quarta-feira, novembro 28, 2007

A agonia do pequeno comércio


por Fernando Reis (professor e director do Jornal do Algarve)

Um pouco por todo o Algarve, as pequenas lojas e outros espaços onde ainda se pratica o comércio tradicional vão resistindo, como podem e com a ajuda dos respectivos municípios, perante a proliferação dos grandes espaços comerciais, chamem-se eles, hiper, forum ou centro, numa luta desigual em que o consumidor acaba por cair, inevitavelmente, no engodo do mais barato, não resistindo ao apelo dessas catedrais do consumo, ainda que acabe por comprar, quase sempre, mais do que o que desejaria.

Ao longo de quase duas décadas, desde que foi inaugurado, pela mão da Sonae, o primeiro centro comercial no Algarve, o número de grandes superfícies comerciais cresceu de forma tão rápida, que hoje já são mais de oitenta, transformando o Algarve num autêntico “El Dorado” do grande consumo.

E enquanto o pequeno comércio tenta resistir a esses Golias do consumismo moderno, perspectiva-se um futuro ainda mais negro para o sector do comércio tradicional, com a abertura de mais algumas dezenas de grandes superfícies nos próximos anos. Convém lembrar que os respectivos projectos já estão autorizados. Com um problema acrescido.

No Algarve, a situação é muito mais grave que no resto do país. Enquanto a média nacional de área comercial é de 161 metros quadrados por cada mil habitantes e a europeia de 196, em Portimão e Albufeira é de 2595 e 2455 metros quadrados por mil habitantes, em Lagoa de 625, em Lagos de 540 e em Silves de 335. Se a este quadro, juntarmos o facto de o consumidor algarvio ser frequentador das grandes superfícies de Cartaia, Huelva e Sevilha e, mais recentemente, do Plaza de Ayamonte, prevendo-se aqui, também para breve, a abertura de um Corte Inglês, a situação torna-se, ainda, mais preocupante.

Apesar de haver uma lógica de mercado subjacente a este crescimento das grandes superfícies, que agrada ao próprio consumidor e gera postos de trabalho. O reverso da medalha traduz-se no encerramento das pequenas lojas, com as consequentes falências e despedimentos. Todos os anos fecham as portas mais de 200 estabelecimentos de comércio tradicional, numa torrente, até agora, imparável.

E como já anteriormente escrevemos, a propósito deste drama."Não são, apenas, as falências e o desemprego que estão em causa. É também parte da nossa identidade que se vai perdendo com o fim das tradições, absorvida pelo capital sem rosto das grandes multinacionais.

Será que podemos ansiar por outro destino que não seja o de nos transformarmos – o país - cada vez mais num enorme hipermercado de uma Europa que só nos quer como consumidores dos seus produtos? Porque será que quando se fala na possibilidade de uma regulação racional do número de grandes superfícies, há logo quem argumente que essa deve ser ditada pelo próprio mercado? Regulação, se calhar, só mesmo, quando esses grande mega espaços se comerem uns aos outros e o país estiver de "tanga".

NOTA: Os comentários de Fernando Reis são emitidos todas as quartas-feiras, às 8,30 horas, com repetição às 13 e às 19 horas.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Comércio tradicional tem futuro!

por David Martins, in Barlavento, 21 de Dezembro de 2007 | 14:23

De acordo com a Direcção-Geral da Empresas, existiam, no final de 2006, no Algarve, 8912 estabelecimentos de comércio a retalho, empregando 23997 indivíduos.

Estes dados confirmam que o comércio é um dos sectores estratégicos para a economia regional.

Ao longo dos últimos anos, diversos estudos realizados demonstraram as razões da perda de influência do comércio tradicional.

Sabe-se, por exemplo, que o desenvolvimento urbanístico privilegiou as áreas habitacionais periféricas, provocando a desertificação dos centros históricos; houve uma redução das funções nos centros urbanos, pela deslocalização de serviços e fusão de outros; aumento da mobilidade e de poder de compra dos consumidores, que facilitam e estimulam o acesso a novas ofertas; e, que foram adquiridos novos estilos de vida.

Apesar da realidade descrita, importa evidenciar as vantagens competitivas que o comércio tradicional ainda mantém, designadamente a proximidade, a qualidade dos produtos e serviços e o atendimento personalizado.

Por si só, os factores “preço” e “sortido” não são suficientes para influenciar o consumidor. Imagine-se, por exemplo, um consumidor que necessita adquirir um produto para consumo imediato, cuja despesa não ultrapasse os 10 euros, e tenha que se deslocar alguns quilómetros para visitar o hiper/supermercado mais próximo?

É evidente que os custos associados a essa deslocação (transporte, tempo, etc.), serão dissuasores de tal opção.

Assim, convém aproveitar estas vantagens e competir no mercado. Pensar de forma constante que é inevitável baixar os braços até à falência, é uma atitude errada.

É imperativo reconhecer o diagnóstico, perspectivar novas políticas para corrigir as opções feitas, mas fundamental ter acções para melhorar a oferta, inovar e competir com a concorrência.

No passado mês de Outubro, realizou-se no Governo Civil de Faro uma cerimónia de assinatura dos protocolos no âmbito do MODCOM – Modernização do Comércio. Sobre esta iniciativa, que criará mais 43 postos de trabalho na região, gostaria de fazer dois registos.

Em primeiro lugar, registar que a maioria dos candidatos eram jovens, o que demonstra existir empreendedorismo e determinação.

Em segundo lugar, e para meu descontentamento, registar que o incentivo colocado ao dispor dos empresários na segunda fase deste programa (1,4 milhões de euros) não foi esgotado.

Nesse sentido, é imperativo estimular os empresários a apresentarem mais projectos, mais ideias inovadoras, para que o comércio tradicional se modernize e se torne mais atractivo.

No futuro, o Quadro de Referência Estratégica Nacional 2007-2013 trará novas respostas de apoio para a qualificação das empresas, que urge aproveitar.

Neste âmbito, as associações do sector, que já demonstraram um trabalho de qualidade, têm uma importância estruturante. O discurso do impossível pouco serve para apoiar o sucesso dos comerciantes.

Pelo contrário, deverão apoiá-los sobre as melhores práticas de sucesso e dar-lhes novas oportunidades para se formarem, modificarem comportamentos e potenciar o seu negócio.

Há algo de que todos nos precisamos consciencializar: o comércio vive em função dos consumidores e, como tal, tem que se ajustar às suas exigências e ao seu perfil. É fundamental que os espaços sejam mais do que simples locais de transacções de produto e passem a ser autênticos locais de múltiplas experiências.

O ambiente dentro da loja, a relação com o consumidor e a inovação são elementos estruturantes para o sucesso.

O tempo em que o produtor colocava os produtos no mercado em função dos seus interesses já expirou, sendo que agora está obrigado a perceber os interesses do consumidor e responder-lhe com as melhores ofertas.

Por fim, uma pequena nota para reafirmar aquilo que vários estudos já demonstraram. É mais barato manter um cliente do que obter um novo.

Por essa razão, a modernização, a inovação, o tratamento personalizado e profissional são cada vez mais elementos-chave para o sucesso.

O comércio tradicional tem futuro. Modernizando-se!


*Deputado

1:07 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home