sexta-feira, março 30, 2007

A morte de um amigo


por Albino Martins (director do Centro Paroquial de Cachopo)

Cansamo-nos, empenhamo-nos, agitamo-nos, discutimos, angustiamo-nos com a finalidade de obter cada vez mais bem-estar, mais sucesso.

Se considerássemos “a brevidade dos nossos dias”, as coisas por que lutamos com tanto afinco, seriam reduzidas às suas justas dimensões.

Não somos sábios quando procuramos de todos os modos remover o pensamento da morte. Ela é companheira de caminhada, dada a nossa frágil natureza humana.

Ela chegou sem prevenir e atingiu o amigo Álvaro Azinheira do Centro Distrital de Segurança Social de Faro.

Fiquei chocado!

Como amigo sinto que a sua memória jamais se apagará. Ficará sempre vivo em cada Instituição de Solidariedade que apoiou.

Desempenhou causas, generosamente serviu…

Havia sempre uma solução para os problemas que surgiam. Agarrado à legalidade, encontrava sempre a melhor forma de ajudar as Instituições Particulares de Solidariedade Social.

Por isso não estranhei a atitude consternada de sua família, centenas de dirigentes e técnicos de instituições, colegas de profissão e altos dirigentes do Centro Distrital, nas suas exéquias em Olhão.

A partir da amizade e da fé, eu faço um apelo a todos à paz de coração e também à confiança em Deus, para que possamos ir um pouco além das duras circunstâncias que vivemos.

Que os duros golpes com que a vida nos açoita, sirvam para tornar mais fortes os vínculos em que mutuamente nos apoiamos. Que Deus tranquilize o mais possível o nosso coração, conforte sua família e consiga dar tranquilidade à nossa vida.

O Algarve Social perdeu o Álvaro, mas estou certo, ganhou no céu, um Anjo.

NOTA: Os comentários de Albino Martins são emitidos todas as sextas-feiras, às 11 horas, com repetição às 17 e às 23 horas.

quarta-feira, março 28, 2007

Jornal do Algarve: 50 anos de informação e luta


por Fernando Reis (professor e director do Jornal do Algarve)

Faz hoje, precisamente, 50 anos que, pela mão de José Barão e de um grupo de vila-realenses ligados às artes gráficas, ao mundo empresarial e ao cineclubismo, foi fundado o Jornal do Algarve. Estávamos no ano de 1957. Como nos lembram nos seus artigos evocativos desta efeméride, Horácio Neves e José Cruz, a Europa do pós-guerra lançava as sementes do seu projecto de União e o mundo começava a abrir as portas a um progresso que tem transformado a ficção em realidade, a um ritmo cada vez mais vertiginoso.

Por força da ditadura fascista de Salazar e de uma mentalidade que transformou o nosso passado de grandeza numa pequenez que, ainda hoje, apesar de mais de três décadas de democracia, nos coloca na cauda da Europa, Portugal vivia um período de grande agitação política, através de múltiplas manifestações da oposição republicana e democrática. É neste contexto que José Barão, com o seu profissionalismo e fervor regionalista, funda, na sua terra natal, Vila Real de Santo António, um jornal que fosse "um grito que partindo de um extremo da terra algarvia se ouça por toda ela ....". Isto é, um jornal de verdadeira dimensão regional que, apesar das grilhetas da censura, fosse capaz de se bater por causas que contribuíssem para o desenvolvimento da sua querida "Província".

Lança, assim, nas páginas do Jornal do Algarve, a Operação Algarve-Turismo e, quando a opinião pública já parecia satisfeita com a construção de um aeródromo e de um instituo superior, José Barão não abdica de reivindicar um Aeroporto e uma Universidade e, numa grande visão de futuro, vai mesmo mais longe, considerando que o Algarve devia ser encarado como uma grande cidade, atravessada por uma grande avenida, a estrada nacional 125. Há 50 anos, José Barão já visionava o Algarve como uma grande Área Metropolitana. Espantoso!

Hoje, metade deste percurso de meio século tem sido feita pela mão da Viprensa, que adquiriu o título em 1983. Herdámos um Jornal com passado e com prestígio, mas com um estrutura que começava a ser arcaica e a não estar à altura dos desafios de uma nova era que despontava já no domínio da comunicação. Percebemos que tínhamos que ser capazes de fazer evoluir o Jornal, no respeito pelo legado que tínhamos nas mãos.

Deste modo, procurámos caldear a paixão regionalista e o espírito combativo de José Barão com a irreverência e o espírito inovador de quem sabe que os projectos têm que acompanhar a marcha do tempo. É nesta caminhada que estamos hoje. Em 24 anos, passámos da tipografia para os mais modernos processos de edição digital. Crescemos em efectivos, jornalistas, gráficos e administrativos. Lançámos há 17 anos um Magazine mensal a cores, pioneiro ao nível da imprensa regional e em 1998 uma edição on-line. Com o Expresso e mais 17 títulos regionais constituímos em Dezembro de 2003, a Rede Expresso, que é a maior sinergia de jornais da imprensa portuguesa, com uma audiência semanal de 1,2 milhões de leitores.

Com José Barão, o JA pugnou pelo desenvolvimento do turismo, pelo aeroporto, pela universidade e por muitas outras infra-estruturas fundamentais para a modernização da região. Connosco, o JA lutou pelo saneamento básico, pela ponte internacional do Guadiana, pela Via do Infante, pela auto-estrada e continua a lutar pelo desenvolvimento do interior, pela requalificação urbana, pelo ordenamento, por um turismo de qualidade, pela defesa do nosso património e tradições. Em suma, pelo progresso sustentado do Algarve.

José Barão anunciou um Jornal que se fizesse ouvir em todo o Algarve, nós continuámos a obra. Em 1999, inaugurámos uma delegação em Portimão para servir melhor o barlavento. José Barão colocou o JA no topo da imprensa regional. Nós temos mantido essa liderança. Em comum temos o mesmo espírito inovador e reivindicativo e a mesma paixão por um jornalismo sério e responsável, que recusa o sensacionalismo.

Quando se despedia da vida, em 30 de Agosto de 1966, José Barão fez o seguinte pedido: “Não deixem morrer o Jornal do Algarve”. Decorridos 41 anos, o Jornal continua vivo e preparado para novos desafios e José Barão à espera da homenagem que o Algarve lhe deve.

NOTA: Os comentários de Fernando Reis são emitidos todas as quartas-feiras, às 9 horas, com repetição às 15 e às 21 horas.

terça-feira, março 27, 2007

É preciso acabar com o velho "é fartar vilanagem"...

por José Mateus (consultor de comunicação e autor do blogue CLARO)

Este nosso país é um sítio com muita graça… Tanta que às vezes até dá vontade de chorar ou então mete raiva.

Ele é o ministro que faz um ajuste directo de milhões de euros para uma campanha que assassina uma das pouquíssimas das nossas marcas globais. Ele é o fartar vilanagem em que sem organização, nem regras e nem objectivos se gasta o pouco dinheiro que ainda temos e mais o que não temos… e sem que daí venha qualquer vantagem para o país que somos nós todos. Ele é o regabofe que já entrou nos hábitos desta República mas a que é urgente pôr termo, se quisermos continuar a existir como povo e como nação.

Estou, por exemplo, a lembrar-me do escândalo dos senhores que saem de empresas públicas com chorudas indemnizações de centenas de milhares de euros e são readmitidos semanas depois com ordenados de 6 ou 8 mil euros, iguais ou superiores ao que tinham antes.

Estou também a lembrar-se do caso dos autarcas e gestores de câmaras falidos com ordenados milionários bem superiores ao do próprio Presidente da República, por vezes, quase o dobro!

E o que tem mais graça é que esses milionários estão em câmaras falidas, como a de Lisboa por exemplo. Ou seja, há autarcas e gestores a ganhar à tripa forra em câmaras falidas!

E tem ainda muita graça o facto do presidente da associação nacional dos municípios portugueses, o social-democrata, Fernando Ruas, de Viseu, ter vindo dizer que… “não sabia”! Veja-se bem… o homem não sabia o que se passa por nas câmaras e empresas municipais. Nunca tinha ouvido falar… Tem muita graça. Mas devemos rir ou chorar? Ou ter um ataque de raiva?

Felizmente, que o Tribunal de Contas veio agora dizer que este farrabadó não é possível, nem é legal e que, portanto, tem de acabar.

Mas esperemos que não acabe só. Esperemos que as ilegalidades sejam corrigidas e sancionadas. É claro que a esperar assim o melhor será comprar uma cadeirinha, para poder estar sentado enquanto se espera…

Felizmente ainda que no “top-ten” desses ordenados milionários de autarcas gestores de câmaras falidas não aparece nenhuma câmara do nosso Algarve… Ao menos isso,
felizmente.

Mas é urgente acabar com o velho "é fartar vilanagem"...

NOTA: Os comentários de José Mateus são emitidos todas as terças-feiras, às 11 horas, com repetição às 17 e às 23 horas.

quinta-feira, março 22, 2007

Estamos em exílio

por Hélder Nunes (jornalista e director do Barlavento)

«A política, longe de me oferecer encantos ou compensações, converteu-se para mim, talvez por exagerada sensibilidade minha, num sacrifício inglório. Dia a dia, vejo desfolhar, de uma imaginária jarra de cristal, as minhas ilusões políticas. Sinto uma necessidade porventura fisiológica, de voltar às minhas preferências, às minhas cadeiras e aos meus livros». (Do prefácio do livro de Joaquim António Nunes «Da Vida e da Obra de Teixeira Gomes», 1976)

Muitos algarvios estão, neste momento, a atravessar o momento crítico vivido por Manuel Teixeira Gomes, enquanto Presidente da República.

A desilusão de olhar a região e sentir o marasmo que atravessa, o abandono em que está, fruto da política governamental, que estagnou as verbas dos fundos europeus sem encontrar alternativas, sabendo que é injusto termos saído do Objectivo 1, por força das estatísticas e da entrada dos países do Leste na União Europeia.

Sentir no dia a dia o desfolhar, não das ilusões políticas, porque muitos algarvios já se desligaram dessa corrente do pensamento, mas da dura realidade que se enfrenta. As pescas estão como estão.

Tanto mar e tão pouco aproveitamento das suas potencialidades piscatórias, talvez porque certos governantes pretendam o abandono deste tipo de faina, para que as águas possam ser ocupadas por plataformas exploradoras de petróleo.

Na agricultura, assistimos a coisas anedóticas, como financiamentos para frutos tropicais, esquecendo a alfarroba, o figo e amêndoa.

Como este «Algarve Azul», de Teixeira Gomes, se vai transformando em «Algarve Cinzento», poluído e cheio de coisas feias, a lembrar que, quem as mandou erguer, não tinha a sensibilidade.

Num destes dias ouvi na televisão um daqueles não habituais comentadores, traçar com um realismo simplista a verdade deste país, a origem dos políticos medíocres, a forma como actuam para massacrar o povo, porque nada mais lhes resta onde possam mandar.

E ao olhar para esta minha terra, esta Nação Algarvia, sinto que o desprezo aumenta dia após dia – como é possível que queiram considerar a Fortaleza de Sagres como uma das Maravilhas de Portugal se o Estado, proprietário do imóvel, deixa que a degradação vá corroendo aquele símbolo da nossa história?

Por pura ignorância, por negligência, por desprezo, pela mediocridade que a maioria dos governantes leva às costas.

O tratamento dos esgotos dos suínos nos concelhos de Monchique e de Silves está previsto começar no ano 2010. Falamos de uma região turística, onde se gera grande parte do pão para a boca dos portugueses.

As barragens, que deviam ser construídas, também não o são, porque não convém ao Governo central. É tudo uma questão de planeamento, mas outros interesses se levantam.

A desertificação do Barrocal e da Serra são evidentes. Os irresponsáveis não querem que as pessoas voltem para as aldeias, deixem de exercer pressão sobre o litoral, acham que assim é que deve ser. Voltar a florestar a serra com preceito, com plantas autóctones, é pura ilusão.

As aldeias não voltam a crescer, porque os homens não deixam, quando se podiam fazer planos de pormenor e de crescimento urbanístico, porque, no dia em que for possível viver com condições de salubridade nas aldeias, os citadinos fogem da poluição.

Há boas estradas, tem que haver água canalizada e esgotos que possam traduzir o viver das gentes, numa vida com qualidade.

Hoje, viver no Algarve não tem nada com os traços escriturados por Manuel Teixeira Gomes sobre esta terra. Há um tipo de vivência sazonal, onde a hotelaria dá ocupação por uns meses, os suficientes para o recurso ao subsídio de desemprego e o resto do tempo é viver de ganchos, de trabalho ilegal e de todo o tipo de expediente.

Somos 400 mil e dentro em breve seremos muitos mais, porque o Governo quer aumentar tudo em 50 por cento, daí que se espere que a população siga essa estatística.

A 17 de Dezembro, Manuel Teixeira Gomes embarca no paquete grego «Zeus», ruma o Bouguie, na Argélia, localidade que ele próprio considerava como «uma Sintra à beira-mar», num auto-exílio voluntário, sempre em oposição ao regime de Salazar, nunca regressando em vida a Portugal.

Resta-nos a nós, algarvios, ter a sensibilidade de Teixeira Gomes, e como nos falta a coragem para nos auto-exilarmos, lutarmos para que a regionalização e o poder administrativo sejam fruto das entranhas desta terra.

Neste momento, estamos em exílio, na nossa própria Nação.

NOTA: Os comentários de Hélder Nunes são emitidos todas as quintas-feiras, às 9 horas, com repetição às 15 e às 21 horas.

terça-feira, março 20, 2007

Parem de Brincar com o Algarve

por José Mateus (consultor de comunicação e autor do blogue CLARO)

Portugal tem 2 ou 3 marcas globalmente afirmadas e conhecidas. Vinho do Porto, Benfica e… Algarve. E nem mais uma. Talvez a Sonae tenha as condições para se tornar uma marca global, se Belmiro quiser. Mas por agora as que há são estas: Vinho do Porto, Benfica e Algarve. Há… Quer dizer, havia… Porque, estupidamente, alguém decidiu assassinar uma das nossas poucas marcas. Alguém decidiu matar a marca Algarve…

É mau de mais para ser verdade! Supõe-se que este assassinato foi orquestrado pelo ministro da Economia, um tal Pinho, que deve ter pago por isto uma nota preta a um publicitário pateta.

Esta idiotice, que se pagou e paga caro, revela ainda que existe gente em Lisboa que trata o Algarve como uma colónia… E os algarvios deixam! Veja-se o silêncio do PS, apenas quebrado por José Apolinário, da Câmara de Faro… Está bem que, ao que me dizem, o PS Algarve é agora dirigido no terreno por Sérgio Viana, que não é homem de discursos, mas, que diabo, diante de uma enormidade tão grande como esta do ALLgarve, o PS tinha de dizer alguma coisa! Para que, pelo menos, se saiba que existe. Mas não… Só Apolinário tem voz e existência.

Apetece brincar com a “pinhoada” do ALLgarve.

Dizer que facto do Ministério da Economia ficar na rua da Horta Seca o tornou num… deserto de inteligência.

Dizer que agora há o ALL entejo, a ALLqueva, a ALL mada o ALL meirim e o ALL cochete… etc. etc. etc.

Imaginem só que este pobre ministro era gestor de marcas… antes que alguém tivesse tempo do despedir, ele iria mudar o nome à IBM para OBM, a Coca-Cola passaria a Coca Co/a, a Microsoft a Macrosoft etc.

Será possível um país da Europa ter um ministro da Economia que não sabe o que é uma marca e não sabe o seu valor? E se porta como um colonialista?

Por favor, PAREM DE BRINCAR COM O ALGARVE!

NOTA: Os comentários de José Mateus são emitidos todas as terças-feiras, às 11 horas, com repetição às 17 e às 23 horas.

sexta-feira, março 16, 2007

Recordar as vítimas de violência doméstica


por Albino Martins (director do Centro Paroquial de Cachopo)

Celebrou-se o Dia Internacional da Mulher e ocorre quase em paralelo a Semana contra a Violência Doméstica, promovida pelos Municípios e Regiões da Europa que debatem esta temática em Congresso.

A violência doméstica, para além de ser um crime punido pelo código penal, é um verdadeiro flagelo social que afecta muitas famílias, com particular incidência nas mulheres e crianças.

Estou atento às conclusões do congresso. Nelas anseio por estratégias de prevenção e intervenção na violência.

Sendo um crime público, deve ser denunciado por qualquer pessoa, desfazendo-se o velho ditado “entre marido e mulher, não se mete a colher”.

A denúncia de terceiros é fundamental, pois muitas vezes o agressor é o único apoio da vítima, ou seja, a mulher está normalmente dependente financeira e psicologicamente do homem que, apesar de agredida, prefere não o denunciar, muitas vezes acreditando ingenuamente que a situação vai mudar.

É bom recordar que a vítima de violência física, psicológica e sexual (os três tipos de violência doméstica) tem hoje ao seu dispor várias ajudas que vão desde as forças de segurança às organizações não governamentais.

Entendo ser chegado o momento de sancionar ainda com mais firmeza a violência de que as mulheres são vítimas. Apoiemo-las com ajuda social, médica e financeira.

Elas bem merecem a solidariedade de toda a comunidade que as envolve.

NOTA: Os comentários de Albino Martins são emitidos todas as sextas-feiras, às 11 horas, com repetição às 17 e às 23 horas.

quinta-feira, março 15, 2007

Quando a velhada saltar para terra, os barcos encostam

por Hélder Nunes (jornalista e director do Barlavento)

A pesca no Algarve, dentro de poucos anos, vai desaparecer por completo. É normal, em muitos colóquios e conversas que os partidos agora começaram a organizar, deixarmos de ouvir falar em pescas e agricultura, tudo se resumindo a turismo, comércio e construção.

São, por isso, duas actividades tradicionais desta terra à beira mar plantada com tendência para, lentamente, reduzir a sua actividade e ser engolidas pela voragem da especulação.

Como dizia Josué Marques, do Sindicato dos Pescadores, «quando a velhada saltar para terra, os barcos encostam».

Nada disto parece preocupar os dirigentes da classe política. As fábricas de conservas já abalaram, algumas embarcações de pesca continuam a sua faina, outras passaram para propriedade dos espanhóis, e, nós por cá, a ver o peixe passar e as infra-estruturas a definharem por não terem aplicação.

E na nossa frente temos tanto mar…
No princípio da semana, os pescadores manifestaram-se junto da Capitania do Porto de Portimão.

O comandante do porto aplica a chamada tolerância zero, sacudindo a água do capote, dizendo que as leis não foi ele que as fez e tem que as aplicar. Digamos que, nestas coisas do mar, há muito que se lhe diga, e toda a gente aponta para o excesso de zelo e para atitudes que quase tornam impraticável a pesca artesanal.

Lentamente, como quem não quer a coisa, a pesca artesanal vai morrendo, os barcos apodrecem na água, e os homens, cansados, deixam cair as lágrimas nas mãos comidas pelo sal.

Não há meio-termo, nem tão pouco um sistema de tolerância que possa educar os pescadores, dando-lhes conselhos.

O diálogo é a melhor forma de se chegar a um consenso e esse não foi conseguido. Resta aos pescadores unirem-se, levarem as suas mulheres para bordo, e partirem para o mar, desafiando as autoridades, porque no dia em que forem todos presos ou os barcos arrestados, porque não pagaram multas, talvez o Adamastor acorde e perceba quanto são necessários estes homens na faina, para que o deserto não comece no horizonte, onde passam os petroleiros.

A luta dos pescadores, perante as condições de pesca existentes, talvez tenha razão de ser. Por isso, os senhores deputados eleitos pelo Algarve deviam ter-se deslocado à manifestação, para falar directamente com as pessoas, perceber o que se passa. Afinal, os deputados são para defender as causas do Algarve ou não?

Não era uma boa altura para os deputados ficarem sensibilizados e interessarem-se de forma a sensibilizar o Governo, que já provou nada perceber das coisas do mar, nem de como estas funcionam, adaptando as leis à realidade deste tempo?

O que sentimos, em abono da verdade, é que as pescas não são um sector aliciante para os jovens, porque, como dizia o Josué Marques, o trabalhador sai para o mar com salário zero e, se a pescaria correr mal, regressa com os bolsos vazios. Ninguém gosta de trabalhar sem receber.

As organizações de produtores deviam ser mais agressivas, protegerem o produto do seu trabalho e não alinhar no sistema que se encontra instalado. Onde está a rede de frio de que ouvimos falar há anos?

Por que razão não determinam os custos do seu produto, que devia ter por base o cálculo dos gastos em gasóleo, manutenção do barco, descontos para os organismos respectivos e outros, impondo que o seu pescado só possa ser vendido acima daquele preço?

Com toda a burocracia reinante, mais a fiscalização férrea, não é de admirar que o pescador, sempre que pode, faça contrabando do peixe que pescou, o venda na paralela, porque o sistema obriga a que se proceda dessa forma.

Como também não é de admirar que, por força das circunstâncias e do aliciamento com dinheiro fácil, tenhamos alguns pescadores transformados em traficantes de droga, trazendo do alto mar para terra este produto. A ocasião faz o ladrão.

Os deputados, as Câmaras Municipais e as Assembleias Municipais dos concelhos com tradições na pesca, devem debater profundamente este tema, sob pena de, num destes dias, as gaivotas que já tomaram de assalto os aterros sanitários, deixem definitivamente de voltar ao mar, porque já não há barcos que lhes atirem algumas sardinhas.

Há dois sectores morrendo à nossa volta – a pesca e a agricultura. A impotência em encontrar respostas, a falta de dinamismo para que possamos, já não digo exportar, mas, pelo menos, produzir para o nosso consumo interno.

Pensar o Algarve em todas as suas vertentes, como uma região de verdadeiro interesse nacional, é urgente, porque já se foi o Objectivo Um, muito por culpa nossa, passámos ao Objectivo Dois, mas nada fazemos para encarar esta nova realidade. Sem produzir, seremos sempre um país pobre.

NOTA: Os comentários de Hélder Nunes são emitidos todas as quintas-feiras, às 9 horas, com repetição às 15 e às 21 horas.

quarta-feira, março 14, 2007

As grandes superfícies e o comércio tradicional


por Fernando Reis (professor e director do Jornal do Algarve)

Em 16 anos, desde que foi inaugurado, pela mão da Sonae, o primeiro centro comercial no Algarve, o número de grandes superfícies comerciais cresceu de forma tão vertiginosa, que hoje existem mais de oitenta, transformando a Região num autêntico “El Dorado” do grande consumo – daquele em que se compra o que se quer e não se quer – para desespero do comércio tradicio-nal que por mais tentativas de modernização até agora ensaiadas continua moribundo e incapaz de resistir à lógica dos hiper-comércio.

E se o panorama actual já é deveras preocupante, mais negro se perspectiva o futuro imediato com a abertura de mais quarenta e cinco grandes superfícies nos próximos dois anos. Convém lembrar que os respectivos projectos já foram autorizados. Para que se perceba melhor que este problema, no Algarve, é muito mais grave que no resto do país, enquanto a média nacional de área comercial é de 161 metros quadrados por cada mil habitantes e a europeia de 196, em Portimão e Albufeira é de 2595 e 2455 metros quadrados por mil habitantes, em Lagoa de 625, em Lagos de 540 e em Silves de 335. Se a este quadro juntarmos o facto de o consumidor algarvio ser frequentador das grandes superfícies de Cartaia, Huelva e Sevilha – e a partir de agora, também do Plaza de Ayamonte – a situação é, ainda, mais preocupante.

Há, subjacente a esta proliferação de grandes superfícies, uma lógica que resulta da própria natureza da economia de mercado em que vivemos a que, naturalmente, o próprio consumidor adere, pelas vantagens que daí lhe advêm em termos de gestão do orçamento familiar e o argumento normalmente evocado por quem autoriza ou concorda com a criação destes espaços que é a de que os mesmos proporcionam a criação de muito mais postos de trabalho.

A propósito da reportagem que inserimos nesta edição, o presidente da câmara municipal de Tavira diz que a abertura de um centro comercial na sua localidade se justifica porque vai gerar 500 novos postos de trabalho e o director regional de Economia, Mendonça Pinto, não apenas corrobora na mesma tese afirmando que os 61 novos espaços previstos vão criar cerca de mais dois mil postos de trabalho, como considera-os um factor positivo para a modernização do comércio tradicional, já que os fundos provenientes das taxas e licenças das médias e grandes superfícies – diz – revertem a favor dessa modernização.

O que não se diz é que, ao mesmo tempo que abrem oitenta grandes superfícies numa década, todos os anos fecham as portas mais de 200 estabelecimentos de comércio tradicional, numa torrente, até agora, imparável. E não são, apenas, as falências e o desemprego que estão em causa, é também parte da nossa identidade que se vai perdendo com o fim das tradições, absorvida pelo capital sem rosto das grandes multinacionais. Será que podemos ansiar por outro destino que não seja o de nos transformarmos – o país - cada vez mais num enorme hipermercado de uma Europa que só nos quer como consumidores dos seus produtos?

Porque será que quando se fala na possibilidade de uma regulação racional do número de grandes superfícies, há logo quem argumente que essa deve ser ditada pelo próprio mercado? Regulação, mesmo, só quando esses grande mega-espaços se comerem uns aos outros e o país estiverem de “tanga”.


NOTA: Os comentários de Fernando Reis são emitidos todas as quartas-feiras, às 9 horas, com repetição às 15 e às 21 horas.

sexta-feira, março 09, 2007

Banco Alimentar contra a Fome no Algarve


por Albino Martins (director do Centro Paroquial de Cachopo)

No dia 1 de Março, no auditório da Universidade, no Campus da Penha, em Faro, foi assinado entre a Federação Portuguesa dos Bancos Alimentares de Portugal e a Associação Pró-Partilha e Inserção do Algarve, o contrato que permitiu a criação do Banco Alimentar contra a Fome do Algarve.

No dia seguinte, li artigo no Correio da Manhã que dizia que dez mil famílias passam fome no Algarve – representando 35 mil pessoas, sete por cento da sua população.

Fiquei arrepiado. Confesso que não acredito nos números.

Acredito que existam dez mil famílias carenciadas, mas nunca esse volume de pessoas a passar fome.

As Instituições Particulares de Solidariedade Social e entidades congéneres como a Cáritas, as Conferências de S. Vicente de Paulo e Equipas de Voluntários, com o apoio do Estado, têm promovido os cidadãos algarvios, não ficando indiferentes às dificuldades dos mais vulneráveis, buscando a promoção de igualdade de oportunidades para todos. A opção pela solidariedade tem minorado as carências evitando a fome, em números que agora se relatam injustamente.

O Banco Alimentar contra a Fome é bem vindo ao Algarve. Estão de parabéns o Dr. Adriano Pimpão e a sua equipa.

Os Bancos Alimentares aproveitam o que sobra para distribuir onde falta. Recebe de empresas e particulares os seus excedentes e dádivas que depois são entregues às Instituições Particulares de Solidariedade Social, entidades que mais próximas dos cidadãos, nas diferentes freguesias, farão chegar aos mais vulneráveis e carenciados, o apoio alimentar necessário para evitar a fome.

As desigualdades sociais, ao ponto de provocar fome no Algarve, a existirem por incapacidade de lhes dar resposta, a todos deve envergonhar e a mudar estruturas e mentalidades, dando de comer a quem tem fome. Não esqueçamos que o Conselho Europeu determinou ser este o “Ano Europeu da Igualdade de Oportunidades para Todos”.

NOTA: Os comentários de Albino Martins são emitidos todas as sextas-feiras, às 11 horas, com repetição às 17 e às 23 horas.

quinta-feira, março 08, 2007

Grande português

por Hélder Nunes (jornalista e director do Barlavento)

O concurso que a RTP lançou, denominado «Os Grandes Portugueses», que funciona com os votos dos telespectadores, seleccionou dez nomes – D. Afonso Henriques, Cunhal, Salazar, Aristides de Sousa Mendes, Fernando Pessoa, Infante D. Henrique, D. João II, Camões, Marquês de Pombal e Vasco da Gama – partindo, agora, na busca daquele que será o «Grande Português».

Cada um na sua época foi o que foi, e com isto não pretendemos, de forma alguma, defender este ou aquele tipo de política imposta por cada figura. Foram épocas.

Em abono da verdade, hoje, principalmente entre os jovens, assistimos a um certo descrédito da democracia, e começa a ser preocupante e normal vermos saudações nazis e outro tipo de manifestações anti-democráticas, que devem ser o alvo das nossas atenções. Estes jovens de hoje serão os adultos de amanhã, fruto da preparação política que receberem no dia-a-dia.

O que acontecer no futuro é culpa de todos os adultos de hoje. Assim como houve um 25 de Abril, por culpa de uma ditadura que nos governou durante 50 anos, pode dar-se o inverso dentro de 20 anos.

Os políticos de hoje, a ditadura disfarçada dos partidos, que mascaram os actos metendo no meio uns ditos independentes, com tendência para a esquerda ou para a direita, não são fomentadores da cidadania, da ordem democrática. Aplicam princípios de conveniência em quase tudo em que é intervenção estatal. Infelizmente.

Se olharmos para a maioria dos políticos que saíram do circuito da Assembleia da República, dos Governos e de outros lugares de nomeação, vamos encontrá-los nas administrações de empresas, isto é, a convivência entre o poder político e o económico é por demais evidente.

A protecção das forças partidárias, por vezes até de forma indirecta, existe. A credibilidade cai pela base quando o povo, sentindo-se lesado pela má gestão de um político, acaba por vê-lo recompensado com um cargo internacional ou numa empresa da esfera do Estado. Tem sido assim e vai continuar a sê-lo, a menos que as regras eleitorais se alterem, e todos os cidadãos, independentemente de pertencerem a um partido, possam concorrer ao lugar de deputado ou a outro qualquer onde o povo seja chamado a votar.

Como é que vamos classificar o facto de o turismo, principal indústria do Algarve e a que mais contribui para o enriquecimento do país, ser considerado pelo actual Governo do PS, aquele que afirmava que as pessoas estavam primeiro, como uma área estratégica não relevante?

Quando o Algarve, no actual Quadro de Referência Estratégico Nacional, é prejudicado na atribuição dos fundos comunitários na ordem dos milhões, só podemos pensar que estamos a ser marginalizados e explorados. Como o povo explorado e marginalizado é característica de determinados regimes políticos, pela lógica, não estamos em democracia, pois não?

Miguel Freitas, presidente da Federação do PS Algarve, voltou a convidar-me para participar no seu Conselho Consultivo, do qual saíram alguns dados interessantes, mas tudo isso seria óptimo se nos encontrássemos numa região onde o sistema educativo formasse bons e altos valores, onde não existissem 150 mil famílias com fome, etc. Tudo tem valor quando se trata de aprofundar a democracia e a cidadania, no entanto, uma casa não se pode construir a partir do telhado.

Há uma realidade social, que não aquela que os estudiosos de gabinete, sentados em Lisboa ou Bruxelas, apontam nos relatórios ou nos trazem em forma de números. O que se passa na rua e em milhares de lares desta região é bem diferente do que muitos pensadores possam julgar. Os filhos deixam de ir à escola porque os pais não têm dinheiro para livros, porque a própria marginalidade em que viveram durante muitos anos os atira para esse beco, tudo porque não houve uma preparação de base, apenas se resumiu à obrigatoriedade da escolaridade ser feita até ao 9º ano.

Quando se fala em conteúdos, estamos a falar da falta de electricistas, de canalizadores, de mecânicos, de pescadores, de agricultores ou pensa-se nas altas tecnologias informáticas? Que realidade temos na nossa região? A maioria dos concelhos não possui creches, nem tão pouco as escolas pré-primárias, a base dos pilares para o básico e o secundário, onde o Governo e as autarquias deviam apostar, colocando aí os melhores professores, aqueles que sentem prazer em ensinar.

Infelizmente, não é disto que os políticos falam, das carências em termos de ensino pré-escolar e, porque não dizê-lo básico, masturbam-se com conselhos superiores e projectos educativos que acabam por morrer nas bermas de uma qualquer rua, porque não acreditamos que o Governo, por mais pio que se possa mostrar, dê asas a estes anjos da guarda para construírem o que quer que seja..

NOTA: Os comentários de Hélder Nunes são emitidos todas as quintas-feiras, às 9 horas, com repetição às 15 e às 21 horas.

terça-feira, março 06, 2007

SOBRE A EVOLUÇÃO DAS COISAS

por José Mateus (consultor de comunicação e autor do blogue CLARO)

Algumas notas sobre a evolução das coisas neste nosso Algarve…

No interior ou seja em mais de 80 por cento do território, no fim de contas tudo o que fica acima da Via do Infante, agrava-se o envelhecimento da população, a pobreza e a solidão. Quase 20 mil idosos, gente com mais de setenta ou oitenta anos, vive em situações de isolamento e grandes dificuldades económicas, com pouco mais de 200 euros por mês de pensão.

É uma situação delicada mas intolerável. Uma situação com a qual não nos podemos resignar.

A maior parte destes idosos não tem conhecimentos suficientes, nem autonomia para se deslocar, para tratar de se candidatar ao complemento solidário para idosos, criado pelo governo de Sócrates. As câmaras e juntas de freguesia têm aqui a oportunidade de fazer qualquer coisa pelas pessoas… a quem nunca se esquecem de ir pedir o voto.

Mas não é só de mais alguns euros que as pessoas vivem… Precisam também da sua própria cultura. Uma cultura, de resto, de que todos nós precisamos e que não podemos deixar perder. O caso da matança do porco é exemplar. De repente, as pessoas são informadas que não podem, que é ilegal matar o seu porquinho como sempre fizeram e de que precisam para a sua alimentação ao longo do ano. E que podem ter que ir a tribunal por isso… Ora quem recebe 200 e poucos euros por mês, como é que pode ir ao talho comprar carne. O problema é de cultura mas não só… É também de subsistência. A matança do porco, em casa, para uso próprio não pode morrer. Porque faz parte de uma cultura e porque é fundamental para a alimentação e sobrevivência dessas pessoas.
Por isso, anda muito bem o senhor presidente da câmara de Monchique – o meu amigo Carlos Tuta – ao avançar com uma casa de matança no seu concelho, para resolver os problemas legais que os burocratas ignorantes hoje – muito estupidamente – levantam à matança do porquinho e que inferniza a vida das pessoas. Esperemos que todos os outros concelhos do interior, desde a serra de Espinhaço de Cão à serra do Caldeirão saibam seguir o exemplo de Carlos Tuta np apoio às suas populações.

Última nota. Há gente que acha que os tempos têm de andar à velocidade do seu negócio… Certos comerciantes por exemplo. Se os centros comerciais vendem mais coisas e mais barato, não interessa. Se são mais confortáveis e eficientes que velhas lojas paradas no tempo, também não interessa. Esses comerciantes, são sempre contra. E ameaçam retirar apoios aos presidentes de câmara se deixarem ir para a frente tais negócios que, dizem eles, lhes prejudicam os negócios e tanto pior para os consumidores! Mas quando se expulsa a realidade pela porta, ela volta a entrar pela janela… Em Ayamonte, mas sobretudo para consumidores portugueses, abriu um grande centro comercial. São 81 espaços comerciais, mais cinemas e mais estacionamento à porta do sotavento algarvio… Esperam servir 80 mil clientes!
Já muita gente lá ia meter gasolina e comprar gás… Agora, irão também ao cinema, jantar e fazer compras. Quando em Portugal não se deixa servir bem e a bom preço o consumidor, ele acaba por ir ali a Espanha… Bem feito!

Mas os espanhóis lá ficam com o nosso dinheirinho… Em terra de burocratas burros é assim. Mas que é pena, lá isso é… Quando será que Portugal ganha juízo?

NOTA: Os comentários de José Mateus são emitidos todas as terças-feiras, às 11 horas, com repetição às 17 e às 23 horas.

sexta-feira, março 02, 2007

Lutar pela Vida


por Albino Martins (director do Centro Paroquial de Cachopo)

Passado que foi o referendo e a entrega no parlamento da proposta de lei que permite a interrupção da gravidez, importa também que aqueles que são pela vida… continuem a lutar pela vida e apresentem soluções.

Muitas instituições, na maioria ligadas à Igreja Católica ou a associações de voluntários, dedicados e honestos, lutam, desde há anos e de modo permanente, por este objectivo, com resultados concretos e conhecidos pelos serviços públicos, ainda que calados por muitos meios de comunicação social.

O “não” a qualquer forma de aborto não é nunca, para alguém esclarecido, uma insensibilidade para com a mãe que aborta ou uma indiferença perante a chaga do aborto clandestino. É um grito para que se trate com total seriedade um problema grave e sério.

Dou a conhecer ao auditório da Gilão o SOS Vida – Algarve, estrutura da sua Cáritas Distrital que tem como principais objectivos:

- Promover uma alegre e verdadeira cultura da vida;

- Encontrar, sobretudo pela via do estudo e da investigação soluções positivas no que respeita à defesa da vida humana, da família, da paternidade e da maternidade;

- Incentivar e estimular a constituição de núcleos de apoio à vida, nomeadamente centros de acolhimento (como é exemplo a Casa da Mãe, a funcionar à vários anos em Faro, na Rua Brites de Almeida);

- Detectar e combater, no âmbito das suas possibilidades, todas as causas sociais geradoras de vida humana sem dignidade, como a pobreza, o desemprego, a ausência de formação e todo o tipo de exclusão social;

- Estabelecer parcerias, numa cultura e defesa da vida.

Fica aqui o meu contributo. Respeitando quem pensa de maneira diferente, a minha luta continuará no silêncio, no apoio à mulher grávida em dificuldades, mas que deseja assumir a sua maternidade.

NOTA: Os comentários de Albino Martins são emitidos todas as sextas-feiras, às 11 horas, com repetição às 17 e às 23 horas.

quinta-feira, março 01, 2007

Ponto final no Protal

por Hélder Nunes (jornalista e director do Barlavento)

Ponto final no Protal. Hoje, ou no próximo Conselho de Ministros, será aprovada a versão final do Plano Regional de Ordenamento Territorial do Algarve, que mereceu, por parte de todos os intervenientes, uma aprovação tácita. Nem toda a gente está de acordo com as normas aprovadas, nomeadamente a versão imposta para o Barrocal quanto à habitação dispersa, sendo certo que passou dos 20 para 10 hectares, o que, de qualquer forma, não se coaduna com a realidade algarvia. Não é com este tipo de táctica que o Governo vai conseguir o emparcelamento dos terrenos. A realidade é bem diferente daquela que alguém, sentado num gabinete em Lisboa, pode imaginar.

O Partido Socialista no Algarve e os seus deputados emitiram uma nota esclarecedora e de apoio ao Governo, intitulando-a «Protal merece nota positiva do PS Algarve, sendo de toda a justiça reconhecer como o processo foi conduzido pelos governantes».

De repente, tudo o que era contestação deixou de o ser e, inclusive, parece que todos os presidentes de Câmara, pelo menos os socialistas, aprovaram o documento. Não é verdade.

Mas, das duas uma: ou houve grandes alterações ao documento inicial, ou estão feitas promessas com as quais os autarcas não contavam.

O documento sofreu alguns ajustamentos, está mais de acordo com o que muitos solicitavam, mas coloca na ordem do dia uma questão melindrosa para as autarquias do litoral.

Em alguns locais, foram feitos planos de pormenor, para possibilitar determinado tipo de investimentos nas chamadas Unidades Operativas de Planeamento, mas esses planos vão agora colidir com as novas normas do Protal.

O que está estabelecido em termos legais é que esses planos podem ser aprovados antes do Protal entrar em vigor, mas, ao mesmo tempo, há a ressalva de que não é possível estarem em desacordo com esse mesmo Protal.

O problema começa a surgir a partir do momento em que há esta colisão, e no caso de existirem investidores, como já existem, a pergunta que se coloca é saber a quem compete indemnizá-los dos investimentos feitos.

As autarquias não querem assumir esse ónus, porque as regras foram alteradas a meio do jogo, e aquilo que foi feito estava de acordo com as regras de planeamento.

Daí que não tenham cometido qualquer tipo de falha ou fuga ao determinado. Por outro lado, o Governo não dá saída nem encontra uma solução, porque o que está em causa é indemnizar investidores e, em determinadas circunstâncias, as quantias poderão ser avultadas.

Vai haver muitos casos em Tribunal, o que é sempre desprestigiante para a administração pública e mesmo para a credibilidade do país.

O Algarve vai voltar a ter, cinco anos depois de se ter iniciado a discussão, um novo modelo de Protal, cujas linhas orientadoras vão permitir delinear os novos Planos Directores Municipais.

Só que nem todas as Câmaras estão de acordo com os objectivos demasiado rígidos impostos pelo Protal, porque lhes retira margem de manobra no seu crescimento urbanístico ou até ambiental, na medida em que há a pretensão de conjugar futuramente estes dois factores.

Percebe-se, porque já se sente neste momento, que muitos projectos vão passar a ser considerados de interesse nacional, e, sendo classificados como PIN, imediatamente passam a ter razão de existir, mesmo contrariando as leis impostas pelo Protal.

Com a diferença de que não serão as Câmaras a coordenar o seu desenvolvimento, funcionando como simples intermediários e sujeitando-se à vontade do Governo, que passa a controlar as autarquias, com a simples manobra do «ou é assim ou não há nada para ninguém».

O centralismo tem vindo a crescer. As Câmaras, organismos que mostraram saber gastar o pouco dinheiro que recebem muito melhor que qualquer Governo, passaram a ser secundarizadas, talvez por culpa própria, quando se transformaram em maiores empregadores do seu concelho, em detrimento de um planeamento com qualidade e ao serviço da população.

Ao tornarem-se num sorvedouro, na busca de que cada pessoa lhes viesse a dar mais dois ou três votos, as autarquias foram caminhando para um regime de desconfiança que o Governo central, por força das directrizes de Bruxelas, se vê obrigado a controlar.

NOTA: Os comentários de Hélder Nunes são emitidos todas as quintas-feiras, às 9 horas, com repetição às 15 e às 21 horas.