quinta-feira, outubro 11, 2007

Este é o meu grito de revolta!

por Hélder Nunes (jornalista e director do Barlavento)

Não vamos permitir que o Governo, numa atitude meramente fanática, desprovida de sentimentos e de respeito para com as pessoas, feche o Hospital de Dia de Oncologia de Portimão. A pergunta que queremos fazer é muito simples – haverá algum tribunal capaz de julgar um ministro que, pelas suas directrizes, tenha contribuído para a morte de alguns cidadãos?

Porque, se alguém morre por causas alheias ao seu sofrimento, tem que haver um responsável? Ou, como é hábito, infelizmente, não há responsáveis? Tudo é abstracto. Não há rostos.

Tem que haver, de uma vez por todas, a co-responsabilização da tutela respectiva, sob pena de se estar a implantar uma verdadeira república das bananas, em que cada um faz o que quer e não assume as suas responsabilidades.

O Hospital de Dia de Oncologia de Portimão tem serviços de excelência, está humanizado, serve toda a população do Barlavento algarvio. Fechar aquele serviço, por mero capricho ou por simples números matemáticos de uma despesa, é um crime. E os criminosos devem ir a julgamento, ou não?

As pessoas não se podem acomodar, porque um senhor sentado numa cadeira em Lisboa, sem pensar nas pessoas, e sem conhecer a realidade do Algarve, resolve fechar e concentrar a prestação de um serviço em Faro, como se aquela cidade ficasse ao virar da esquina e não fossem dolorosas as deslocações.

Como se tal concentração trouxesse uma melhoria na prestação de cuidados. Ou será que tal visionário já está a magicar passar a pasta para os privados?
A Comissão Permanente de Saúde e Solidariedade da Assembleia Municipal de Portimão, da qual fazem parte políticos de todas as forças partidárias, mostrou-se contra o encerramento do Hospital de Dia de Oncologia.

Com uma moção, aprovada por unanimidade. Mas é pouco, mesmo muito pouco esse documento, que vai parar, numa significativa maioria de casos, ao cesto dos papéis.

Porque quem está ao lado do poder, por conveniência, comodismo, cobardia e para não ser alvo de represálias, ignora simplesmente este grito de revolta. É por isso que não se pode ficar por aqui. É por isso que não podemos pactuar com aqueles que, hoje, querem a morte a sair para a rua.

Fala-se em melhoria de serviços com a utilização do chavão «prestar serviços de excelência». É pura mentira, hipocrisia da mais baixa. É falta de carácter. Não há, nestes casos, um estatuto deontológico que acuse estes senhores de pessoas impuras?

Os políticos, uma esmagadora maioria, dizem o que querem, mentem com todos os dentes que têm, contradizem-se, mas, infelizmente, não há um regulamento para os enviar para julgamento. Achincalham o povo, menosprezam as pessoas como se não fossem iguais, mas não há Tribunais para os julgar.

A falta de sensibilidade e de humanismo de uns senhores que se dizem ministros, que outra coisa não fizeram na vida a não ser viverem à custa do erário público, por conseguinte, dos impostos que cada um de nós paga, servem, tão só, para castigar este povo martirizado.

Nunca trabalharam, não deram no duro para conseguir um bocado de pão. Nunca tiveram um emprego. Foram sempre filhos de um deus maior, que lhes colocou uma mãozinha por baixo. Encostaram-se à política e às tetas da porca.

É impossível compreender, dentro da racionalidade da nossa condição de seres humanos, as atitudes discricionárias impostas por um Governo que não diminuiu o desemprego, antes tem-se assistido ao seu aumento, não foi capaz de reduzir a despesa, antes criou um garrote fiscal, com a carga de impostos e, consequentemente, a subida das receitas, mas sem diminuir as despesas.

Não faz investimentos para controlar o défice. Não tem uma política social. Intitula-se de centro-esquerda para ganhar votos na área social-democrata.

Desvirtuou os seus princípios de um socialismo humanista para ramificar a ideologia centrista, esquecendo as pessoas como princípio fundamental de qualquer Nação.

As pessoas, que em tempos estiveram em primeiro lugar, hoje, estão na cauda das preocupações. Não há política social. Há medidas anti-sociais. Há repressão. Há medo. Há gente a morrer nas valetas. Há mais barracas. Há mais pessoas a pôr fim à vida. Há menos pão. Há mais pobres.

Mas que importa que haja gente a morar debaixo da ponte, se todos eles passam por cima dela, esquecendo que nas entranhas há gemidos de dor? Eles põema música dos rádios mais alta para não ouvirem os ruídos da realidade.

Povo da Nação algarvia, não vamos permitir que se feche o Hospital de Dia de Oncologia de Portimão. Vamos mostrar a nossa revolta se for necessário! Já chega de brincar à governança! Este é o meu grito de revolta!


NOTA: Os comentários de Hélder Nunes são emitidos todas as quintas-feiras, às 8,30 horas, com repetição às 13 e às 19 horas.