes que cá estão até acham um estorvo estas comemorações. Assim, Abril sabe-nos a nota falsa, a coisa alheia. Abril não pertence ao Poder, pertence ao povo que gozou à brava naqueles meses loucos até ao 25 de Novembro. Esse 25 de Abril não se comemora. O povo já não está para isso. Toda a cerimónia do poder é estranha ao 25 de Abril -- o do povo.
Passada a euforia, nem coragem tivemos de mudar o hino, um texto medíocre e uma música incantável e com laivos de plágio. A sugestão de Grândola, como hino, não foi avante e por aqui ficámos. Tristonhos e cinzentões.
O 25 de Abril do povo foi o período de maior felicidade colectiva que vivemos. Morreu. Os que estão no poder não deveriam comemorar nada. Eles são contra o que Abril teve de diferente, inovador e de esperança.
Mas é sempre assim. A canalha manda sempre. A canalha ganhou.
[Hei-de retomar o tema do livro].
NOTA: Os comentários de Carlos Lopes são emitidos todas as segundas-feiras, às 11 horas, com repetição às 17 e às 23 horas.
Tinha pensado retomar hoje o tema do livro, mas o 25 de Abril interpôs-se e creio que não seria mau tentar dar uma perspectiva diferente sobre tal data e o seu significado.
25 de Abril de 74, dia da Liberdade, dia em que acabou a ditadura em Portugal. Dia de alegria para muitos, dia de tristeza para alguns. Mas, passados trinta e dois anos sobre a data, como devemos encarar este dia, ou que significado terá?
Permitam que diga duas coisas que me parecem óbvias.
Primeira coisa: o 25 de Abril foi um golpe de Estado que deu errado. A ideia é a seguinte: os militares andavam em reivindicações corporativas
(leia-se o livro do Otelo),
o golpe
(como todos os golpes, tinha vários participantes com motivações diferentes)
correu mal. É que o povo veio para a rua e transformou aquilo numa revolução. A tese não é minha. Quem a defende é um homem de Abril, o Coronel Aventino Teixeira. E tem alguma lógica. Basta ver as primeiras declarações do General Spínola e as caronas de alguns conselheiros da Revolução. São de meter medo.
E ninguém pensava em acabar com a guerra
(leia-se o livro Portugal e o Futuro de Spínola).
Mas a saída para a rua da população trocou as voltas aos que queriam um ajuste de contas inter muros. O pessoal não deixou e foi o pandemónio que se sabe. Até ao 25 de Novembro de 75 houve tempo para todas as experiências e todas as loucuras. Houve esperança, garra, felicidade. Os partidos foram ultrapassados na imaginação e originalidade do povo. Houve povo, houve revolução.
Segunda coisa: a Revolução de Abril, como se diz no jargão jurídico, foi um acto inútil. Os que lá estão lá estariam de qualquer forma. Por outro lado, países como o Chile, Argentina, Brasil, Grécia e Espanha saíram de ditaduras, sem qualquer revolução. Porquê então precisávamos nós do 25 de Abril? Penso que para nada. Nada do que foi Abril resta e estes que cá estão até acham um estorvo estas comemorações. Assim, Abril sabe-nos a nota falsa, a coisa alheia. Abril não pertence ao Poder, pertence ao povo que gozou à brava naqueles meses loucos até ao 25 de Novembro. Esse 25 de Abril não se comemora. O povo já não está para isso. Toda a cerimónia do poder é estranha ao 25 de Abril -- o do povo.
Passada a euforia, nem coragem tivemos de mudar o hino, um texto medíocre e uma música incantável e com laivos de plágio. A sugestão de Grândola, como hino, não foi avante e por aqui ficámos. Tristonhos e cinzentões.
O 25 de Abril do povo foi o período de maior felicidade colectiva que vivemos. Morreu. Os que estão no poder não deveriam comemorar nada. Eles são contra o que Abril teve de diferente, inovador e de esperança.
Mas é sempre assim. A canalha manda sempre. A canalha ganhou.
[Hei-de retomar o tema do livro].
NOTA: Os comentários de Carlos Lopes são emitidos todas as segundas-feiras, às 11 horas, com repetição às 17 e às 23 horas.
un barazo por la libertad
un abrazo a Portugal
besos y sueños