sexta-feira, setembro 29, 2006

Coitados deles, pobres de nós...


por Francisco Paulino (empresário do sector turístico e dirigente do CDS-Partido Popular)

Os meus amigos nortenhos, sempre que nos encontramos são pródigos nos mesmos comentários: “Isso é que é vida, lá no Algarve, praia todo o ano, ninguém trabalha, é só gozar o sol, o mar e as festas! E o dinheiro que se lá ganha sem fazer nenhum. Aqui a gente mata-se a trabalhar, vocês é que a levam na boa!”.

Coitados, como só vêem o Algarve em férias, é essa a provinciana ideia que dele fazem...

Todavia, os algarvios têm alguma culpa na forma como, por inércia própria, deixam que o resto do País veja o Algarve. Primeiro, porque, ao contrário do resto do mundo, só eles não o vêem como uma unidade e valorizam mais o que os separa (o barlavento, o sotavento e até o loulento) do que aquilo que os une e, assim, confere ao Algarve uma relativa unidade regional. Depois, porque ainda não conseguiram pôr-se de acordo sobre um “conceito estratégico” de desenvolvimento regional sustentado, que dê ao Algarve a autonomia que para ele reclamam.

Eu bem sei que o Algarve nunca foi bafejado pela sorte quanto à redistribuição do rendimento nacional e às intenções de investimento reprodutivo pelo Estado, centralizado em Lisboa desde o Senhor D. João II e daí ao longo da época liberal, monárquica e republicana, e do Estado Novo. E que, sendo região tradicionalmente periférica, com a adesão de Portugal à Comunidade e, depois, à União Europeia, se tornou uma região ultraperiférica

Mas, convenhamos, sobre o que queremos que seja o nosso futuro comum, não seria tarefa homérica trazermos alguns milagres ao nosso desenvolvimento regional, agrade ou não a Lisboa e àqueles que, daí ou de outros “berços de ouro” do Desenvolvimento, apenas querem o Algarve como seu paraíso de férias, como se aqui não houvesse gente que lhes merecesse outra consideração a não ser como seus potenciais empregados hoteleiros.

Á míngua de melhor entendimento, do Estado e de muitos “nortenhos”, convém aos algarvios que se unam à volta de um projecto regional comum, reconhecível e politicamente aceitável para o resto do País, e que por ele lutem com unidade, trabalho e disciplina.

Então, e só então terá sentido a Região do Algarve, política e não apenas sociológica. Até lá, insista-se na marca “Algarve”, quanto mais não seja como uma profecia que se cumpre a si mesma: de tanto a propalar, acabará por tornar-se realidade).

Por mim, algarvio de adopção que, daqui, já só quer ir p´rá cova – se possível, daqui a muitos anos, e terão que ser os gatos-pingados a desinquietar-me – irei insistindo.

NOTA: Os comentários de Francisco Paulino são emitidos todas as sextas-feiras, às 7 horas, com repetição às 13 e às 19 horas.