quarta-feira, outubro 17, 2007

Os números da pobreza


por Fernando Reis (professor e director do Jornal do Algarve)

Portugal tinha em 2005, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), cerca de dois milhões de residentes em situação de risco de pobreza, o equivalente a 19 por cento da população.

Ainda assim, apesar da vergonha do número, resta-nos a consolação de termos registado menos um por cento que em 2004. Os idosos com mais de 65 anos e os menores de 16 anos registavam as taxas de pobreza relativa mais elevadas: 28 e 23 por cento, respectivamente. Isto é, enquadram-se no conjunto de habitantes com rendimentos mensais de pouco mais de 360 euros por mês.

"No contexto europeu, apenas somos superados pela Lituânia e a Polónia, com 21 por cento da população em risco, situando-se a média europeia nos 16 por cento". De acordo com os dados do INE, a taxa de risco de pobreza mais elevada era de 42 por cento (idosos vivendo sós e famílias com dois adultos e três ou mais crianças dependentes), sendo "o rendimento dos 20 por cento da população mais rica 6,9 vezes superior ao dos 20 por cento da população com menor rendimento".

Ou seja, uma gritante desigualdade social: apenas sete por cento do rendimento líquido das famílias, para os dois milhões de residentes com menos posses, contra 45 por cento para os dois milhões de residentes com mais riqueza. E não fora os rendimentos de pensões de reforma e sobrevivência e os números seriam bem maiores, colocando em situação de risco de pobreza 82 por cento dos residentes com 65 ou mais anos.

O desemprego continua a estar à cabeça deste flagelo. Dos 19 por cento de residentes em situação de risco de pobreza, doze por cento estava empregado, 29 por cento não tinham qualquer trabalho e 25 por cento apenas obtinham rendimentos da reforma. Para completar este drama social, convém sublinhar que se apenas fossem considerados os rendimentos do trabalho, de capital e transferências privadas, seriam cerca de 4,1 milhões de pessoas em risco de pobreza em 2005, o equivalente a 41 por cento da população residente.

Trinta e três anos depois da Revolução da esperança, mais de duas décadas após a integração europeia e numa altura em que se assinala o Dia Mundial para a Erradicação da Pobreza, é esta a realidade social do país. Mais palavras para quê?

NOTA: Os comentários de Fernando Reis são emitidos todas as quartas-feiras, às 8,30 horas, com repetição às 13 e às 19 horas.