quarta-feira, maio 03, 2006

Libertem as águas

por José Manuel do Carmo (professor da Universidade do Algarve e membro da Mesa Nacional do Bloco de Esquerda)

Foi noticiado que finalmente a União Europeia retirou os últimos obstáculos ao financiamento da construção da Barragem de Odelouca.

Importa que se diga que o projecto de execução tinha importantes deficiências técnicas no que respeita a critérios ambientais, o que levou Bruxelas à suspensão da obra até que o estado português finalmente, mais de dois anos depois, conseguiu entender que estar na Europa não se compadece com a falta de competência técnica em matéria ambiental.

A água foi desde sempre uma limitação estratégica nesta região, todavia é possível conceber uma política de desenvolvimento económico que respeite esta necessidade de modo equilibrado e sustentável.

É sem dúvida necessário aumentar as captações de água à superfície, todavia os responsáveis políticos nada têm feito para o desenvolvimento de um plano estratégico relativamente à água. A falta de rigor técnico que levou a União Europeia a suspender o financiamento é exemplar! Aliás, já a barragem do Funcho custou o dobro do previsto por erros técnicos e a do Arade perde água!

Desde há duas décadas que investigadores vêm reclamando o aproveitamento da pluviosidade através de pequenas barragens nas principais bacias hidrográficas. Um plano deste tipo foi já em tempos encomendado, nomeadamente para as zonas de Tavira e Monchique, tendo no entanto ficado na gaveta. Os estudos mostram que esta solução poderá garantir a duplicação do volume de água retida.

Uma política para a reutilização das águas, poderia garantir uma percentagem elevada da água necessária para regas urbanas e dos golfes.

Todavia o problema não se resolve apenas pelo aumento do armazenamento; é necessário uma política de desenvolvimento adequada. Um turismo ultrapassado, incentivo à monocultura do golfe sem as qualificações técnicas desejáveis, nomeadamente a auto-suficiência em matéria de abastecimento de água; investimento numa agricultura demasiado dependente da água que levou ao longo de anos à abertura de mais de 8000 furos ilegais; desperdício de águas pluviais em zonas urbanas; políticas municipais pouco racionais com desperdício em roturas e jardins cerca de 40% da água, entre outros aspectos, levam a que este problema seja recorrente.

A situação é grave, mas existe o conhecimento para a resolver.

NOTA: Os comentários de José Manuel do Carmo são emitidos todas as quartas-feiras, às 7 horas, com repetição às 13 e às 19 horas.