Três referências
por José Mateus (consultor de comunicação e autor do blogue CLARO)
Olá… Viva… Como vamos por cá…?
Para perceber melhor em que ponto estamos, permitam-me que cite aqui hoje três dos mais lúcidos portugueses vivos…
Primeiro, o meu amigo António Barreto.
Lembro-me bem de há uns anos atrás ter tido um pequeno debate com o António Barreto sobre o esgotamento do “parlamentarismo” à portuguesa… O António achava então que apesar de tudo ainda havia alguma coisa a esperar dali e contrariava a minha proposta de reforço da componente presidencial do regime com alteração do modo de eleição dos deputados e reforço da vocação legislativa e fiscalizadora do Parlamento… Ou seja, acabar com o actual presidencialismo de primeiro-ministro que anula o Parlamento e transforma os deputados em pobres diabos… O presidente da república assumirá o seu papel, deixando de ser um mero corta-fitas e o Parlamento, os senhores deputados eleitos por círculos uninomimais também terão de assumir o seu, enquanto o governo… governa.
Bom… hoje o meu amigo António Barreto está mais crítico com este parlamentarismo à portuguesa que eu alguma vez estive… Diz ele:
«O Parlamento português não descansa. Quando pode fazer triste figura, faz. Quando pode evitar um disparate, não evita. Quando não há nada que fazer, tem uma invenção, em geral uma asneira. Depois da cena das faltas, logo se seguiu uma indecorosa discussão a propósito de uma votação. Uns deputados não estavam presentes, outros não sabiam votar. As máquinas estavam avariadas e as contas não batiam certo. Foram duas ou três horas de polémicas vivas, do tipo das que já quase não ser fazem no Mercado do Bolhão. “
Por seu lado, Vasco Pulido Valente explica aos portugueses que não há milagres:
«Não se pode pedir a Sócrates que de repente corrija a disformidade e o abuso em que se tornou o Estado português. Não se pode pedir a Sócrates que anule num ano o perverso trabalho de trinta. Nem se pode pedir que programas como o PRACE e o Simplex, que têm semanas, produzam imediatamente um efeito visível. Mas com certeza que se pode pedir ao governo consequência política. Quando há um "forte" aumento da despesa corrente primária e, em particular, um aumento da despesa com pessoal, em parte atribuível à contratação de novos funcionários, o primeiro-ministro entenderá que, mesmo com a maior a boa vontade, a confiança não resiste. É assim que se chega ao "pântano" a que chegou Guterres: prometendo cem vezes medidas drásticas, para pouco a pouco acabar na dilação e na paralisia.»
Finalmente, o senhor Presidente da República.
Economista perspicaz, Cavaco Silva percebeu já que a economia portuguesa, mercê das politicas económicas tipo conservador de museu dos últimos 30 anos (as dele incluídas…) só pode produzir, nos próximos tempos desemprego e empobrecimento geral das famílias… Essa é a factura da modernização, sempre adiada, e é uma factura a pagar à cabeça…
Daí que ele proponha o óbvio e venha ao encontro de Sócrates mas simultaneamente instalando-se no seu terreno, o das preocupações sociais, o da luta contra toda a exclusão social que a economia vai produzir nos próximos tempos.
Assim, Cavaco Silva fez do combate à exclusão social o tema central do seu discurso na sessão solene que assinalou no Parlamento os 32 anos do 25 de Abril.
"Não quero fazer um roteiro contra o Governo. Quero fazer um roteiro com o Governo e com as instituições públicas que se empenham e têm feito um bom trabalho no combate à exclusão", salientou Cavaco Silva… Ainda bem !
Parecem estar reunidas condições mínimas para, finalmente, tirarmos Portugal deste pântano em que anda mergulhado e modernizar, finalmente, o Estado, a política e a economia… A ver vamos, que assim dizia o cego! Oxalá…
NOTA: Os comentários de José Mateus são emitidos todas as terças-feiras, às 11 horas, com repetição às 17 e às 23 horas.
Olá… Viva… Como vamos por cá…?
Para perceber melhor em que ponto estamos, permitam-me que cite aqui hoje três dos mais lúcidos portugueses vivos…
Primeiro, o meu amigo António Barreto.
Lembro-me bem de há uns anos atrás ter tido um pequeno debate com o António Barreto sobre o esgotamento do “parlamentarismo” à portuguesa… O António achava então que apesar de tudo ainda havia alguma coisa a esperar dali e contrariava a minha proposta de reforço da componente presidencial do regime com alteração do modo de eleição dos deputados e reforço da vocação legislativa e fiscalizadora do Parlamento… Ou seja, acabar com o actual presidencialismo de primeiro-ministro que anula o Parlamento e transforma os deputados em pobres diabos… O presidente da república assumirá o seu papel, deixando de ser um mero corta-fitas e o Parlamento, os senhores deputados eleitos por círculos uninomimais também terão de assumir o seu, enquanto o governo… governa.
Bom… hoje o meu amigo António Barreto está mais crítico com este parlamentarismo à portuguesa que eu alguma vez estive… Diz ele:
«O Parlamento português não descansa. Quando pode fazer triste figura, faz. Quando pode evitar um disparate, não evita. Quando não há nada que fazer, tem uma invenção, em geral uma asneira. Depois da cena das faltas, logo se seguiu uma indecorosa discussão a propósito de uma votação. Uns deputados não estavam presentes, outros não sabiam votar. As máquinas estavam avariadas e as contas não batiam certo. Foram duas ou três horas de polémicas vivas, do tipo das que já quase não ser fazem no Mercado do Bolhão. “
Por seu lado, Vasco Pulido Valente explica aos portugueses que não há milagres:
«Não se pode pedir a Sócrates que de repente corrija a disformidade e o abuso em que se tornou o Estado português. Não se pode pedir a Sócrates que anule num ano o perverso trabalho de trinta. Nem se pode pedir que programas como o PRACE e o Simplex, que têm semanas, produzam imediatamente um efeito visível. Mas com certeza que se pode pedir ao governo consequência política. Quando há um "forte" aumento da despesa corrente primária e, em particular, um aumento da despesa com pessoal, em parte atribuível à contratação de novos funcionários, o primeiro-ministro entenderá que, mesmo com a maior a boa vontade, a confiança não resiste. É assim que se chega ao "pântano" a que chegou Guterres: prometendo cem vezes medidas drásticas, para pouco a pouco acabar na dilação e na paralisia.»
Finalmente, o senhor Presidente da República.
Economista perspicaz, Cavaco Silva percebeu já que a economia portuguesa, mercê das politicas económicas tipo conservador de museu dos últimos 30 anos (as dele incluídas…) só pode produzir, nos próximos tempos desemprego e empobrecimento geral das famílias… Essa é a factura da modernização, sempre adiada, e é uma factura a pagar à cabeça…
Daí que ele proponha o óbvio e venha ao encontro de Sócrates mas simultaneamente instalando-se no seu terreno, o das preocupações sociais, o da luta contra toda a exclusão social que a economia vai produzir nos próximos tempos.
Assim, Cavaco Silva fez do combate à exclusão social o tema central do seu discurso na sessão solene que assinalou no Parlamento os 32 anos do 25 de Abril.
"Não quero fazer um roteiro contra o Governo. Quero fazer um roteiro com o Governo e com as instituições públicas que se empenham e têm feito um bom trabalho no combate à exclusão", salientou Cavaco Silva… Ainda bem !
Parecem estar reunidas condições mínimas para, finalmente, tirarmos Portugal deste pântano em que anda mergulhado e modernizar, finalmente, o Estado, a política e a economia… A ver vamos, que assim dizia o cego! Oxalá…
NOTA: Os comentários de José Mateus são emitidos todas as terças-feiras, às 11 horas, com repetição às 17 e às 23 horas.
Sr. Cavaco Silva, obrigado por nos recordar estas três referências imprenscindíveis para compreender os tempos que correm.........