terça-feira, novembro 20, 2007

“PORTUGAL, O ALGARVE E O MAR” E O QUE REALMENTE PRECISAMOS

por José Mateus (consultor de comunicação e autor do blogue CLARO)

Neste congresso do Algarve falou-se de muita coisa mas uma, dada a circunstância, tem particular relevo – a questão do mar. Gostei de ver o meu amigo João Guerreiro explicar detalhadamente como era o mar para o Algarve – antes de chegar este império da praia e do trabalhar para o bronze – e como era decisiva e estratégica a importância do mar para o Algarve. E como temos agora que re-descobrir isso…

Outro orador do painel, Adriano Moreira, explicou como «Portugal pode perder o controlo da ZEE se não souber exercer os seus direitos». Ou seja, se não tiver os meios e instrumentos para se impor…

“Não há direitos sem as necessárias capacidades efectivas de os exercer, e há sinais de que isso pode acontecer na Zona Económica Exclusiva». Adriano Moreira recordou, a propósito, o episódio do Mapa Cor-de-Rosa no século XIX: «nessa altura as potências europeias retiraram-nos territórios africanos que não controlávamos, nem tínhamos possibilidade de controlar. Parece que o mesmo poderá acontecer em relação aos Oceanos, se Portugal não for capaz de exercer de uma forma efectiva o controlo da imensa área que nos está entregue».

O velho ministro das colónias de Salazar, na sua velha linguagem muito católica e romana, achou ainda que “vivemos na teologia do mercado” e que nos esquecemos que “não há países que sobrevivam sem conceito estratégico, e Portugal deixou de o ter desde 1974”, sendo muito cáustico em relação à história recente portuguesa. Frisou que a opção da continentalidade versus maritimidade pode ser fatal se Portugal não souber tirar lições da sua história e citou Lusíadas para mostrar como «os Descobrimentos portugueses foram estrategicamente pensados, executados, e são um modelo de conceito estratégico nacional, curiosamente, já na altura compatível com a Unidade Europeia».

Adriano Moreira acerta no diagnóstico mas não tem receitas para salvar o doente... Conversa desta não nos leva longe. Não nos leva mesmo a lado nenhum!

E quanto a não haver, desde 74, conceito estratégico, um dos responsáveis disso é precisamente ele, Adriano Moreira, e outros da sua geração. Pelo que fizeram antes do 25 de Abril e pelo que não fizeram depois, nestes últimos trinta e poucos anos… E, como agora se vê, continuam a não ter nada a dizer sobre o que há a fazer! Explicar assim só “explica” quem não sabe fazer!

Para já há nisto uma evidência: precisamos de uma Marinha que ocupe e defenda o nosso vasto mar e precisamos de saber construí-la, ganhar com isso tecnologia e postos de trabalho, aumentar as exportações e aumentar o nosso poder negocial com os aliados e impor respeito a gulosos e outros mal intencionados. E saber construir à volta desse projecto um cluster do mar, uma das poucas coisas que podemos fazer com vantagens económicas em tempos de economia global e de a Europa precisa… Ou seja, como Adriano Moreira não disse: precisamos duplamente de uma Marinha que nos defenda o mar e seja base de desenvolvimento económico sustentado.

João Guerreiro bem que pode criar um grupo pluridisciplinar – com biólogos, geo-economistas, geo-políticos e engenheiros e etc. -para fazer os trabalhos de “Inteligência Económica” necessários ao desenvolvimento do cluster do mar. Pode até começar por convidar Félix Ribeiro – que é talvez quem melhor conhece este problema – ou o algarvio André Magrinho para uns seminários sobre o tema na Universidade do Algarve.

Para sairmos da lamechice e das queixas e começarmos a fazer alguma coisa do que precisamos… E precisamos urgentemente!

NOTA: Os comentários de José Mateus são emitidos todas as terças-feiras, às 9,30 horas, com repetição às 15 e às 21 horas.