quarta-feira, junho 27, 2007

O problema da droga


por Fernando Reis (professor e director do Jornal do Algarve)

O tráfico e consumo de droga em Portugal, principalmente de cocaína, está a aumentar muito rapidamente, apesar do número cada vez maior de apreensões que se tem registado nos últimos meses. Este é um panorama a que o Algarve, infelizmente, também não escapa, acompanhando a tendência nacional.

Apesar das campanhas de sensibilização em torno do problema e de programas como o da "Escola Segura", o consumo de haxixe começa, perigosamente, a vulgarizar-se entre os jovens, como se aquela fosse uma droga inofensiva, enquanto a cocaína está a entrar, em força, entre os jovens adultos, colocando-se como a segunda droga mais consumida no Algarve e no país, e relegando a heroína para o terceiro lugar. Se a isto, juntarmos o crescente hábito dos jovens pelo consumo de bebidas alcoólicas, ficamos na presença de um cocktail altamente preocupante, com consequências graves, sobretudo a nível sanitário, social e económico.

Como inverter esta tendência é o maior desafio que se nos coloca, a todos; pais, educadores, profissionais de saúde, forças policiais e governo, numa altura – 26 de Junho – em que se comemorou o Dia Internacional Contra o Abuso e o Tráfico Ilícito de Droga e Portugal se prepara para levar o tema a debate durante a sua presidência da União Europeia.

Se relativamente ao tráfico, importa estar cada vez mais atento ao papel da África Ocidental, nomeadamente a Guiné Bissau, Cabo Verde e Senegal, que funcionam como plataforma de entrada de cocaína em Portugal e Espanha, no que respeita ao problema da toxicodependência preocupa-nos o facto de alguns indicadores revelarem aspectos de algum atraso do nosso país relativamente aos países europeus mais desenvolvidos. Ao mesmo tempo que apresentamos traços de avançada modernidade e desenvolvimento económico, social e cultural, que aproximam a sociedade portuguesa às mais desenvolvidas da Europa, encontramos, também, situações de atraso que nos fragilizam quando se analisam indicadores como os níveis de escolarização e literacia, as taxas de pobreza, abandono e insucesso escolar ou o uso das TIC - Novas Tecnologias da Informação e Comunicação. E a questão das drogas e das toxicodependências encaixa-se, perfeitamente, neste quadro estrutural da sociedade portuguesa.

Se se insistir em combater o fenómeno da toxicodependência com medidas políticas descontinuadas e desintegradas, será difícil mais eficácia na estratégia nacional de combate delineada para 2005-2012, E este é um drama a que ninguém pode ficar indiferente.

NOTA: Os comentários de Fernando Reis são emitidos todas as quartas-feiras, às 9 horas, com repetição às 15 e às 21 horas.