sexta-feira, novembro 10, 2006

A condenação à morte de Saddam Hussein


por Albino Martins (director do Centro Paroquial de Cachopo)

É profundamente arrepiante a notícia da condenação à morte, por enforcamento, do ex-presidente do Iraque, Saddam Hussein.

Sinto pesar por uma sentença tão severa que a concretizar-se poderá agravar a situação naquele país.

Tem todo o sentido uma pesada pena, mas um crime não pode ser punido com outro crime. A prisão perpétua, a meu ver, seria a condenação adequada.

Tive acesso a um artigo do Padre António Rego. Atrevo-me a reproduzi-lo, na medida em que vai ao encontro da minha sensibilidade a este respeito:

“Vendo do nosso lado, ninguém morre de amores pela figura de Saddam Hussein. Como chefe, político, militar, interlocutor e, nos últimos tempos, como estratega ou defensor das próprias causas. Antes de cair a sua estátua em Bagdad já parecia desmoronado o deus com pés de barro, mais frágil do que todas as suas arrogâncias faziam supor. Conhecemos o homem público, o detestado por muitos e por muitos amado. Mal sabemos quanto de verdade e teatro, política e circunstância havia nas suas palavras e imagens. Chegavam-nos apenas poeiras dum ditador que construiu o seu reinado para venda de imagem. Mas isso acontece com quase todos os chefes de quem se conhecem os adereços e se ignora a substância.

Desde aquele dia em que lhe abriram a boca para observarem os dentes, com uma sequência de imagens humilhantes que foram vendidas ao planeta, nos fomos apercebendo que, por trás de todas as máscaras, havia um homem que também tinha medo e que queria salvar a vida. Tinha caído a estátua e a pessoa.

Começou um processo de julgamento de que conhecemos algumas ramas aligeiradas que nos quiseram oferecer. Muitos, durante esta operação de acusação e defesa, foram abatidos. Vieram ao de cima alguns crimes cometidos pelo ditador que nem sabíamos em pormenor ou mesmo se eram os crimes mais graves dum longo regime de opressão.
Pode agora acorrer-nos o sentimento vago de converter a repulsa em compaixão…

Hussein… foi condenado a pena de morte. Entramos num terreno ético, escandalosamente discutível, uma vez que se trata duma vida humana… que é aniquilada por outro ser humano. Ninguém tem poder sobre a vida de ninguém”.

NOTA: Os comentários de Albino Martins são emitidos todas as sextas-feiras, às 11 horas, com repetição às 17 e às 23 horas.