quarta-feira, junho 20, 2007

O Baixo Guadiana: património e turismo


por Fernando Reis (professor e director do Jornal do Algarve)

Esforços como os que têm vindo a ser realizados pelos municípios de Alcoutim e Castro Marim, através de um conjunto de medidas susceptíveis de atrair investimento e combater a desertificação, merecem o nosso aplauso. Tanto mais que são feitas quase sem grandes ajudas do poder central e, frequentemente, mesmo contra o velho centralismo do Estado. Espoliados financeiramente, em termos de Orçamento de Estado, com uma fatia cada vez menor de dinheiros públicos provenientes da administração central e espartilhados na sua acção por constrangimentos de um certo fundamentalismo ambiental e de uma burocracia administrativa que teima em persistir, apesar das repetidas promessas de quem governa, em tornar mais céleres esses procedimentos – agora anuncia-se um máximo de 120 dias para resolver licenciamentos que se arrastam por dezenas de anos – Castro Marim e Alcoutim vão fazendo pela vida, graças aos esforço dos seus autarcas, o estoicismo das suas gentes e o interesse dos que ainda acreditam que vale a pena investir no Baixo Guadiana. Unidos pelo rio e pela história, apostam na sua autenticidade como uma mais-valia para um desenvolvimento assente numa oferta turística diferente, apesar da singularidade dos caminhos que cada um tem que percorrer.

Enquanto que Castro Marim, com uma faixa litoral de praias de excelência, um ambiente protegido e um conjunto de projectos de luxo na área do golfe, leva, obviamente, vantagem em termos de investimento e, consequentemente, de desenvolvimento futuro correndo mesmo o risco, como alguém, já vaticinou de se vir a tornar, nos próximos vinte anos, num dos concelhos mais ricos do Algarve, o desenvolvimento de Alcoutim terá que passar, inevitavelmente, por uma ponte para a outra margem. Um concelho pobre, despovoado e ultraperiférico não pode combater o isolamento sem uma ligação à Andaluzia sobretudo por aquilo que esta região significa em termos de dinâmica económica.

Relativamente a Castro Marim, independentemente das diferenças ideológicas e de opinião, normais em democracia, dificilmente alguém deixará de aplaudir a estratégia de desenvolvimento delineada pelo actual executivo. Numa década, Castro Marim agarrou-se ao seu passado de grandeza para potenciar o futuro. Depois de os Dias Medievais a terem colocado, a ela e ao seu castelo, na rota dos grandes eventos nacionais e internacionais, a recuperação do Forte de São Sebastião e do Revelim de Santo António, reabilitam-na enquanto antiga praça forte do Reino, colocando, a história, o património e a cultura, ao serviço do turismo.

Poucos concelhos se podem gabar de misturar num pacote único, uma oferta turística tão diversificada: praia, golfe, rio, ambiente protegido, monumentos, artesanato, história e tradições. O futuro constrói-se, cada vez mais, preservando a memória do passado.

NOTA: Os comentários de Fernando Reis são emitidos todas as quartas-feiras, às 9 horas, com repetição às 15 e às 21 horas.