quarta-feira, outubro 31, 2007

A propósito das alterações climáticas


por Fernando Reis (professor e director do Jornal do Algarve)

O “Verão” outonal que estamos a viver, com tempo seco e temperaturas anormalmente altas - muito acima da temperatura média para esta época – fazem-nos reflectir sobre as alterações climáticas que o chamado “efeito de estufa” tem vindo a provocar à escala planetária e o crescente risco de desertificação da Península Ibérica.

Há dias, no seu périplo por Espanha, depois de já o ter dito em Portugal, Al Gore sublinhou isso mesmo: pela sua localização geográfica, a grande massa de terra no seu interior, enquadrada por altas cadeias montanhosas e a crescente influência do ar quente proveniente do Norte de África, a Península Ibérica, sobretudo o interior sul – será a principal vítima do aquecimento global, que as emanações de CO2 têm alimentado. Apoiado em estatísticas, o ex-candidato à Casa Branca lembrou que os períodos de seca são cada vez mais amplos, com o intervalo entre as chuvas a passar de 50 para 60 dias e admitiu que o Verão possa prolongar-se por mais duas a cinco semanas, não se esquecendo de alertar para os riscos de extinção de espécies como a águia imperial e o lince ibérico. A invasão do Mediterrâneo por pragas de medusas e o aumento do número de incêndios florestais são outros indicadores de uma tragédia anunciada, que o Mundo tem obrigação de travar. Mas não são apenas estes os problemas que ameaçam a Península Ibérica, como consequência do aquecimento global, também corremos o risco do aparecimento de doenças tropicais, como o paludismo, a erosão do litoral e a alteração do regime de chuvas, com secas e cheias repentinas.

Há 20 anos, quando Al Gore iniciou a sua cruzada em defesa do Meio Ambiente, muitos não levaram a sério o alerta e, ainda hoje, há quem prefira enterrar a cabeça na areia como a avestruz, não se importando de deixar como legado um planeta em agonia.

O exemplo que aqui vamos deixar veio de Espanha, mas também podia vir dos EUA, que teimosamente se recusam a assinar o Protocolo de Quioto ou do nosso próprio país, onde continua a existir quem, por ignorância ou interesse próprio, rejeita o apocalipse climático. Mariano Rajoy, o líder do Partido Popular, falando em Maiorca, na mesma conferência em que Al Gore deu conta das suas preocupações, invocou, perante a incredulidade dos presentes, o testemunho de um primo, catedrático de Física em Sevilha, que uma vez lhe disse: “Se ninguém é capaz de garantir o tempo que vai fazer amanhã em Sevilha, como é que alguém pode dizer o que se passará no mundo daqui a 300 anos?”

É esta frivolidade do discurso político, que também existe em Portugal, que é preciso combater, se quisermos, efectivamente, lutar de forma séria e honesta contra o aquecimento global. Será que devemos escudar-nos em preconceitos político-ideológicos ou em interesses particulares quando está em causa a nossa própria sobrevivência? Infelizmente também o Algarve e o país não têm sido poupados à voragem desses interesseiros.

NOTA: Os comentários de Fernando Reis são emitidos todas as quartas-feiras, às 8,30 horas, com repetição às 13 e às 19 horas.

terça-feira, outubro 30, 2007

BOAS NOTÍCIAS PARA O ALGARVE

por José Mateus (consultor de comunicação e autor do blogue CLARO)

Há notícias boas para o Algarve… Notícias que mudam o habitual panorama da lamechice e do faz que anda mas não anda. Há notícias de que o Algarve pode mesmo estar a mudar. Senão vejamos:

Para Vilamoura anuncia-se um investimento de quase mil milhões de euros que vai criar lagos navegáveis com casas e hotéis e postos de amarração para barcos, o que permite captar um turismo de iates que até aqui nos estava a passar muito ao largo… Parece, pois, que o capital está a desembarcar no Algarve, com investimentos a sério. Finalmente, parece que vamos passar dos pequenos investimentos abimbalhados, sem capital e sem gosto, coisas pobretanas e feiosas, destinadas à especulação por empresas bimbas e, frequentemente, falidas. E isso, não nos esqueçamos, foi o grande responsável pela degradação do nosso Algarve nos anos 80 e 90. Agora, a confirmar-se este desembarque do capital, torna-se possível a recuperação e a requalificação que o Algarve precisa.

Mas há mais.

O Governo propõe, sob a forma de lei, uma solução que vai resolver o problema das camas ilegais no Algarve. Não será perfeita… mas é uma solução, num problema que se arrasta há décadas sem que ninguém o tivesse procurado resolver. E, desta vez, até há o bom senso de entregar a capacidade de regulamentar a coisa às autoridades locais, às assembleias municipais.

E mais ainda:

O Governo propõe-se resolver de vez o emaranhado legal e o horror burocrático que têm impedido o desenvolvimento do turismo e até – como aqui em tempo referimos – já levaram investidores ao suicídio. Acabar com essa trapalhada horrorosa e única no mundo, uma herança ainda da mentalidade salazarenta, é o que agora o governo de Sócrates está a fazer. Para bem de todos nós e do desenvolvimento do turismo de qualidade no Algarve e da criação de riqueza e de postos de trabalho.

Ou seja, vai acabar esta situação absurda em que as regras são tão complicadas que ninguém as aplica e em que não se consegue fazer um investimento porque falta sempre um papel ou o “ámen” de um funcionário qualquer, de um burocrata ou de um empata. Acabar com isto e criar regras claras e incentivadoras do investimento de qualidade é o que o Algarve há muita precisava… É o que o Governo está a concluir. Portanto, parabéns ao primeiro-ministro José Sócrates!

NOTA: Os comentários de José Mateus são emitidos todas as terças-feiras, às 9,30 horas, com repetição às 15 e às 21 horas.

sexta-feira, outubro 26, 2007

Eutanásia


por Albino Martins (director do Centro Paroquial de Cachopo)

Segundo um projecto de investigação desenvolvido pela Faculdade de Medicina do Porto, cerca de 50% dos idosos institucionalizados, ainda que não sofrendo de doenças crónicas ou terminais, admite a morte assistida e a sua legalização.

Os dados preliminares do inquérito afirma faltar perceber se isso reflecte uma vontade firme ou se é resultado da solidão e abandono que os leva a pensar na morte.

Num outro estudo anterior, cerca de 40% de médicos oncologistas, estariam disponíveis para a prática da eutanásia.

Quanto a este debate que estou certo ocorrerá na próxima legislatura, receio que não seja assente na brutal contradição que diz que a vida é inviolável (veja-se a Constituição Portuguesa) e o eliminar de uma vida porque esta se tornou incómoda.

A resposta a dar ao sofrimento no final da vida é uma atenção cheia de amor, o acompanhamento através da medicina paliativa e não uma ajuda para morrer.

Tomada como simples execução da morte de alguém para facilidade do próprio, ou de outros, a eutanásia choca-se em cheio com o Mandamento: “não matar”. Isto, mesmo que ela corresponda ao desejo da pessoa em questão.

Quanto às outras pessoas, o problema é bastante mais profundo. Vistas as situações com sinceridade, ressalta que, no fundo, o grande motivo é a libertação dos incómodos que elas causam. E deve reconhecer-se que se trata de egocentrismo feroz, tão típico do nosso tempo.

Devido aos actuais meios do prolongamento de vida, compreende-se que não faz sentido as terapias que consistem em manter as pessoas vivas, custe o que custar. Compreende-se igualmente que, não havendo razões de esperança de melhoras, será caso de optar pela chamada prestação de cuidados normais: alimentação, hidratação, suficiente bem-estar.

A perspectiva de se eliminarem as pessoas idosas ou muito doentes, causa bastante mal-estar e angústia.

As pessoas, no fundo, gostam de viver e têm direito à vida.

NOTA: Os comentários de Albino Martins são emitidos todas as sextas-feiras, às 9,30 horas, com repetição às 15 e às 21 horas.

terça-feira, outubro 23, 2007

ESCUTAS E ESQUIZOFRENIA LEGAL

por José Mateus (consultor de comunicação e autor do blogue CLARO)

Parece-me evidente, ou seja, vejo como uma evidência, que os telefones do sr. Procurador-Geral da República estão, como ele disse, sob escuta. Ou, dito de outro modo, que as suas chamadas serão certamente gravadas. Por quem, por quantas entidades e de que natureza é coisa que, obviamente, ignoro. Mas, em Portugal, qualquer “brigada de observação” estrangeira sempre funcionou muito à vontade… E é, igualmente, muito fácil, a partir do exterior das fronteiras portuguesas, escutar qualquer chamada em Portugal… Portanto, o sr. PGR, pelas funções que ocupa e pela informação a que tem acesso e com que lida, deve, muito naturalmente, ser escutado por uma série de gente que tem interesse em saber o que se passa em Portugal. Os telefones dele e os de muita gente que seja considerada de interesse por quem quer saber o que por cá realmente se passa… Recordo-me ainda de, há uns trinta anos, a embaixada da RDA ter adquirido um prédio muito alto no Alto do Pina para proceder a determinadas “tarefas revolucionárias”… Era, na altura, um segredo de polichinelo o que lá se passava. Era de tal ordem que ministros e primeiros-ministros, da altura, eram logo no início das suas funções instruídos sobre as formas práticas e expeditas de empastelar as escutas

O problema do sr. PGR e o de senhores como José Miguel Júdice, na sua reacção a este caso que lhe caiu como sopa no mel, é o de viverem num universo apenas constituído por leis e códigos e ignorarem soberbamente o mundo real, a sua evolução tecnológica e a banalização de aparelhos de capacidades quase ilimitadas… Quando chegarem ao mundo real, todos estes senhores, toda esta gente que vive numa espécie de universo paralelo, de livros e códigos, descobrirá uma realidade prática e tecnológica que nem imaginava! Esperemos que, então, percebam que têm de adequar as leis à realidade, se quiserem que a República Portuguesa tenha algum mecanismo de defesa… E que percebam que serão sempre escutados e que tudo o que podem fazer é regulamentar a prática dessas escutas, dentro da perspectiva da defesa da República e dos seus cidadãos. Ou seja, as escutas vieram, com a tecnologia, para ficar… “Habituem-se”, como diria o António Vitorino numa outra situação.

NOTA: Os comentários de José Mateus são emitidos todas as terças-feiras, às 9,30 horas, com repetição às 15 e às 21 horas.

sexta-feira, outubro 19, 2007

Erradicação da Pobreza


por Albino Martins (director do Centro Paroquial de Cachopo)

O Dia Internacional para a Erradicação da pobreza que ocorreu a 17 de Outubro é uma iniciativa criada por um padre católico em 1987 e que foi assumido pelas Nações Unidas em 1992.

A pobreza é um flagelo contra o qual a humanidade tem de lutar até à exaustão.

Hoje todos somos chamados a uma solidariedade cada vez maior para que nenhum cidadão seja excluído.

Neste sentido, cerca de vinte mil pessoas subscreveram uma petição contra a pobreza, entregue na Assembleia da República pela Comissão Nacional Justiça e Paz.

Os promotores desta iniciativa entendem que a pobreza “constitui uma grave negação dos Direitos Humanos fundamentais e das condições necessárias ao exercício da cidadania, situação que reputam eticamente condenável, politicamente inaceitável e cientificamente injustificável”.

Solicitam assim à Assembleia da República que estabeleça um limiar oficial de pobreza, em função do nível de rendimento nacional e das condições de vida padrão da nossa sociedade, “que sirva de referência obrigatória à definição e à avaliação das políticas públicas de erradicação da pobreza, bem como à fixação de prestações sociais”.

Segundo dados do Eurostat, no ano de 2005, a taxa de pobreza atingiu 20% da população portuguesa – 1 em cada 5 portugueses. Entre as populações mais vulneráveis, encontram-se a infantil e a idosa. Números que encerram “dramas pessoais e familiares”, reveladores do muito por fazer para a concretização do objectivo de erradicar a pobreza.

Passado o dia comemorativo há que passar do discurso à prática. Tomemos consciência de que os problemas da pobreza e exclusão social dizem respeito a todos nós.

NOTA: Os comentários de Albino Martins são emitidos todas as sextas-feiras, às 9,30 horas, com repetição às 15 e às 21 horas.

quinta-feira, outubro 18, 2007

Regionalização, é mentira

por Hélder Nunes (jornalista e director do Barlavento)

«A regionalização não é uma prioridade para os portugueses», afirmou Luís Filipe Menezes, no discurso de encerramento do XXX Congresso Nacional do PSD.

Para quem defendia, na sua moção de estratégia, no capítulo da «descentralização», assumir a regionalização sem preconceitos, aqui se mostra como, quando se obtém o poder, e Luís Filipe Menezes estava indigitado há pouco mais de quinze dias como futuro líder nacional dos social-democratas, se muda radicalmente o discurso, adaptando-o às circunstâncias, de forma a agradar a gregos e troianos, como se a um governante não assistisse o dever de se comprometer com aquilo que escreve ou afirma.

Quanto à questão da regionalização, ficámos entendidos – Luís Filipe Menezes defendeu e escreveu que o «PSD estará disponível para liderar este processo», mas, em abono da verdade, depois de ter recebido recados, nomeadamente de Manuela Ferreira Leite, resolveu inverter as prioridades.

Os portugueses já não anseiam pela regionalização, coisa que irá discutir com as bases e, porque não, como o próprio afirmou, esperar pela alteração da Constituição Portuguesa para evitar a simultaneidade.

Foi como que um recado para o seu vice-presidente Mendes Bota, pedindo-lhe desculpa por não assumir com coragem a descentralização, mas prometendo que o Algarve, se acabarem com a simultaneidade, será a primeira região a instituir no país.

Mendes Bota, líder regional dos social-democratas algarvios, tomou o partido de Luís Filipe Menezes nas eleições directas, mostrando-se seu apoiante desde sempre, porque ele era um regionalista, defensor da descentralização, ao contrário de Marques Mendes, opositor deste modelo administrativo para Portugal.

O que se constata, mais uma vez, é que na política não há compromissos e muito menos valores. Tão só assistimos à ânsia de ocupar o poder a todo o custo, dizendo agora uma coisa que agrada a quem a ouve, para a desdizer amanhã perante outra plateia.

De acordo com a manipulação, como se se tratasse de movimentar marionetas, assim se constrói o discurso, sempre na perspectiva de que o que passou passou, importa é o agora.

E porque não manipular o futuro de forma risonha, prometendo a criação de 150 mil postos de trabalho ou uma nova Constituição, num aceno aos que vêem no documento base da Nação um mal para o crescimento do país.

Luís Filipe Menezes afirmou, na sua moção de estratégia: «o PSD defende que as regiões administrativas poderão ter um papel muito importante na gestão e coordenação dos múltiplos órgãos descentralizados da administração pública, e no estímulo da competitividade criativa e positiva entre diferentes partes de Portugal, contribuindo assim para uma verdadeira coesão económica e social do país».

O líder do maior partido da oposição afirmou, mas não se mostrou coerente com este enunciado, porque os tais sulistas, elitistas e liberais lhe sopraram ao ouvido e, quem tem aquilo, tem medo.

Mais vale um pássaro na mão, que dois a voar.

Luís Filipe Menezes afirmou ao país que o estilo do PSD é de firmeza e esperança, mas, se em algumas coisas deixou transparecer ideias, noutras ficou aquém do desejado e até as retirou do seu discurso.

Começou a moldar a sua figura ao espectro político das elites social-democratas, para conseguir balançar-se entre uma esquerda e uma direita, sem ferir susceptibilidades.

É uma espécie de sopa onde se vai colocando os ingredientes de forma a ficar saborosa para que todos a possam papar.

Regionalização, como prioridade no PSD, é mentira. Há que encarar com frontalidade que Luís Filipe Menezes receou avançar com a descentralização, pegar na lei de Cavaco Silva e dar-lhe expressão na Assembleia da República.

Abriu-se aos autarcas, porque tem que contar com eles. A vida de Lisboa pode trazer-lhe contratempos e nada melhor do que se manter próximo das bases.

Fala num conclave nacional dos autarcas social-democratas, porque Luís Filipe Menezes precisa de ter alguma coisa palpável onde se agarrar. Sem grupo parlamentar, sem uma maioria no Comissão Política Nacional, resta-lhe a área onde se movimentou nos últimos anos - os autarcas.

NOTA: Os comentários de Hélder Nunes são emitidos todas as quintas-feiras, às 8,30 horas, com repetição às 13 e às 19 horas.

quarta-feira, outubro 17, 2007

Os números da pobreza


por Fernando Reis (professor e director do Jornal do Algarve)

Portugal tinha em 2005, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), cerca de dois milhões de residentes em situação de risco de pobreza, o equivalente a 19 por cento da população.

Ainda assim, apesar da vergonha do número, resta-nos a consolação de termos registado menos um por cento que em 2004. Os idosos com mais de 65 anos e os menores de 16 anos registavam as taxas de pobreza relativa mais elevadas: 28 e 23 por cento, respectivamente. Isto é, enquadram-se no conjunto de habitantes com rendimentos mensais de pouco mais de 360 euros por mês.

"No contexto europeu, apenas somos superados pela Lituânia e a Polónia, com 21 por cento da população em risco, situando-se a média europeia nos 16 por cento". De acordo com os dados do INE, a taxa de risco de pobreza mais elevada era de 42 por cento (idosos vivendo sós e famílias com dois adultos e três ou mais crianças dependentes), sendo "o rendimento dos 20 por cento da população mais rica 6,9 vezes superior ao dos 20 por cento da população com menor rendimento".

Ou seja, uma gritante desigualdade social: apenas sete por cento do rendimento líquido das famílias, para os dois milhões de residentes com menos posses, contra 45 por cento para os dois milhões de residentes com mais riqueza. E não fora os rendimentos de pensões de reforma e sobrevivência e os números seriam bem maiores, colocando em situação de risco de pobreza 82 por cento dos residentes com 65 ou mais anos.

O desemprego continua a estar à cabeça deste flagelo. Dos 19 por cento de residentes em situação de risco de pobreza, doze por cento estava empregado, 29 por cento não tinham qualquer trabalho e 25 por cento apenas obtinham rendimentos da reforma. Para completar este drama social, convém sublinhar que se apenas fossem considerados os rendimentos do trabalho, de capital e transferências privadas, seriam cerca de 4,1 milhões de pessoas em risco de pobreza em 2005, o equivalente a 41 por cento da população residente.

Trinta e três anos depois da Revolução da esperança, mais de duas décadas após a integração europeia e numa altura em que se assinala o Dia Mundial para a Erradicação da Pobreza, é esta a realidade social do país. Mais palavras para quê?

NOTA: Os comentários de Fernando Reis são emitidos todas as quartas-feiras, às 8,30 horas, com repetição às 13 e às 19 horas.

terça-feira, outubro 16, 2007

ORÇAMENTO E… MEMÓRIA

por José Mateus (consultor de comunicação e autor do blogue CLARO)

Vem aí o novo orçamento de Estado, o orçamento para 2008. Falemos, então, desse orçamento.

Mira Amaral e Miguel Beleza, dois ex-ministros do PDS de Cavaco, reconhecem hoje no Diário Económico, que é positiva a actuação do Governo na luta contra o défice que já permite tirar o nosso país da “lista negra” de Bruxelas. Da lista negra do défice.

De facto, como recorda Jorge Coelho, também no Diário Económico, o défice, que ultrapassava os 6% quando Sócrates chegou ao Governo, está agora nos 3%! A economia, que estava com crescimento negativo, está agora a crescer quase a 2%! E a dívida pública também apresenta bom comportamento: ou seja, está a descer… Está tudo bem? Não, mas o que não podemos é ter a memória curta.

Temos de saber de que situação partimos e temos de recordar quem nos meteu nela. Temos de saber em que direcção vamos e que caminho estamos a fazer. Temos de saber o que queremos e como lá chegar. É bom, portanto, recordar isso agora e até recordá-lo ao novo presidente do PSD. Luís Filipe Menezes diz que não se resigna ao crescimento mínimo garantido da economia assegurado por este governo e que, diz ele, parece satisfazer Sócrates…

Quando o défice era de mais de 6%, quando a economia não crescia mas antes minguava e quando a dívida pública aumentava, o primeiro-ministro chamava-se … Santana Lopes. Este senhor, por qualquer razão que a razão desconhece, é hoje o nº 2 real do PSD.
Oh, Dr. Menezes, peça ai ao seu nº 2 que lhe refresque a memória… Se é que ele se lembra de alguma coisa…

NOTA: Os comentários de José Mateus são emitidos todas as terças-feiras, às 9,30 horas, com repetição às 15 e às 21 horas.

sexta-feira, outubro 12, 2007

Nonagéssimo Aniversário das Aparições de Fátima


por Albino Martins (director do Centro Paroquial de Cachopo)

Por ocasião do nonagéssimo aniversário das aparições de Fátima é inaugurada naquele Santuário, a nova Igreja da Santíssima Trindade.

Quem habitualmente participa em peregrinações sabe da urgente necessidade daquele templo, capaz de acolher cerca de dez mil pessoas, em condições de conforto.

A Igreja agora inaugurada é de elevada qualidade artística e estou certo enquadra-se muito bem em toda a estrutura do Santuário, não chocando arquitectonicamente com a Basílica e a Capelinha das Aparições.

A sua edificação só foi possível graças às dádivas dos peregrinos de todo o mundo, sem necessidade do recurso às comparticipações do Estado.

É motivo de orgulho dos portugueses esta obra e um legado importantíssimo às gerações vindouras.

Os católicos louvam a protecção da Mãe de Deus, colocando nas suas mãos a vida, os problemas, os sofrimentos e os projectos.

Olhamos para Nossa Senhora, contemplamo-l’A como exemplo de fé e pedimos-lhe que nos alcance a graça duma fé humilde e forte, esclarecida e comprometida.

NOTA: Os comentários de Albino Martins são emitidos todas as sextas-feiras, às 9,30 horas, com repetição às 15 e às 21 horas.

quinta-feira, outubro 11, 2007

Este é o meu grito de revolta!

por Hélder Nunes (jornalista e director do Barlavento)

Não vamos permitir que o Governo, numa atitude meramente fanática, desprovida de sentimentos e de respeito para com as pessoas, feche o Hospital de Dia de Oncologia de Portimão. A pergunta que queremos fazer é muito simples – haverá algum tribunal capaz de julgar um ministro que, pelas suas directrizes, tenha contribuído para a morte de alguns cidadãos?

Porque, se alguém morre por causas alheias ao seu sofrimento, tem que haver um responsável? Ou, como é hábito, infelizmente, não há responsáveis? Tudo é abstracto. Não há rostos.

Tem que haver, de uma vez por todas, a co-responsabilização da tutela respectiva, sob pena de se estar a implantar uma verdadeira república das bananas, em que cada um faz o que quer e não assume as suas responsabilidades.

O Hospital de Dia de Oncologia de Portimão tem serviços de excelência, está humanizado, serve toda a população do Barlavento algarvio. Fechar aquele serviço, por mero capricho ou por simples números matemáticos de uma despesa, é um crime. E os criminosos devem ir a julgamento, ou não?

As pessoas não se podem acomodar, porque um senhor sentado numa cadeira em Lisboa, sem pensar nas pessoas, e sem conhecer a realidade do Algarve, resolve fechar e concentrar a prestação de um serviço em Faro, como se aquela cidade ficasse ao virar da esquina e não fossem dolorosas as deslocações.

Como se tal concentração trouxesse uma melhoria na prestação de cuidados. Ou será que tal visionário já está a magicar passar a pasta para os privados?
A Comissão Permanente de Saúde e Solidariedade da Assembleia Municipal de Portimão, da qual fazem parte políticos de todas as forças partidárias, mostrou-se contra o encerramento do Hospital de Dia de Oncologia.

Com uma moção, aprovada por unanimidade. Mas é pouco, mesmo muito pouco esse documento, que vai parar, numa significativa maioria de casos, ao cesto dos papéis.

Porque quem está ao lado do poder, por conveniência, comodismo, cobardia e para não ser alvo de represálias, ignora simplesmente este grito de revolta. É por isso que não se pode ficar por aqui. É por isso que não podemos pactuar com aqueles que, hoje, querem a morte a sair para a rua.

Fala-se em melhoria de serviços com a utilização do chavão «prestar serviços de excelência». É pura mentira, hipocrisia da mais baixa. É falta de carácter. Não há, nestes casos, um estatuto deontológico que acuse estes senhores de pessoas impuras?

Os políticos, uma esmagadora maioria, dizem o que querem, mentem com todos os dentes que têm, contradizem-se, mas, infelizmente, não há um regulamento para os enviar para julgamento. Achincalham o povo, menosprezam as pessoas como se não fossem iguais, mas não há Tribunais para os julgar.

A falta de sensibilidade e de humanismo de uns senhores que se dizem ministros, que outra coisa não fizeram na vida a não ser viverem à custa do erário público, por conseguinte, dos impostos que cada um de nós paga, servem, tão só, para castigar este povo martirizado.

Nunca trabalharam, não deram no duro para conseguir um bocado de pão. Nunca tiveram um emprego. Foram sempre filhos de um deus maior, que lhes colocou uma mãozinha por baixo. Encostaram-se à política e às tetas da porca.

É impossível compreender, dentro da racionalidade da nossa condição de seres humanos, as atitudes discricionárias impostas por um Governo que não diminuiu o desemprego, antes tem-se assistido ao seu aumento, não foi capaz de reduzir a despesa, antes criou um garrote fiscal, com a carga de impostos e, consequentemente, a subida das receitas, mas sem diminuir as despesas.

Não faz investimentos para controlar o défice. Não tem uma política social. Intitula-se de centro-esquerda para ganhar votos na área social-democrata.

Desvirtuou os seus princípios de um socialismo humanista para ramificar a ideologia centrista, esquecendo as pessoas como princípio fundamental de qualquer Nação.

As pessoas, que em tempos estiveram em primeiro lugar, hoje, estão na cauda das preocupações. Não há política social. Há medidas anti-sociais. Há repressão. Há medo. Há gente a morrer nas valetas. Há mais barracas. Há mais pessoas a pôr fim à vida. Há menos pão. Há mais pobres.

Mas que importa que haja gente a morar debaixo da ponte, se todos eles passam por cima dela, esquecendo que nas entranhas há gemidos de dor? Eles põema música dos rádios mais alta para não ouvirem os ruídos da realidade.

Povo da Nação algarvia, não vamos permitir que se feche o Hospital de Dia de Oncologia de Portimão. Vamos mostrar a nossa revolta se for necessário! Já chega de brincar à governança! Este é o meu grito de revolta!


NOTA: Os comentários de Hélder Nunes são emitidos todas as quintas-feiras, às 8,30 horas, com repetição às 13 e às 19 horas.

terça-feira, outubro 09, 2007

"DUPLO USO" E "CAPITAL DE RISCO", MAIS MOURINHO "THE SPECIAL ONE"

por José Mateus (consultor de comunicação e autor do blogue CLARO)

A Fragata “Vasco da Gama” apreendeu ontem uma lancha rápida com 3 toneladas de droga ao largo do Algarve e deteve 4 indivíduos, oriundos do Norte de África.

Eis um claro exemplo daquilo para que servem os nossos meios da defesa, em tempos sem guerra. Como a Marinha bem disse – e é necessário frisar – esta operação materializa uma filosofia de “duplo uso”… Fixem esta expressão “duplo uso” porque esta filosofia é realmente a que Portugal precisa para ser um país seguro e com desenvolvimento sustentável.

Para o desenvolvimento, de que precisamos absolutamente, o governo acaba de adoptar uma medida inovadora que, diga-se de passagem, há muito mesmo muito tempo devia ter sido adoptada. Mas foi-o agora, portanto, parabéns a este governo.

De facto, criaram-se agora instrumentos de financiamento à inovação e de capital de risco que até agora faltavam dramaticamente… São 530 milhões para capital de risco… Ninguém mais poderá dizer que o capital de risco não existe em Portugal. Este Governo entendeu o que há muito deveria ter sido entendido: sem capital de risco não há inovação nem choque tecnológico.

Finalmente, Mourinho, o nosso José the special one, vai ser o rosto da campanha de promoção do Algarve no mercado inglês… Uma boa decisão do secretário de estado do Turismo, Bernardo Trindade. Com as saudades que os ingleses já têm de Mourinho vão gostar, de certeza, imenso de o ver.

NOTA: Os comentários de José Mateus são emitidos todas as terças-feiras, às 9,30 horas, com repetição às 15 e às 21 horas.

terça-feira, outubro 02, 2007

O turismo tão maltratado...

por José Mateus (consultor de comunicação e autor do blogue CLARO)

O turismo gera, em França, 12 mil milhões de euros de excedentes na balança de pagamentos. Gera dois milhões de empregos – daqueles que não podem ser deslocalizados – e 72 milhões de visitantes… Tudo isto dá uma participação do turismo de 6,5 por cento do produto interno bruto francês. A agricultura, também em França, emprega menos de metade das pessoas que trabalham no turismo e representa 2% do PIB… Daí que os franceses se andem a interrogar sobre o sentido que faz ter o turismo entregue a um secretário de Estado e a agricultura a um ministro.

Os números são, de facto, arrasadores: 900 mil empregos na agricultura, contra 2 milhões no turismo; 2 % do PIB na agricultura contra 6,5 por cento no turismo. Só a dificuldade que as mentalidades têm em acompanhar o andamento de uma realidade que se transforma rapidamente explica este atraso, esta situação invertida. De facto, o turismo deveria ter um ministro e a agricultura um secretário de Estado…

Guardadas as proporções, o que se passa aqui em Portugal é – vocês já perceberam – exactamente o mesmo…

Quando é que as mentalidades dos nossos governantes evoluem o suficiente, para se harmonizarem com a realidade, é que… não sabemos.

Uma nota final:

A judoca algarvia, a Ana Cachola, está a um passo de conseguir a classificação para os jogos olímpicos de Pequim 2008. A Ana tem estado imparável na sua caminhada vencedora, pelo que, tudo indica, vamos ter uma atleta algarvia em Pequim. Parabéns, Ana, alma e concentração até Pequim.

NOTA: Os comentários de José Mateus são emitidos todas as terças-feiras, às 9,30 horas, com repetição às 15 e às 21 horas.