sexta-feira, novembro 30, 2007

10 Milhões de Estrelas, um gesto pela Paz


por Albino Martins (director do Centro Paroquial de Cachopo)

Pelo quinto ano consecutivo está em curso a Operação “10 Milhões de Estrelas – Um Gesto pela Paz” promovido pela Cáritas Portuguesa, em parceria com todas as Cáritas Diocesanas de Portugal Continental, Madeira e Açores.

O objectivo desta operação é motivar cada cidadão para a aquisição de uma vela que, quando acesa, simbolize a adesão de toda a população portuguesa à causa da Paz.

A vela é apenas um sinal e um instrumento que facilita a partilha de bens com os mais pobres, porque enquanto persistirem tantas e tão graves desigualdades no mundo, não haverá paz na terra mesmo para “os homens de boa vontade”.

«10 Milhões de estrelas – um gesto de Paz» desenvolve-se em gestos concretos, colectivos ou de cariz familiar, que dêem visibilidade à esperança de um mundo mais justo, mais solidário e mais pacífico.

Assim, na noite de Natal, todos os que partilham estes valores são convidados a fazer brilhar as janelas e varandas das suas casas com velas acesas. Pelas cidades, vilas e lugares, milhares de velas vão aquecer a noite, como sinal da mesma esperança e do mesmo compromisso pela sua construção.

Das verbas recolhidas pela Operação 10 Milhões de Estrelas – Um Gesto pela Paz 2007, 30% destinam-se a apoiar um projecto da Cáritas de Angola, direccionado para as mulheres em situação de risco. Os restantes 70% serão canalizados por cada uma das Cáritas Diocesanas para projectos nacionais.

A Cáritas Diocesana do Algarve, utilizará essa verb para a construção do Lar da Mãe, uma valência que pretende acolher mulheres grávidas que querem ter os seus filhos e não têm condições para tal, muitas delas abandonadas pelas famílias e vítimas de maus-tratos por parte dos companheiros.

NOTA: Os comentários de Albino Martins são emitidos todas as sextas-feiras, às 9,30 horas, com repetição às 15 e às 21 horas.

quarta-feira, novembro 28, 2007

A agonia do pequeno comércio


por Fernando Reis (professor e director do Jornal do Algarve)

Um pouco por todo o Algarve, as pequenas lojas e outros espaços onde ainda se pratica o comércio tradicional vão resistindo, como podem e com a ajuda dos respectivos municípios, perante a proliferação dos grandes espaços comerciais, chamem-se eles, hiper, forum ou centro, numa luta desigual em que o consumidor acaba por cair, inevitavelmente, no engodo do mais barato, não resistindo ao apelo dessas catedrais do consumo, ainda que acabe por comprar, quase sempre, mais do que o que desejaria.

Ao longo de quase duas décadas, desde que foi inaugurado, pela mão da Sonae, o primeiro centro comercial no Algarve, o número de grandes superfícies comerciais cresceu de forma tão rápida, que hoje já são mais de oitenta, transformando o Algarve num autêntico “El Dorado” do grande consumo.

E enquanto o pequeno comércio tenta resistir a esses Golias do consumismo moderno, perspectiva-se um futuro ainda mais negro para o sector do comércio tradicional, com a abertura de mais algumas dezenas de grandes superfícies nos próximos anos. Convém lembrar que os respectivos projectos já estão autorizados. Com um problema acrescido.

No Algarve, a situação é muito mais grave que no resto do país. Enquanto a média nacional de área comercial é de 161 metros quadrados por cada mil habitantes e a europeia de 196, em Portimão e Albufeira é de 2595 e 2455 metros quadrados por mil habitantes, em Lagoa de 625, em Lagos de 540 e em Silves de 335. Se a este quadro, juntarmos o facto de o consumidor algarvio ser frequentador das grandes superfícies de Cartaia, Huelva e Sevilha e, mais recentemente, do Plaza de Ayamonte, prevendo-se aqui, também para breve, a abertura de um Corte Inglês, a situação torna-se, ainda, mais preocupante.

Apesar de haver uma lógica de mercado subjacente a este crescimento das grandes superfícies, que agrada ao próprio consumidor e gera postos de trabalho. O reverso da medalha traduz-se no encerramento das pequenas lojas, com as consequentes falências e despedimentos. Todos os anos fecham as portas mais de 200 estabelecimentos de comércio tradicional, numa torrente, até agora, imparável.

E como já anteriormente escrevemos, a propósito deste drama."Não são, apenas, as falências e o desemprego que estão em causa. É também parte da nossa identidade que se vai perdendo com o fim das tradições, absorvida pelo capital sem rosto das grandes multinacionais.

Será que podemos ansiar por outro destino que não seja o de nos transformarmos – o país - cada vez mais num enorme hipermercado de uma Europa que só nos quer como consumidores dos seus produtos? Porque será que quando se fala na possibilidade de uma regulação racional do número de grandes superfícies, há logo quem argumente que essa deve ser ditada pelo próprio mercado? Regulação, se calhar, só mesmo, quando esses grande mega espaços se comerem uns aos outros e o país estiver de "tanga".

NOTA: Os comentários de Fernando Reis são emitidos todas as quartas-feiras, às 8,30 horas, com repetição às 13 e às 19 horas.

sexta-feira, novembro 23, 2007

Visita “Ad Limina” dos Bispos Portugueses


por Albino Martins (director do Centro Paroquial de Cachopo)

Decorreu de 3 a 12 de Novembro a Visita “Ad Limina” dos Bispos portugueses a Roma.

Quando recebeu os srs Bispos, o Papa Bento XVI, já tinha na sua posse os relatórios das diferentes dioceses que previamente estudou.

A realidade da Igreja Católica em Portugal, levou o Santo Padre a “intuir as carências, ansiedades e insatisfações”. Verificou a “maré crescente de cristãos não praticantes”.

No intuito de ajudar a resolver estes problemas, o Papa alertou os Bispos para que estudassem a “eficácia dos percursos de iniciação catequética, em virtude do contexto difícil em que os jovens são permanentemente confrontados com outros apelos”.

Sugeriu ainda uma formação permanente dos cristãos e uma mudança no “estilo de organização das comunidades paroquiais”, bem como uma nova “mentalidade dos seus membros para se ter uma Igreja ao ritmo do Concílio Vaticano II”.

Alertou para a corresponsabilidade na missão, clarificadas as funções do clero e dos leigos. Os sacerdotes alegando falta de formação dos leigos, acabam por centralizar tarefas que os afastam do que é inerente ao seu múnus.

O Bispo do Algarve, D. Manuel Neto Quintas, recebido juntamente com o seu antecessor, considera estas e outras indicações do Santo Padre, muito oportunas.

Afirmou: “Vejo nos apelos do Papa a confirmação do percurso que D. Manuel Madureira imprimiu à nossa diocese e que temos vindo a incrementar. A pastoral tem que se apoiar sempre mais na comunidade cristã. É nela que se torna urgente suscitar e alimentar uma tomada de consciência mais viva sobre a responsabilidade que todos - leigos, sacerdotes e consagrados - têm na comunhão e na missão da Igreja. A comunidade vive a mesma vocação (à santidade), edifica-se pela celebração dos sacramentos, exprime-se na multiplicidade dos ministérios, participa da mesma missão da Igreja: anunciar o Evangelho de Jesus Cristo”.

NOTA: Os comentários de Albino Martins são emitidos todas as sextas-feiras, às 9,30 horas, com repetição às 15 e às 21 horas.

quinta-feira, novembro 22, 2007

Demitam-se!

por Hélder Nunes (jornalista e director do Barlavento)

Com a demissão dos chefes de equipa da área médica e do director das urgências no Hospital Distrital de Faro fica posta em causa a governabilidade daquela unidade de saúde por parte de actual administração.

A situação criada com a carta colectiva de demissão dos médicos não foi devidamente analisada, limitando-se a presidente da administração, na altura, a apelidar os médicos de «amigos», e como somos todos «amigos», isso não passava de um simples arrufo de gente que se conhece.

Houve uma displicência em relação à tomada de posição dos médicos, por parte de quem acredita que a sua realidade é mais real do que aquela que se encontra no lado oposto.

Para os responsáveis, tudo isto parece normal, dentro da anormalidade que é o momento presente no Hospital de Faro. O entupimento das urgências e outras anomalias no hospital não são de ontem, mas foram-se acumulando e o saco acabou por rebentar.

O que nos parece contraditório, em todo este processo, é a cumplicidade que reina entre a tutela e a administração do Hospital que, no mínimo e com coerência, perante a forma como foi posta em causa, se devia demitir ou ser demitida.

Ao que parece nada disto acontecerá. Há como que um pacto, onde se colocam os valores numa prateleira, porque o importante é o tacho que se usa para regalia pessoal, e quem quiser que retire a tampa.

Os responsáveis têm que compreender não ser possível encontrar equilíbrios e estabelecer pontos de entendimento com a actual administração, posta à prova e que nada modificou, antes contribuiu para o agravamento e o consequente pedido individual de demissão, exigido que foi pela própria tutela para tornar prática a posição assumida colectivamente.

Podem apontar todas as causas técnicas que entenderem, as deficiências herdadas de um passado remoto ou recente, anunciarem as medidas paliativas e obras de fundo, mas o resultado final está desde há muito estabelecido – os médicos não acreditam nos actuais gestores.

Sendo a saúde um sector melindroso, onde se compreende que não devam existir radicalismos, porque tais posições acabam por se reflectir nos cuidados a prestar aos doentes, é de todo aconselhável uma abertura de diálogo permanente entre as administrações e os técnicos.

Em Faro, terão sido feitas, já depois das demissões entregues, duas reuniões para avaliar o estado do hospital, coisa que, acaba por se concluir, deveria ter sido feito há muito tempo. Não teve lugar o diálogo e o confronto das partes e acabou por chegar-se ao momento da ruptura.

Perante o extremar de posições, é de concluir que a administração não soube encontrar caminhos para resolver os problemas, como é de todo aconselhável no sector da saúde, e deixou andar a carruagem até ao descarrilamento.

Há responsáveis, e se os há, corporizados na administração, esta deve colocar o seu lugar à disposição da tutela, como forma de libertar o responsável político que deu o aval aos actuais administradores, para que possa assumir uma posição de renovação do actual elenco ou, o que seria de todo inconcebível, dar-lhes nova confiança.

É preciso clarificar, para que haja alguma transparência.

Pelo desenrolar do processo, com os médicos na fase de diálogo com a directora clínica e a administração, prometendo aqueles apresentar a lista das necessidades e estes a garantia de sanear tudo muito rapidamente, entramos no carrossel das frases feitas, das afirmações ambíguas, das estatísticas amanhadas por conveniência.

No meio do turbilhão, são metidas as pessoas numa urgência a rebentar pelas costuras.

O pacto de cumplicidade entre a tutela e a actual administração do Hospital Distrital de Faro, que pretende passar a empresa pública, como forma de ter um novo estatuto de gestão, para o bem e para o mal, já que pode entrar em concorrência (como se o Estado não tivesse obrigação para com os seus concidadãos) libertando os critérios de taxas a cobrar, a contratação de médicos, etc., parece ser a estrelinha que vai resolver todas as maleitas, apesar de se acrescentar que só para 2012 (acredite quem quiser) quando estiver concluído o Hospital Central do Parque das Cidades, a estabilidade de funcionamento será encontrada.

A realidade nua e crua do Hospital Distrital de Faro é corporizada pela posição assumida pelos médicos ao se demitirem. Por mais truques e análises técnicas que se façam, esta atitude não pode ser escamoteada, porque é o culminar de uma caminhada que não foi devidamente acompanhada pela administração, que não devia ter deixado chegar ao ponto a que chegou a posição dos médicos, com uma ameaça de demissão de forma colectiva.

Senhores da administração, demitam-se!

NOTA: Os comentários de Hélder Nunes são emitidos todas as quintas-feiras, às 8,30 horas, com repetição às 13 e às 19 horas.

quarta-feira, novembro 21, 2007

Somos cada vez menos


por Fernando Reis (professor e director do Jornal do Algarve)

Numa altura em que se comemora o Dia Universal da Criança (20 de Novembro), os números da mortalidade infantil continuam a ser dramáticos. Em todo o mundo morrem diariamente 27 mil crianças menores de cinco anos. Mortes que podiam ser evitáveis e que só acontecem pelo sub-desenvolvimento da maior partem dos países e muitas regiões, da África, Ásia e América. A cada 3,6 segundos morre uma pessoa por má nutrição e, na maioria dos casos, antes dos 5 anos. A malária mata um menor a cada 30 segundos e em 2006 mais de dois milhões de crianças tinha Sida.

Comparativamente com 1990, em que a mortalidade infantil se cifrou nos 13 milhões de crianças, a situação evoluiu positivamente, tendo-se registado em 2006 uma mortalidade infantil de 9,7 milhões. Ainda assim, um passo muito pequeno, para o progresso, 18 anos após a Aprovação dos Direitos da Criança (20 de Novembro de 1959). Estamos ainda longe, mesmo nos países desenvolvidos, de garantir que todas as crianças possam usufruir dos seus direitos, nomeadamente no acesso à saúde e à educação, sem esquecer a resolução de problemas como a exclusão social, os maustratos, a pedofilia e o trabalho infantil.

Contrariando uma certa tendência para encabeçar os piores rankings da União Europeia, Portugal apresenta, felizmente, em 2006, uma das menores taxas de mortalidade infantil da EU, 3,3 óbitos por cada mil nascimentos, que era de sete por cada mil entre os menores de cinco anos, em 2005.

Mas se em termos de mortalidade tudo vai bem, ao nível da natalidade voltamos a integrar a lista dos piores. Portugal regista a taxa de natalidade mais baixa da UE. Apenas 1,36 crianças por mulher em idade fértil. Isto é, três vezes menos do que em 1935. Subjacente a este fenómeno estão condições sociais cada vez mais adversas para as famílias e para a mulher, em particular, que a leva a retardar a natalidade até conseguir a estabilidade profissional. Enquanto em 1987 as mulheres tinham os filhos antes dos 30 anos, nove anos depois, a maioria dos nascimentos verifica-se no grupo dos 30 aos 34 anos. O primeiro filho deixou de surgir aos 26,8 anos para passar a ser aos 29,9 anos.

Alertam alguns especialistas que, com a actual taxa de natalidade, não se faz a renovação das gerações, que só é possível com 2,1 crianças por mulher e que, deste modo, Portugal corre o sério risco de desaparecer.

De facto, dificilmente se convencem as famílias a terem mais filhos no quadro de dificuldades económicas e sociais que o nosso país atravessa actualmente. Tanto mais que, ao invés de um maior apoio à família, as novas políticas neoliberais promovem uma crescente instabilidade do emprego, maiores restrições no acesso à saúde por parte da população e dificuldade em arranjar emprego, por parte dos jovens.

Só com uma nova visão da função do Estado, capaz de promover o equilíbrio das contas públicas e o progresso económico, ao mesmo tempo que assegura o bem-estar social, será possível sermos cada vez mais.

NOTA: Os comentários de Fernando Reis são emitidos todas as quartas-feiras, às 8,30 horas, com repetição às 13 e às 19 horas.

terça-feira, novembro 20, 2007

“PORTUGAL, O ALGARVE E O MAR” E O QUE REALMENTE PRECISAMOS

por José Mateus (consultor de comunicação e autor do blogue CLARO)

Neste congresso do Algarve falou-se de muita coisa mas uma, dada a circunstância, tem particular relevo – a questão do mar. Gostei de ver o meu amigo João Guerreiro explicar detalhadamente como era o mar para o Algarve – antes de chegar este império da praia e do trabalhar para o bronze – e como era decisiva e estratégica a importância do mar para o Algarve. E como temos agora que re-descobrir isso…

Outro orador do painel, Adriano Moreira, explicou como «Portugal pode perder o controlo da ZEE se não souber exercer os seus direitos». Ou seja, se não tiver os meios e instrumentos para se impor…

“Não há direitos sem as necessárias capacidades efectivas de os exercer, e há sinais de que isso pode acontecer na Zona Económica Exclusiva». Adriano Moreira recordou, a propósito, o episódio do Mapa Cor-de-Rosa no século XIX: «nessa altura as potências europeias retiraram-nos territórios africanos que não controlávamos, nem tínhamos possibilidade de controlar. Parece que o mesmo poderá acontecer em relação aos Oceanos, se Portugal não for capaz de exercer de uma forma efectiva o controlo da imensa área que nos está entregue».

O velho ministro das colónias de Salazar, na sua velha linguagem muito católica e romana, achou ainda que “vivemos na teologia do mercado” e que nos esquecemos que “não há países que sobrevivam sem conceito estratégico, e Portugal deixou de o ter desde 1974”, sendo muito cáustico em relação à história recente portuguesa. Frisou que a opção da continentalidade versus maritimidade pode ser fatal se Portugal não souber tirar lições da sua história e citou Lusíadas para mostrar como «os Descobrimentos portugueses foram estrategicamente pensados, executados, e são um modelo de conceito estratégico nacional, curiosamente, já na altura compatível com a Unidade Europeia».

Adriano Moreira acerta no diagnóstico mas não tem receitas para salvar o doente... Conversa desta não nos leva longe. Não nos leva mesmo a lado nenhum!

E quanto a não haver, desde 74, conceito estratégico, um dos responsáveis disso é precisamente ele, Adriano Moreira, e outros da sua geração. Pelo que fizeram antes do 25 de Abril e pelo que não fizeram depois, nestes últimos trinta e poucos anos… E, como agora se vê, continuam a não ter nada a dizer sobre o que há a fazer! Explicar assim só “explica” quem não sabe fazer!

Para já há nisto uma evidência: precisamos de uma Marinha que ocupe e defenda o nosso vasto mar e precisamos de saber construí-la, ganhar com isso tecnologia e postos de trabalho, aumentar as exportações e aumentar o nosso poder negocial com os aliados e impor respeito a gulosos e outros mal intencionados. E saber construir à volta desse projecto um cluster do mar, uma das poucas coisas que podemos fazer com vantagens económicas em tempos de economia global e de a Europa precisa… Ou seja, como Adriano Moreira não disse: precisamos duplamente de uma Marinha que nos defenda o mar e seja base de desenvolvimento económico sustentado.

João Guerreiro bem que pode criar um grupo pluridisciplinar – com biólogos, geo-economistas, geo-políticos e engenheiros e etc. -para fazer os trabalhos de “Inteligência Económica” necessários ao desenvolvimento do cluster do mar. Pode até começar por convidar Félix Ribeiro – que é talvez quem melhor conhece este problema – ou o algarvio André Magrinho para uns seminários sobre o tema na Universidade do Algarve.

Para sairmos da lamechice e das queixas e começarmos a fazer alguma coisa do que precisamos… E precisamos urgentemente!

NOTA: Os comentários de José Mateus são emitidos todas as terças-feiras, às 9,30 horas, com repetição às 15 e às 21 horas.

sexta-feira, novembro 16, 2007

Rede de Cuidados Continuados


por Albino Martins (director do Centro Paroquial de Cachopo)

Uma sociedade que não ama nem respeita os seus mais velhos é uma sociedade desumanizada, sem alma e sem futuro.

Nada do que nós desfrutamos chegou até nós por acaso. O que nos foi chegando e perdura é, frequentemente, mais fruto do trabalho, da dedicação, do amor, com muitos sacrifícios e lutas pelo meio, daqueles que nos precederam, que do nosso trabalho e engenho pessoal.

Saborear a alegria de viver, ainda que com as limitações que a idade impõe, não é possível sem se estar rodeado de um ambiente de amor e gratidão, de apreço e estima.

Na recta final da vida, já muita coisa se dispensa, não o sentir-se amado e acarinhado.

Assim, regozijo-me hoje com uma iniciativa política merecedora de apreço.

Trata-se da prioridade que o Governo, através dos Ministérios da Saúde e do Trabalho e Solidariedade Social, está a dar à criação de uma Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados às pessoas em situação de grande dependência.

É importante que estes nossos concidadãos se sintam apoiados pelos profissionais de saúde, num processo que envolva as famílias, proporcionando bem-estar e o sentimento de que não estão abandonados.

Que esta medida não discrimine ninguém por motivos financeiros e que se articule com as diversas soluções de apoio social promovidas pelos profissionais das Instituições Particulares de Solidariedade Social.

NOTA: Os comentários de Albino Martins são emitidos todas as sextas-feiras, às 9,30 horas, com repetição às 15 e às 21 horas.

quinta-feira, novembro 15, 2007

Transparência

por Hélder Nunes (jornalista e director do Barlavento)

O nosso Estado democrático tem vindo a ser moldado, ao longo destes 30 e poucos anos, àquilo a que se pode chamar de democracia musculada. Isto é, em muitos casos, não é carne, nem é peixe.

Podíamos falar em milhentos exemplos, desde a tentativa de amordaçar a liberdade de informar, até aos últimos e recentes acontecimentos de visitas a Sindicatos por parte das forças policiais, para não mencionar as escutas telefónicas a que todos estamos sujeitos.

Há medo na sociedade portuguesa. Um medo que começa a crescer, pela repressão imposta a muitos níveis.

Somos defensores do diálogo, da prevenção e da educação, como forma de construir a cidadania e motivar os cidadãos para a solidariedade e a subsidiariedade.

Diálogo é cada vez menor – pagas e depois reclamas, e, mesmo assim, talvez tenhas uma surpresa, mesmo com a razão do lado de quem reclamou; prevenção é a forma mais honesta de construir uma sociedade equilibrada, chamando a atenção para os verdadeiros valores e para os direitos e deveres; por fim, a educação, onde é necessário existir uma escola assente em bons pilares, capaz de moldar elementos, com capacidade de análise e intervenção no dia a dia, na base da verdade, da honestidade e no respeito mútuo.

Para existir este equilíbrio, é importante, que haja transparência. E é aqui que começa o busílis da questão portuguesa. Vivemos numa sociedade onde a verdade, em muitas situações, é completamente adulterada, porque muitos intervenientes são manipulados pelos lóbis e vendem-se por mais uns dinheiros, salvaguardando, desta forma, uma reforma ou um emprego.

Comecemos por questionar os deputados da Nação: quantos dos que estão no hemiciclo recebem avenças de grupos económicos?

Era importante, para transparência do poder político, que fosse publicada de forma discriminada as verbas arrecadas por cada deputado, e saber-se dos seus interesses com este e aquele grupo.

Que se perceba que estamos a levantar uma questão, não há indicação de quem quer que seja, mas para sossego dos eleitores era bom que a clarificação deste assunto fosse feita. Quem não deve, não teme.

Outra pergunta que deve ter resposta é sabermos se os arquitectos e engenheiros na administração pública estão directa ou indirectamente ligados a gabinetes exteriores. Isto é, se fazem projectos e mandam outros assinar, passando por eles o seu deferimento.

A história que vamos contar é pura coincidência, se tiver alguma relação com casos passados ou que aconteçam no presente… Um serviço público recebia projectos para avaliação e consequente financiamento, só que uma grande parte deles chumbavam, recebendo o proponente a recomendação de que havia em Lisboa um gabinete que dava o tratamento adequado para a sua aprovação.

No gabinete de Lisboa, quem lá estava era a mulher do homem que chumbava o projecto.
Uma situação que recentemente foi notícia no Porto, mas passa-se também noutras localidades, diz respeito à autorização para construir varandas e janelas, junto à extrema de um prédio ou de um terreno, o mesmo será concluir, ocupar a propriedade alheia com benefícios próprios a que não se tem direito.

No Porto, o Tribunal, e bem, mandou demolir as varandas. O problema é saber quem foram os responsáveis pela aprovação de uma ilegalidade e quem passou licenças de construção.

No topo da pirâmide está o poder político a assumir e a dar a cara pela aprovação de projectos incorrectos, mas, em princípio, o mal vem dos pareceres técnicos mal fundamentados.

Logo, os responsáveis são os técnicos, que devem assumir todos os prejuízos que advenham dos pareceres emitidos.

O poder político não pode nem deve alinhar nestes atropelos, porque, a acontecer, obriga as pessoas a falar em corrupção. Não se entende que a aprovação de um projecto com ilegalidades não tenha um responsável declarado.

O poder político, sob pena de ser rotulado, pode considerar que foi enganado, mas tem que haver a punição do responsável e, nestes casos, sendo técnicos, as respectivas Ordens devem-lhes retirar a carteira profissional.

Porque um técnico não pode alegar desconhecimento das leis que regulam a sua actividade. Se as infringir é com conhecimento e deliberadamente. Há responsáveis, mas, na maioria dos casos, não há culpados.

Isto são exemplos, que até podem estar exagerados, mas são necessários para que se compreenda que a transparência, como norma de funcionamento, é muito importante num Estado de direito.

A transparência da vida pública deve começar nas relações do Estado com a sociedade. Para aplicarmos o princípio da qualidade de quem nada tem a esconder ao Estado, implica saber quem são os responsáveis, para que, em nome da justiça e da verdade, sejam responsabilizados.

NOTA: Os comentários de Hélder Nunes são emitidos todas as quintas-feiras, às 8,30 horas, com repetição às 13 e às 19 horas.

terça-feira, novembro 13, 2007

Bem-vindo sejas, José

por José Mateus (consultor de comunicação e autor do blogue CLARO)

A política parece estar de volta ao PS Algarve. Depois de meses, sem posições políticas sobre os assuntos importantes, o PS Algarve, pela voz de José Apolinário, manda dizer que está vivo e actuante. De facto, nos últimos anos, este partido tão importante para o Algarve, oscilou a sua actividade entre as sessões de estudo e uma posição muito de funcionário.

As sessões de estudo são importantes para a formação dos militantes – se forem bem desenhadas e executadas a contendo. Mas um partido político não é um grupo de estudos… Tem de falar para fora. De tomar posições. Políticas.

Um partido político tão pouco é um grupo de gente colocada no aparelho de estado e dirigido por um funcionário. Ademais a funcionar em Bruxelas.

O PS Algarve, perdido nisto, perdeu posições, perdeu a voz e perdeu o rosto. Tornou-se um equívoco político.

Talvez por estar farto de isto, deste equívoco, Apolinário decidiu falar e demolir a posição de Macário Correia… Em boa hora o fez. Bem-vindo sejas, José.

NOTA: Os comentários de José Mateus são emitidos todas as terças-feiras, às 9,30 horas, com repetição às 15 e às 21 horas.

sexta-feira, novembro 09, 2007

Sinistralidade nas estradas


por Albino Martins (director do Centro Paroquial de Cachopo)

O tema da sinistralidade nas estradas é oportuno perante a tristeza que a todos causou o desastre que vitimou 15 pessoas na A23, bem como os atropelamentos ocorridos na semana que agora termina.

As estradas não podem continuar a ser lugar de tantas tragédias. Em muitas ocasiões os acidentes não são fruto do acaso ou do destino.

Elas ocorrem, frequentemente, porque cada um de nós julga que os problemas surgem apenas por culpa dos outros. Reduzir a sinistralidade rodoviária é, por isso, uma tarefa de todos.

Uma tarefa que, desde logo, impõe que não se deixe passar sem reprovação as múltiplas e generalizadas conduções de risco e que se altere o entendimento comum de que, nas estradas, tudo se pode fazer.

Para diminuir a sinistralidade rodoviária é também necessária uma cuidada sinalização e uma boa manutenção das vias.

Ninguém, obviamente, está livre de ter um azar que origine um acidente. Mas é preciso dizer que são demasiados os que, imprevidentemente, abusam da sorte.

É preciso agir de um modo diferente.

Ficam alguns conselhos aos condutores:

- Evite a velocidade excessivas e manobras perigosas;

- Não conduza sob o efeito do álcool ou substancias psicotrópicas;

- Não use o telemóvel enquanto conduz, nem ouça música em volume elevado;

- Respeite e use as regras de ultrapassagem;

- Respeite os direitos dos peões nas passadeiras.

Não esqueça que sem consciência cívica, sem respeito pelos outros, sem uma mudança de mentalidades, não há leis nem mecanismos possíveis que possam alterar o actual estado da situação

Nas suas regras, restrições e constrangimentos, o código da estrada favorece o respeito pelo outro e a sua própria liberdade.


NOTA: Os comentários de Albino Martins são emitidos todas as sextas-feiras, às 9,30 horas, com repetição às 15 e às 21 horas.

quinta-feira, novembro 08, 2007

Com a saúde não se brinca

por Hélder Nunes (jornalista e director do Barlavento)

A saúde dos portugueses está acima das tricas partidárias. Ninguém tem o direito de a utilizar para fazer chicana política, sob pena de estar a cometer um crime contra a sociedade.

Entenderam os socialistas que a demissão dos dezanove médicos no Hospital de Faro foi uma «encenação», que acontece ciclicamente, passando, desta forma, um atestado de menoridade aos clínicos, apelidando-os de actores manipuláveis.

É que, deram a entender os deputados socialistas algarvios, os médicos demissionários estariam a ser instrumentalizados pelas eleições para o Ordem ou pelos partidos políticos da oposição.

O Partido Socialista descredibilizou os médicos e quer transformar uma questão técnica e de infra-estruturas numa luta político-partidária. Desde há muito tempo que os socialistas não toleram a intervenção de Macário Correia (presidente da AMAL e da Câmara de Tavira) na vida política regional.

O presidente da Câmara de Faro José Apolinário, numa acção política e de tentativa de branqueamento da situação que se vive no Hospital, reuniu-se no domingo com a administração.

E foi ver as televisões filmarem um médico oftalmologista a trabalhar ao domingo, que teceu elogios à situação, dando-se ao luxo de dizer que os doentes não precisam de ir para Cuba…

Lógico, desde que as listas de espera não ultrapassem largos meses ou mesmo anos. Uma pergunta que nunca foi respondida: quanto estão a ganhar os médicos vindos de Coimbra para encenarem, ao domingo e para a televisão, que no Hospital de Faro as coisas até estão bem?

O político José Apolinário virou-se contra a reacção de Macário Correia, porque este utilizou a AMAL para colocar o dedo na ferida, e, como as suas reacções são transmitidas a nível nacional e regional, incomodam.

Macário foi eleito presidente da Junta Metropolitana, por maioria, e, como tal, deve e tem o direito de intervir em tudo o que diga respeito à região. Em todas as áreas.

Pode ou não gostar-se do que ele diga, esse é um assunto que dirá respeito a cada pessoa, mas não se lhe pode retirar o cargo de presidente da AMAL e proibi-lo de falar nessa condição.

José Apolinário, ao tentar branquear a situação do Hospital de Faro, fez um mau trabalho em nome dos seus munícipes, enquanto presidente da Câmara. Como militante socialista foi defender o seu partido e o seu Governo.

Mesmo assim, como pessoa, e porque as pessoas estão primeiro, os partidos não se podem sobrepor ao povo algarvio. Querer negar que as coisas estão mal no Hospital de Faro é lançar uma mentira e relegar para um plano secundário os doentes. Infelizmente, o poder, as mordomias e as promessas baralham a racionalidade dos homens e mulheres.

A falta de coragem política e humana para analisar o cerne da questão leva alguns responsáveis socialistas, eles sim, a transformarem-se em correias de transmissão do Governo, mesmo sabendo que um paciente morreu numa maca porque não lhe foi feito um tac para elaboração do diagnóstico clínico, visto que o dito Hospital Central/Distrital não os efectua durante a noite.

Daí que o médico responsável por aquele doente tenha sido constituído arguido pelo Ministério Público. Esta foi a gota de água. Os médicos, a partir de agora, começam a ser responsabilizados e vão responder na barra do Tribunal, o que aquela classe não aceita. Exigem, por isso, condições de trabalho nas urgências.

Afirmar que a situação da urgência, neste momento, é igual há de um ano, é reconhecer que as coisas não estão bem.

Se os médicos só agora se manifestaram, uma das razões tem a ver com acontecimentos recentes. Outra talvez seja porque a administração lhes foi prometendo que o problema ia ser resolvido.

As urgências, depois do fecho dos SAP, entupiram, por muito que se manipule os números e se faça a sua extrapolação para as especialidades, retirando a carga à urgência geral. Passaram todos por lá, antes de serem reencaminhados. A Administração Regional de Saúde e a do Hospital negam esse aumento, mas os médicos confirmam.

Em quem devemos acreditar? Em quem joga com os números, ou nos que estão no dia a dia em contacto com essa realidade? Porque será que a esmagadora maioria dos utentes não dá nota positiva às urgências deste hospital, como de qualquer outro?

O Partido Socialista percebeu que o estado de graça acabou. O alerta veio da manifestação de 200 mil pessoas em Lisboa. Dos resultados das sondagens. Vale tudo para se manter à tona da água.

Até a mentira e a hipocrisia, mesmo que se veja e saiba existir gente a morrer nas macas atiradas nos corredores dos hospitais.

Amanhã o PS será oposição e vai reagir da mesma forma que os outros partidos reagem quando não estão no poder. A descredibilização da política é feita pelos políticos.

NOTA: Os comentários de Hélder Nunes são emitidos todas as quintas-feiras, às 8,30 horas, com repetição às 13 e às 19 horas.

quarta-feira, novembro 07, 2007

Saúde e política


por Fernando Reis (professor e director do Jornal do Algarve)

Dezanove médicos do Hospital Distrital de Faro demitiram-se das chefias das urgências, alegando falta de condições para assistir os doentes que chegam aos respectivos serviços. Os responsáveis tentam desvalorizar o caso, enquanto o PS-Algarve fala de demissões com contornos políticos, no contexto da actual disputa eleitoral para a direcção da Ordem dos Médicos.

É bem possível que acha alguma dose de razão nas razões de uns e outros, mas aos olhos dos algarvios, principalmente dos que se vêem obrigados a recorrer ao Hospital de Faro, salvo algumas raras excepções, a assistência prestada aos doentes, particularmente aos que entram nas urgências, deixa muito a desejar. Mais por culpa do entupimento dos serviços, com doentes espalhados pelos corredores deitados em macas ou sentados horas a fio em cadeiras de rodas e pelo risco acrescido de doenças resultantes das múltiplas bactérias que por ali proliferam, encontrando terreno fértil para o contágio de quem ali tem o azar de ter que recorrer, do que pela falta de competência dos médicos.

Ora se os utentes sofrem na pele com a falta de condições daqueles serviços, a que importa somar as listas de espera para certas cirurgias - o caso das operações às cataratas é paradigmático – os profissionais de saúde que ali trabalham, médicos e enfermeiros, sofrem o stress, a impotência e a frustração de pouco ou nada poderem fazer para obviarem a grave situação que se lhes depara. Com o agravante de serem, quase sempre, os primeiros a serem responsabilizados quando as coisas não correm bem para o lado do doente, nem sequer servindo de atenuante as urgências consecutivas que por vezes são obrigados a fazer para suprir as carências dos serviços.

Do esgrimir de argumentos entre as partes sobressai, de facto, a componente política. Na verdade, um dos grandes obstáculos à resolução dos problemas da saúde tem residido na circunstância de a melhoria do sector não ser encarada como um desígnio nacional, acima de qualquer interesse – político, económico ou de qualquer outra natureza – mas de terreno de luta política, em que muitas vezes o Governo e o ministro têm que desfazer o que outros fizeram em nome de uma ideologia, de um programa ou de um objectivo político.

Será que alguém, consciente das dificuldades de resposta do sistema público de saúde e atento aos sucessivos adiamentos na construção de um novo Hospital Central e do desinvestimento da administração central na área da saúde, pode ignorar este protesto dos médicos? O que é visível para a opinião pública é que há uma tendência acentuada para acabar com o Serviço Nacional de Saúde, a pretexto de doutrinas neoliberais que acham que ninguém tem direito aos serviços públicos de saúde sem pagar, mesmo quando já é o contribuinte que paga, através de descontos, taxas e impostos, esse serviço.

O Governo tem razão quando quer pôr termo ao parasitismo dos que se querem aproveitar do sistema, mas o Estado tem uma obrigação social da qual não se deve demitir. E o que parece estar no horizonte é o fim do Estado Social. Depois de mais de 30 anos de democracia, recusamo-nos a aceitar que a saúde seja só para os que têm dinheiro.

NOTA: Os comentários de Fernando Reis são emitidos todas as quartas-feiras, às 8,30 horas, com repetição às 13 e às 19 horas.

terça-feira, novembro 06, 2007

A Crise do Hospital e a Politiquice Politiqueira

por José Mateus (consultor de comunicação e autor do blogue CLARO)

A crise do hospital de Faro desencadeou uma tempestade num copo de água… Macário Correia criticou a situação e aparentemente fê-lo de um modo ambíguo e pouco cuidado. José Apolinário aproveitou a deixa e fez uma crítica cerrada às ambiguidades de Macário Correia.

Apolinário não admite – e bem – que Macário use a sua posição de presidente da AMAL para para fazer política partidária. “A AMAL – diz Apolinário – não é um órgão do PSD e Macário não pode usar desta posição para assumir posições que a AMAL não discutiu democraticamente”. O presidente da câmara de Faro tem razão, como é óbvio. E as declarações de Macário, por muito que ele agora se explique, ficam irremediavelmente prejudicadas… Para a próxima, é conveniente que Macário não seja ambíguo, não jogue nas ambiguidades, clarifique a sua posição e seja claro no que diz.

Mas a moral desta estória é outra. É a incapacidade dos políticos algarvios de se entenderem na defesa dos interesses do Algarve. Porque se é verdade que Apolinário tem razão e se é verdade que Macário não devia ter usado a crise do Hospital de Faro para política politiqueira, também é verdade que enquanto for assim não há política, com P grande, para defender os algarvios… E neste cenário todas as crises são possíveis no hospital de Faro ou em qualquer outro lado sem que o Algarve se saiba defender!

E – deixem-me que vos diga – não é com a regionalização que se resolve esta incapacidade dos políticos algarvios de fazer política a sério e defender o Algarve… Pelo contrário, a regionalização só virá agravar esta politiquice. Portanto, mais do que regionalizações, o que precisamos realmente é de gente capaz!

NOTA: Os comentários de José Mateus são emitidos todas as terças-feiras, às 9,30 horas, com repetição às 15 e às 21 horas.

sexta-feira, novembro 02, 2007

Todos os Santos e Fiéis Defuntos


por Albino Martins (director do Centro Paroquial de Cachopo)

Celebra-se nestes primeiros dois dias do mês de Novembro, a Solenidade de Todos os Santos e a Comemoração dos Fiéis Defuntos.

Muitas pessoas imaginam que se trata de uma única celebração em dois dias consecutivos. No entanto, não é assim, embora cada um destes dias tenha muito em comum.

Passo a explicar:

Peregrinos sobre a terra, festejamos, logo no primeiro dia do mês, a certeza de que muitos, conhecidos nossos ou não, de agora como de sempre, responderam ao convite de Deus à santidade; percorreram o seu caminho num esforço alegre de O amar com todo o coração, transformando esse amor em dedicação ao próximo, indiferentes a dificuldades e provações. Agora participam da vida em plenitude. A “comunhão dos santos”, que professamos na fé, garante-nos que a sua solicitude fraterna é um apoio a nós, que ainda estamos em caminho.

Logo depois, digamos que invertemos as posições, para nos colocarmos nós em atitude de fraternal ajuda a quantos “nos precederam com o sinal da fé e dormem o sono da paz”. Na verdade, seguros de que a pedra do túmulo não é a última palavra sobre a nossa existência, de que “a vida não acaba, apenas se transforma”, apoiando-nos na fé, como resposta à ansiedade de vencer este mistério de silêncio, que é a morte, seguros na certeza da ressurreição de Cristo, exercitamos a mesma “comunhão de santos, rezando por todos, unindo-nos a todos, para além desse drama da morte. Se assim não fosse, seria vã toda a pregação e vazia de fé. Mas, porque Cristo ressuscitou, temos a certeza de que podemos todos caminhar para o abraço eterno e feliz com Deus. E rezamos, para que aqueles que foram antes de nós, experimentem essa felicidade.

Olhemos para o mistério da morte não como a última palavra sobre o destino humano, mas como uma passagem para a Vida Eterna.

A morte é a transição entre a peregrinação terrestre e a pátria do Céu.

NOTA: Os comentários de Albino Martins são emitidos todas as sextas-feiras, às 9,30 horas, com repetição às 15 e às 21 horas.

quinta-feira, novembro 01, 2007

Responsáveis, não há

por Hélder Nunes (jornalista e director do Barlavento)

Começa a ser prática corrente na vida pública e na sociedade portuguesa que, perante situações mais anómalas, complicadas e prejudiciais ao país e à democracia, não haja responsáveis.

Quem deu a ordem aos polícias para entrarem na sede do Sindicato? Não se sabe. Quem colocou o acrescento ao tal artigo do Código Penal sobre o crime continuado? Não se sabe.

Porque razão a senhora, que está à frente da Casa Pia, afirma desconhecer os factos, quando a anterior lhe passou a pasta e as cartas? Porque não quer responsabilidades.

Os exemplos podem multiplicar-se e é um exercício que as pessoas devem começar a fazer – questionar, sempre, quem é o responsável ou responsáveis. Um nome, nomes, um rosto, rostos.

Os últimos e o actual Governo têm vivido sob o signo do défice. Depois, assiste-se ao jogo dos valores percentuais. Os anteriores estavam com um défice de 6 por cento, os actuais desceram para 3 por cento.

Passa tudo, segundo os entendidos, por uma questão de manipulação. Considerando, nos anteriores, as chamadas receitas extraordinárias, alcançadas, por exemplo, com a venda do património do Estado, o valor final é um, não o tendo em linha de conta, é outro.

Os políticos manipulam os números a seu belo prazer. Quem não é capaz de manipular é o povo – a vida, com o aumento dos impostos, cada vez está mais complicada.

Há aumentos diários nos produtos petrolíferos, nos empréstimos, na alimentação... pode escrever-se, em termos populares, que assistimos dia sim, dia sim, ao aumento do rol da mercearia.
Há responsáveis? Ninguém quer assumir.

A culpa é da crise mundial e da globalização. Nunca ouvimos nenhum político afirmar: «não sou capaz de parar esta avalanche de aumentos». Responsáveis são todos os outros.

Até o povo, a quem foram dadas oportunidades de contrair dívidas, no tempo das vacas gordas, esquecendo-se os responsáveis(?) de alertar que, um tempo de vacas magras vem sempre a seguir ao das gordas. Hoje, Portugal tem mais de dois milhões de pobres. É assustador.

No Governo do PSD, foram taxadas as off-shore com um imposto de 5 por cento. Quem decretou a medida pensou – vamos lixar os que querem fugir aos impostos.

É claro que, passados estes poucos anos, concluiu-se que não lixaram aqueles que pensaram em lixar, mas apenas lixaram o mexilhão. Hoje, há um ou outro que pagou os 5 por cento, o resto desapareceu.

O actual Governo, como a coisa não resultava e o pouco que entrava deixou de entrar, passou o imposto para 1 por cento. Mas o mal está feito. Para recuperar vão ser necessários mais uns anos, até que a confiança se reponha e os investidores acreditem que, afinal, isto não é a república das bananas.

Mandou-se aplicar uma lei de 1997, a propósito as camas paralelas e das habitações para fins turísticos, com a polícia a invadir as agências à procura da documentação que legalizasse as casas como sendo para aluguer a turistas. Foi um cataclismo.

A lei não tinha aplicação possível e quem a fez não seguiu um raciocínio lógico, daí que a maioria das habitações saiu do mercado e as complicações para quem quis legalizar eram muitas.

Há um responsável por este caos? Não há. Quem fez o mal, deve estar bem colocado. Não sendo possível aplicar a lei, há que modificá-la de acordo com a realidade.

Está a ser preparada, e já em ante-projecto, uma lei que passa a definir as tais camas paralelas como «alojamento local», sendo que o mesmo vai ser licenciado pelas Câmaras. Parece que é uma lei concebida com mais realismo.

Quem redige os diplomas legais, pensamos nós, fá-lo, muitas vezes, julgando que estes vão legalizar situações menos claras. Só que a sua concepção não se baseia na realidade, mas na imaginação de quem pensa que é dono da verdade.

Em conclusão – com as atitudes de repressão impostas, acabou-se com muitas habitações utilizadas no chamado mercado paralelo, mas, por arrastamento, desapareceram os jardineiros, os pedreiros, os canalizadores, os electricistas, etc.

Um montão de pequenas empresas que faziam girar a economia regional. Podem questionar – estavam legalizadas? Essa é outra questão desta problemática.

Ninguém gosta de viver em ditadura, e muito menos fiscal. Aliciar a sociedade para a participação, para os verdadeiros valores da cidadania, passa, em primeiro lugar, por reduzir a repressão e aplicar os conceitos de prevenção, de educação, de solidariedade, de subsidiariedade.

Quem se sente reprimido, e o povo sente isso na pele, não abre mão de fugir aos impostos, principalmente quando lhe aplicam a multa por ter trabalhado uma vida inteira para alcançar uma reforma e, agora, exigem que continue a pagar impostos como se fosse um trabalhador normal.

Há nomes e rostos responsáveis por todas estas situações? Não há. Tudo passa de uns para os outros, seja qual for o partido, mas sem nomes e responsáveis. Tudo é abstracto. Ninguém culpa ninguém, nominalmente. É o sistema, uma coisa que não tem rosto. Infelizmente.

NOTA: Os comentários de Hélder Nunes são emitidos todas as quintas-feiras, às 8,30 horas, com repetição às 13 e às 19 horas.