...continuaremos a ser livres no pensamento
por Hélder Nunes (jornalista e director do Barlavento)
O deputado João Cravinho, eleito deputado pelo Partido Socialista na lista apresentado no círculo eleitoral do Algarve, vai abandonar o Parlamento, como anteriormente já o tinha feito Miguel Freitas, que foi convidado a ocupar um lugar em Bruxelas.
Volta a colocar-se a velha questão – o eleitorado não votou em pessoas, colocou a cruz na sigla de uma força política, que usa como muito bem entende os chamados representantes do povo, o que é uma pura hipocrisia, porque as eleitos são meros «funcionários» do partido que os elegeu e seguem as regras impostas pela corporação.
Gostaríamos de saber, por exemplo, quantos deputados pelo Algarve subscreveram as propostas de lei de João Cravinho contra a corrupção e que, desde Junho de 2006, andam a «bailar» no seio do grupo parlamentar socialista, em negociações do põe e tira, isto não convém, etc...?
É claro que Miguel Freitas foi para Bruxelas e não deu nenhuma justificação ao povo algarvio, como João Cravinho vai para Londres e não expressa uma única palavra para com os seus eleitores.
Aliás, numa encenação politiqueira, costumam os deputados afirmar, num tom de voz cerimonioso, que «são deputados da Nação, em primeiro lugar», justificando, assim, o seu alheamento para com as pessoas que directamente os elegeram.
Porque, nesta questão de eleitos e eleitores, há que repensar o sistema. Continuam a existir portugueses com privilégios e outros sem direito a alcançar quaisquer patamares do poder.
Com algum esforço, ao fim de quase 30 anos, foi introduzido na lei eleitoral a possibilidade de listas independentes se candidatarem às Câmaras, ao chamado poder executivo, mas, quanto à hipótese de se criarem os chamados Círculos Uninominais, criando condições para que um cidadão com os seus direitos reconhecidos se possa candidatar independentemente dos partidos, isto é, por sua conta e risco, nunca se tornará realidade.
É que o corporativismo das forças partidárias, a exemplo do que havia no tempo da outra senhora, quer continuar a controlar e manipular a seu belo prazer.
Haja coragem política de abrir a Assembleia da República a deputados não alinhados e a democracia torna-se mais plena, aberta, transparente, com os candidatos a terem que trabalhar por si, a mostrarem junto do seu eleitorado o que valem.
O corporativismo tem sempre dados para contrariar esta tese, desde a existência de caciques locais que podem manipular as eleições (mas do lado das corporações também não há caciques?), até ao aparecimento de eleitos sem condições para ocuparem um lugar no Parlamento (quantos por lá estão que nem falam e nem tão pouco são conhecidos?)...
O voto é um dever e um direito universal, que muitos cidadãos deixaram de cumprir por não se reverem nas políticas desenvolvidas neste país, por conhecerem a mediocridade de uma percentagem enorme dos que são propostos para serem eleitos, e por entenderem que, afinal, só pertencendo aos partidos (como no anterior regime) é possível arranjar tachos e lugares de privilégio.
O sistema eleitoral português tem que sofrer grandes alterações. O número crescente das abstenções, o desinteresse das pessoas pela política e pelas acções cívicas, começa a ser assustador.
O alheamento dos portugueses para com a realidade do país é preocupante, se nos lembrarmos que muitos vivem na ilusão de um futuro melhor, que nunca mais chega.
Houve uma votação que, por maioria, deu o Governo ao Partido Socialista, mas, até ao momento, não temos assistido a sinais de retoma que possam augurar um bom futuro.
Quando Portugal é dado como um mau exemplo aos países da União Europeia, porque não soube aplicar o euro, nem tão pouco gastou todos os fundos comunitários de que usufruiu, que nos resta se não mostrarmos a nossa indignação? Que mais podemos nós fazer?
Vamos continuar a afirmar que a regionalização é uma peça essencial para o crescimento harmonioso do Algarve, chamaremos a atenção dos autarcas para a necessidade de criarem bons projectos para aplicação dos fundos comunitários, tendo em atenção que estes devem ser abrangentes no conceito da intermunicipalidade...e, se nos permitirem, continuaremos a ser livres no pensamento.
NOTA: Os comentários de Hélder Nunes são emitidos todas as quintas-feiras, às 9 horas, com repetição às 15 e às 21 horas.
O deputado João Cravinho, eleito deputado pelo Partido Socialista na lista apresentado no círculo eleitoral do Algarve, vai abandonar o Parlamento, como anteriormente já o tinha feito Miguel Freitas, que foi convidado a ocupar um lugar em Bruxelas.
Volta a colocar-se a velha questão – o eleitorado não votou em pessoas, colocou a cruz na sigla de uma força política, que usa como muito bem entende os chamados representantes do povo, o que é uma pura hipocrisia, porque as eleitos são meros «funcionários» do partido que os elegeu e seguem as regras impostas pela corporação.
Gostaríamos de saber, por exemplo, quantos deputados pelo Algarve subscreveram as propostas de lei de João Cravinho contra a corrupção e que, desde Junho de 2006, andam a «bailar» no seio do grupo parlamentar socialista, em negociações do põe e tira, isto não convém, etc...?
É claro que Miguel Freitas foi para Bruxelas e não deu nenhuma justificação ao povo algarvio, como João Cravinho vai para Londres e não expressa uma única palavra para com os seus eleitores.
Aliás, numa encenação politiqueira, costumam os deputados afirmar, num tom de voz cerimonioso, que «são deputados da Nação, em primeiro lugar», justificando, assim, o seu alheamento para com as pessoas que directamente os elegeram.
Porque, nesta questão de eleitos e eleitores, há que repensar o sistema. Continuam a existir portugueses com privilégios e outros sem direito a alcançar quaisquer patamares do poder.
Com algum esforço, ao fim de quase 30 anos, foi introduzido na lei eleitoral a possibilidade de listas independentes se candidatarem às Câmaras, ao chamado poder executivo, mas, quanto à hipótese de se criarem os chamados Círculos Uninominais, criando condições para que um cidadão com os seus direitos reconhecidos se possa candidatar independentemente dos partidos, isto é, por sua conta e risco, nunca se tornará realidade.
É que o corporativismo das forças partidárias, a exemplo do que havia no tempo da outra senhora, quer continuar a controlar e manipular a seu belo prazer.
Haja coragem política de abrir a Assembleia da República a deputados não alinhados e a democracia torna-se mais plena, aberta, transparente, com os candidatos a terem que trabalhar por si, a mostrarem junto do seu eleitorado o que valem.
O corporativismo tem sempre dados para contrariar esta tese, desde a existência de caciques locais que podem manipular as eleições (mas do lado das corporações também não há caciques?), até ao aparecimento de eleitos sem condições para ocuparem um lugar no Parlamento (quantos por lá estão que nem falam e nem tão pouco são conhecidos?)...
O voto é um dever e um direito universal, que muitos cidadãos deixaram de cumprir por não se reverem nas políticas desenvolvidas neste país, por conhecerem a mediocridade de uma percentagem enorme dos que são propostos para serem eleitos, e por entenderem que, afinal, só pertencendo aos partidos (como no anterior regime) é possível arranjar tachos e lugares de privilégio.
O sistema eleitoral português tem que sofrer grandes alterações. O número crescente das abstenções, o desinteresse das pessoas pela política e pelas acções cívicas, começa a ser assustador.
O alheamento dos portugueses para com a realidade do país é preocupante, se nos lembrarmos que muitos vivem na ilusão de um futuro melhor, que nunca mais chega.
Houve uma votação que, por maioria, deu o Governo ao Partido Socialista, mas, até ao momento, não temos assistido a sinais de retoma que possam augurar um bom futuro.
Quando Portugal é dado como um mau exemplo aos países da União Europeia, porque não soube aplicar o euro, nem tão pouco gastou todos os fundos comunitários de que usufruiu, que nos resta se não mostrarmos a nossa indignação? Que mais podemos nós fazer?
Vamos continuar a afirmar que a regionalização é uma peça essencial para o crescimento harmonioso do Algarve, chamaremos a atenção dos autarcas para a necessidade de criarem bons projectos para aplicação dos fundos comunitários, tendo em atenção que estes devem ser abrangentes no conceito da intermunicipalidade...e, se nos permitirem, continuaremos a ser livres no pensamento.
NOTA: Os comentários de Hélder Nunes são emitidos todas as quintas-feiras, às 9 horas, com repetição às 15 e às 21 horas.