sexta-feira, outubro 26, 2007

Eutanásia


por Albino Martins (director do Centro Paroquial de Cachopo)

Segundo um projecto de investigação desenvolvido pela Faculdade de Medicina do Porto, cerca de 50% dos idosos institucionalizados, ainda que não sofrendo de doenças crónicas ou terminais, admite a morte assistida e a sua legalização.

Os dados preliminares do inquérito afirma faltar perceber se isso reflecte uma vontade firme ou se é resultado da solidão e abandono que os leva a pensar na morte.

Num outro estudo anterior, cerca de 40% de médicos oncologistas, estariam disponíveis para a prática da eutanásia.

Quanto a este debate que estou certo ocorrerá na próxima legislatura, receio que não seja assente na brutal contradição que diz que a vida é inviolável (veja-se a Constituição Portuguesa) e o eliminar de uma vida porque esta se tornou incómoda.

A resposta a dar ao sofrimento no final da vida é uma atenção cheia de amor, o acompanhamento através da medicina paliativa e não uma ajuda para morrer.

Tomada como simples execução da morte de alguém para facilidade do próprio, ou de outros, a eutanásia choca-se em cheio com o Mandamento: “não matar”. Isto, mesmo que ela corresponda ao desejo da pessoa em questão.

Quanto às outras pessoas, o problema é bastante mais profundo. Vistas as situações com sinceridade, ressalta que, no fundo, o grande motivo é a libertação dos incómodos que elas causam. E deve reconhecer-se que se trata de egocentrismo feroz, tão típico do nosso tempo.

Devido aos actuais meios do prolongamento de vida, compreende-se que não faz sentido as terapias que consistem em manter as pessoas vivas, custe o que custar. Compreende-se igualmente que, não havendo razões de esperança de melhoras, será caso de optar pela chamada prestação de cuidados normais: alimentação, hidratação, suficiente bem-estar.

A perspectiva de se eliminarem as pessoas idosas ou muito doentes, causa bastante mal-estar e angústia.

As pessoas, no fundo, gostam de viver e têm direito à vida.

NOTA: Os comentários de Albino Martins são emitidos todas as sextas-feiras, às 9,30 horas, com repetição às 15 e às 21 horas.