O Algarve e as comemorações do Dia Mundial do Turismo
por Fernando Reis (professor e director do Jornal do Algarve)
Portugal foi escolhido, este ano, pela primeira vez, pela Organização Mundial do Turismo, como palco oficial das comemorações do Dia Mundial do Turismo (25 de Outubro). Na base desta escolha terá estado, seguramente, o facto de o nosso país ser cada vez mais reconhecido, internacionalmente, como um destino turístico de qualidade. E sem dúvida que, para essa projecção além-fronteiras, muito tem contribuído o Algarve que é, inegavelmente, a principal região turística do país.
Mas, ao invés das nossas expectativas e do que seria normal, o Algarve acabou por ficar completamente fora do programa das comemorações, tendo o presidente da RTA, em sinal de protesto, declinado o convite para estar presente nos actos oficiais. Como nos custa a acreditar que esta exclusão do Algarve tenha obedecido a uma estratégia político-partidária no âmbito das velhas "guerras" pela liderança da RTA, podemos concluir que na génese desta discriminação está, simplesmente, a atitude despudoradamente sobranceira e centralizadora com que os governantes continuam a olhar, desde Lisboa, para o resto do país, como se tudo tivesse que acontecer na capital, porque o resto é paisagem. Até mesmo um secretário de Estado insular, como é o caso do actual detentor da pasta do Turismo, tem a mesma visão egocêntrica do país.
Como, aliás, acontece, também, entre uma certa intelectualidade da nossa praça e alguns colunistas, que olham para o Algarve como se fossemos todos umas "aves raras" e a região só tivesse defeitos, que são, curiosamente, os mesmos que não os afastam daqui, quando eles próprios cá se instalam, em cada Verão, em gozo de férias. O grande problema do Algarve é que lhe falta capacidade de afirmação perante Lisboa e o poder central, não se conseguindo assumir, como um todo, na hora de bater o pé. Muito por culpa da divisão política e de uma certa mentalidade avessa às causas comuns, em que cada um gosta mais de olhar para o seu próprio umbigo.
A discriminação do Algarve é feita com total à-vontade e completa impunidade porque os governantes sabem que, na hora do voto, o povo não costuma penalizá-los por tamanha desfaçatez. É neste contexto que se tem que analisar a exclusão do Algarve do programa das comemorações do Dia Mundial do Turismo. O Algarve ficou de fora porque tem, cada vez menos, peso político e vamo-nos conformando. Com Guterres tivemos um algarvio na pasta do Turismo, com Santana Lopes, Faro teve honras de receber a secretaria de Estado de Turismo, agora com Bernardo Trindade nem uma pequena visita da ilustre comitiva da OMT, como aconteceu a Évora, merecemos, nós que geramos, anualmente, com o turismo, muitos milhões de euros para Orçamento de Estado. Mais palavras para quê!
NOTA: Os comentários de Fernando Reis são emitidos todas as quartas-feiras, às 9 horas, com repetição às 15 e às 21 horas.