terça-feira, setembro 26, 2006

Crónica 13

por José Mateus (consultor de comunicação e autor do blogue CLARO)

Os deputados são os políticos em que os portugueses menos confiam. Sondagens recentes demonstram à sociedade esta realidade que, no fundo, já todos sabíamos.

É natural que assim seja. Neste sistema politico-eleitoral, os eleitores não conhecem os deputados... De resto, nem votam neles, votam no partido que os apresenta. E, portanto e obviamente, ninguém confia em alguém que nem conhece. Ou seja, somos representados por gente que não conhecemos e em quem não confiamos. Tudo normal...

O que já não me parece normal é que os senhores deputados continuem a tomar-se a sério e que não queiram mudar deste sistema eleitoral para uma coisa séria...

Mas se, praticamente, ninguém confia nos deputados, muito pouca gente confia nos presidentes de câmara... Pouco mais de 10 por cento. Os portugueses, que a estes conhecem bem, lá sabem porquê...

Mas então em que confiam os Portugueses? Já vimos que não acreditam nos deputados e muito poucos confiam nos presidentes da Câmara... Então quem lhes merece confiança? A que mãos aceitam entregar-se?

É o presidente da república que é a sua referência... Não concretamente o actual... Mas o presidente da república é que é o cargo político em que os Portugueses acreditam e em que depositam confiança. Em segundo lugar, é no Presidente da Junta de Freguesia, que os Portugueses confiam.

Muito longe, muito mesmo, e apenas em terceiro lugar surge o cargo de primeiro-ministro... E isto parece-me esclarecer, definitivamente, a personalidade política presidencialista dos Portugueses... E esclarecer também as dificuldades intransponíveis com que os regimes parlamentares de uma dominância partidária sem rosto sempre se defrontaram e onde sempre foram derrotados...

Irracionalidades da política... Que nos custam muito caro.

E, por falar do que nos sai caro, nos últimos dias, apareceram por aí números assustadores. Ele é a nova versão das "finanças locais" que retira, em média, mais de um milhão de euros a cada Câmara do Algarve... Ele é a Câmara de Faro que está proíbida de se endividar mais ( pobre do José Apolinário a pagar as dívidas do José Vitorino...). Ele é 60% dos impostos que vão directos para pagar os salários dos funcionários públicos... que custam por ano 22 mil milhões!

Sabido tudo isto, quem se pode admirar que a nossa dívida externa atinga 69 (curioso número, diria o Mota Amaral), 69% do nosso PIB...? E que, portanto, cada português deva já mais de 10 mil euros ao estrangeiro... Quer dizer, não há dinheiro, nem meios de o gerar e sobram dívidas... Deixem-me dizer-vos um segredo: por dinheiro nenhum, eu queria estar no lugar de José Sócrates... Que deus o proteja!

NOTA: Os comentários de José Mateus são emitidos todas as terças-feiras, às 11 horas, com repetição às 17 e às 23 horas.