Escola e ideologia
por Fernando Reis (professor e director do Jornal do Algarve)
A ministra da Educação veio esta semana a Faro dizer que " o Algarve está na primeira linha do reordenamento da rede escolar ". Nos últimos cinco foram construídas mais salas de aula, novas bibliotecas e refeitórios e, mesmo ao nível do 2.º e 3.º ciclos, algumas escolas conheceram obras de beneficiação.
Contudo, se analisarmos os indicadores da educação, constatamos que o Algarve e Portugal continuam com as mais elevadas taxas de insucesso e de abandono escolar da União Europeia, incluindo-se nesta performance negativa o ensino secundário e universitário.
O facto, bastante meritório, de o Algarve ter levado nove alunos à final do Campeonato Nacional de Língua Portuguesa promovido pelo Expresso, em colaboração, entre outros, com o Jornal do Algarve e um deles ter-se sagrado campeão nacional é a excepção que confirma a regra de que o nosso ensino não está concebido para o sucesso, nem as nossas escolas promovem uma bem sucedida diversidade de oferta educativa, como pode sugerir o " Prémio Nacional de Boas Maneiras " conquistado pela Escola EB 2/3 D. José I de Vila Real de Santo António, no âmbito dos currículos alternativos que, com êxito, tem vindo a ministrar, sobretudo na área de hotelaria e restauração.
Se estes dois factos traduzissem a realidade do país, podia parecer que estávamos no caminho certo no domínio da educação, com uma escola que ao mesmo tempo que responde às necessidades e expectativas dos alunos mais exigentes, é capaz de integrar, também, numa oferta alternativa, os que revelam menor capacidade e motivação.
Infelizmente esta não é, ainda, a escola que temos. A tal "escola para todos" que, embora, respondendo à natural massificação do ensino, fruto do processo de democratização do país e da integração europeia, fosse capaz de compatibilizar currículos regulares e alunos com metas mais elevadas com cursos mais técnicos, apontando para uma saída profissional, valorizando-os e dignificando-os, de igual modo.
Uma escola com um corpo docente estável, acarinhado e motivado, com equipamento e espaços adequados a actividades extra-lectivas e de complemento curricular, com um estreito envolvimento dos pais e encarregados de educação no quotidiano escolar, com uma ligação ao meio onde está inserida e preparada para apoiar alunos com carências e problemas.
José Sócrates disse esta semana no Parlamento que, em matéria de educação, o país precisa de "menos ideologia" e "mais resultados", mas será possível reflectir sobre o tema sem pensar que a Escola reflecte a sociedade, nas suas contradições, diferenças sociais, exclusão e violência, e que estes são problemas de natureza ideológica que exigem, também, respostas no plano das ideologias.
Será que podemos pensar numa escola onde todos os alunos tenham as mesmas oportunidades para o sucesso quando temos, segundo dados da Comissão Europeia, dois milhões de pessoas a viver abaixo do limiar da pobreza e muitos alunos só têm uma única refeição quente, que é o almoço na cantina da escola? Será que podemos aspirar a uma escola de sucesso com tão gritante desigualdade social? Os resultados estão à vista e atiram-nos para a cauda da Europa.
NOTA: Os comentários de Fernando Reis são emitidos todas as quartas-feiras, às 9 horas, com repetição às 15 e às 21 horas.
A ministra da Educação veio esta semana a Faro dizer que " o Algarve está na primeira linha do reordenamento da rede escolar ". Nos últimos cinco foram construídas mais salas de aula, novas bibliotecas e refeitórios e, mesmo ao nível do 2.º e 3.º ciclos, algumas escolas conheceram obras de beneficiação.
Contudo, se analisarmos os indicadores da educação, constatamos que o Algarve e Portugal continuam com as mais elevadas taxas de insucesso e de abandono escolar da União Europeia, incluindo-se nesta performance negativa o ensino secundário e universitário.
O facto, bastante meritório, de o Algarve ter levado nove alunos à final do Campeonato Nacional de Língua Portuguesa promovido pelo Expresso, em colaboração, entre outros, com o Jornal do Algarve e um deles ter-se sagrado campeão nacional é a excepção que confirma a regra de que o nosso ensino não está concebido para o sucesso, nem as nossas escolas promovem uma bem sucedida diversidade de oferta educativa, como pode sugerir o " Prémio Nacional de Boas Maneiras " conquistado pela Escola EB 2/3 D. José I de Vila Real de Santo António, no âmbito dos currículos alternativos que, com êxito, tem vindo a ministrar, sobretudo na área de hotelaria e restauração.
Se estes dois factos traduzissem a realidade do país, podia parecer que estávamos no caminho certo no domínio da educação, com uma escola que ao mesmo tempo que responde às necessidades e expectativas dos alunos mais exigentes, é capaz de integrar, também, numa oferta alternativa, os que revelam menor capacidade e motivação.
Infelizmente esta não é, ainda, a escola que temos. A tal "escola para todos" que, embora, respondendo à natural massificação do ensino, fruto do processo de democratização do país e da integração europeia, fosse capaz de compatibilizar currículos regulares e alunos com metas mais elevadas com cursos mais técnicos, apontando para uma saída profissional, valorizando-os e dignificando-os, de igual modo.
Uma escola com um corpo docente estável, acarinhado e motivado, com equipamento e espaços adequados a actividades extra-lectivas e de complemento curricular, com um estreito envolvimento dos pais e encarregados de educação no quotidiano escolar, com uma ligação ao meio onde está inserida e preparada para apoiar alunos com carências e problemas.
José Sócrates disse esta semana no Parlamento que, em matéria de educação, o país precisa de "menos ideologia" e "mais resultados", mas será possível reflectir sobre o tema sem pensar que a Escola reflecte a sociedade, nas suas contradições, diferenças sociais, exclusão e violência, e que estes são problemas de natureza ideológica que exigem, também, respostas no plano das ideologias.
Será que podemos pensar numa escola onde todos os alunos tenham as mesmas oportunidades para o sucesso quando temos, segundo dados da Comissão Europeia, dois milhões de pessoas a viver abaixo do limiar da pobreza e muitos alunos só têm uma única refeição quente, que é o almoço na cantina da escola? Será que podemos aspirar a uma escola de sucesso com tão gritante desigualdade social? Os resultados estão à vista e atiram-nos para a cauda da Europa.
NOTA: Os comentários de Fernando Reis são emitidos todas as quartas-feiras, às 9 horas, com repetição às 15 e às 21 horas.